Produtores ficaram supresos com o empenho das comunidades
fotografia: Diego Cabral
NÓS NA TELA EM CUBA
Por
Yuno Silva
Intuição e sensibilidade foram postas em prática durante realização do
projeto "Nós na Tela", que circulou por diversas cidades do Rio Grande
do Norte difundindo conceitos da produção audiovisual em localidades
afastadas dos centros urbanos. A ideia é simples, mas o resultado
representa a costura cultural de uma colcha de retalhos digna da atenção
dos potiguares. Promovido pelo Coletivo Nós na Tela, o projeto
percorreu 18 municípios, produziu 15 roteiros e materializou oito filmes
- sendo seis curtas e dois média-metragens.
O grande diferencial da iniciativa se dá na base primordial do processo
criativo, onde o argumento para elaborar os roteiros partiu da própria
comunidade envolvida. "Passamos, em média, 15 dias em cada lugar,
trabalhando conceitos teóricos (de cinema e vídeo, de roteiro, de
produção e de atuação) seguido da prática. Os filmes seguiam um
argumento e um roteiro básicos, que se desdobravam no decorrer do
processo de gravação", contou Geraldo Cavalcanti, diretor e roteirista
da série.
Os filmes, produzidos em 2009, estão todos prontos e o lançamento oficial está marcado para o mês de maio, em Cuba, dentro da programação paralela da 11ª Bienal de Artes Visuais de Havana - as exibições no RN aguardam um posicionamento da Fundação José Augusto, parceira no projeto. "A intenção é que os filmes sejam exibidos nas Casas de Cultura", adiantou Cavalcanti. Quando os filmes forem lançados, todas as mais de 400 pessoas que participaram do projeto irão receber cópias dos filmes que participaram.
Os filmes, produzidos em 2009, estão todos prontos e o lançamento oficial está marcado para o mês de maio, em Cuba, dentro da programação paralela da 11ª Bienal de Artes Visuais de Havana - as exibições no RN aguardam um posicionamento da Fundação José Augusto, parceira no projeto. "A intenção é que os filmes sejam exibidos nas Casas de Cultura", adiantou Cavalcanti. Quando os filmes forem lançados, todas as mais de 400 pessoas que participaram do projeto irão receber cópias dos filmes que participaram.
Além do diretor e roteirista, também estão envolvidos na realização da
série Nós na Tela o artista visual Guaraci Gabriel, que fez a direção de
arte; Nilson Eloy (captação de áudio e vídeo); Silbene Batista
(preparação de elenco); Fernando Gurgel (edição de imagens e
finalização); Miryanna Albuquerque (câmera e produção); Rodolfo Holanda e
Maxson Savelle (produção); e o fotógrafo Vladimir Alexandre.
Atrelado à produção audiovisual, o Coletivo acredita contribuir com o
fortalecimento da identidade cultural e na valorização da auto-estima do
potiguar.
Produções contaram com elenco local
fotografia: Carla da Costa
fotografia: Carla da Costa
PRODUÇÃO DE FILMES REVELA TALENTO NATO DE ANÔNIMOS
Entre as particularidades observadas durante a produção dos filmes, Guaraci e Cavalcanti destacaram ao VIVER a "descoberta de artistas talentosos", como o garoto Dudu, 9 anos, de Serra Negra do Norte, cidade onde a equipe rodou o média-metragem "O Pacto": "Ele nunca tinha atuado, mas chorou diante da câmera e repetiu várias vezes uma cena onde levava uma queda. Se jogava mesmo, se entregou ao trabalho de uma forma que surpreendeu a todos! Saía mancando, todo ralado, dizendo que não era nada e que estava pronto pra outra", lembrou Geraldo.
"O Pacto" narra uma história baseada em 'fatos reais' sobre o tal acordo
que um morador de lá fez com o diabo: "A princípio relutei em fazer o
filme, mas foi uma escolha da comunidade e o resultado ficou muito bom.
Ficou com um clima surreal", recordou o diretor.
Em São José de Mipibu, o destaque do elenco foi outro garoto, Marcos Freire, de 10 anos. "No filme 'Em Família' ele teve que fazer uma cena difícil, de abuso sexual. Tivemos o cuidado de prepará-lo, conversamos com a família, que acompanhou toda a gravação, mas ele virou pra equipe e disse: 'Entendi, estou preparado para isso'. São situações como essas que surpreenderam a gente." Geraldo informou que a produção audiovisual no Seridó potiguar está em franco desenvolvimento: "Tem gente fazendo filmes com celular, tem realizador criando séries com personagens fixos, mesmo sem nunca ter ido ao cinema. As pessoas têm mais noção do que pensamos, e são altamente dedicadas."
Já o curta-metragem "As Marias" trata de solidão a partir da relação entre duas senhoras, ex-prostitutas, que após fecharem o bordel passam a morar juntas, Geraldo chama atenção para Dona Dôra, 63. Professora aposentada, Maria das Dores Bezerra Assunção improvisou e disse por telefone ao VIVER que "foi uma lição de vida, fiquei muito feliz de ter participado." Dona Dôra contracenou com Eliete Regina, proprietária do Violão de Ouro. "Sensibilidade não se ensina", garantiu Geraldo Cavalcanti, para quem os melhores trabalhos são realizados por pessoas "que sabem muito ou por pessoas que não sabem nada, as únicas capazes de desconstruir o personagem."
Em São José de Mipibu, o destaque do elenco foi outro garoto, Marcos Freire, de 10 anos. "No filme 'Em Família' ele teve que fazer uma cena difícil, de abuso sexual. Tivemos o cuidado de prepará-lo, conversamos com a família, que acompanhou toda a gravação, mas ele virou pra equipe e disse: 'Entendi, estou preparado para isso'. São situações como essas que surpreenderam a gente." Geraldo informou que a produção audiovisual no Seridó potiguar está em franco desenvolvimento: "Tem gente fazendo filmes com celular, tem realizador criando séries com personagens fixos, mesmo sem nunca ter ido ao cinema. As pessoas têm mais noção do que pensamos, e são altamente dedicadas."
Já o curta-metragem "As Marias" trata de solidão a partir da relação entre duas senhoras, ex-prostitutas, que após fecharem o bordel passam a morar juntas, Geraldo chama atenção para Dona Dôra, 63. Professora aposentada, Maria das Dores Bezerra Assunção improvisou e disse por telefone ao VIVER que "foi uma lição de vida, fiquei muito feliz de ter participado." Dona Dôra contracenou com Eliete Regina, proprietária do Violão de Ouro. "Sensibilidade não se ensina", garantiu Geraldo Cavalcanti, para quem os melhores trabalhos são realizados por pessoas "que sabem muito ou por pessoas que não sabem nada, as únicas capazes de desconstruir o personagem."
CONVITE INICIAL PARTIU DA CURADORIA DA BIENAL DE HAVANA
A
oportunidade para exibir a série em Cuba é fruto de uma confluência de
episódios, desencadeada pelo convite de Ibis Hernandes, curadora da
Bienal. "Ela esteve em Natal, já conhecia nosso trabalho e lançou a
proposta de fazermos algo semelhante com o 'Nós na Tela' durante a
Bienal de Havana", disse Guaraci Gabriel, que embarca no próximo mês com
Geraldo e mais três membros da equipe para a capital cubana para
completar o ciclo da "Ação Cosmopolita de Artes Integradas". A missão do
grupo é concluir a construção de uma narrativa audiovisual iniciada por
estudantes de escola pública do RN (a definir) com alunos da escola
José Martin, da província de Santa Fé, em Havana.
"A partir daí, articulamos com Frank Padrón (crítico cubano de cinema
que esteve em Natal em 2007 participando da primeira edição do Festival
Goiamum Audiovisual) o lançamento da mostra Nós na Tela", comemorou
Geraldo Cavalcanti, que aproveitará a ocasião para finalizar o
documentário "Mariposa Blanca" iniciado em 2006, durante participação de
Guaraci na Bienal daquela ano. "Foram três coelhos com uma cajadada
só", festejou Gabriel, que divide a direção do documentário com
Cavalcanti.
Padrón representa o Instituto Cubano Del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC) e a TV Casa Produtora (televisão estatal de Cuba), e a mostra "Nós na Tela" fará parte da programação paralela da 11ª Bienal de Artes Visuais de havana.
"Mariposa Blanca" aborda o conceito de liberdade, criado pelo modelo de produção capitalista, como ideal utópico e "faz paralelo entre a liberdade exercida nos países democráticos e em Cuba". O ator Jorge Perugorria, de "Morango e Chocolate", "Estorvo" e "Navalha na Carne", está no elenco do documentário, cuja produção ainda prevê entrevista com Fidel Castro. "Já estamos vendo essa possibilidade", adiantou Guaraci Gabriel. "Vai rolar!", emenda com convicção.
...fonte...
Yuno Silva
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