março 28, 2012

...E A MÚSICA CHOROU

  A Potiguar Ademilde Fonseca conquistou todo o Brasil com seus chorinhos

"O ADEUS DA RAINHA"

A cantora Ademilde Fonseca morreu no final da noite desta terça-feira (27/03), no Rio de Janeiro, informou a família. Segunda a neta, Ana Cristina, Ademilde sofreu um mal súbito e morreu em casa, no bairro da Lagoa, por volta das 23h.

Conhecida como a "Rainha do chorinho", ela tinha 91 anos e sofria problemas cardíacos. Ademilde era potiguar de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte.

A "Rainha do choro" iniciou sua carreira na década de 40 e continuava normalmente suas atividades, fazendo shows, participando inclusive da gravação de dois programas da Globo News nesta segunda-feira (26). Na semana passada, fez shows em Porto Alegre.

Criadora do choro cantado também foi a primeira cantora nordestina a encantar o país com esse gênero gracioso, brejeiro e bastante difícil de ser cantado. Ademilde deixa uma filha, a também cantora Eymar Fonseca, três netas e quatro bisnetos.

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 Ademilde Fonseca durante o concurso Rainha e Rei do Rádio de 1957
Imagem: Arquivo/D.A Press

ADEMILDE FONSECA
A RAINHA DO CHORINHO

Tudo começou quando Ademilde foi fazer um teste com o Renato Murce na Rádio Clube do Brasil. Cantou o samba Batucada em Mangueira, do repertório da Odete Amaral, acompanhada pelo Benedito Lacerda, e passou; desde então eles ficaram amigos, e passaram a cantar juntos em clubes e festas particulares.

Ademilde Fonseca Delfino nasceu em  São Gonçalo do Amarante, no estado do Rio Grande do Norte, em 4 de março de 1921. Ademilde conquistou com suas interpretações a consagração como a maior intérprete do choro cantado, recebendo do instrumentista Benedito Lacerda o título de "Rainha do Chorinho".

Aos quatro anos de idade, foi viver com a família em Natal (RN) onde morou até o início da década de 1940. Desde criança gostava de cantar. Ainda na adolescência, começou a se interessar pelas serestas e travou conhecimento com músicos locais.

Pouco mais tarde se casou com o violonista Naldimar Gideão Delfino, mudando o nome para Ademilde Fonseca Delfino. Com ele se mudou para o Rio de Janeiro em 1941.

Ao separar-se de Naldimar, adotou o nome artístico de Ademilde Fonseca como seu nome documental. Seu nome oficial sofreu duas alterações ao longo da vida. Foi registrada como Ademilde Ferreira da Fonseca.

Ademilde trabalhou por mais de dez anos na TV Tupi e seus discos renderam mais de meio milhão de cópias. Além de fazer sucesso em terras nacionais, regravou grandes sucessos internacionais e se apresentou em outros países.

Ademilde Fonseca tirou de letra aqueles intervalos criados normalmente para serem executados por instrumentos, que não têm as limitações da escala vocal. Com um aparelho vocal para lá de privilegiado, ela ainda conseguiu manter uma dicção impecável e clara em suas interpretações.

Em 2001 Ademilde, por conta de seu aniversário, foi recebida na Rua do Choro, com direito a um recital dos chorões locais. E em Pirituba, lugarejo próximo a Natal (RN), onde nasceu, uma praça foi batizada com seu nome. Ela aproveitou a viagem a sua terra e abriu o Projeto Seis e Meia em Natal, no Teatro Alberto Maranhão.

Eymar Fonseca, Ademilde Fonseca e Jô Soares
 "O fato de colocar voz no chorinho foi uma casualidade"
"Eu já vim de Natal, uma cantora pronta"

Em 1942, quando tinha 21 anos de idade, Ademilde, que já morava no Rio, decidiu cantar durante uma festa, acompanhada por Benedito Lacerda e seu regional, uma música que conhecia desde criança: o choro Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu. Acabou sendo levada aos estúdios de gravação para registrar a tal façanha. Sucesso total. A partir daí, vieram outros lançamentos imortais, como Apanhei-te Cavaquinho, Urubu Malandro (com letra), Rato, Rato, Teco-Teco, Pedacinhos do Céu, Acariciando, além de Brasileirinho e do baião Delicado. Essas duas últimas acabaram rodando o mundo em sucessivas regravações internacionais.

Ademilde teve algumas chances de se apresentar fora do país. Em 52, cantou em Paris, numa festa dada por Assis Chateaubriand aos vips locais, e, em 84, abriu o carnaval brasileiro de Nova York.

Ela ainda atuou muitos anos nas rádios Tupi e Nacional, até o fechamento dessa última, em 1964. Depois, chegou a defender um belo choro de Pixinguinha e Hermínio Bello de Carvalho (Fala Baixinho) no II Festival Internacional da Canção da TV Globo, em 1967, e teve um expressivo revival nos anos 70 com apresentações concorridas no Teatro Opinião, gravando dois novos discos.

Chegou a pensar em se aposentar, mas nunca a deixaram abandonar a música. Claro, ela é única no estilo que consagrou. Ademilde diz que só não foi mais longe por pura acomodação. E que só recentemente se deu conta de seu valor e de que ninguém jamais cantou choro como ela. Ao mesmo tempo, a cantora não estranha as novas tendências musicais como o funk e o rap. Acha tudo muito natural, parte das mudanças que a música veio sofrendo ao longo dos tempos.

Aliás, serenidade é uma boa palavra para definir o jeito de Ademilde, embora ela seja uma pessoa muito ativa. Não pára em casa e está sempre atenta às novidades do mundo via TV. Romântica, porque ninguém é de ferro, ela admite que não resiste a vozes como as de Orlando Silva e Lucho Gatica.

Em entrevista ao Cliquemusic (2001) Ademilde disse: "É uma música falada e não cantada que está dominando atualmente. São ligeirinhas as palavras, as letras falam sempre de uma história daquele momento, do morro, da cidade, da vida política... Tudo em música é válido. A gente não pode pichar, porque está tudo dentro do contexto da nossa atualidade. Saiu de moda o culto à voz, o cantor de boa voz parece que não vai para frente. Hoje o pessoal prefere mais assistir a uma menina nuazinha, com o corpo quase todo de fora, dizendo letras como "Dói, um tapinha não dói"... (risos) Mas é o sinal da mudança dos tempos".


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