abril 28, 2011

UM SALTO DO ABANDONO À EXPECTATIVA

 
OPERAÇÃO RAMPA 
Por
Yuno Silva

Cenário de extrema importância no contexto da aviação mundial entre as décadas de 1920 e 40, a desmemoriada Natal poderá reviver esse período de grande movimentação, e quem sabe, finalmente, tirar algum proveito turístico desse período histórico, se o novo projeto do Centro Cultural Rampa for materializado. Apresentado na tarde da última terça-feira (26), durante encontro organizado pela Secretaria Estadual de Turismo (Setur), no Teatro de Cultura Popular/FJA, o projeto de 11 mil metros quadrados leva assinatura da empresa pernambucana CL Engenharia e Urbanismo e contempla espaço para implantação de museu, memorial da aviação, área de lazer e auditório, mais local para eventos culturais e cursos técnicos de restauração e museologia.

Atualmente, sob os cuidados do Governo do RN, o prédio onde funcionou a rampa para hidroaviões da PanAir (sucursal da norte-americana PanAm), localizado no bairro de Santos Reis às margens do Rio Potengi, está fechado e abandonado. Entre 2000 e 2005, então sob a guarda da Aeronáutica, chegou a funcionar no local um museu organizado pela Fundação Rampa.


“Iniciamos o planejamento do Centro Cultural Rampa em janeiro de 2010, após vencermos a licitação aberta pelo Governo Estadual em 2009, e o projeto final, com todo o detalhamento técnico e executivo, será entregue até julho”, informou a arquiteta Evelyn Schor, coordenadora do projeto. Segundo Schor, “o conceito do CCR reúne cerca de 25 itens, como arquitetura, paisagismo, acessibilidade, museologia, museografia, viabilidade econômica e gestão, entre outros, e para o plano museológico ter êxito é fundamental a implementação dos programas propostos”, explicou a arquiteta por telefone de seu escritório no Recife. A proposta apresentada pela CL Engenharia, de acordo com o próprio edital, custou R$ 380 mil.


Sobre o parco acervo disponível em Natal, resumido principalmente à fotografias e material audiovisual da época, a arquiteta mostrou algumas possibilidades como permuta ou comodato com outros museus. “Vamos propor uma campanha pública para as pessoas colaborarem com o acervo”, disse a professora Isaura Rosado, secretária Extraordinária de Cultura/Fundação José Augusto. “Teremos que incluir o museu no circuito nacional, fechar parcerias, participar de editais”, pondera. Enquanto se discute como preencher o museu, se irão trazer ou não do Rio de Janeiro o jipe que transportou os presidentes Vargas e Roosevelt (EUA), motores  originais de aeronaves usadas durante a Segunda Guerra estão no pátio da empresa de ônibus do jornalista e empresário Augusto Maranhão. São motores, hélices e âncoras de barcos, que segundo pesquisas apontam  que pertencem a barcos e aviões daquela época.

Após a apresentação da arquiteta, foi facultada participação do público presente e o veterano Pery Lamartine, 84, que pilotou aviões híbridos modelo Catalina e atracou na rampa, demostrou satisfação com a preservação do conjunto arquitetônico, mas lembrou que a torre de comando original foi trocada de lugar – “Tivemos que optar por essa solução por razões de acessibilidade, para oferecer melhores condições às pessoas com problemas de mobilidade”, justificou Evelyn. O projeto prevê a construção de uma sala de controle  nos moldes da Segunda Guerra: “A torre original será apenas um lugar para contemplação do Potengi”, adiantou.

TURISMO CULTURAL 
O projeto básico do CCR foi entregue à Setur em dezembro de 2010, e só foi apresentado agora devido necessidade de análise e aprovação tanto por parte do governo do RN quanto do agente financeiro, no caso o Banco do Nordeste do Brasil (BNB). “A licitação para execução da obra deverá sair no segundo semestre de 2011, e nossa estimativa inicial de custo é R$ 7 milhões – depois do projeto ser detalhado é que teremos como fechar o orçamento”, disse Ramzi Elali, secretário Estadual de Turismo. “Esperamos que até 2013 o CCR seja aberto ao público”, planeja.


Para Elali, o Centro Cultural Rampa deverá incrementar o turismo cultural na cidade, atraindo, inclusive, atenção de estrangeiros  interessados no período histórico da Segunda Guerra – veteranos e familiares serão potenciais visitantes. “Ainda não fizemos contato com operadoras de turismo, mas isso deverá acontecer”, disse o secretário. Para Ramzi, em primeiro lugar, o espaço deve atender o natalense – “Turismo cultural será conseqüência”, garante.

Porém, o projeto exposto pela arquiteta Evelyn Schor limita-se à recuperação do edifício sede, construção de outros equipamentos do Centro Cultural, e adequação urbana dentro dos limites do terreno onde funcionou a rampa da extinta PanAir – objeto da licitação. Questionado sobre a necessidade de se urbanizar o entorno, como melhorar os acessos viários que ligam a Rampa às Rocas/Ribeira e à Praia do Forte, e ampliar o atendimento do transporte público que cobre a área, o secretário Ramzi Elali frisou que “no momento estamos trabalhando apenas no Centro Cultural Rampa”.

Ainda não há previsão para parceria com a inciativa privada ou as Forças Armadas (principalmente Marinha e Aeronáutica), e também não há estudos sobre a presença dos pescadores do Canto do Mangue, já espremidos pelas obras de ampliação do porto, e o contato com a população que mora no local também foi superficial – ‘pequenos’ detalhes que precisam ser considerados para potencializar o êxito do espaço cultural. A sustentabilidade é outro ponto fraco, pois a arquiteta Evelyn Schor deixa bem claro que apenas a cobrança de ingressos e a possibilidade de alugar auditório e outros espaços, não irá garantir a manutenção do CCR.


A RAMPA 
A Rampa é uma antiga estação de passageiros e de transporte de correspondências, utilizada como base para receber hidroaviões. Seu posicionamento estratégico, em Natal, a tornou de indubitável valor durante o transcorrer da Segunda Guerra Mundial, quando veio a se tornar a primeira base a operar missões da guerra na América do Sul. Atualmente, sedia um museu da Aviação e da Segunda Guerra.

HISTÓRIA 
No início da história da aviação, devido à precariedade mecânica das aeronaves e à raridade das pistas de pouso, era comum a utilização de hidroaviões, principalmente nas rotas aéreas que cruzavam longos trechos de oceanos e mares. Por sua proximidade com a África e a Europa, Natal foi escolha natural para sediar uma base. À época, grande parte dos vôos entre a Europa e a América do Sul faziam escala no local.

Em 1930 foi construído o prédio atual. Operavam no local as companhias aéreas Pan American, Pan Air do Brasil e Lufthansa. No final da década de 1930 foi construído o declive que deu nome ao local, a rampa, para facilitar o acesso dos hidroaviões.

Getúlio Vargas (centro) e Roosevelt (à direita)
ambos de chapéu panamá - em Natal. Janeiro de 1943. Agência Brasil
No dia 29 de janeiro de 1943, o presidente americano na época da Segunda Guerra, Franklin Delano Roosevelt, e o presidente brasileiro Getúlio Vargas visitaram a Rampa e celebraram no local a Conferência do Potengi. O encontro resultou na transformação da Rampa em uma base aérea militar utilizada durante a Segunda Guerra Mundial sendo utilizada até 1944.

O MUSEU
A área do Sitio Histórico da Rampa é de 23 mil metros quadrados. O terreno foi cedido pelo Patrimônio da União à Marinha, que cedeu ao Governo do Estado a área de 11 mil metros quadrados, onde será implantado o museu com  uma ampliação do que já existe e funcionará no antigo prédio da Rampa.   O projeto de recuperação conserva as feições originais da edificação e leva o visitante a contemplar o pôr-do-sol à beira do Potengi, trazendo as lembranças de uma época em que ali pousava e decolavam hidroaviões.

...fontes... 

abril 27, 2011

DANÇA CONTEMPORÂNEA POTIGUAR EM BERLIM

  DANÇARINOS CONTEMPORÂNEOS DE NATAL
JOVENS POTIGUARES SÃO PREMIADOS EM BERLIM

 Por
Chico Moreira Guedes

Um amigo comentou outro dia no twitter que era mais fácil um espetáculo de dança de Natal ir para a Alemanha do que se apresentar no teatro Riachuelo. Eu contestei lembrando que o público local para esse tipo de arte não costuma encher nem o pequeno TCP, da Fundação José Augusto, quem dirá o novo teatrão do Midway, que embora eu não conheça além da imponente fachada envidraçada deve ser bem grandinho por dentro.

Sem citar diretamente, o amigo e eu pensávamos na Companhia de Dança do Teatro Alberto Maranhão, dirigido pela professora e coreógrafa Wanie Rose, que participou em Berlim entre 16 e 20 de fevereiro da oitava edição do Tanzolymp (traduzível como Olimpo da dança). O festival recebeu este ano mais de 600 bailarinos jovens de 30 países diferentes, que foram lá mostrar do balé clássico à dança contemporânea, passando por jazz, pop, e dança folclórica.

O convite para o festival surgiu no ano passado quando a companhia participou do 18º Paço da Arte, em Indaiatuba, SP, e foi premiada em várias categorias. Um dos juízes presentes era Oleg Bessmertni, fundador e organizador do Tanzolymp, que se encantou com o talento dos nossos jovens batalhadores dessa arte de público escasso e apoio oficial limitado.

Aliás, dizer que a Cia. de Dança do TAM viajou a Berlim é só meia-verdade. Foram com Wanie Rose apenas oito dos dezesseis bailarinos que compõem a trupe: os oito que conseguiram pagar do próprio bolso as passagens aéreas que um amigo conseguiu com desconto especial para o grupo. Para ajudar nas outras despesas por lá foram realizadas uma sessão especial do Circo Groc, com renda generosamente doada aos viajantes, e uma apresentação com passagem de chapéu no Buraco da Catita.

Porque se esses dedicados rapazes e moças insistem em dançar o fazem movidos, sobretudo, por amor à arte, se virando como podem por fora. É que embora a Cia. do TAM seja ligada à Fundação José Augusto os bailarinos não recebem remuneração pelo seu trabalho. Aqui e acolá conseguem ajuda pontual do Estado para viagens e participação em eventos. Mas como as providências para ir a Berlim coincidiram com a mudança de governo, o realismo ditou que era melhor nem tentar apoio oficial.

A ótima notícia é que o esforço e a determinação deles foram amplamente compensados: Os bailarinos da Cia. do TAM foram classificados em primeiro lugar na categoria dança contemporânea pelo conjunto das três coreografias que adaptaram e ensaiaram exaustivamente para as germanicamente precisas exigências de tempo do Tanzolymp. Isso rendeu também o privilégio de uma apresentação extra na noite de gala que encerrou o festival.

Além disso, a professora Wanie Rose foi convidada a voltar à Alemanha em abril para dar uma palestra no Move Berlin, evento internacional de dança que incluirá a participação de outro grupo potiguar, o Giradança.

Oxalá a divulgação desse sucesso internacional dos dançarinos da Cia. de Dança do TAM ajude a abrir os olhos do público e das nossas autoridades da área de cultura!

......fonte... 

Blog da Cia. De Danças

abril 24, 2011

HISTÓRIAS MUDANDO A HISTÓRIA

PROGRAMA ITAÚ CRIANÇA - FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL
DISTRIBUIÇÃO DE 8 MILHÕES DE LIVROS INFANTIS
PEÇA JÁ O SEU!

Todos os anos, junto com a Fundação Itaú social, o Itaú Unibanco busca reforçar a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente através de ações voltadas à educação. Neste ano, a ação convida toda a sociedade a contribuir para o desenvolvimento dessas crianças através de um gesto simples: a leitura para crianças de até 6 anos. Para isso, o banco vai distribuir gratuitamente 8 milhões de livros.

A coleção Itaú de Livros infantis é feita de quatro volumes, para você ler e reler com seus filhos, sobrinhos, netos ou alunos. Você assume o compromisso de ler um livro para uma criança e de repassar esse livro para outra pessoa fazer o mesmo.

O Itaú Unibanco acredita que investir no desenvolvimento pleno das crianças é uma maneira de contribuir para o crescimento do próprio país, pois o futuro da sociedade brasileira é construído no presente, no cuidado que a nação tem com suas novas gerações. Por isso, criou em 2006 o Itaú Criança, baseado na premissa que só é possível garantir os direitos da criança e do adolescente conhecendo-os.

Neste ano, o foco do programa é o estímulo à leitura para crianças de até 6 anos de idade. É nesta faixa etária que se forma a personalidade e se criam as preferências e os hábitos. Assim, a relação das crianças com a leitura nesse período é fundamental para o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo.

No site www.itau.com.br/lerfazcrescer, no ícone Peça seu Kits, todos os interessados em aderir à mobilização podem solicitar 1 (um) kit por CPF, sendo que cada kit contém 4 livros infantis, 1 folheto com dicas de leitura e 1 adesivo para ajudar a disseminar a causa; não há custos para envio do kit.

O site e os dados pessoais serão utilizados exclusivamente para o cadastro e envio do kit. Nos casos em que houver interesse em uma quantidade maior, sugerimos procurar a agência Itaú mais próxima e conversar com seu gerente. Devido o grande sucesso da campanha, os estoques estão esgotados. Sendo assim, serão produzidos novos kits, e o prazo para entrega é de até 45 dias. Portanto, anime-se e peça já o seu kit... não vai demorar tanto tempo assim, não é mesmo? É só preencher o cadastro e recebê-los na sua casa, em qualquer lugar do Brasil! Boa leitura!

...fonte...
Ana Maria Carminato
Programa Itaú Criança - Fundação Itaú Social
www.itau.com.br/lerfazcrescer

...informações adicionais....
...reflexão...
"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história " Bill Gates

abril 21, 2011

UM POTIGUAR EXPÕE A BELEZA DA CAATINGA

A CAATINGA É O BIOMA MAIS FRAGILIZADO DO BRASIL
 CAATINGA IMAGÉTICA
Por
Yuno Silva

Fotografar a natureza pode até parecer uma coisa simples, mas capturar e traduzir a magia de um lugar com apenas um clique é o desafio que move o fotógrafo potiguar João Vital Evangelista Souto, especialista em registrar a Caatinga, seus habitantes e sua cultura. Bioma típico da região Nordeste do Brasil, quando se fala em Caatinga vem logo à mente aquela paisagem pedregosa, árida, cheia de espinhos e vegetação retorcida. Não deixa de ser isso também, mas é muito mais: há toda uma gama de possibilidades imagéticas que podem perfeitamente passar despercebidas ao olhar menos atento.

Profissional há 25 anos, dos quais 22 são voltados para revelar as diversas faces do único ecossistema exclusivamente brasileiro, João Vital embarca nos próximos dias para Brasília, onde participa da exposição coletiva “Caatinga: Belezas e Riquezas”, ao lado de nomes consagrados como Araquém Alcântara. Em cartaz no Espaço Mário Covas, anexo 2 da Câmara dos Deputados, entre os dias 25 e 29 de abril, “a mostra faz parte de uma série de atividades promovidas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), cujo intuito é chamar atenção para o desmatamento deste bioma que ocupa cerca de 10% de todo o território brasileiro (850 mil km²),que inclui os nove estados nordestinos mais o norte de Minas Gerais”, informa Vital.

Ao todo serão 20 fotos em formato grande, sete do potiguar, alusivas às comemorações da Semana da Caatinga – dia 28 de abril é celebrado o Dia da Caatinga. Paralela à mostra, haverá audiência pública com o objetivo de implementar instrumentos para o controle do desmatamento e pressionar o poder legislativo para aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que propõe transformar Cerrado e Caatinga em patrimônios nacionais. “O uso insustentável dos recursos naturais, ao longo de centenas de anos de ocupação, associado à imagem de local pobre e seco, fazem com que a Caatinga esteja bastante degradada. Contrario essa visão restrita com imagens”, afirma. “É o bioma mais fragilizado do Brasil”, garante.

A exposição em Brasília conta com parceria do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente – Idema, da ong The Nature Conservancy – TNC e do Núcleo Caatinga  do MMA.

ONU
De acordo com o fotógrafo, esta é a quinta vez que participa de eventos do gênero: “Tenho um grande banco de imagens sobre o tema, acumulado ao longo dessas duas décadas de fotografia, e posso dizer que meu trabalho já é visto como referência nacional”, orgulha-se. Também funcionário público do Estado, lotado no Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente – Idema, João contou que sua paixão pelas imagens sertanejas ganhou força após participar de um programa patrocinado pelas Nações Unidas (PNUD). “Durante mais de 13 anos documentei os hábitos de vida das pessoas do sertão, o dia a dia vivido por diversas comunidades quilombolas do Nordeste dentro do projeto Gef-Caatinga (Fundo Global para o Meio Ambiente, na sigla em inglês)”, explica.

PROJETOS
Os cliques de João Vital foram registrados no “Atlas da Biodiversidade das florestas do Brasil”, lançado em 2007/2008, um livro que, segundo o fotógrafo, não chega por aqui: “Essa publicação custa em torno de 250 reais e só circula nos grandes centros do Sudeste e em Brasília. Nem em Recife consigo encontrar”, disse.

E há outros títulos engatilhados, alguns no aguardo do andamento de trâmites burocráticos: “Há pelo menos oito livros fotográficos com imagens minhas para sair, cada um em um lugar diferente: ‘Águas e Terras do Rio São Francisco’ aguarda liberação do MMA para ser publicado pela Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco)”, exemplifica. “As Florestas Nacionais do Brasil” e “A Lenha”, que trata do uso sustentável da madeira enquanto fonte energética, são outros dois também prontos.

Em Pendências (RN), através da parceria com a Fundação Félix Rodrigues (Ponto de Cultura), João Vital adianta que logo estará nas prateleira “O mundo varzeano de Manoel Rodrigues de Melo” (1907 - 1996), com fotos dele e textos de Salete Queiroz sobre advogado, escritor e pesquisador macauense.

O fotógrafo potiguar ainda participou das mostras “Iniciativas Sustentáveis no Bioma Caatinga”, na embaixada da Suíça no Recife, em 2008; e “Produção Florestal Sustentável da Caatinga: Garantia de Sobrevivência”, exposição comemorativa aos 20 anos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), no Paço da Alfândega, também na capital pernambucana, no ano passado.

...fonte... 
Yuno Silva

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João Vital Evangelista Souto

abril 19, 2011

PARA UM POTIGUAR O CÉU NÃO É O LIMITE

 “Olhar para o céu, para mim, tem o valor do ar que respiro”
   O HOMEM DAS ESTRELAS
O QUE HÁ NO CÉU DE JOSÉ RENAN DE MEDEIROS
Por
Fernanda Zauli & Marco Carvalho

A paixão pelo céu vem da infância. Quando pequeno, ouviu de seu avô que os trovões nada mais eram que o barulho dos tambores de uma banda de anjos tocando no céu. E ouviu mais, que seus dois irmãozinhos, que morreram ainda pequenos, faziam parte dessa banda. Essa fantasia transformou o céu no laboratório do astrônomo José Renan de Medeiros, 58 anos. "Talvez, se meu avô não tivesse contado essa maravilha de lenda, eu não tivesse fixado tanto o céu na minha cabeça. O céu passou a ser uma espécie de aquarela para mim, onde todo dia eu quero descobrir uma coisa nova", conta Renan, conhecido mundialmente pelas pesquisas que desenvolve.

Hoje, além de ser o único cientista astrônomo do Nordeste brasileiro, tem o trabalho disputado pela NASA e pela Agência Espacial Europeia. A pesquisa desenvolvida por ele colocou o Brasil no cenário internacional de estudos astronômicos e permitiu ao país ser incluído em duas missões espaciais, a CoRot e a Plato.

Astrônomo Phd pela Universidade de Genebra e com trabalhos disputados pela Nasa e pela Agência Espacial Europeia, José Renan está longe de corresponder ao estereótipo do cientista louco e onipotente. É um homem preocupado em fazer da ciência um veículo para difundir o bem, a generosidade, e não se apega a vaidades, apesar de ter um currículo respeitadíssimo em todo o mundo. "Ter um currículo bom é circunstância. O currículo que eu tenho hoje é uma consequência natural do meu trabalho. Eu atingi o estágio de professor titular da Universidade, pesquisador 1A do CNPQ, mas essas coisas são contingentes naturais. O que faço é uma fonte de prazer intelectual, mas esse prazer não se traduz pela vaidade ou pelo ego. Essas coisas não me interessam, absolutamente", afirma.

O trabalho desenvolvido por Renan, na busca por planetas fora do Sistema Solar, colocou o Brasil no cenário internacional de estudos astronômicos. Em 2006, o país passou a integrar a missão Corrot com uma base na UFRN, a única fora da Europa. A missão contabilizou mais de cem mil estrelas e encontrou vinte planetas fora do sistema solar, resultado anunciado em novembro de 2010. No doutorado, onde começou sua busca por novos planetas, Renan teve como orientador o cientista Michel Maior, que em 1996 se tornou o primeiro homem a descobrir planetas fora do Sistema Solar. 

O HOMEM  DAS ESTRELAS
José Renan de Medeiros, natalense que cresceu nas ruas do bairro das Quintas torcendo pelo  ABC, tem longos cabelos brancos presos em “rabo-de-cavalo” e só usa sandália de couro. “Posso ir  para um jogo no Frasqueirão, visitar um ministro ou um presidente, não abro mão da sandália por qualquer sapato do mundo. Quero me sentir bem e é assim que desenvolvo meu trabalho”, conta sorridente o responsável pela “floresta de conhecimento” nesse assunto visto hoje em dia no estado.

A felicidade e a paixão pelo que faz é algo notado de longe. “Olhar para o céu, para mim, tem o mesmo valor do ar que respiro”, diz homem que herdou o gosto por cálculos do pai. Pai que trabalhou como mestre de obras no distrito de Cachoeira dos Morenos, no município de Santa Cruz, a 115 quilômetros de Natal. “Ele sempre me dizia que a vida está dentro dos livros, tem que ler”, lembra Renan em sua sala no Departamento de Física da UFRN.

A mesa de trabalho do cientista está cheia de livros e artigos, alguns falam da abundância química na Via Láctea, todos em inglês. Mexe no computador e organiza alguns dos muitos afazeres. Pós-doutor pela Universidade de Genebra, na Suíça, o professor conta que só foi alfabetizado com mais de  10 anos. “Meu pai viajava bastante por causa das obras e nós íamos com ele. Isso me fez ter uma vida escolar estranha”.  Estranha porque após ser alfabetizado tardiamente, foi incentivado a pular séries e acabou cursando três anos letivos em um só.

Estudou na Escola Municipal Maria Lígia, nas Quintas, e fez o ensino médio na Escola Industrial, hoje Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). A decisão pela astronomia ocorreu neste período, quando “a ideia do céu começou a colar” na sua cabeça. “Me empolgava tentando olhar para mais distante. Imagina o porquê dos brilhos das estrelas”, confidencia.

AMOR
Renan narra o que chama de "mais uma história extraordinária por trás do cientista". Quando fazia o mestrado no Centro de Radio Astronomia e Astrofísica Mackenzie , em 1980, ele almoçava todos os dias em uma pousada onde ficavam hospedados os atores globais que iam a São Paulo para gravações. "Nós éramos garotões,então íamos até lá para almoçar e ver aqueles artistas". Um dia, uma garota loira chamou sua atenção. Ele pediu que a garçonete entregasse à moça um bilhete com o seu telefone, mas a garçonete se negou. Decidido, ele mesmo foi até ela e entregou seu número de telefone anotado em um papel. "Mas eu jamais imaginei que ela fosse me ligar, porque ela era uma menina, tinha 17 anos de idade, e eu 10 anos a mais", lembra. Mas ela ligou, e começava ali uma longa história de amor. A menina era Sílvia Batistuzzo e no dia 14 de fevereiro de 1981, às 12h15, eles se casaram. Quatro dias depois, Renan defendeu sua dissertação de mestrado e o casal seguiu para Natal. A história de amor, amizade e cumplicidade segue firme até hoje e completou 30 anos em fevereiro. "Eu costumo dizer que a coisa mais importante que eu fiz em São Paulo não foi o mestrado, foi ter conhecido a Sílvia", afirma ele. 

IRON MAIDEN COM O FILHO
Na rotina do cientista José Renan de Medeiros tem duas tarefas que ele não abre mão: levar e buscar os filhos na escola e almoçar em casa. "É um prazer que não tem preço", diz.

Pai de dois meninos, Leonardo, de 15 anos, e Edoardo, de 9, ele é daqueles pais companheiros, parceiros. No último fim de semana, esteve em Recife, acompanhado do filho mais velho, para assistir ao show da banda Iron Maiden. Ao chegar lá, se deu conta de que ficaria hospedado no mesmo hotel que o grupo, o que proporcionou momentos de fã para pai e filho. "Nós tiramos várias fotos com eles, os olhinhos do Leonardo brilhavam", disse, sem perceber que seus olhos também brilhavam ao descrever a felicidade do filho.

O carinho com que o pesquisador fala dos filhos é cativante. E o tempo que passa com eles é definido como "precioso". Edoardo, o mais novo, é portador da síndrome de down, e teve a sorte de nascer em uma família afinada, que aceita a vida como ela se mostra. "O Dudu costuma nos abraçar e dizer que nós somos um time. E eu acho que efetivamente ele nasceu dentro de um time, já encaixado, afinado. Eu acho que nós somos o que se pode definir como uma família feliz, que aceita a vida como ela se mostrou, que curte essa vida, e que tenta dar um exemplo positivo para quem está a seu redor", disse.

Além da família e da ciência, outras peças completam o "quebra-cabeças" que é a vida de Renan. "Os meus amigos, um bom vinho, que eu adoro, os estudantes que eu oriento (a quem ele chama carinhosamente de filhos acadêmicos) e o ABC, onde cada um deles representa uma peça nesse grande quebra-cabeça".

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Marco Carvalho

Fernanda Zauli

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Alex Régis

...mais...
José Renan de Medeiros
84.9983-4300
 
Coordenador do INEspaço, astrônomo, PhD, professor da UFRN e de diversos institutos do Brasil e Europa, foi presidente da Sociedade Astronômica Brasileira e da Comissão Brasileira de Astronomia. É pesquisador visitante do European Southern Observatory, Observatório de Genebra, Agência Espacial Européia e NASA e responsável pela missão espacial CoRoT (Convection+Rotation+Transit of Planets).

Tem se dedicado, ao longo das últimas três décadas, ao estudo da rotação, do magnetismo e da nucleossíntese estelar, sendo hoje o astrônomo que realizou mais medidas da rotação de estrelas, grandeza física fundamental para a compreensão da evolução desses astros. Atualmente, dedica-se também à busca por planetas extrassolares, fazendo parte de vários consórcios internacionais de caçadores de planetas. Tem dezenas de artigos publicados em jornais e em revistas  especializadas. É autor dos livros Teia do Tempo (2005) e Meu céu, o céu de cada um, céu de todos nós (2006), ambos pela Zian Editora.

abril 17, 2011

A VIRADA DOS QUADRINISTAS POTIGUARES

Marcio Coelho, Williandi e Gilvan Lira 
encontro para festejar o prêmio da Maturi, resvista criada pelo trio
  A VIRADA DA HQ
 Por
Maria Betânia Monteiro 

Eram como adolescentes. Falas incansáveis e emendadas, piadas constantes e uma alegria que vinha não se sabe de onde. Os desenhistas e roteiristas potiguares de histórias em quadrinhos, Marcio Coelho, Williandi e Gilvan Lira tentavam encadear o pensamento e organizar a fala durante entrevista cedida ao caderno Viver da Tribuna do Norte. Mas havia motivo: não se viam há algum tempo e festejavam o fato de terem recebido, juntos, ano passado, o Troféu Bigorna de melhor fanzine/revista independente de 2010. “O prêmio é algo semelhante ao Cannes, de melhor filme”, explicou Gilvan Lira.

O Bigorna de melhor fanzine/revista independente foi endereçado à revista Maturi – quadrinhos potiguares, contemplada pela Lei Câmara Cascudo e patrocinada pela Cosern. Na edição premiada, a revista reuniu um grupo de artistas que se dispôs a retratar em quadrinhos, aspectos da cultura potiguar capitaneados por Luís da Câmara Cascudo.

As histórias apresentadas na revista ressaltma a importância de Câmara Cascudo para o Brasil. Referenciadas no legado das pesquisas do folclorista, os roteiros trazem temas como cultura popular, religião e literatura. Os artistas promovem uma releitura de algumas de suas obras, utilizando uma linguagem versátil e estimulante, típica dos quadrinhos.

Em texto publicado na Maturi, eles dizem: “Seria presunção tentar dar conta em uma edição de todos os aspectos dos registros que Cascudo empreendeu de nossa cultura. Esta é apenas mais uma contribuição que enaltece a diversidade e riqueza cultural tão bem retratada nos seus escritos. Para nós, quadrinistas do Grupo de Pesquisa em História em Quadrinhos, trata-se de um privilégio contribuir com a disseminação e a leitura da obra de Cascudo”.

Assim como um longa-metragem, que recebe o prêmio de melhor filme é avaliado de forma inteira — roteiro, iluminação, trilha, direção — ,  O Bigorna de Melhor Revista seguea mesma avaliação. E, além das histórias, o que traz a Maturi? Roteiros bem escritos, boa edição e diagramação, material impresso em papel de qualidade e claro, desenhos, que revelam técnica apurada e talento.

A história “Jaguara”, escrita e desenhada por Marcio Coelho e pintada por Gilvan Lira é um exemplo da qualidade do trabalho. Marcio conta a história de um indiozinho entediado. Sem ter muito o que fazer, o índio resolve interferir na pacata de alguns insetos repousando sobre o tronco de uma árvore. Enfurecido, ele dá algumas pauladas nos bichos, voando um para cada lado. Uma velha vê a cena e fala da possibilidade do curupira querer fazer o mesmo com ele, meter pauladas em sua cabeça.

O indiozinho fica com medo, mas segue adiante. Vê um caju, retira da árvore e é seguindo por uma nuvem de marimbondo até a aldeia. O menino se joga no lago para se livrar dos ferrões, mas toda a aldeia é atacada. De cabeça baixa, aguarda ouvir o sermão dos mais velhos, que trazem marcas de ferroadas por todo o corpo. Mas, ao invés de bronca, ouve risadas. Os mais velhos preferiram se divertir com o fato de estarem parecendo com abacaxis.

A história do indiozinho é contada praticamente sem a presença de balões. O texto aparece apenas no final, mostrando como era o relacionamento dos índios com os seus familiares. Outro roteiro e desenho que merece ser destacado é “A Jornada”, de Gilvan Lira, mas esta é outra história...

MATURAÇÃO
Apesar de ter recebido o prêmio de melhor revista alternativa em 2010, a Maturi é uma revista bem antiga no estado. Ela foi criada por Aucides Sales e Enock Domingos em 1976. Com formato 12cm x 8cm, seguia a linha underground, fazendo sucesso nos movimentos culturais alternativos, políticos e universitários em Natal e no Rio de Janeiro. A periodicidade era irregular. Apenas sete números foram publicados até 1977. “Na época, assim como hoje, não dava para ganhar o pão, fazendo quadrinhos”, explicou Marcio Coelho. O colaborador mais famoso da primeira leva da Maturi foi o mineiro Henfil, que participou durante os dois anos da revista.

Alguns adolescentes, amantes de histórias em quadrinhos reativaram o projeto anos mais tarde. Nomes como os de Gilvan Lira, Márcio Coelho, Ivan Cabral, Luiz Elson, Carlos Alberto, Adrovando e João Antônio reescreveram a história da Maturi. A diferença é que, diferente de seus precursores, os garotos resistiam a ideia de continuar com a linha editorial da revista. “A turma nova queria fazer super-heróis, ficção científica, enquanto que os mais velhos, como Emanuel Amaral e Aucides nos orientavam a dar continuidade ao conteúdo anterior, que se colocava como uma forma de resistência aos produtos já existentes no mercado”, disse Márcio: “nós éramos alienados mesmo”.

DE VOLTA AO REGIONALISMO
Assim como a primeira leva da Maturi, a segunda também deixou de ser publicada. Praticamente 20 anos se passaram até que, os não mais adolescentes, resolveram criar o Projeto Revista Maturi para frente e submetê-lo à Lei Câmara Cascudo. A lei garantiu subsídios para que fossem publicadas seis volumes da revista. A exigência da empresa patrocinadora é que o material fosse de excelente qualidade e que o regionalismo temático voltasse a figurar nos quadrinhos. “Regionalizamos, mas os temas tratados são universais”, garantiu Williandi.

 Até agora foram publicadas quatro revistas, sendo que a quinta e a sexta já estão no forno. Elas devem chegar às bancas de revistas e livrarias da cidade até o próximo mês de março. Os interessados em adquirir as já publicadas, podem entrar em contato com Márcio, Gilvan ou Williandi através dos seguintes e-mails: mmarciocoelho@gmail.com, gilvanlira.m@gmail.com e wolfenx@pop.com.br.

Os mesmo e-mails podem ser utilizados para os artistas que desejarem ter suas histórias publicadas na próxima edição da Maturi. A revista tem um conselho editorial, que seleciona e orienta os quadrinistas interessados na publicação.

MAURÍCIO DE SOUSA ATESTA A QUALIDADE
A prova de que os potiguares são muito bons no que fazem foi o convite feito a Márcio Coelho e Williandi (editore da Maturi) para compor os livros Mauricio de Sousa por Mais 50 Artistas e Maurício de Sousa por Novos 50. Os artistas convidados criam histórias com personagens de Maurício de Sousa, homenageado o cinquentenário da carreira do criador da Turma da Mônica. O mentor deste álbum é Sidney Gusman. 

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Maria Betânia Monteiro

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Emanuel Amaral

abril 15, 2011

DE COMO A GENTE SE TORNA O QUE A GENTE É

UM DOS MAIORES ESCULTORES DO RIO GRANDE DO NORTE
  JOSÉ JORDÃO ARIMATÉIA
O PAI DO GIGANTE ANJO AZUL

ENTRE HIPÉRBOLES E SUPERLATIVOS: JORDÃO
 Por
Filipe Mamede

Quem passa pela movimentada Avenida Hermes da Fonseca não tem outra coisa a fazer, senão contemplar um gigante Anjo Azul que, de tão imponente e chamativo, virou ponto turístico da cidade. Construído pelo artista plástico José Jordão Arimatéia, 61, para ser a principal peça do marketing de uma galeria de arte homônima, o Anjo Azul, feito, basicamente, de gesso e sustentando uma envergadura de cerca de 12 metros de altura, consumiu pouco mais de dez meses para ser concluído. Depois que ficou pronto, é comum ver as pessoas pararem para tirar fotografias ao lado da obra, cuja grandeza parece ser a maior virtude.

O autor dessa obra é autodidata. De origem humilde, filho de lavadeira e cozinheira, muito cedo, ainda com oito anos de idade, Jordão já tinha uma certeza, queria ser artista. “Eu gostava mesmo era de cantar. Eu queria ser artista de qualquer coisa, mas não deu pra ser cantor. Ai um dia, lá no campo do Rio-Mar... tinha chovido. Tava uma planície bonita... comecei a desenhar no chão”. Foi exatamente nesse dia que o escultor deu de cara com o labor criativo que o acompanha até hoje. “Vinha passando dois cidadãos e um disse assim: ‘Esse menino é muito bom desenhista. Parece coisa do artista Newton Navarro”. Com essa frase, Jordão resolveu definitivamente que iria ser àquilo. Iria ser artista.

DE COMO A GENTE SE TORNA O QUE A GENTE É
Depois do singelo desenho na areia do campo de futebol, ele não parou mais. Em pouco tempo já desempenhava o ofício de Santeiro. Fazia as figuras divinas com as sobras de cimento da fábrica de pré-moldados onda trabalhava. “Eu sempre dava um jeito da massa sobrar. Tinha um quartinho nos fundos da fábrica que foi meu primeiro ateliê. Ninguém sabia de nada. Quando o dono descobriu, primeiro levei uma bronca, mas ele percebeu algo e acabou permitindo que continuasse a criar”.

Com o tempo, Jordão foi se moldando até se transformar em escultor e entalhador. Cada tipo de trabalho foi conseqüência do outro. “Depois do ‘entalhe’ foi que eu me soltei. Comecei a viajar e a fazer exposição... a primeira foi numa bienal lá em Fortaleza... acho que em 1974. Levei dois ‘entalhe’, duas esculturas e ganhei dois prêmios”. Jordão continuou viajando. Foi para São Paulo e para o Rio de Janeiro, onde trabalhou para um estrangeiro que lhe arranjou uma viajem para a França. “Passei 15 dias em Paris, mas acabei nem conhecendo muita coisa... sabe como é: não estava bem enturmado”, lembra.

De volta ao Brasil, Jordão confessa que tentou viver de arte na região sudeste. Ele relata que até conseguiu, mas como a família “não cortou o cordão umbilical”, acabou voltando mesmo foi para Natal. “Quando minha família não quis ir comigo ao Rio preferi não voltar. Um erro que até hoje me arrependo. Se fosse hoje não pensaria duas vezes: iria sem olhar pra trás. Perdi toda minha inspiração e deixei de produzir”, confessa com olhar remoto”.

JORDÃO, O ERRANTE
Assim como as viagens que fez por aí, a relação de Jordão com a arte também é repleta de idas e vindas. Na sua história de vida, o artesão confessa que o alcoolismo foi uma personagem persistente em várias ocasiões. “Já deixei muitas vezes a arte. A bebida faz a gente perder a criação. Eu trabalhava só pra manter o vício. Um trabalho que valia quinhentos, eu vendia por duzentos, né... a sede era maior”. Mergulhado num poço que parecia não ter fim, Jordão ficou 15 anos no limbo sem criar uma peça sequer. “Perdi a criatividade, a inspiração. Por desgosto mesmo! Vergonha da sociedade”.

Depois do período nebuloso de auto-exílio, Jordão deixou de beber e se casou de novo. Apagou de vez o capítulo dedicado às bebidas. “A arte me chamou de volta. Hoje eu vivo pro meu lar, minha esposa e minha filhinha”. (Jordão conta isso segurando a pequena Lua no colo).

MODUS OPERANDI
Como criador de formas diversas, o artesão deixa transparecer certa vaidade em relação às suas obras. Sobre o colosso angelical, o artista plástico se diz bastante satisfeito com o resultado. “Ah, eu gostei demais. Ficou do jeito que eu achava que deveria ficar”. A história da produção da escultura é muito curiosa. O projeto chegou a mudar algumas vezes. Inicialmente programado para ter dois ou três metros, a obra ganhou volume de uma hora pra outra. “Anchieta (Dono da Galeria O Anjo Azul) chegou lá em casa e me pediu pra fazer uma escultura. Ele disse que queria uma escultura grande. Eu perguntei: E o tamanho? - Ele disse: uns três metros. Comecei a fazer. Depois ele quis que eu aumentasse. Anchieta disse, “Eu quero uma graaaaande. Não sei nem de que tamanho”.

Como de costume, na hora de elaborar suas obras, Jordão dispensa qualquer tipo de esboço. Para ele, “a arte não precisa de projeto”. E com o “pequeno detalhe” do tamanho resolvido, Jordão botou a mão na massa, ou melhor, na argamassa. “Anchieta disse: “Vamos fazer um desenho”. Ai eu disse: “Vamo fazer sem. Com desenho demora muito”. Mesmo com liberdade para fazer do jeito que quisesse, e com o Anjo praticamente ‘nas alturas’, Jordão teve que vencer alguns percalços. “Quanto tava lá em cima, lá se vem confusão... a prefeitura chegou alegando que a estrutura podia cair”. Foi preciso, então, arrumar um engenheiro para tocar a ‘obra’. “Aí o engenheiro veio, calculou e disse: “Vamos botar mais ferragem”. Ai colocamos mais ferragem... aí eles (Agentes da Prefeitura) pararam de vir””.
A ARTE COMO COISA PÚBLICA E OUTRAS OBRAS
O ensaio ‘A origem da obra de arte’ foi publicado pela primeira vez em 1977, pelo filósofo alemão Martin Heidegger, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX. Abordando a natureza e o enigma da obra de arte, Heidegger defende que obra se faz a partir de uma tríade: artista, obra e um terceiro elemento – o observador, aquele que olha para a o criador e a criatura. Instintivamente, Jordão acaba confirmando essa teoria. “A obra tem que ser pública... eu gosto de fazer arte para o povo”.

Contrariando uma premissa básica de todo artista, que só revela a obra quando o trabalho se encerra, ele oferece o dia-dia de suas invenções de artífice. Revelando uma sensibilidade rústica no traçado, o Anjo Azul, por exemplo, pôde ser acompanhado durante toda a manufatura por àqueles que transitaram pela Hermes da Fonseca entre os meses de dezembro de 2006 a meados de outubro de 2007.

As obras de Jordão, além da grandiosidade e do labor feito ao alcance dos olhos observadores, carregam histórias que, a cada vez que são recontadas, tomam ares de anedota. Foi assim também com uma obra que tem como personagem o Rei do Baião e um popular santo brasileiro.

Engendrada ao ar livre, o trabalho compreende algumas alegorias do imaginário e da cultura nordestina como a religiosidade, a música e o povo. “Chico Brilhante era doido pra fazer um trabalho grande. Mas o trabalho grande que ele queria era um santo. Frei Damião”. Jordão retrucou logo de cara, dizendo que Frei Damião não fazia. “Pra fazer só Frei Damião eu não quero fazer”. O artista plástico ainda arrematou com o chiste: “Bata uma fotografia do Frei e bote aí na parede”. Jordão, defendendo uma obra mais elaborada e contextualizada, se ofereceu para projetar uma coisa diferente. “Me dê uns três meses pra eu pensar o que é que eu vou fazer, que aí a gente faz”.

Com o prazo expirado, Jordão voltou ao encontro de Chico Brilhante. “Eu to com o trabalho feito aqui na minha cabeça”. Chico quis saber qual era o projeto do artista. “Eu vou fazer um Luiz Gonzaga, por que ele gostava muito de Frei Damião. Aí eu juntei... Luis Gonzaga com Frei Damião... Luis Gonzaga tocando a sanfona... arrastando seu povo ao encontro de Frei Damião, olha que negócio bonito?”, se diverte Jordão rememorando a resposta que deu à Chico Brilhante. Para quem tem curiosidade de ver Luiz Gonzaga e sua trupe indo até à presença de Frei Damião, basta um dia, encher o tanque ou calibrar os pneus do carro. Digo isso porque, Jordão fez todo esse trabalho em pleno um posto de gasolina, num bairro de Natal.

MAIS ALGUMAS
E não é só o Anjo Azul e nem Luiz Gonzaga e a trupe de Frei Damião que ostentam um tamanho fora do comum. A maioria das obras de Jordão apresenta um aparente ‘complexo de superioridade’. Todas elas são enormes, assim como o Pescador que enfeita a Praça da Praia da Pipa desde 2005. “Eu passei um ano morando em Pipa. Aí um dia, o dinheiro tava se acabando... resolvi oferecer meu trabalho ao prefeito. Ele queria um santo. Aí disse que em Pipa tinha muito crente e uma “imagem” poderia dar confusão. Fiz um pescador... pescador não tem religião”. A política da boa-vizinhança de Jordão lhe rendeu mais alguns frutos. Além do pescador, Jordão acabou fazendo a figura de um enorme golfinho que enfeita a frente da Prefeitura de Tibau do Sul.

É de autoria de Jordão o maior painel construído em concreto da América Latina. Localizado no prédio residencial Rio-Mar, o trabalho, que é uma verdadeira façanha, está devidamente registrado no livro de recordes. Mas quem vê os 1000 metros quadrados de obra de arte pronta, não imagina o trabalho que deu. “Quando eu cheguei lá na construtora dizendo que eu queria trabalhar no prédio, acharam que eu era um hippie, um louco. Depois de um chá de cadeira foi que me receberam e eu disse que queria trabalhar as fachadas do prédio”. Conversa vai, conversa vem, Jordão conseguiu vender o projeto.

Com a palavra empenhada pelos representantes da construção, o artista fez algumas exigências. “Eu disse: Eu quero uma bancada nova, lápis. Quero papel bom... de diversos tipos... só papel de linha pesada”. Os pedidos de Jordão foram atendidos. Depois de 15 dias projetando, o artista pediu para que fossem buscar o esboço do trabalho. De volta ao escritório da construtora, pediram para Jordão mostrar o que ele tinha feito. “Vamos ali na mesa de reunião”, disse um engenheiro. Sem a menor cerimônia, o artista explicou que ali não caberia. “Tem que ser lá fora, na rua... Aí eu saí estirando o projeto no meio da rua... do tamanho que era o edifício, era o tamanho do projeto”. Passados mais de 20 anos da elaboração do painel, Jordão acredita que este trabalho foi obra do acaso. “Foi sorte demais. Você levar um projeto desses sem trabalhar na firma, foi muita coragem”.

Um outro lugar onde é possível se esbaldar com as obras de Jordão, dada a grande concentração de trabalhos realizados pelo artista é o Centro de Convenções de Natal. Ao todo são seis painéis: o externo, de aproximadamente sete metros de altura por 25 de comprimento, retrata a paisagem costeira com coqueiros, cajus, jangadeiros e deusas das águas. No saguão de entrada, como não poderia deixar de ser, estão dando as boas vindas um enorme pescador e uma rendeira. Feito com cimento, o material preferido de Jordão, existe ainda um trabalho com motivos indígenas dominando uma das paredes. Na ala central, dois painéis de latão: de um lado um retrato do cangaceiro Lampião, do outro as salineiras de Macau. “Mas o que eu mais gosto ali no Centro é o Bumba meu boi. Ficou muito bonito”, conta Jordão orgulhoso.

PALAVRA DE MESTRE
Nas suas andanças artísticas, Jordão teve a oportunidade de trabalhar com nomes consagrados como Newton Navarro e Dorian Gray Caldas. O maior artista plástico em atividade do Rio Grande do Norte defende que a obra de Jordão ‘dispensa adjetivos’. “Tenho ele como o mais expressivo escultor. Ele tem uma expressão muito própria. Não imita ninguém”. Além de considerar Jordão como um bom pintor, Dorian o compara à unanimidades da arte mundial. “Ele é da mesma linguagem de Michelangelo, Leonardo (Da Vinci). Tem um traço instintivo... vocacionado. Uma pena ele não ter condições de trabalhar com materiais nobres. Ele merecia trabalhar com mármore... bronze...”.

O reconhecimento do valor como feitor de arte de mão cheia, não se restringe à Dorian Gray. No último mês de outubro Jordão desembarcou na capital do país para participar de uma exposição no Salão Negro do Palácio do Congresso. A entrada solene do Palácio, é destinado à mostras, eventos culturais, lançamento de livros, recepções e celebrações religiosas. Dividindo o Salão com artistas de várias regiões do país, o artífice nascido no Rio-Mar revela que a oportunidade de ir à Brasília, surgiu à partir do Anjo Azul. “A senadora Rosalba Ciarlini passou e viu o Anjo, aí me convidou pra ir á Brasília. Achei bom, mas o trânsito faz muito barulho. Prefiro Natal”, analisa Jordão.

Produzindo com a mesma freqüência de antigamente, Jordão conseguiu juntar dinheiro e comprou uma casinha simples na Rua do Motor com direito à vista para o mar e quintal íngreme com muitas árvores frutíferas — no mesmo bairro onde desenhou na areia e vendeu seus santinhos feitos ora de cimento, ora de “argila do padre”. Ele montou um ateliê improvisado nos fundos, onde, cheio de planos, pensa em comprar os terrenos vizinhos para construir sua nova casa e um ateliê maior. Bem maior. Tão grande quanto as colossais esculturas que inventa.

 ...fonte...

...fotografia/Anjo Azul...
Aldair Dantas

O anjo azul de 12 metros de altura e 28 toneladas de ferro e cimento, esculpido na avenida mais movimentada da cidade do Natal , será transferido para outra cidade. E a  notícia parece menor quando o motivo para a remoção é o desprestígio à arte pelo natalense. A Galeria Anjo Azul - onde a escultura de Jordão está alojada - fechou por falta de público. E lá estavam expostas obras dos maiores artistas potiguares e de nomes internacionais. Outro sintoma da cidade que desconsagra qualquer artista foi constatado ao doar a mais cara e renomada obra de um dos maiores escultores do estado. 

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abril 13, 2011

UMA LEGENDA IMORTAL DO FORRÓ POTIGUAR

 ELINO JULIÃO
UMA LEGENDA IMORTAL DO FORRÓ POTIGUAR
por
Maria Betânia Monteiro

Filho de Sebastião Pequeno, tocador de cavaquinho e Concertina. Nasceu em Timbaúba dos Batistas (RN), em 13 de novembro de 1936. Foi menino butador d'água junto ao seu estimadíssimo jumentinho "Moleque", no sítio Tôco, onde cantarolava batendo numa lata as modinhas que aprendia na festa de Sant`Ana em Caicó - RN. Na casa grande da fazenda, onde se reuniam os moradores da redondeza, Elino Julião da Silva fazia a alegria da rapazeada. 

Costumava sair da fazenda descalço e a pé, rompendo 18 km de caatinga para bater a famosa " peladinha " em frente à Igreja de Sant`Ana na cidade de Caicó e articular-se, claro, para cantar na sede do Caicó Esporte Clube, no domingo à tarde. Cantar para Elino, já era êxtase.

Nos anos 1950, destemidamente o garoto de 14 anos "pegou morcego" no caminhão de Artur Dias e veio para Natal, se escondeu no bairro das Quintas e logo garantiu seu espaço para cantar no Programa Domingo Alegre da Rádio Poti, junto ao radialista Genar Wanderley e no animado Forró da Coréia, onde hoje é o o Estádio de futebol Machadão, forró esse que o inspirou a compor um dos seus grandes sucessos: "O forro da Coréia".

Com mais de 40 anos de carreira, foi um divulgador da cultura nordestina, inclusive, quando fez sucesso na década de 1960, no Rio de Janeiro, oportunidade dada através de Jackson do Pandeiro, que o ajudou a gravar seus primeiros sucessos. Elino Julião se tornou ainda mais conhecido no Brasil com as suas músicas interpretadas por nomes famosos como Luiz Gonzaga, Genival Lacerda, Tetê Spíndola e Coronel Ludugero.

Apresentado no CD Elino Julião, só sucessos, pela escritora Raquel de Queiroz, Elino é caracterizado como um arauto da música nordestina. Sobre o músico, disse a escritora: “... embalado por sua própria história de cantador popular, Elino Julião lança um CD contendo músicas folclóricas da região, estilo Forró, Xotes, Marchinhas Juninas, Sambas e Frevos, com originalidade e alegria, difundindo e preservando costumes e tradições Nordestinas...”. Disse ainda Raquel: Lembrar à mídia e à indústria radiofônica que a autenticidade da Música Nordestina pode fazer sucesso, é tarefa dos artistas que cantam o Nordeste, sua cultura e sua gente. Elino Julião é um desses”.

Além de O Rabo do jumento, Elino Julião é autor de consagrados sucessos, como Puxando fogo, Na Sombra do juazeiro, Filho de goiamum, A festa do senhor São João e Xodó de motorista, com regravações na Bélgica, em Portugal, e na África (Zâmbia).

Elino Julião residiu em Natal, sendo dirigido e produzido por sua esposa Maria Veneranda de Araújo. Fez shows por todo o país, com a competência de quem já tem mais de seiscentas músicas gravadas pelos mais diversos nomes da MPB. Fez seu primeiro registro fonográfico com Rabo do jumento, no ano de 1968. Gravou pelos selos CBS, Columbia e Sony Music.

Elino Julião dividiu o palco com Marinês e sua Gente no Projeto Seis e Meia, durante a V Semana de Cultura Popular, realizada no TAM, em 17 de agosto de 1999, na ocasião recebeu o Troféu 500 Anos do presidente da FJA, jornalista Woden Madruga. Elino também garante seu lugar de respeito no Dicionário da Música do Rio Grande do Norte (2001), da pesquisadora Leide Câmara.

Menino esperto que trouxe no sangue as raízes do autêntico "forró pé de serra" do sertão nordestino, registrou e divulgou com originalidade e alegria a cultura e as tradições dos folguedos populares nordestinos por mais de de 4 décadas. Elino Julião Morreu em maio de 2006, vítima de aneurisma cerebral.

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Wikipédia
www.elinojuliao.com.br
Maria Betânia Monteiro
www.tribunadonorte.com.br
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Rodrigo Sena

abril 10, 2011

UM ARTISTA POTIGUAR ENCANTA A CALIFÓRNIA

  MOCOH
UM ARTISTA POTIGUAR  ENCANTA  A CALIFÓRNIA


Por
Carla Cruz

Um Curraisnovense, com um nome arábico e residente nos Estados Unidos. Dessa mistura de culturas e influências nasceram a arte e a personalidade de Rasmussen Sá Ximenes. Aos 39 anos, o potiguar radicado na Califórnia transformou as telas e a tinta acrílica no mais fiel retrato do dia-a-dia das famílias americanas, o qual descreve como um “estilo de vida curioso e extremamente consumista”. Com influências de várias partes do mundo, o artista potiguar está encantando aos americanos com seus traços e cores fortes. Mocoh e Glorinha Távora idealizaram  uma exposição no Consulado do Brasil em San Francisco.

Em meio aos vinhedos de Sonoma, onde encontra inspiração para seus quadros, Mocoh (como assina suas obras e como o chamaremos) tem encantado aos norte-americanos com as cores vivas, que não negam suas origens tropicanas. “Minha relação com as tinhas é muito simplória. Procuro sempre o contraste com as cores primárias. Acho que foi exatamente esta simplicidade que seduziu os americanos”, destacou em entrevista especial ao portal Nominuto.com.

Admirador pleno da beleza e da harmonia, Mocoh encanta com seus sentimentos, reproduzindo-os em cenas do cotidiano e fazendo uma fusão de culturas entre as Américas. Suas obras também denunciam o passado nômade, herdade pelo pai minerador. Mesmo sendo filho e neto de professoras, não foi um aluno exemplar, o que não impediu que mais tarde nascesse o artista inovador, livre de todas as regras “normalistas”.

Atualmente, o artista desenvolve uma série intitulada “Mesas”. Nela, expõe resquícios de uma outra paixão que cultiva: a culinária. A ideia, segundo ele, é retratar o cotidiano dos americanos em personagens com características da arte nordestina. “Neste trabalho, utilizo a aplicação de pasta sintética em tela, rabisco com carvão e tudo começa a se harmonizar com muita tinta acrílica”, descreveu. Falando assim, parece simples, mas basta uma olhada rápida para se perceber a grandiosidade do trabalho de Mocoh e o capricho nos detalhes.

No entanto, apesar da desenvoltura com as tintas, suas habilidades pictóricas são relativamente recentes. Tudo começou há cerca de 10 anos, quando morava em Brasília. Lá, Mocoh viveu uma fase de muita produção. Na época, realizava trabalhos com tinta guache em cartolina e que hoje estão espalhados por São Paulo, Brasília e Natal. “Nasci artista, mas as habilidades pictóricas estiveram um bom tempo introspectas, pelo menos até Glorinha Tavora, a potiguar mais cosmopolita que conheço, introduzir meus trabalhos nos crivos dos críticos de arte de San Francisco”, comentou.


Glorinha Távora, a quem Mocoh se refere, é sua conterrânea e atual curadora. Foi ela a responsável por projetar seu trabalho em San Francisco e tem participado ativamente do processo de produção. “Aqui, tive contato com as obras de Henri Matisse, e isso me inspirou. Mas, passei a conhecer arte de verdade e de qualidade nos anos que vivi em Brasília, quando Sávio e Dodora Hackradt me deram todo suporte”, revelou o artista curraisnovense.

Hoje, Mocoh dedica todo o seu tempo à pintura, mas Rasmussen é também cozinheiro profissional e já comandou as panelas de alguns restaurantes americanos, inclusive com bandeira francesa. Para o futuro, seus planos estão todos ligados à pintura. A primeira exposição do artista aconteceu  no Consulado do Brasil em San Francisco. "Meus planos para o futuro são de divulgar meu trabalho, crescer e aprender novas técnicas. Poder criar com mais liberdade e espaço. Tudo até agora tem acontecido de maneira espontânea", comemorou o artista.

Mocoh também não descarta uma volta ao Brasil. “Tenho sangue nômade, herdado pelo meu pai, e muita disposição para percorrer o mundo. Mas, penso sim em me aquietar no Seridó, minha grande paixão e parte das minhas inspirações”, completou. Essa é a arte de Mocoh, que longe de ser um artista impressionista, impressiona, expondo seu lado expressionista e encantando pela ingenuidade de seus traços e personagens de fisionomias austeras.

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Carla Cruz