“Não é um garoto, mas
se existisse no reino animal um bicho
pensativo e belo
e eternamente jovem que se chamasse
garoto,
Francisco Buarque de
Hollanda seria dessa raça montanhosa. “
Clarice Lispector
...edição especial...
CHICO BUARQUE NA CAPITAL POTIGUAR
Por
Henrique Arruda
Já faz algumas semanas
que todos os “chicólatras” de Natal/RN estão inquietos. Não é para menos.
Passadas mais de duas décadas desde a sua última apresentação na cidade,
a crise de abstinência vai chegando ao fim. E Já é
certo que Chico Buarque de Holanda, passando por aqui, lote de suspiros apaixonados e sentimentos de admiração cada centímetro
do Teatro Riachuelo.
A primeira
vez que esteve em Natal foi no início dos anos 70, quando, a convite do
jornalista Paulo Macedo, Chico se apresentou no Clube do América sendo a
principal atração da “Festa Brasileira das Personalidades”, organizada
rotineiramente pelo jornalista.
“Eu me lembro que escolhi ele por causa
da música A Banda que estava fazendo grande sucesso na época”, justifica
o jornalista. Paulo foi até o Rio de Janeiro e sendo contratado pela TV
Tupi, como conta, foi fácil chegar até o cantor, acertando o “pagamento
adiantado”. “O equivalente a 400 mil reais hoje”, conta Paulo.
Em tempos de ditadura militar, não era
de se estranhar que as Forças Armadas questionassem a escolha de Chico
para a festa. “As Forças Armadas criticaram veementemente, Chico estava
na berlinda. Mas confesso a você, não o trouxe com nenhuma intenção
política”, admite.
Nem tudo saiu como planejado. Paulo já
havia fechado com a TV TUPI para transmitir ao vivo a apresentação, no
entanto, quando Chico viu toda a estrutura armada, incluindo os carros
da emissora, se recusou a fazer show.
“Eu não sei porque, mas na época ele era
contra se apresentar na TV, e disse que se fosse para ser exibido ele
não iria fazer o show”, lembra Macedo, frisando que ficou muito
deprimido por não ter sua festa transmitida.
Por mais que fosse tímido e não falasse
muito, como conta o jornalista, Chico foi extremamente educado e não fez
nenhuma grande exigência para a apresentação. “De todos que trouxe,
somente Roberto Carlos exigiu que pintassem o corredor do hotel, que a
louça fosse esterelizada e etc”, afirma.
Depois de mais de 20 anos sem se apresentar em Natal
compositor fará show no Teatro Riachuelo
De acordo com o que se lembra, o show de Chico também foi o primeiro a lotar completamente o Clube do América. “Vendemos 500 mesas e a diretoria teve que ficar na porta para evitar que mais pessoas entrassem”, conta. O público era misto e composto insclusive por pessoas de outros estados.
“Recife tentou, Fortaleza também, mas
somente nós conseguimos o show. Então o dancing do América ficou tomado
de gente”, recorda.
O jornalista Albimar Furtado, que além
de cobrir a apresentação, entrevistou Chico Buarque, lembra que na época
o cantor estava refinando seu estilo musical e lançando o que se
tornaria um dos marcos pela liberdade de expressão, “Cálice”.
“Foi a primeira vez que se ouviu Cálice
em Natal, que ele fez em parceria com Gilberto Gil. Muitos diziam que a
sua música na época estava se afastando de uma de suas maiores
influências, Noel Rosa”, opina.
Até mesmo a aparência, pelo que Albimar descreve, refletia amadurecimento na carreira. “Ah, ele já estava com um bigodão, cabelos mais compridos e bem diferente daquele Chico comportado do início da carreira”, comenta.
Entre uma cerveja ou outra, a entrevista
aconteceu no Hotel Reis Magos, onde Chico ficou hospedado, após ter
pego a estrada vindo de um outro show em João Pessoa. “Porque na verdade
veio ele e o MPB4 para a apresentação, já chegaram tarde no sábado e a
conversa foi bem rápida”, recorda.
Fã de Chico Buarque, Albimar não sabe se
decidir sobre sua música favorita, mas comenta que do novo trabalho,
“Chico”, lançado em julho do ano passado, ele destacaria Nina. “É uma
valsa belíssima, mas Chico tem uma obra muito ampla. Não dá para
escolher uma que seja a melhor”, afirma.
"Chico não tem mais o esplendor de antes - já seu talento literário,
curiosamente, cresceu nos últimos anos"
Hagamenon Brito
POR QUE NÃO VOU A CHICO BUARQUE?
Por
Fabio Farias
O motivo é curto e grosso:
porque R$ 380 é muito dinheiro. E nem se fosse por R$ 190, a
meia-entrada que infelizmente não tenho mais direito, eu também não
iria. É muito para passar pouco mais de uma hora ouvindo músicas que
provavelmente já tenho no meu computador, ou que posso vê-las serem
cantadas por Chico Buarque em qualquer DVD de especiais dele.
Do ponto de vista econômico, do
custo-benefício, para mim não vale a pena. Nada aqui de desvalorizar o
trabalho de Chico que é um dos maiores compositores brasileiros e também
um puta escritor (sim, faço parte do grupinho que gosta da literatura
de Chico Buarque), mas uma questão de ordem econômica: pagar mais de R$
100 em um show, para mim, é um absurdo completo. Não importa quem seja o
cantor.
É óbvio que mora aí uma questão de
mercado. E essa questão se movimenta basicamente em dois eixos: um, o
fato de Chico Buarque raramente fazer shows, o que valoriza as
apresentações ao vivo dele; dois, o fato de haver uma espécie de
endeusamento quase místico da figura do artista que, mesmo genial como
ele é, não passa de um ser humano de carne e osso como todos nós.
Eu entendo essas coisas de fãs, de
blábláblá, do cara ser charmosão e tudo o mais. Tenho uma tendência a
acreditar até que muita gente vai ao show mais pela figura dele e pelo o
que ele representa, do que pelas músicas em si. Coisa que deixa a
situação mais ilógica ainda para mim. Dispensar uma pequena fortuna para
simplesmente ver um indivíduo cantar não consegue ser coerente na minha
cabeça. E não importa se é Chico Buarque, Bob Dylan, ou – sei lá –
Leonard Cohen.
Chico Buarque se apresenta em Natal nos próximos dias 28 e 29 de maio
E olha que o preço é salgado, a inteira é R$
380,00 e a meia R$ 190,00
Mesmo assim... os ingressos não chegam para quem
quer!
É bom frisar que o preço exorbitante
ocorre por culpa da produtora local. No Rio de Janeiro, por exemplo, o
ingresso mais barato para um show de Chico Buarque custava R$ 60, um
valor que já considero pagável. Enquanto que em Recife o ingresso mais
barato estava a R$ 140 e em Natal – terra dos pseudos novos ricos – o
mais barato sai ao nada palatável valor de R$ 180 – para mim um abuso.
Vale a comparação, o preço mais barato do ingresso aqui é o triplo do que é pago no Rio de Janeiro e em São Paulo
para assistir ao mesmo show. Justo? Óbvio que não, muito menos lógico.
Me pergunto se os custos do show em Natal são o triplo do show no Rio de
Janeiro, tendo a acreditar que não. Mas como há pessoas que não se
importam com a exploração comercial disso, a produtora abusa no preço e o
consumidor de cultura, sobretudo aquele que é liso, mas que também é
fã, sai prejudicado.
Li em algum lugar no twitter: melhor é
comprar um Whisky, chamar os amigos, ficar em casa e assistir a um DVD
ou BlueRay dele. Serão quase as mesmas músicas. E com as vantagens de
ser mais barato, mais confortável e o sujeito ainda não precisaria
esperar numa fila imensa para tentar garantir a entrada ao show. Bendita Geni.
Ps. A termos de comparação: preço
mais barato de Caetano e Maria Gadu em Natal no ano passado: R$ 100.
Maria Bethania: R$ 125. Chico: R$ 180. O ingresso mais barato de Chico
Buarque custa 44% mais caro do que o da Bethânia. A produção dele é,
também, 44% mais cara?
...fonte...
Henrique Arruda
Fabio Farias
...visite...
Sr. Fábio Farias, finalmente uma crítica inteligente, bem elaborada e respeitosa. Há tempos que me espanto com os preços dos shows do Teatro Riachuelo(a sala de estar da burguesia provinciana). O pior, é o silêncio dos natalenses que não demonstram nenhuma indignação. Parece que reclamar não fica bem no filme.
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