maio 10, 2015

LENO & LILIAN, O RETORNO

A Jovem Guarda não trouxe apenas grandes cantores, reis, ou grupos vocais. Temos também uma dupla que marcou no sucesso seus nomes: Gileno Osório Wanderley de Azevedo, natural de Natal/RN e Sílvia Lília Barrie Knapp, natural do Rio de Janeiro/RJ, que compuseram a dupla Leno e Lílian. Agora, ao mesmo tempo em que retoma dupla com a amiga Lílian, o potiguar Leno, aos 66 anos, se prepara para relançar disco em vinil. (Fábio Cortez / NJ)

LENO E LILIAN, O RETORNO  
  
 Por
Cleo Lima
DO NOVO JORNAL
 
A meia noite que irá separar os próximos dias 20 e 21 de junho marcará, também, a reunião de uma das duplas mais importantes da música brasileira em toda sua história: Leno e Lílian. Dessa vez, contudo, não se trata apenas de uma celebração, uma sessão nostalgia; as vozes que embalaram a ingênua rebeldia juvenil de outrora voltaram com tudo – música, turnê, parceria; tudo novo. Os eternos jovens guardaram muitas surpresas para 2015. 

“O tempo não passou pra nós. É só seguir a minha voz e logo vai me achar ao lado de você”, diz, oportunamente, a letra de ‘Lado a lado’, uma das novas músicas que farão parte dessa etapa atual do dueto. Enquanto dedilha calmamente um belo violão folk, Leno Azevedo explica que a canção é uma adaptação para a balada ‘Wicked Little Town’, de Stephen Trask.

A versão em português, conta ele, foi feita a quatro mãos, junto à própria Lílian. Um dado curioso é que, mesmo durante os áureos anos da dupla, em fins dos anos 1960, jamais existiu qualquer música creditada aos dois em parceria.

Mais que isso, os artistas não apenas remodelaram um clássico internacional para o idioma tupiniquim, mas compuseram juntos “Poeira das estrelas”, música inédita que completa o single virtual que será lançado para marcar a retomada oficial da dupla, daqui a pouco menos de dois meses.

O show de “relançamento” de Leno e Lílian está agendado para ocorrer na Virada Cultural 2015, em São Paulo. Conforme explica a parte potiguar do duo (Leno nasceu e mora atualmente em Natal), o evento paulista fará uma grande homenagem em alusão ao aniversário de 50 anos da Jovem Guarda.

“O pessoal da produção quer fazer quase uma festa temática, esse ano, por conta da comemoração. Tocaremos no ‘Palco Jovem Guarda’, que será montado no coração da cidade, no cruzamento das avenidas Ipiranga e São João. Vários colegas nossos da época deverão participar do evento, também. Será uma festa bacana, com projeção de 40 mil pessoas no horário do nosso show. A ideia é registrar tudo para um novo DVD”, adianta, animado.

Aproveitando o assunto, o cantor pega carona para criticar as políticas culturais existentes em Natal e no Rio Grande do Norte, de uma forma geral. Ele conta que ficou absolutamente surpreso ao receber o convite para se apresentar na capital paulista, feito diretamente pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

“Sempre defendi Natal, levei o nome da minha cidade onde fui, mas jamais obtive qualquer retribuição local. Nunca, nunca mesmo, fui chamado para qualquer evento daqui, seja pela Fundação José Augusto ou pela Fundação Capitania das Artes (FJA e Funcarte, órgãos gestores da cultura no Estado e no município, respectivamente). Ao mesmo tempo, a cultura de outro Estado me valoriza, sempre sou lembrado pelo pessoal de fora, impressionante. Já aqui...”, reclama.
  
Leno e Lilian
A dupla se desfez, se refez e não alcançou mais o mesmo sucesso
 na década de 70.  Leno e Lílian, apesar das brigas, 
sempre se encontram para reviver a
época de ouro de seus sucessos.
 Fotografia: Divulgação   
 
REENCONTRO CONTOU COM AJUDA DA INTERNET

Ainda que ambos sejam já sessentões (Leno fez 66 na semana passada; Lílian completou 67 no último dia 30), o ambiente que propiciou o reencontro e o início das negociações para o retorno da dupla não poderia ser mais atual: a internet.

Os artistas sempre mantiveram uma relação de amizade, mesmo após o encerramento das atividades musicais. Recentemente vinham conversando pelas redes sociais e, nesses encontros online, surgiu a ideia de retomar a parceria, reforçada pela comemoração dos 50 anos da Jovem Guarda.

Daí para a ampliação dos projetos, foi um curtíssimo salto. Logo que a notícia do retorno se espalhou pelo meio empresarial do entretenimento no eixo sul-sudeste, começaram a pipocar convites para turnês nacionais, o que, segundo Leno, deve ocorrer ao longo de todo o segundo semestre desse ano.

“É uma volta real, não uma comemoração. Só não estamos nos cobrando, queremos cantar, compor e curtir. A proposta é deixar fluir, pode durar um mês, pode durar 10 anos, vamos deixar acontecer”, comenta.

A animação de ambos os lados foi tanta, que os bate-papos progrediram para as parcerias em composições novas. Mais interessante, a produção desse trabalho será assinada pelo jovem, mas tarimbado, produtor musical carioca Diogo Strausz, que tem em seu currículo trabalhos com João Capdeville, o britânico Jacob Perlmutter e Alice Caymmi, neta de Dorival. Diogo, 25 anos, é filho de Leno.

É o rebento, conta o papai orgulhoso, quem faz a intermediação entre a dupla, já que ele mora no Rio de Janeiro, assim como a ‘tia’ Lílian, mas vem sempre a Natal visitar o progenitor. Essa mediação contempla as músicas, inclusive. Funciona mais ou menos da seguinte maneira: Leno dedilha algo para o filho, que leva as ideias para casa, arranja, organiza e repassa para que os cantores possam finalizar a canção. Tudo com muito Facebook, telefone, manda arquivo daqui, recebe mixagem de lá.

Outra curiosidade que marca o retorno da dupla é que já está tudo acertado para a apresentação, entrevistas marcadas na TV, repertório praticamente definido, mas Leno e Lílian ainda não se encontraram pessoalmente para amarrar as minúcias do projeto.

“Não é nada fora do comum, nos conhecemos como ninguém, não há a menor necessidade de formalidades. Somos amigos, nunca deixamos de ser, então não precisamos pegar um avião só para tirar foto e apertar as mãos”, assegura Leno, que deve embarcar com destino a SP cerca de dez dias antes do show inaugural, para os ensaios. 

Os cantores desfizeram a parceria pela primeira vez ainda em 1968, retomando a carreira em 1972. O encerramento definitivo das atividades ocorreu no ano de 1974, quando saiu o último disco do dueto. Como permaneceram em contato ao longo dos anos, sem qualquer indício de crise pessoal, eles sempre se apresentaram juntos em eventos que homenageavam a Jovem Guarda - tocaram nos 30 (1995) e nos 40 anos do movimento (2005), por exemplo. Esse show de dez anos atrás, inclusive, foi a última vez em que Leno e Lílian pisaram juntos em um palco. 

 Leno e Lilian
 Os artistas sempre mantiveram uma relação de amizade, 
mesmo após o encerramento das atividades musicais,
o que ocorreu em definitivo em 1974.  
  Fotografia: Divulgação
 
ÁLBUM CLÁSSICO, DE ROCK, RELANÇADO EM VINIL

A carreira de Leno está mesmo movimentada. Ao mesmo tempo em que anuncia o retorno da parceria com Lílian Knapp, o potiguar revela que um de seus discos mais importantes – o seminal “Vida e Obra de Johnny McCartney”, engavetado pela gravadora CBS nos anos 1970 e lançado 20 anos depois – deverá ser relançado em vinil ainda em 2015. As cópias serão prensadas na República Tcheca e distribuídas por lojas especializadas no Brasil. Leno ainda não sabe a tiragem exata das bolachas que vão para a rua.

“Johnny McCartney”, primeiro álbum a ser gravado em oito canais no Brasil, é um dos discos considerados “cult” no rock brasileiro (Leno, aliás, foi o produtor musical de outra joia rara do estilo no País, o “Lágrimas Azuis”, do grupo potiguar Impacto 5). À época de seu lançamento, teve quatro músicas barradas pela censura, o que levou ao engavetamento do projeto por parte da CBS.

“Fiquei ressentido, até rescindi contrato. Eles sequer tentaram diálogo com o Governo, o que era praxe em casos de censura. Na verdade, não fizeram questão por conta da minha mudança radical de estilo, tiveram medo de apostar. Imagina só, eu tinha acabado de lançar ‘A festa dos seus 15 anos’ e voltei com um disco de rock no talo em parceria com Raulzito Seixas...”, ri o cantor.

As fitas ficaram nos porões da gravadora por muito tempo, até que o pesquisador Marcelo Fróes encontrou tudo e telefonou para Leno.

“Foi um susto, nem sabia que essa master ainda existia. Pedi de volta os direitos à Sony (que comprara a CBS) e eles me cederam, então lancei o disco de maneira independente no meio dos anos 90. Tempos depois, já em dois mil e pouco, fui ‘descoberto’ pela Lion Records’, gravadora americana que se interessou em lançar o material no exterior. Finalmente se fez justiça, um trabalho bonito e bem acabado. Agora veio esse lance do vinil, que me deixou muito animado, pois sou um eterno apaixonado pelos LPs”, suspira.
Compositor explica problemas de saúde

Antes de encerrar a entrevista, Leno faz questão de se explicar para os fãs potiguares, após a remarcação de dois shows seus, que ocorreriam nesse início de ano no Teatro Riachuelo. O cantor passou por problemas de saúde que o deixaram impossibilitado até mesmo de andar, por um longo período de tempo.

“Tive um problema sério no pé, quase perdi um dedo, mas depois de muita batalha me recuperei totalmente. Em seguida precisei passar por um procedimento cirúrgico, em decorrência de uma hérnia. A sequência nos hospitais me impossibilitou de fazer os shows anunciados, mas pretendo compensar muito em breve, quem sabe já junto da Lílian novamente”, projeta.

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