abril 30, 2012

UMA ADOLESCÊNCIA VIVIDA EM NATAL

 NATÁLIA KLEIN
Roteirista de programas de humor como Zorra Total,
ela fala de sua adolescência em Natal, onde estudou Comunicação Social
 e começou sua carreira artística no teatro, cultivando seu desejo de ser atriz

 ADORÁVEL PSICÓTICA

Por
Yuno Silva

A velha máxima de que "de médico e louco todo mundo tem um pouco" continua valendo, mas para a atriz e roteirista Natália Klein o adágio precisa ser minimamente adaptado. Autora e protagonista da série de humor "Adorável Psicose", cuja terceira temporada estreou em 19/04 no canal fechado Multishow, Natália colhe os frutos plantados desde a adolescência vivida em Natal, onde cultivou seu desejo de ser atriz e começou a cursar Comunicação Social na UFRN - mesmo com a certeza de que não era essa a sua praia, chegou a trabalhar por quase um ano como repórter em um emissora local de televisão.

Seu 'namoro' com a carreira artística ganhou força aqui no Rio Grande do Norte, quando participou por pouco tempo do grupo de teatro Ditirambo (criado pelo ator e diretor potiguar César Amorim, hoje radicado no Rio de Janeiro), na época da montagem do espetáculo "Flores de Plástico": "Foi bem no período que estava voltando para o Rio", disse a atriz por telefone à reportagem do VIVER, no mesmo ritmo frenético de sua personagem da série - não por acaso também chamada Natália. Ela explicou que estava preparando a casa para uma sessão de fotos, e que iria "receber uma revista interessada em mostrar como vive a Natália de verdade", brincou.

Detalhe: a palavra namoro, destacada acima, é considerada pela própria como mola mestra de "Adorável Psicose". A série televisiva trata-se de um desdobramento do blog homônimo (adoravelpsicose.com.br), protagonizado por "uma menina maluquinha, em busca de um relacionamento".

Carioca da gema, "apesar de não parecer devido à extrema brancura", ela passou oito anos na capital potiguar, dos 11 aos 19, por causa da profissão da mãe (militar), e há oito voltou a morar no Rio de Janeiro. Concluiu o curso universitário por lá (Rádio e TV), e passou a ser colaboradora como roteirista de programas humorísticos como "Zorra Total" e "Junto e Misturado" (com Bruno Mazzeo), ambos da TV Globo. "Passei a enviar alguns textos para a produção do Zorra Total, fui chamada para um teste, fiz estágio e agora estou na equipe de roteiristas do programa... e lá se vão quatro anos", recorda. Como atriz, Natália Klein também participou da série de comédia "Macho Man" (TV Globo).

 Natalia Klein como Nikita, em Macho Man
 fotografia: Estevam Avellar / TV Globo

CINEMA ESTÁ ENTRE OS PLANOS FUTUROS

Sobre "Adorável Psicose", ela contou que tudo começou por acaso durante um bate-papo pela internet com um "ficante fixo de médio tempo". "Comecei o blog no mesmo dia em que tive uma conversa com o cara com quem estava saindo. Na medida que a madrugada avança, o papo vai rareando e uma hora temos que encerrar. Tomei a iniciativa e disse que 'estava indo', isso umas quatro da madrugada, e ele 'vai, vai'. Como assim? Sem insistir nem uma vez? Então escrevi um texto sobre o assunto e criei a página", explicou.
 
Com honestidade nas palavras e boas pitadas de, por que não(!?), uma adorável psicose, o endereço eletrônico logo foi disseminado e Natália começou a receber uma enxurrada de mensagens de pessoas que se identificaram com as situações. "Vivemos uma geração meio desiludida com relação à afetividade", verifica a atriz.
 
A partir do sucesso na internet, escreveu dois programas pilotos de cinco minutos, que serviram como trabalho de final de curso, e logo estava no Multishow. "Trabalhei bastante nos bastidores antes de ir para a frente das câmeras, e quando pintou o convite fiquei na dúvida, insegura, mas percebi que ninguém poderia fazer melhor um personagem inspirado em mim que eu mesma."
 
Natália garante que o blog é bem mais próximo da realidade, "pois no programa tudo é exagerado, superlativo, coloco uma lente de aumento em tudo. E é bacana perceber que o programa ganhou vida própria, quem me conhece reconhece isso", avaliou.
 
Os programas pilotos de "Adorável Psicose" foram viabilizados na produtora onde trabalhava como assistente, e toda a equipe técnica acabou sendo incorporada ao projeto, os atores é que foram escolhidos a partir de testes ou convites. "É bacana trabalhar com amigos, ver a evolução de cada um. O clima é sempre ótimo no set e tenho total liberdade", disse a atriz, que faz questão de acompanhar todo o processo de criação, desde o roteiro até a edição. Os treze episódios da terceira temporada já estão prontos e ela já começou a trabalhar na quarta.
 
Natália informou que a principal diferença entre as três temporadas está na estética, cada vez mais "linda" dos cenários e figurinos (estes inspirados no próprio estilo da atriz, uma moda retrô- modernete com cortes e estampas que lembram os anos 1940, 50 e 60), e no atores "cada vez mais afiados". "Estamos mais profissionais, evoluímos juntos", observa. Nos planos para um futuro próximo, ela quer transportar toda a psicose adorável de sua personagem para as telas do cinema. "Já estamos pensando nisso, a comédia nacional passa por uma boa fase e essa é a hora certa!"


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abril 28, 2012

NATAL: A PEQUENA NOTÁVEL DE OUTRORA

  O velho Baldo e ao fundo a  Praça Tamandaré em 1959
No canto da praça existia uma fonte luminosa que deixou saudades
Natal apresentava insuficiência urbanística caracterizada pela modéstia
 das edificações e, sobretudo, ausência de indústrias

NATAL QUE MANOEL DANTAS NÃO VIU
 
Por
 João Gothardo Dantas Emerenciano   

A cidade do Natal, no ano de 1959, estava longe de ser a “metrópole do Oriente da América” que Manoel Dantas (1867-1924) previu na sua histórica conferência Natal daqui a cinqüenta anos, proferida no salão nobre do palácio do Governo do Estado, no dia 21 de março de 1909, e que segundo o poeta Jota Medeiros constitui o marco do Futurismo, antecedendo o manifesto de Marinetti.  

Com uma população de aproximadamente 167.202 habitantes distribuídos em doze bairros – Santos Reis, Rocas, Ribeira, Cidade Alta, Petrópolis, Tirol, Alecrim, Lagoa Seca, Lagoa Nova, Dix-Sept Rosado, Quintas e Mãe Luiza – Natal apresentava insuficiência urbanística caracterizada pela modéstia das edificações, precariedade da malha viária, transportes coletivos obsoletos e, sobretudo, ausência de indústrias.  

A administração do município, que tinha 489 logradouros públicos (avenidas, ruas, travessas, praças e vilas), era coordenada por três secretarias (Finanças, Negócios Internos e Jurídicos, Viação e Obras) reunindo vinte e seis repartições.

Tinha o suporte da Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil, Serviço de Água e Esgoto de Natal, Serviço de Limpeza Pública e o Serviço de Transportes Coletivos que supervisionava as doze linhas de auto-ônibus (Rocas/Matadouro; Jaguarari; Petrópolis/Grande Ponto; Tirol/Grande Ponto; Circular; Lagoa Nova/Alecrim; Avenida 4; Avenida 10; Rocas/Igapó; Grande Ponto/Praça Augusto Leite; Circular via Alexandrino de Alencar; Natal/Parnamirim) e treze linhas de auto-lotação e micro-ônibus, considerados coletivos de primeira categoria, atendendo no horário das 5 às 22 horas com pequenas modificações no percurso realizado pelos auto-ônibus que funcionavam das 5 às 24 horas.

   À esquerda, entrando na João Pessoa,  ia pra o Cine Rio Grande;
 em frente, do lado direito, à frente do lotação, o prédio onde era o Cine Rex; 
mais a frente, à esquerda, a Escola Industrial de Natal

 A educação era ministrada por oito estabelecimentos de ensino superior (Escola de Engenharia, Escola de Serviço Social, Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais, Faculdade de Direito, Faculdade de Farmácia e Odontologia, Faculdade de Filosofia, Faculdade de Medicina, Instituto Filosófico São João Bosco); quatorze cursos secundários (Colégio Imaculada Conceição, Colégio N. Senhora das Neves, Colégio Santo Antônio, Escola Doméstica, Escola Industrial, Escola Normal, Escola Técnica de Comércio Alberto Maranhão, Escola Técnica de Comércio de Natal, Escola Técnica Visconde de Cairu, Ginásio São Luiz, Ginásio 7 de Setembro, Instituto de Educação do Rio Grande do Norte, Seminário e Instituto Batista Bereiano, Seminário Menor de São Pedro); cento e sessenta escolas mantidos pelo Governo do Estado e noventa e oito “escolinhas” mantidas pela Prefeitura, além de vinte e um cursos particulares.
 
O sistema de saúde tinha o atendimento de trinta e seis estabelecimentos (hospitais, casas de saúde e ambulatórios) sendo o principal deles o Hospital Miguel Couto, atual Hospital Universitário Onofre Lopes.

O cemitério do Alecrim continuava a ser o nosso único Campo Santo, “onde o cipreste chora noite e dia a música dorida de saudades pungentes”.

A inexistência de supermercado forçava a população a fazer suas compras nos quatro mercados (Cidade Alta, Alecrim, Quintas e Ribeira) e nas mercearias e bodegas.

Esplanada Silva Jardim, Ribeira, vendo-se a Árvore da Cidade

O lazer era feito nos vinte e cinco clubes recreativos existentes, no Teatro Alberto Maranhão, e nos cinemas, Rex, Rio Grande, Nordeste, São Luiz, São Pedro, São Sebastião, São João e Potengi, além do passeio de barco a motor e a vela até a praia da Redinha, com saída do porto flutuante do Canto do Mangue.

Os jornais “A República”, “Diário de Natal”, “Jornal de Natal”, “O Poti”, “Tribuna do Norte”, e as estações de rádio, Cabugi, Nordeste, Poti e Emissora de Educação Rural, disputavam os leitores e a audiência da população que tinha poucos divertimentos.

Afora os equipamentos e serviços citados existiam em Natal, “no ano da Graça de 1959”, dez bancos, três bibliotecas, nove cartórios, seis consulados, doze cooperativas, dez agências de correios e telégrafos, treze hotéis, seis pensões, quarenta e sete templos católicos, vinte templos protestantes, dezessete centros espíritas, quatro lojas maçônicas, oito “praças” de automóveis de aluguel, trinta e um sindicatos, nove agências de transportes fluvial (Natal/Redinha), vinte e uma agências de transportes rodoviário e a Rede Ferroviária do Nordeste, que fazia o tráfego com municípios dos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, além da cidade do Recife.

 /www.facebook.com/eduardoalexandregarcia

abril 27, 2012

COMO SE PINTA UMA CIDADE?

 PEDRO GRILO 
Poeta e pintor, o artista de 75 anos imortaliza e compartilha
 78 imagens que fizeram parte de sua infância

 CORES DE GRILO

 Por
Yuno Silva

Figura inconfundível, errante que perambula com desenvoltura das Rocas até a Cidade Alta, sempre protegido por seu indefectível sombreiro e quase sempre amparado por um cajado, Pedro Grilo abriu sua primeira exposição individual nesta quinta-feira, 26/04, no Palácio Potengi - Pinacoteca do Estado. Poeta e pintor, o artista de 75 anos imortaliza 78 imagens que fizeram parte de sua infância e compartilha essas memórias em "Grilo Borratela".

  
Em cartaz até dia 26 de maio, a exposição apresenta detalhes de uma Natal perdida no tempo, mas extremamente viva nas cores vibrantes dos quadros de Pedro Grilo, que ampliou fotografias antigas e aplicou sobre elas uma espessa camada de sua paleta furta-cor. "Gosto de cores", simplificou Grilo ao VIVER. As obras, de dimensões generosas (60cm por 80cm), estão todas à venda e o potencial comprador precisa considerar seu alto valor histórico ao desembolsar R$ 3 mil por cada uma. "Minha intenção é arranjar alguma empresa que compre e doe tudo para o Instituto Histórico (e Geográfico do RN)", adiantou.


Negociações quanto ao valor estão fora de cogitação, e o autor avisa que se não conseguir vender vai "chamar a imprensa e queimar tudo aos pés (da estátua) de Iemanjá" na praia do Meio. "Quero dar um golpe no capitalismo, que pode até cagar na cabeça dos outros, mas na minha não!" A exposição está sendo planejada por Grilo desde 2005, e talvez, como disse o próprio, seja a única. "Por mim faria mais umas 80 (exposições), mas falta apoio, as coisas nas Fundações são lentas demais."

   
A ideia para montar "Grilo Borratela" surgiu como um estalo, quando um amigo mostrou quatro fotos antigas. "Foi como um estalo: 'vou pintar uns quadros a partir disso'. As imagens estavam ruins, muita coisa faltando, tudo em preto e branco, e lembro de muita coisa, das cores, coisas que nem existem mais e são difíceis de encontrar mesmo nos arquivos disponíveis", valorizou o artista, cuja intenção inicial era mostrar 80 pinturas - "só consegui aprontar 78 a tempo", justifica.


Uma dessas raridades, perseguida pelo incansável 'garimpeiro' de imagens Eduardo Alexandre "Dunga" Garcia, é o retrato da antiga fábrica de tecido de Juvino Barreto, que funcionou onde hoje é a agência Ribeira da Caixa Econômica, na subida da avenida Câmara Cascudo (antiga Junqueira Ayres). Mas entre as obras destacadas, uma em especial mereceu atenção e carinho redobrado do artista: a escola onde estudou, o antigo colégio Augusto Severo na Ribeira. "Hoje está caindo aos pedaços. Aquela praça (Augusto Severo) era tão linda, toda arborizada, tinha um lago, pontezinhas... destruíram tudo", lamentou Pedro Grilo.

  
As telas, muitas com um colorido psicodélico, misturam realidade e elementos complementares de perfil naïf, e retratam paisagens, monumentos e prédios históricos dos bairros das Rocas, Ribeira e Cidade Alta até o Baldo.


Além da intenção "de golpear o capitalismo" com a venda dos quadros, Grilo também pretende financiar o relançamento da primeira edição de seu livro "Mel e cicuta" (2000), lançamento abortado devido os erros de digitação que tiraram o autor do sério. "Inexperiente, mandei fazer o livro numa copiadora e a mulher que digitava deu bem uns 100 erros de português. Onde era 'cinco' escreveu 'clínico', em vez de 'promissor' botou 'promissária'." Corrigiu tudo, mas não salvou no disquete, "na época só tinha disquete", e teve que suspender a venda na noite de lançamento.


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Yuno Silva

abril 26, 2012

UM ESTILO ELABORADAMENTE POP

 "SEM PARAR"
 Sofisticação e poesia permeiam as 11 faixas do novo disco de Mariano Tavares
   Seu trabalho busca atingir a criação de uma sonoridade 
que venha a ser extremamente pessoal e intransferível, 
um conceito poético, melódico e harmônico 

MARIANO TAVARES

 Por
Silvia Yama
 
Eu estou apaixonada pelo trabalho do Mariano Tavares. Eu sempre me pergunto onde ele estava todo este tempo, até porque este é seu segundo disco. Sabemos que o caminho que o artista trilha às vezes é longo, cheio de conflitos, desencontros e paixões. Aliás, paixão, é o seu combustível, pelo que percebi.

Mariano preza pelo primor, palavras polidas, arranjos sofisticados, um pouco de regionalismo, nostalgia. Também sinto que seu trabalho musical é um pequeno diário pessoal, que se confunde com as nossas vidas. Passamos a vida toda engolindo sentimentos como culpa, dor, arrependimentos. Mariano grita isso em sua obra. Palmas pra você, querido!

E é neste clima que o poeta assuense e professor de Literaturas Norte-Americana e Inglesa na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) lança, com exclusividade em nosso espaço, o álbum Sem Parar, definindo-o como ”a continuidade de tudo aquilo que não controlamos no mundo: A natureza, o amor, o acaso, a beleza, o futuro, a inocência, o sonho, a morte; tudo que desliza nos espaços da vida, continuamente, ininterruptamente, sem parar”. Palavras dele.

Professor de Literaturas Norte-americana e Inglesa na UERN,
 cantor e compositor, assuense, potiguar, nordestino. É Mariano Tavares

As composições de Sem Parar são simples, porém de uma emoção só: “E se a gente não se apaixonasse tanto e se morrer não fosse sempre um gesto tão difícil” e mais “Eu dou subsídio pra você saber de mim…”. Mariano é um artista de coração nobre, que se permite escrever sobre todo tipo de sentimento: “Nessa cidade, não tem parada. Todas as luzes (e as cruzes, as riquezas, os pecados, as virtudes) são jóias raras.

Dirigido pelo próprio e por Humberto Luiz, Sem Parar é um trabalho maduro, forte, de uma beleza e requinte que ultrapassam as fronteiras da música pop. Fronteiras que também não existem em suas influências, que vão – como Lupicínio Rodrigues, Ary Barroso, Nelson Gonçalves, Jamelão, entre outros – aos contemporâneos norte-americanos Antony Hegarty, líder da banda Antony and the Johnsons, e Rufus Wainwright, compositor sobre o qual desenvolve pesquisa acadêmica.

"Escrever e cantar canções são partes de um mesmo processo"

Em “Sem Parar”, Mariano Tavares nos presenteia com 10 faixas composta por ele, sendo três em parceria, uma delas com a poetisa e atriz Civone Medeiros (“É Dando Que Se Recebe”), outra com o economista e estudante de Direito Hugo Vargas Soliz (“It’s Not For Us”), e a última com o cantor e compositor Romildo Soares (“Sacrifício”), além de uma releitura de “How Should I Your True Love Know”, composta por William Shakespeare para o clássico da dramaturgia universal “Hamlet”. A canção “Sacrifício” também integra o repertório do DVD “Dos Pés à Cabeça”, do coral Harmus (Fundação José Augusto), que será lançado ainda neste semestre, do qual Mariano participa como intérprete.

Eu me sinto privelegiada em escrever sobre este poeta de espírito livre, escancarado, que não tem medo de voar. Com vocês: Sem Parar! Um álbum para lavar a alma, chorar, recordar lembranças boas do passado, perdoar-se, arrancar o coração do peito!

abril 24, 2012

É PAU, É LATA, É ESTE O CAMINHO

PROJETO PAU E LATA
Idealizado em 1996 pelo músico  Danúbio Gomes
"Ensinando não só música, mas arte, história e construindo valores"
Atualmente com 13 núcleos espalhados pelo Rio Grande do Norte e Alagoas 
fotografia: Fábio Pinheiro 

PAU E LATA MUITO ALÉM DOS RITMOS

 Por
 Jéssica Barros 

Misturar ritmos da cultura popular e criar musica através de 'instrumentos' nada convencionais reciclados. Esta é a cara do projeto Pau e Lata. Idealizado em 1996 em Maceió por Danúbio Gomes, seu coordenador até hoje, o projeto surgiu em em uma escola pública do estado onde ele prestava trabalho comunitário dando aulas de música e teatro. Na oportunidade de se criar uma banda de música na instituição, veio a ideia de as crianças produzirem seus próprios instrumentos a partir de materiais que elas podiam trazer de casa. Atualmente com 13 núcleos espalhados pelo Rio Grande do Norte e Alagoas, o projeto conta com cerca de 380 integrantes e sua visibilidade só cresce.

No RN, tudo começou em 1997, no município de Baía Formosa, onde Danúbio teve a oportunidade de desenvolver o projeto e despertou o interesse de outras instituições e prefeituras pela ideia inovadora, seguindo depois para Natal. Na capital potiguar, Danúbio, em parceria com colegas do curso de Música da UFRN, desenvolveu o grupo Pau e Lata, que passou a fazer apresentações e ministrar oficinas, tendo inicialmente sua música composta por instrumentos convencionais e recicláveis. Segundo o coordenador do projeto, "o Pau e Lata é montado em um tripé ideológico: a questão artística, por meio da música; a questão sócio-ambiental (com a reutilização de materiais); e a politico-pedagógica (ensinando não só música, mas arte, história e construindo valores)".

Flautista por formação, Danúbio pôs na prática o que era um sonho

Com o nome "Pau e lata: projeto artístico pedagógico", Danúbio Gomes explica que, além das aulas de teoria musical, toda a questão histórica do ritmo que está dentro do repertório é trabalhada dentro do processo pedagógico, "porque a gente entende que só ensinar a tocar a música é muito pouco. Perde-se tempo em se poder fazer outras coisas além disso. A própria música é um elemento pedagógico, um elemento educativo", diz.

A partir de 2000, o Pau e Lata virou projeto de extensão da UFRN, a maior parceira desde então, oferecendo a infra-estrutura necessária para o grupo ensaiar, ministrar suas oficinas e realizar outras ações. No núcleo da universidade, o foco pe formar agentes multiplicadores que, segundo explica Danúbio Gomes, aprendem para passar a ideia do projeto adiante e posteriormente coordenarem os outros núcleos do projeto. Como é o caso da estudante de Teatro Karina de Oliveira.

Karina, desde cedo envolvida com música, está há dois anos no projeto. Ela conta que já conhecia o Pau e Lata através de suas apresentações em eventos, mas só entrou no grupo quando ingressou na UFRN. O que lhe chamou a atenção foi a reutilização de materiais para fazer música, como também os ritmos tocados, que ela diz nunca ter ouvido antes. De acordo com Karina, sua ideia inicial ao participar do projeto era apenas tocar, mas quando entrou para a realidade do Pau e Lata, viu que "era muito mais que isso", como diz. "As relações criadas lá dentro, as pessoas que você conhece, o conceito pedagógico... É um crescimento pessoal também", conta ela. Este ano, Karina passou de apenas integrante e começou a ministrar oficinas no bairro de Felipe Camarão. Segundo ela, o projeto "é uma forma mais dinâmica e lúdica de lidar com a música".

PAU E LATA
O projeto conta com cerca de 380 integrantes e sua visibilidade só cresce
 combatendo  as adversidades com  um trabalho de qualidade

TRABALHO DE RESISTÊNCIA

Com apresentações compostas 70% por músicas autorais e 30% sendo adaptações de músicas já conhecidas, o grupo trabalha com o desenvolvimento dos ritmos considerados da cultura popular, como maracatu, coco de roda, ciranda, samba, samba-reggae e rap. Os ensaios do núcleo na UFRN acontecem toda segunda e quarta, das 19h às 21h, na Praça Cívica. Para participar, não é necessário ter noções de música nem pagar qualquer valor, apenas ter vontade de aprender e de contribuir com o projeto. 

Flautista por formação e idealizador do Pau e Lata, Danúbio Gomes fala da realidade que se encontra a cena cultural brasileira. Segundo ele, as deficiências já foram piores no passado, mas ainda se tem muito a superar no futuro, pois história da cultura no Brasil é repleta de sacrifícios e as dificuldades não são exclusivas dos que trabalham com música. Danúbio fala que sempre houve uma hiper-valorização do que vem de fora, mas essa realidade vem mudando há alguns anos.

Está sendo valorizado também o que existe no Brasil e o que é feito no país para os brasileiros. Para ele, é real essa valorização do exterior, mas também é real que sempre houve uma resistência aos problemas enfrentados, pessoas que lutaram ao longo da história em prol da cultura brasileira e é isso que lhes dá força a continuar resistindo, fazendo o que o Pau e Lata faz, mas Danúbio ressalta que não dá para combater as adversidades sem um trabalho de qualidade.
 
RITMOS
O grupo trabalha com os ritmos considerados da cultura popular,
 como maracatu, coco de roda, ciranda, samba, samba-reggae e rap

Coordenador do núcleo de Mossoró, poeta e cordelista, Amendoim conta que iniciou seu contato com o Pau e Lata em 2004, fazendo intervenções poéticas nas apresentações do grupo. Além da musicalidade, o regionalismo das batidas o encantou. Ele diz que o trabalho é difícil e muitas vezes têm até que lidar com o preconceito de algumas pessoas.

Como em Mossoró, o trabalho é realizado com criança de comunidades de baixa renda, é comum o grupo se envolver com as famílias das crianças que particpam do projeto. "Muitas vezes o problema está em casa e a gente primeiro dissocializa para depois ressocializar aquela criança". Amendoim friza o perfil pedagógico do projeto, que traz novos conceitos e valores aos jovens. "Muitas embalagens, inclusive, são tidas como não-reaproveitáveis pelos fabricantes e nós mudamos isso", diz ele.

Os ensaios do núcleo na UFRN, a maior parceira desde então, 
acontecem toda segunda e quarta, das 19h às 21h, na Praça Cívica

Ocupação da Câmara - Durante a onda de protestos contra o poder público municipal de Natal no primeiro semestre de 2011, membros do grupo Pau a Lata participaram do movimento de ocupação da Cãmara Municipal de Natal. Segundo o coordenador do projeto, Danúbio Gomes, a ação segue de acordo com a ideia inicial do projeto, desde que o Pau e Lata escolheu trabalhar música com crianças de uma forma não convencional, com a construção desse material por elas crianças e isso traz muito da posição político-ideológica do grupo.

Segundo Danúbio, o projeto trabalha também com a construção de valores e isso é expressado não só na sua arte, mas também onde o grupo toca, como se apresenta e quando o Pau e Lata se envolveu com a ocupação foi porque entenderam que "era necessário participar daquele processo, porque fazemos parte de um movimento como um todo em prol da cultura, da educação e da cidade", diz ele. Os integrantes do grupo passaram 11 dias na Câmara e transferiram todas as suas atividade para o local ocupado, realizando seus encontros semanais e oficinas. Danúbio diz que o que aconteceu de fato na ocupação foi "uma aula de campo em todas as instâncias envolvidas", relata. 


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 Jéssica Barros // Especial para O Poti
jessicabarros.rn@dabr.com
  

abril 21, 2012

TROPA TRUPE CONTAGIA SÃO PAULO

O ano de 2012 começou diferente para o Tropa Trupe
Sem sede fixa, o  grupo circense está em São Paulo desde março passado

 CIRCO SEM FRONTEIRAS
GRUPO POTIGUAR FAZ TURNÊ POR SÃO PAULO

Por
Yuno Silva

O grupo circense Tropa Trupe, sem sede fixa desde julho do ano passado quando a lona montada na UFRN rasgou pela enésima vez, resolveu cair na estrada e descortinar outros palcos antes de retomar as atividades em Natal. Desde março em São Paulo, onde permanecem até o fim de maio, a trupe vem contabilizando participação em uma série de eventos enquanto formatam novos planos para utilizar os recursos recebidos através do edital ProCultura 2010 - Programação de Espaço Cênico, do Ministério da Cultura/Funarte.

Com o prêmio de R$ 100 mil (valor bruto), pretendem investir em outra lona e renovar a programação, mas, por enquanto, a meta dos potiguares é adquirir qualificação, trocar experiências, expandir os horizontes e ampliar os contatos.

Em pouco mais de 50 dias de viagem, com os espetáculos "O Equilibesta" e "Tic Tac - a televisão encantada" na bagagem, passaram pela 3º Convenção Baiana de Malabarismo, Circo e Arte de Rua na Chapada Diamantina (BA) antes de chegarem a São Paulo, onde já circularam por sete cidades como Bauru, Marília, São Carlos, São José do Rio Preto e Araraquara. Na capital paulista integraram a programação do Festival Grito Rock; realizaram oficinas de clown; se apresentaram no Circo do Beco, no charmoso bairro da Vila Madalena; e participaram da Palhaceata durante as comemorações do Dia do Circo (27 de março). A primeira turnê nacional da Tropa Trupe também inclui parada em Brasília, onde participam do Festclown em maio.
 
"Depois que a lona rasgou, decidimos mudar o rumo e investir na formação e na circulação", disse Renata Marques, produtora do grupo. Ela contou que em dezembro de 2011, quando esteve no Congresso Fora do Eixo, estreitou contato com o Palco Fora do Eixo, a frente das artes cênicas da rede. "A partir desse encontro consegui articular e garantir a circulação da trupe em São Paulo."

Rodrigo Bruggemann, ou palhaço Piruá, reforça: "Quando a Tropa Trupe perdeu sua sede resolvemos que era o momento de buscarmos novas perspectivas, de irmos atrás de formação, informação e divulgação." Rodrigo planeja esticar até a Argentina antes de voltar ao RN.

Para ambos, a arte circense é vista de outra maneira fora dos limites do território potiguar. "São Paulo continua sendo a cidade das possibilidades, aqui circulam e se encontram muitas pessoas e culturas, desde o artista mambembe até os grandes circos do mundo, e isso faz com que o circo seja visto com outro olhar", garantem. Independente da valorização, pois o desafio da sustentabilidade é igual em todos os lugares, a grande diferença está na quantidade de pessoas envolvidas e no número de espaços cênicos estruturados, entre outros detalhes. "Esses fatores contribuem na valorização dos artistas", verifica Renata.

Questionado sobre as deficiências no RN, Rodrigo ressalta a falta de "quase tudo": "Começando pela ausência de um núcleo de formação pra instigar novos talentos e apreciadores; em seguida um espaço de integração das artes, onde os grupos possam trocar experiências entre si. Falta gestores competentes que entendam a complexidade e a demanda da cultura circense", enumera. Para ele, a falta de união dos "fazedores de arte", independente de segmento, dificulta a construção de políticas públicas para o setor.

O importante, afirmam, é que a turnê está superando as expectativas: "Nem todas as apresentações são garantidas por cachê, algumas vezes passamos o chapéu em outras fazemos pela oportunidade de divulgar e contribuir com nosso trabalho, mas estamos fazendo contatos importantes, trocando tecnologias de produção. Acredito que nossa atuação no Sudeste irá aumentar, é apenas o começo, e nas próximas já estaremos mais experientes", afirma Rodrigo.

A Trupe foi formada em Natal (RN) no ano de 2006. É um dos mais respeitados grupos circeses do Nordeste. O grupo se apresenta com diversas modalidades como perna de pau, malabares, pirofagia, luminotecnia, tecido, corda tensa, arame, monociclo e palhaço. A proposta do grupo circense é resgatar a alegria e magia do circo através do palhaço e do domínio de diferentes modalidades.

A Trupe oferece treze números diferentes para apresentações de palco ou rua,
além de oficinas como de malabares, perna de pau, tecido e acrobacia aérea 

FUNCIONAMENTO DA REDE FORA DO EIXO

A rede Fora do Eixo, criada em Cuiabá (MT) há sete anos, busca, entre outras coisas, viabilizar a circulação de artistas sediados fora do eixo Rio-São Paulo a partir da máxima de que "a união faz a força". Com atuação colaborativa focada na comunicação, na produção cultural e na arte, o FDE hospeda os integrantes da Tropa Trupe na Casa Fora do Eixo SP, uma das sete bases mantidas no país pelo coletivo - no Nordeste, a casa do coletivo funciona em Fortaleza.

Há quase dois meses na estrada, os potiguares afirmam que, em 95% dos casos, contam com suporte da rede através do que chamam de "hospedagem solidária". "Depois que chegamos em São Paulo, as coisas foram articuladas (alimentação, hospedagem, e, em alguns casos, ajuda de custo para transporte) na base da troca troca e da colaboração. Contribuímos com algumas despesas básicas da casa FDE, ajudamos a manter o lugar limpo, e recebemos esse suporte em troca; as negociações são diferentes em cada lugar", explicou Renata Marques.

O importante para se manter por lá, pelo visto, é ter: boa vontade, trabalho e arte para oferecer - dinheiro é consequência e o que vale é a experiência, o aprendizado e amplitude das possibilidades.

Dentre as atividades vivenciadas pela Tropa Trupe, representada em São Paulo por Rodrigo, Renata e mais Gabriel HernanRodriguez (palhaço Fino) e Luísa Guedes (palhaça Pepita e acrobata aérea na técnica de tecido),  Bruggemann destaca a apresentação do Circo no Beco "com a estréia do número 'I want to break free', criado e dirigido pelo argentino Walter Velazquez". Já Renata Marques chamou atenção para o evento em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, parte da programação do Dia do Circo, junto com outros grupos conceituados de São Paulo: "Foi bem legal e simbólico."


...fonte...

...frase...
"Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando, falei muitas vezes como um palhaço mas jamais duvidei da sinceridade da platéia que sorria"
Charles Chaplin

...visite...
http://tropatrupe.blogspot.com.br/

abril 19, 2012

CHICO BUARQUE... UM ARTIGO DE LUXO

 “Não é um garoto, mas se existisse no reino animal um bicho
pensativo e belo e  eternamente jovem que se chamasse garoto,
Francisco Buarque de Hollanda seria dessa raça montanhosa. “
Clarice Lispector
   
...edição especial...

CHICO BUARQUE NA CAPITAL POTIGUAR

Por
Henrique Arruda

Já faz algumas semanas que todos os “chicólatras” de Natal/RN estão inquietos. Não é para menos. Passadas mais de duas décadas desde a sua última apresentação na cidade, a crise de abstinência vai chegando ao fim. E Já é certo que Chico Buarque de Holanda,  passando  por aqui, lote de suspiros apaixonados e sentimentos de admiração cada centímetro do Teatro Riachuelo.

A primeira vez que esteve em Natal foi no início dos anos 70, quando, a convite do jornalista Paulo Macedo, Chico se apresentou no Clube do América sendo a principal atração da “Festa Brasileira das Personalidades”, organizada rotineiramente pelo jornalista.

“Eu me lembro que escolhi ele por causa da música A Banda que estava fazendo grande sucesso na época”, justifica o jornalista. Paulo foi até o Rio de Janeiro e sendo contratado pela TV Tupi, como conta, foi fácil chegar até o cantor, acertando o “pagamento adiantado”. “O equivalente a 400 mil reais hoje”, conta Paulo.

Em tempos de ditadura militar, não era de se estranhar que as Forças Armadas questionassem a escolha de Chico para a festa. “As Forças Armadas criticaram veementemente, Chico estava na berlinda. Mas confesso a você, não o trouxe com nenhuma intenção política”, admite.

Nem tudo saiu como planejado. Paulo já havia fechado com a TV TUPI para transmitir ao vivo a apresentação, no entanto, quando Chico viu toda a estrutura armada, incluindo os carros da emissora, se recusou a fazer show.

“Eu não sei porque, mas na época ele era contra se apresentar na TV, e disse que se fosse para ser exibido ele não iria fazer o show”, lembra Macedo, frisando que ficou muito deprimido por não ter sua festa transmitida.

Por mais que fosse tímido e não falasse muito, como conta o jornalista, Chico foi extremamente educado e não fez nenhuma grande exigência para a apresentação. “De todos que trouxe, somente Roberto Carlos exigiu que pintassem o corredor do hotel, que a louça fosse esterelizada e etc”, afirma.

 Depois de mais de 20 anos sem se apresentar em Natal
compositor fará show no Teatro Riachuelo

De acordo com o que se lembra, o show de Chico também foi o primeiro a lotar completamente o Clube do América. “Vendemos 500 mesas e a diretoria teve que ficar na porta para evitar que mais pessoas entrassem”, conta. O público era misto e composto insclusive por pessoas de outros estados.

“Recife tentou, Fortaleza também, mas somente nós conseguimos o show. Então o dancing do América ficou tomado de gente”, recorda.

O jornalista Albimar Furtado, que além de cobrir a apresentação, entrevistou Chico Buarque, lembra que na época o cantor estava refinando seu estilo musical e lançando o que se tornaria um dos marcos pela liberdade de expressão, “Cálice”.

“Foi a primeira vez que se ouviu Cálice em Natal, que ele fez em parceria com Gilberto Gil. Muitos diziam que a sua música na época estava se afastando de uma de suas maiores influências, Noel Rosa”, opina.

Até mesmo a aparência, pelo que Albimar descreve, refletia amadurecimento na carreira. “Ah, ele já estava com um bigodão, cabelos mais compridos e bem diferente daquele Chico comportado do início da carreira”, comenta.

Entre uma cerveja ou outra, a entrevista aconteceu no Hotel Reis Magos, onde Chico ficou hospedado, após ter pego a estrada vindo de um outro show em João Pessoa. “Porque na verdade veio ele e o MPB4 para a apresentação, já chegaram tarde no sábado e a conversa foi bem rápida”, recorda.

Fã de Chico Buarque, Albimar não sabe se decidir sobre sua música favorita, mas comenta que do novo trabalho, “Chico”, lançado em julho do ano passado, ele destacaria Nina. “É uma valsa belíssima, mas Chico tem uma obra muito ampla. Não dá para escolher uma que seja a melhor”, afirma.

 "Chico não tem mais o esplendor de antes - já seu talento literário, 
curiosamente, cresceu nos últimos anos"
 Hagamenon Brito

 POR QUE NÃO VOU A CHICO BUARQUE?

Por
Fabio Farias

O motivo  é curto e grosso: porque R$ 380 é muito dinheiro. E nem se fosse por R$ 190, a meia-entrada que infelizmente não tenho mais direito, eu também não iria. É muito para passar pouco mais de uma hora ouvindo músicas que provavelmente já tenho no meu computador, ou que posso vê-las serem cantadas por Chico Buarque em qualquer DVD de especiais dele.

Do ponto de vista econômico, do custo-benefício, para mim não vale a pena. Nada aqui de desvalorizar o trabalho de Chico que é um dos maiores compositores brasileiros e também um puta escritor (sim, faço parte do grupinho que gosta da literatura de Chico Buarque), mas uma questão de ordem econômica: pagar mais de R$ 100 em um show, para mim, é um absurdo completo.  Não importa quem seja o cantor.

É óbvio que mora aí uma questão de mercado. E essa questão se movimenta basicamente em dois eixos: um, o fato de Chico Buarque raramente fazer shows, o que valoriza as apresentações ao vivo dele; dois, o fato de haver uma espécie de endeusamento quase místico da figura do artista que, mesmo genial como ele é, não passa de um ser humano de carne e osso como todos nós.
 
Eu entendo essas coisas de fãs, de blábláblá, do cara ser charmosão e tudo o mais. Tenho uma tendência a acreditar até que muita gente vai ao show mais pela figura dele e pelo o que ele representa, do que pelas músicas em si. Coisa que deixa a situação mais ilógica ainda para mim. Dispensar uma pequena fortuna para simplesmente ver um indivíduo cantar não consegue ser coerente na minha cabeça. E não importa se é Chico Buarque, Bob Dylan, ou – sei lá – Leonard Cohen.

Chico Buarque se apresenta em Natal nos próximos dias 28 e 29 de maio
E olha que o preço é salgado, a inteira é R$ 380,00 e a meia R$ 190,00
Mesmo assim...  os ingressos não chegam para quem quer!

É bom frisar que o preço exorbitante ocorre por culpa da produtora local. No Rio de Janeiro, por exemplo, o ingresso mais barato para um show de Chico Buarque custava R$ 60, um valor que já considero pagável. Enquanto que em Recife o ingresso mais barato estava a R$ 140 e em Natal – terra dos pseudos novos ricos – o mais barato sai ao nada palatável valor de R$ 180 – para mim um abuso.

Vale a comparação, o preço mais barato do ingresso aqui é o triplo do que é pago no Rio de Janeiro e em São Paulo para assistir ao mesmo show. Justo? Óbvio que não, muito menos lógico. Me pergunto se os custos do show em Natal são o triplo do show no Rio de Janeiro, tendo a acreditar que não. Mas como há pessoas que não se importam com a exploração comercial disso, a produtora abusa no preço e o consumidor de cultura, sobretudo aquele que é liso, mas que também é fã, sai prejudicado.

Li em algum lugar no twitter: melhor é comprar um Whisky, chamar os amigos, ficar em casa e assistir a um DVD ou BlueRay dele. Serão quase as mesmas músicas. E com as vantagens de ser mais barato, mais confortável e o sujeito ainda não precisaria esperar numa fila imensa para tentar garantir a entrada ao show. Bendita Geni.

Ps. A termos de comparação: preço mais barato de Caetano e Maria Gadu em Natal no ano passado: R$ 100. Maria Bethania: R$ 125. Chico: R$ 180. O ingresso mais barato de Chico Buarque custa 44% mais caro do que o da Bethânia. A produção dele é, também, 44% mais cara?


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Henrique Arruda
Fabio Farias

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abril 18, 2012

A ARTE IMITANDO A VIDA

  Filmes foram produzidos em 2009 e serão apresentados em Havana em maio
Produtores ficaram supresos com o empenho das comunidades
fotografia: Diego Cabral

 NÓS NA TELA EM CUBA

Por
Yuno Silva

Intuição e sensibilidade foram postas em prática durante realização do projeto "Nós na Tela", que circulou por diversas cidades do Rio Grande do Norte difundindo conceitos da produção audiovisual em localidades afastadas dos centros urbanos. A ideia é simples, mas o resultado representa a costura cultural de uma colcha de retalhos digna da atenção dos potiguares. Promovido pelo Coletivo Nós na Tela, o projeto percorreu 18 municípios, produziu 15 roteiros e materializou oito filmes - sendo seis curtas e dois média-metragens.

O grande diferencial da iniciativa se dá na base primordial do processo criativo, onde o argumento para elaborar os roteiros partiu da própria comunidade envolvida. "Passamos, em média, 15 dias em cada lugar, trabalhando conceitos teóricos (de cinema e vídeo, de roteiro, de produção e de atuação) seguido da prática. Os filmes seguiam um argumento e um roteiro básicos, que se desdobravam no decorrer do processo de gravação", contou Geraldo Cavalcanti, diretor e roteirista da série.

Os filmes, produzidos em 2009, estão todos prontos e o lançamento oficial está marcado para o mês de maio, em Cuba, dentro da programação paralela da 11ª Bienal de Artes Visuais de Havana - as exibições no RN aguardam um posicionamento da Fundação José Augusto, parceira no projeto. "A intenção é que os filmes sejam exibidos nas Casas de Cultura", adiantou Cavalcanti. Quando os filmes forem lançados, todas as mais de 400 pessoas que participaram do projeto irão receber cópias dos filmes que participaram.

Além do diretor e roteirista, também estão envolvidos na realização da série Nós na Tela o artista visual Guaraci Gabriel, que fez a direção de arte; Nilson Eloy (captação de áudio e vídeo); Silbene Batista (preparação de elenco); Fernando Gurgel (edição de imagens e finalização); Miryanna Albuquerque (câmera e produção); Rodolfo Holanda e Maxson Savelle (produção); e o fotógrafo Vladimir Alexandre. 

Atrelado à produção audiovisual, o Coletivo acredita contribuir com o  fortalecimento da identidade cultural e na valorização da auto-estima do potiguar.

 Produções contaram com elenco local
fotografia: Carla da Costa   
 
PRODUÇÃO DE FILMES REVELA TALENTO NATO DE ANÔNIMOS

Entre as particularidades observadas durante a produção dos filmes, Guaraci e Cavalcanti destacaram ao VIVER a "descoberta  de artistas talentosos", como o garoto Dudu, 9 anos, de Serra Negra do Norte, cidade onde a equipe rodou o média-metragem "O Pacto": "Ele nunca tinha atuado, mas chorou diante da câmera e repetiu várias vezes uma cena onde levava uma queda. Se jogava mesmo, se entregou ao trabalho de uma forma que surpreendeu a todos! Saía mancando, todo ralado, dizendo que não era nada e que estava pronto pra outra", lembrou Geraldo.

"O Pacto" narra uma história baseada em 'fatos reais' sobre o tal acordo que um morador de lá fez com o diabo: "A princípio relutei em fazer o filme, mas foi uma escolha da comunidade e o resultado ficou muito bom. Ficou com um clima surreal", recordou o diretor.

Em São José de Mipibu, o destaque do elenco foi outro garoto, Marcos Freire, de 10 anos. "No filme 'Em Família' ele teve que fazer uma cena difícil, de abuso sexual. Tivemos o cuidado de prepará-lo, conversamos com a família, que acompanhou toda a gravação, mas ele virou pra equipe e disse: 'Entendi, estou preparado para isso'. São situações como essas que surpreenderam a gente." Geraldo informou que a produção audiovisual no Seridó potiguar está em franco desenvolvimento: "Tem gente fazendo filmes com celular, tem realizador criando séries com personagens fixos, mesmo sem nunca ter ido ao cinema. As pessoas têm mais noção do que pensamos, e são altamente dedicadas."

Já o curta-metragem "As Marias" trata de solidão a partir da relação entre duas senhoras, ex-prostitutas, que após fecharem o bordel passam a morar juntas, Geraldo chama atenção para Dona Dôra, 63. Professora aposentada, Maria das Dores Bezerra Assunção improvisou e disse por telefone ao VIVER que "foi uma lição de vida, fiquei muito feliz de ter participado." Dona Dôra contracenou com Eliete Regina, proprietária do Violão de Ouro. "Sensibilidade não se ensina", garantiu Geraldo Cavalcanti, para quem os melhores trabalhos são realizados por pessoas "que sabem muito ou por pessoas que não sabem nada, as únicas capazes de desconstruir o personagem."
 
  Equipe do projeto audiovisual Nós na Tela
fotografia: Guaraci Gabriel   
 
CONVITE INICIAL PARTIU DA CURADORIA DA BIENAL DE HAVANA

A oportunidade para exibir a série em Cuba é fruto de uma confluência de episódios, desencadeada pelo convite de Ibis Hernandes, curadora da Bienal. "Ela esteve em Natal, já conhecia nosso trabalho e lançou a proposta de fazermos algo semelhante com o 'Nós na Tela' durante a Bienal de Havana", disse Guaraci Gabriel, que embarca no próximo mês com Geraldo e mais três membros da equipe para a capital cubana para completar o ciclo da "Ação Cosmopolita de Artes Integradas". A missão do grupo é concluir a construção de uma narrativa audiovisual iniciada por estudantes de escola pública do RN (a definir) com alunos da escola José Martin, da província de Santa Fé, em Havana.
 
"A partir daí, articulamos com Frank Padrón (crítico cubano de cinema que esteve em Natal em 2007 participando da primeira edição do Festival Goiamum Audiovisual) o lançamento da mostra Nós na Tela", comemorou Geraldo Cavalcanti, que aproveitará a ocasião para finalizar o documentário "Mariposa Blanca" iniciado em 2006, durante participação de Guaraci na Bienal daquela ano. "Foram três coelhos com uma cajadada só", festejou Gabriel, que divide a direção do documentário com Cavalcanti. 

Padrón representa o Instituto Cubano Del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC) e a TV Casa Produtora (televisão estatal de Cuba), e a mostra "Nós na Tela" fará parte da programação paralela da 11ª Bienal de Artes Visuais de havana.  

"Mariposa Blanca" aborda o conceito de liberdade, criado pelo modelo de produção capitalista, como ideal utópico e "faz paralelo entre a liberdade exercida nos países democráticos e em Cuba". O ator Jorge Perugorria, de "Morango e Chocolate", "Estorvo" e "Navalha na Carne", está no elenco do documentário, cuja produção ainda prevê entrevista com Fidel Castro. "Já estamos vendo essa possibilidade", adiantou Guaraci Gabriel. "Vai rolar!", emenda com convicção.
 

...fonte...
Yuno Silva