GINGA COM TAPIOCA
MESMO SEM ABAIXO-ASSINADO, A GINGA JÁ TEM SUCESSO GARANTIDO
Uma petição online sugere que o tradicional prato da Praia
da Redinha
seja registrado como bem imaterial do Rio Grande do Norte
Fotografia: Rafael Medeiros/Flickr
Via
Catraca Livre
De origem indígena, a comida foi
adotada à mesa dos pescadores da comunidade da Praia da Redinha, litoral de
Natal, há mais de 60 anos.
Para realçar o seu valor
cultural, um abaixo-assinado online lançado recentemente sugere registrar o prato
como patrimônio imaterial do Rio Grande do Norte.
Simples e saboroso, o petisco tem
popularidade entre os paladares natalenses e, segundo a descrição da petição,
“merece ser uma reconhecida iguaria que representa o sabor e a cara do povo
potiguar”.
Os diversos quiosques no Mercado
Público da Redinha são os locais de referência para o consumo. Por lá, a ginga
com tapioca é o prato mais pedido pelos turistas.
IMORTALIZANDO A GINGA COM TAPIOCA
Por
Tádzio França
TRIBUNA DO NORTE
A comerciante e cozinheira
Ivanize Barbosa seria uma personagem essencial no registro (correspondente ao
“tombamento” material) da ginga com tapioca como patrimônio imaterial: os pais
dela criaram e disseminaram a iguaria, meio século atrás. “Essa história do
patrimônio imaterial não é de hoje, já ouvi muito. Eu espero que aconteça, pois
seria mais do que justo”, afirma ela, ressaltando que na semana passada recebeu
uma equipe de jornalistas de São Paulo para fazer matéria sobre o prato que é
“a cara” de Natal, uma das cidades sede da Copa do Mundo.
Ivanize fala com propriedade
sobre a iguaria. O pai Geraldo e a mãe Dalila tiveram a ideia de criar um prato
a partir daqueles peixinhos minúsculos que os demais comerciantes da área
ignoravam. A ginga é um tipo de sardinha, chamada de ‘azul’ ou ‘manteiga’. A
receita dos pais de Ivanize é simples e genial: temperar os peixinhos com sal,
fritá-los numa mistura de óleo de soja com azeite de dendê, espetá-los num
palitinho e rechear a tapioca (em goma de mandioca e coco) com eles. A
combinação agradou em cheio e, alguns anos depois, tomou conta da Redinha e de
todos que frequentavam a praia de lá.
Hoje tem ginga com tapioca nas
duas margens do rio Potengi. Ivanize afirma que nem todas têm a qualidade
original da Redinha. “Já comi ginga num shopping. Uma tapioca com três
sardinhas a R$15. Achei até graça. Muita gente faz, mas não tem a qualidade da
nossa, que é feita na hora, no dendê, com o peixe fesquinho...”, diz. No Box 3,
que Ivanize divide com a filha Sandra no Mercado da Redinha, uma porção sai a
R$5, recheada de seis a oito gingas, em média. A cozinheira ressalta que o bar vem
recebendo ainda mais turistas desde que foi destacado na revista Veja Natal. O
“tombamento” da ginga seria um tempero a mais nessa popularidade.
GINGA NO BENDITAS
No ‘outro lado do rio’, a ginga
com tapioca se destaca entre vários cardápios diferentes. No boteco descolado
Benditas, Petrópolis, a Terça do Mar é o dia da ginga. A iguaria se destaca
entre outros petiscos do mar. Uma porção sai a R$7. “Lançamos essa terça há
quatro meses, e é um sucesso. Colocamos pratos que não estão no cardápio
diário. A ginga é um dos mais pedidos, e muita gente vem só pra comer isso”,
afirma a proprietária Márcia Barcellos.
UM BISTRÔ COM GINGA AOS SÁBADOS
O Jardins Café Gourmet, em Petrópolis,
dedica um sábado por mês à ginga com tapioca. “É o dia mais aguardado da nossa
programação. Quando termina, as pessoas já perguntam quando é a próxima. Comer
ginga com tapioca perto de casa é ainda mais gostoso”, diz a proprietária Maria
Tereza Cavalcanti. O prato sai a R$6, numa porção com dez gingas. Para
acompanhar, uma cerveja bem gelada, de preferência. “Há também a questão da lei
seca. Não dá pra ir à Redinha e não beber uma cerveja pra acompanhar”,
ressalta.
GINGA DE CHEF
O chef Daniel Cavalcanti, do
Cascudo Bistrô, homenageou o símbolo da Redinha com uma versão gourmet do
prato: o gingão com tapioca troca os peixinhos por uma posta de peixe branco
alto, frita na farinha de mandioca, servida com a tapioca junto com uma salada
e macaxeira cremosa frita. Passou de petiscos a prato principal. “É o prato
emblemático de Natal, e a minha versão teve uma ótima aceitação entre a
clientela do bistrô”, comenta. O gingão do chef Daniel também figura no livro
“Temperos do Brasil”, da escritora Cecília Gianetti, que reuniu receitas
regionais de 19 estados do Brasil. O RN foi representado por este prato.
De Redinha à Ponta Negra: a ginga
virou carro-chefe no restaurante Tapioca da Vó, cardápio mais tradicional da
Vila de Ponta Negra. “Meus amigos sempre agradecem por estar economizando a
gasolina da ida à Redinha”, brinca o proprietário Joka Lima. O prato da vila é
um pouco diferente do original: a tapioca é toda recheada com cerca de dez
gingas, sem o espetinho. “A nossa tapioca também é maior que a da Redinha”,
ressalta Joka. Ele destaca que só trabalha com sardinha azul fornecida
diretamente pelos pescadores de arrastão de Ponta Negra. O preço é igual ao da
Redinha, R$5. Outra diferença, é que a maioria da clientela prefere acompanhar
o prato com café, e não com a tradicional cerveja da praia. “A ginga aqui é um
prato para jantar”, completa.
CANTO DO MANGUE TEM
Uma das gingas com tapioca mais
famosas de Natal fora da Redinha está no Canto do Mangue. A Barraca do
Pernambuco, do comerciante Edson Machado, é point para quem está à margem
esquerda do Potengi. O prato sai com oito peixes no espeto, fritos no dendê. O
seu Pernambuco conta que conhece a receita desde a década de 60, e não teve
problema em trabalhar com ele: “Sempre fui acostumado a servir tudo com
tapioca”, disse.
HISTÓRICA
Hélio Oliveira, diretor do departamento de patrimônio cultural do Município, acredita que o tombamento/registro da ginga como patrimônio imaterial tem muito potencial à nível local. “A justificativa histórica precisa ser muito embasada. O processo pode partir de qualquer cidadão interessado, mas é algo lento, exige muito estudo e paciência”, conclui.
ONDE COMER
*Bar da Sandra e Ivanize Box 3,
Mercado da Redinha.
84.8849-3794/9915-2409
*Benditas Buteco, Petrópolis.
84.3346-3117
*Jardins Café Gourmet,
Petrópolis.
84.2020-4709/9413-3300.
*Tapiocaria da Vó, Vila de Ponta
Negra.
84.8722-7570
*Cascudo Bistrô, Praça das Flores,
Petrópolis.
84.3202-1005
...fonte...
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