HERÓIS DA RESISTÊNCIA Severino Gomes, Cleantho Homem de Siqueira, Geraldo Seabra |
EX-COMBATENTES
HOMENS E HISTÓRIAS DE GUERRA E PAZ
Por
Valdir Julião
"Heróis da Resistência". Não se trata de nenhuma alusão à extinta banda de rock carioca. Mas é assim que se pode chamar os 37 ex-combatentes ou "pracinhas" do Rio Grande do Norte, ainda vivos, que participaram das ações militares da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em solo italiano, durante a 2ª Guerra Mundial (1939/1945).
"Mas os que ainda podem se locomover sem ajuda de ninguém são uns oito" contabiliza o veterano de guerra e capitão da reserva do Exército Brasileiro, Severino Gomes de Souza, 87 anos, a respeito dos 301 potiguares que integraram a FEB, dos quais somente seis tombaram em solo europeu.
"Todo ex-combatente tem algum tipo de neurose", chegou a brincar o capitão Severino de Souza, que atualmente preside a Associação dos Ex-combatentes do RN, que depois de funcionar durante muitos anos, na avenida Rio Branco, na chamada subida do Baldo, agora está instalada numa sala do 16º Regimento de Infantaria (16 RI), na avenida Hermes da Fonseca, no Tirol.
Na sala ampla, existem algumas maquetes sobre o cenário dos campos da Itália, fotos dos combatentes mortos durante as operações de guerra e outros documentos. Até um capacete alemão foi doado por um colega de Souza para a Associação: "O capacete alemão é de ferro puro, o nosso como o do americano tinha fibra por dentro", contou ele.
"Mas os que ainda podem se locomover sem ajuda de ninguém são uns oito" contabiliza o veterano de guerra e capitão da reserva do Exército Brasileiro, Severino Gomes de Souza, 87 anos, a respeito dos 301 potiguares que integraram a FEB, dos quais somente seis tombaram em solo europeu.
"Todo ex-combatente tem algum tipo de neurose", chegou a brincar o capitão Severino de Souza, que atualmente preside a Associação dos Ex-combatentes do RN, que depois de funcionar durante muitos anos, na avenida Rio Branco, na chamada subida do Baldo, agora está instalada numa sala do 16º Regimento de Infantaria (16 RI), na avenida Hermes da Fonseca, no Tirol.
Na sala ampla, existem algumas maquetes sobre o cenário dos campos da Itália, fotos dos combatentes mortos durante as operações de guerra e outros documentos. Até um capacete alemão foi doado por um colega de Souza para a Associação: "O capacete alemão é de ferro puro, o nosso como o do americano tinha fibra por dentro", contou ele.
A remuneração dos soldados era dividida em três partes, uma o próprio soldado recebia na Itália, outra parte ia para a família no Brasil e uma terceira era depositado numa poupança no Banco do Brasil. O capitão Souza conta que no decorrer do período pós-guerra muitas leis foram feitas para amparar o veterano de guerra ou o ex-combatente, aqueles que não foram para a zona de guerra, mas participaram do patrulhamento costeiro do Brasil, principalmente no Rio Grande do Norte, onde havia a base americana de Parnamirim.
Mas, logo ao fim da guerra, segundo ele, muitos "pracinhas" tiveram dificuldades de voltar à vida civil, "porque não tinham preparação psicológica", e nem formação profissional, inclusive para conseguirem empregos. Ele conta até um episódio de um "praça" seu conhecido, que ao desembarcar no país e não encontrar trabalho de imediato, "gastou tudo o que tinha na zona do baixo meretricio", que era o que mais existia nas áreas portuárias. O capitão Souza está escrevendo um livro de memórias, mas não pretende publicá-lo: "Vou deixar isso para os meus filhos, se eles quiserem".
Em 25 de agosto deste ano, os ex-combatentes comemoram os 65 anos da vitória da FEB na Itália, e recentemente, eles foram homenageados pelo 16º Regimento de Infantaria Motorizada 16 RI), sediado na avenida Hermes da Fonseca, no Tirol, com a inauguração, em 24 de Maio, no "Dia da Infantaria", de um monumento onde foram apostados os nomes de heróis de guerra do Rio Grande do Norte, mortos ou desaparecidos em combate em guerras das quais o Brasil participou, como a Guerra do Paraguai (1864/1870).
Mas, logo ao fim da guerra, segundo ele, muitos "pracinhas" tiveram dificuldades de voltar à vida civil, "porque não tinham preparação psicológica", e nem formação profissional, inclusive para conseguirem empregos. Ele conta até um episódio de um "praça" seu conhecido, que ao desembarcar no país e não encontrar trabalho de imediato, "gastou tudo o que tinha na zona do baixo meretricio", que era o que mais existia nas áreas portuárias. O capitão Souza está escrevendo um livro de memórias, mas não pretende publicá-lo: "Vou deixar isso para os meus filhos, se eles quiserem".
Em 25 de agosto deste ano, os ex-combatentes comemoram os 65 anos da vitória da FEB na Itália, e recentemente, eles foram homenageados pelo 16º Regimento de Infantaria Motorizada 16 RI), sediado na avenida Hermes da Fonseca, no Tirol, com a inauguração, em 24 de Maio, no "Dia da Infantaria", de um monumento onde foram apostados os nomes de heróis de guerra do Rio Grande do Norte, mortos ou desaparecidos em combate em guerras das quais o Brasil participou, como a Guerra do Paraguai (1864/1870).
BAR FUNDADO HÁ 55 ANOS CONSERVA HISTÓRIA DA FEB
Uma das reminiscências da vida civil dos veteranos de guerra do RN ainda desafia o tempo na antiga avenida 15, no cruzamento das avenidas Bernardo Vieira e Salgado Filho: o Bar Ex-combatente, fundado há 55 anos.
O prédio já esteve à venda, mas agora é parte do inventário do seu fundador, o veterano de guerra José Soares da Silva, que foi para Itália, noivo. O filho dele, José Geraldo Soares da Silva conta que o bar faz parte da sua vida: "Desde menino que estou aqui, comecei a trabalhar com oito anos". E diz que vai ficar com o bar até fechar as suas portas.
Prateleiras vazias e com as instalações necessitando de reparos, o Bar Ex-combatente ainda tem uns raros e assíduos fregueses, como o motorista de ônibus aposentado há 11 anos, Luiz Farias da Silva: "Só saio daqui quando fechar".
Irmão de Geraldo, o artista plástico Edvaldo Soares tem um atelier em outro prédio que pertenceu ao pai, vizinho ao Bar Ex-combatente. Ele conta que está preparando uma exposição para homenagear seu pai. "Vou passar para aquarela todas as fotografias dele e dos seus amigos na Itália", disse ele.
O acervo depois de concluído, segundo Edvaldo Soares, "vai ficar para a família", que ao todo são oito irmãos vivos.
Enquanto não termina o inventário do Bar Ex-combatente, a esquina oposta à área do IFRN vai se transformando "num corredor cultural", pois além das reminiscências da Segunda Guerra Mundial e do atelier de pintura que Edvaldo divide com o artista plástico Assis Marinho, mais uma casa à frente fica o sebo de livros de Jácio Torres, transferido pra lá depois do incêndio que consumiu todo o acervo do sebo "Cata Livros", em Nova Descoberta.
VETERANO QUER ESCREVER LIVRO
O veterano da FEB, capitão da reserva Cleantho Homem de Siqueira, 89 anos, é uma espécie de "presidente de honra" da Associação dos Ex-combatentes de Guerra: "Cada um de nós tem uma história diferente para contar".
Cleantho Siqueira conta que desde menino sempre sonhou com a caserna e, para isso, teve o apoio da mãe. Ao fim da guerra, segundo ele, o presidente Getúlio Vargas assinou a dissolução da FEB e todos os "pracinhas" deveriam voltar à vida civil.
No caso de Siqueira, o acalentado sonho da infância não se desvaneceu e ele não desistiu de continuar no Exército. "Eu era o único datilógrafo da minha infantaria", disse ele, que se incorporou ao 11º RI, o Regimento Tiradentes, sediado em São João Del Rey, Minas Gerais.
Como datilógrafo, Siqueira foi incumbido de redigir a lista de todos os "pracinhas" que iam ser licenciados: "Quando chegou a vez do meu nome, parei".
Siqueira conta, então, que falou com o seu comandante, que era um capitão, sobre o seu desejo de continuar no Exército. O capitão mandou que falasse com o sargento, mandando que o retirasse da lista. A contragosto, continuou Siqueira, o sargento não quis obedecer as ordens, porque estava no dormitório e não queria "se vestir de novo" para falar com o oficial superior.
Ai, finalizou Siqueira, foi que voltou para a máquina de datilografia e a despeito do sargento não ter gostado, ele mesmo tirou seu nome da lista de dissolução dos combatentes da FEB.
Alguns ex-combatentes ainda passaram dificuldades financeiras hoje, porque embora amparados por lei, aposentaram-se pela previdência social com os proventos de quando estavam trabalhando e isso foi achatando através dos anos. Os veteranos que ainda continuaram na carreira militar, têm um vencimento melhor.
Outros, como Geraldo Seabra, 91 anos, o "Ceará", que foi um voluntário da FEB no RJ, era da Marinha Mercante, eram exceção. Quando voltou da Guerra, foi estivador no porto do Rio, "porque se ganhava mais", e onde se aposentou com um salário razoável. Isso o permitiu se aposentar com o salário superior, mas que ele diz ter perdido pelo menos 50% por causa dos planos econômicos e achatamento da previdência.
Autor do livro "Guerreiros Potiguares - o RN na Segunda Guerra", Cleantho Homem de Siqueira prepara um livro de memórias, que ele pretende publicar até o fim de 2012.
MEMÓRIA
Combatentes do RN mortos na Itália:
Soldado Luiz Viana Barbosa, 12.dez.1944
Soldado Belarmino Ferreira da Silva, 26.fev.1945
Soldado José Varela, 14.dez.1945
Soldado Manoel Lino Paiva, 14.abr.1945
Soldado Cosme Fontes Lira, 23.abr.1945
Sargento Rodoval Cabral da Trindade, 6.jun.1945
...fonte...
Valdir Julião
...fotografia...
Adriano Abreu
Parabéns aos que corajosamente insistem em preservar as lembranças e as memórias dessa época. Meu pai é ex-combatente e atuou na vigilância da nossa costa marítima e sempre me diz que os tempos de guerra foram tempos muito difíceis. Parabéns também aos potiguares que lutaram contra a tirania e a opressão ditada pelos nazistas. Muito nos honram com a sua participação na 2ª Guerra.
ResponderExcluirSilvana Gruska