Os integrantes ativos que formam a organização do Cineclube Natal
Pedro Fiúza, Vítor Bezerra, Nelson Marques, Gian e Themis Marchi,
Andressa Vieira e Isadora Lima
NOVOS RUMOS AO CINEMA DE ARTE
Por
Sérgio Vilar
O cinema é chamado de 7ª Arte. Em Natal/RN, bem poderia ser a 15ª ou a última das artes. A história de decaso com o fazer e o assistir cinema na cidade impressiona. A produção audiovisual ainda engatinha. As poucas salas de cinema são concentradas em shoppings. O público superlota o lançamento de blockbusters e esvazia qualquer iniciativa de exibição de cinema de arte. Se em estados vizinhos como a Paraíba, Pernambuco ou Ceará se formam federações com 30 ou 40 cineclubes, no Rio Grande sem Cinema há apenas um cineclube atuante.
E o Cineclube Natal inicia o ano reformulado. Novos parâmetros de atuação, nova equipe e novos projetos. A ideia é se adequar ao comportamento do público. E para isso, a diretoria diagnosticou quais os costumes do natalense. Foram sete anos de observação, desde a fundação do Cineclube Natal. A conclusão é precisa se considerados alguns fatos. “O público natalense é midiático, fruto de uma elite econômica extremamente conservadora. Gosta de ver e ser visto. Típico de um provincianismo de vila”, aponta Nelson Marques, diretor do Cineclube Natal.
A observação é comprovada em exemplos. Se as sessões de cinema ora gratuitas, ora a preço simbólico de R$ 2 para filmes de inquestionável qualidade rendem gatos pingados, mais de mil pessoas pagam ingressos acima de R$ 80 para shows de artistas nacionais no Teatro Riachuelo. “Se o show for em uma praia popular, não dá essa quantidade de pessoas. No TR você é visto; você está no local badalado da cidade. E isso vale para várias outros exemplos onde o povo frequenta não pela qualidade da arte mostrada, mas para ser visto”, acredita Nelson Marques.
Em 2011, o público minguado e a dificuldade de manutenção de alguns projetos de sessões fixas de cinema em razão da equipe reduzida provocou a suspensão de algumas ações. Este ano a ideia foi reformular. O projeto Cinéphilie, em parceria com a Aliança Francesa para exibição de filmes de origem francesa será mantido. Será retomado o Cine Café, em Nalva Melo Salão. E a parceria de cinco anos com o Cine Assembleia será suspensa. “Não sentimos mais interesse da parte deles”, lamenta o cineclubista.
A parceria com o Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP) será diferente. “Em vez do projeto Cine Vanguarda (de exibições semanais) promoveremos mostras com cinco dias seguidos de filmes temáticos, a exemplo da semana dedicada a John Cassavetes, que atraiu bom público no ano passado. Nelson também adiantou a intenção de promover a segunda edição da mostra Cinema e Cabelos, mais uma vez exibida em Nalva Café. “Desta vez dedicada aos cabelos masculinos”. Em maio, uma mostra de cinema cult, provavelmente de volta ao TCP. “E também retomaremos a mostra do filme asiático”.
O Carrossel da Vida e do Amor
O Cineclube Natal em sua 199ª sessão em 2010
O Cineclube Natal em sua 199ª sessão em 2010
FILMES E LIVROS
O Cineclube Natal tem projetos de publicação de livros em andamento e outros a serem iniciados. “Temos franco interesse no trabalho de pesquisa. Temos compilado material para dois livros. Um é sobre a história do cineclubismo potiguar. Nós temos uma peculiariedade: nunca na história pelo menos dois cineclubes potiguares atuaram de forma intensa. No passado foi o Cineclube Tirol. Hoje o Cineclube Natal. E os outros promovem ações pontuais, de âmbito particular e sem participação na política do audiovisual potiguar”.
Nelson Marques aponta alguns fatores para a existência ínfima de cineclubes no Estado. “Compare o cenário cultural em estados vizinhos e veja que o Rio Grande do Norte está a anos luz de distância, no cinema ou outra área artística. E cineclube depende de público, de estímulo, da equipe. E aqui é como eu já falei: o povo quer ser visto. E para construir esse contexto de badalação precisa de muita coisa ainda”. O outro livro diz respeito à iconografia das salas de cinema no Rio Grande do Norte. “Se as salas de cinema do estado sumiram, a história delas precisa ser resgatada”, acrescenta.
Um terceiro livro é uma meta do Cineclube Natal: uma avaliação do papel dos filmes B no cinema. “No meu tempo as salas de cinema exibiam dois filmes por vez, sendo uma de menor qualidade e orçamento. E essa restrição orçamentária serviu de estímulo para bons diretores produzirem verdadeiras obras primas do cinema. Então, este livro pretende resgatar alguns desses filmes, tecer comentários, resenhas; abrir a discussão em torno desses filmes”, adianta Nelson Marques.
O quarto livro – ou o primeiro, pela ordem – está pronto e entregue à comissão de editores da UFRN, à espera do parecer de aprovação. O nome é Sessão Dupla. São comentários, resenhas e ensaios comparativos entre filmes e remakes. “Imagino ser interessante ao público esse tipo de comparação a partir do contexto de épocas, de releituras. Veja que qualquer obra de Shakespeare foi cinematografada. Tem o caso de Hitchcock, autor de duas versões para um mesmo filme. Tem muita coisa interessante”, se orgulha.
Durante praticamente todo o ano passado, o Cineclube Natal arquejou com apenas os três diretores na equipe: o presidente Pedro Fiúza, o tesoureiro Nelson Marques e a secretária Tatiana Lima. Este ano angariou outros sete voluntários. A pretensão é transformar o blog em site e receber textos colaborativos sobre o cinema. “Agora podemos trabalhar de forma mais eficaz, porque o trabalho intelectual de definição de filmes e mostras é o mínimo. Tem o físico que é o de montar equipamento, etc. E é um trabalho voluntário, sem remuneração, por puro idealismo e paixão pelo cinema”, conclui Nelson Marques.
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Sérgio Vilar
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