FERREIRA ITAJUBÁ
Pesquisadora Mayara Costa e o escritor Lívio Oliveira mostram que, um século depois da
sua morte, a
vida do poeta potiguar ainda é cercada de mistério e continua despertando interesse a cerca de sua vida. Nunca publicou livros. Diógenes da Cunha Lima adquiriu e fez a restauração do velho sobrado em que nasceu e viveu o poeta, na rua Chile, Ribeira, Natal/RN.
AUTOR DE VERSOS RUDES
Por
Pedro Vale
A vida do poeta potiguar Ferreira Itajubá é cercada de mistérios.
Ninguém sabe exatamente quando ou onde ele nasceu, ninguém sabe
exatamente quais são as circunstâncias envolvendo sua morte e ninguém
sabe exatamente quem foi Branca, musa inspiradora de diversos poemas
seus.
Mas, a despeito (ou por causa) dessas lacunas da sua biografia, a vida e obra de poeta boêmio que também já foi dono de circo, bedel, escrevente e ajudante de comércio, ainda despertam o interesse de literatos potiguares até hoje – para o Itajubá da pesquisadora Mayara Costa e do escritor Lívio Oliveira não se pode aplicar o rótulo de “Itajubá Esquecido” (1981), biografia escrita por Nilson Patriota.
Mas, a despeito (ou por causa) dessas lacunas da sua biografia, a vida e obra de poeta boêmio que também já foi dono de circo, bedel, escrevente e ajudante de comércio, ainda despertam o interesse de literatos potiguares até hoje – para o Itajubá da pesquisadora Mayara Costa e do escritor Lívio Oliveira não se pode aplicar o rótulo de “Itajubá Esquecido” (1981), biografia escrita por Nilson Patriota.
Natural de Currais Novos, Mayara é graduada em Letras – Línguas
Portuguesa e Literatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Suas pesquisas na academia sobre Ferreira Itajubá resultaram na
antologia “Dispersos: poemas e prosas”, organizada em conjunto com o
professor Humberto Hermegenildo de Araújo. Sua dissertação de mestrado,
defendida em 2012, também foi sobre o poeta.
Lívio, por sua vez, é poeta e publicou quatro livros de poesia: “O Colecionador de Horas” (2002), “Telha Crua” (2005), “Pena Mínima” (2007) e “Dança em Seda Nua” (2009). O centenário da morte de Itajubá, no dia 30 de junho deste ano, foi o tema de uma palestra que a dupla apresentou no IV Festival Literário da Pipa (Flipipa) no mês passado.
Lívio, por sua vez, é poeta e publicou quatro livros de poesia: “O Colecionador de Horas” (2002), “Telha Crua” (2005), “Pena Mínima” (2007) e “Dança em Seda Nua” (2009). O centenário da morte de Itajubá, no dia 30 de junho deste ano, foi o tema de uma palestra que a dupla apresentou no IV Festival Literário da Pipa (Flipipa) no mês passado.
Mayara Costa e Lívio Oliveira
Debateram aspectos da vida e obra de Ferreira Itajubá durante o Flipipa
Debateram aspectos da vida e obra de Ferreira Itajubá durante o Flipipa
Fotografia: Dionísio Outeda
Embora tenha agregado
influências diversas, Ferreira Itajubá foi, sobretudo, um poeta
romântico. Com a linguagem simples e musical, seus poemas tratavam de
temas como a vida, morte, nostalgia e, principalmente, o exílio – ainda
que não existam evidências de que o poeta tenha sido de fato exilado. “A
poesia de Itajubá é uma poesia de exílio. Ele acreditava que era melhor
sofrer perto dos seus”, afirma Mayara.
Se por um lado o estudo da obra de Itajubá é tornado possível pelo fato de parte de seus poemas terem sido publicadas em diversas antologias poéticas potiguares, a pesquisa sobre a vida do poeta é bem mais complicada.
Os mistérios começam desde o seu nascimento – Câmara Cascudo dizia que Itajubá havia vindo ao mundo em 1876, o poeta chegou a assinar um documento declarando ter nascido em 1877 e uma placa de mármore onde ele possivelmente nasceu, na Rua Chile, 63, diz que o ano foi 1875. Existem também suspeitas que ele nem tenha nascido em Natal – alguns acreditam que Itajubá seja natural da Praia de Touros.
O fato do poeta ter assinado vários de seus escritos sob pseudônimos, como Estela Romariz, contribui ainda mais para sua aura enigmática. Mesmo o nome que deixou para a posteridade é um pseudônimo: o escritor foi batizado como Manuel Virgílio Ferreira.
“Ninguém também sabe ao certo por que ele assinava como Ferreira Itajubá. Ele adotou o nome ainda na escola”, aponta Mayara. “Eu particularmente acredito que foi baseado no guerreiro timbira de mesmo nome imaginado por Gonçalves Dias em ‘Os Timbiras’”, supõe a pesquisadora.
Se por um lado o estudo da obra de Itajubá é tornado possível pelo fato de parte de seus poemas terem sido publicadas em diversas antologias poéticas potiguares, a pesquisa sobre a vida do poeta é bem mais complicada.
Os mistérios começam desde o seu nascimento – Câmara Cascudo dizia que Itajubá havia vindo ao mundo em 1876, o poeta chegou a assinar um documento declarando ter nascido em 1877 e uma placa de mármore onde ele possivelmente nasceu, na Rua Chile, 63, diz que o ano foi 1875. Existem também suspeitas que ele nem tenha nascido em Natal – alguns acreditam que Itajubá seja natural da Praia de Touros.
O fato do poeta ter assinado vários de seus escritos sob pseudônimos, como Estela Romariz, contribui ainda mais para sua aura enigmática. Mesmo o nome que deixou para a posteridade é um pseudônimo: o escritor foi batizado como Manuel Virgílio Ferreira.
“Ninguém também sabe ao certo por que ele assinava como Ferreira Itajubá. Ele adotou o nome ainda na escola”, aponta Mayara. “Eu particularmente acredito que foi baseado no guerreiro timbira de mesmo nome imaginado por Gonçalves Dias em ‘Os Timbiras’”, supõe a pesquisadora.
Manoel Virgílio Ferreira Itajubá
Dono de circo, escrevente, bedel, ajudante de comércio,
boêmio, e acima de tudo POETA
Dono de circo, escrevente, bedel, ajudante de comércio,
boêmio, e acima de tudo POETA
AUTOR DE VERSOS RUDES
Embora seus poemas fizessem sucesso com o povo, Ferreira Itajubá era
desprezado pela elite intelectual de seu tempo por ter nascido em uma
família extremamente pobre. Sua condição social e a linguagem simples de
seus versos renderam-lhe a alcunha de poeta do verso rude entre os
intelectuais de então.
De acordo com Mayara Costa, o descaso com o qual o poeta era tratado pelos literatos de seu tempo e sua pobreza foram dois fatores que contribuíram para que Ferreira Itajubá não tenha obtido o reconhecimento que lhe era de direito. “Era muito difícil publicar livros na época, e sem o apoio da elite e dinheiro para tal, Itajubá só publicava seus escritos em jornais. Nunca publicou livros, por isso boa parte da obra dele está perdida por aí”, relata a pesquisadora.
Lívio Oliveira acredita que se é possível traçar uma relação entre o limbo no qual Ferreira Itajubá foi colocado por seus contemporâneos intelectuais e o sentimento de exílio que permeia toda a sua obra. “Ninguém sabe se Itajubá passou por algum exílio verdadeiro ou não. Ele morreu no Rio de Janeiro buscando um tratamento para uma doença misteriosa, mas não se sabe muito mais do que isso sobre as viagens que ele possa ter feito”, afirma. “O que sabemos dele é o exílio não-físico que ele sofria ao ser marginalizado pelos outros poetas da época”.
O poeta que vivia de saudades e amores oníricos
morreu em 30 de junho de 1912 no Rio de Janeiro.
Alguns acreditam que Itajubá seja natural da Praia de Touros
De acordo com Mayara Costa, o descaso com o qual o poeta era tratado pelos literatos de seu tempo e sua pobreza foram dois fatores que contribuíram para que Ferreira Itajubá não tenha obtido o reconhecimento que lhe era de direito. “Era muito difícil publicar livros na época, e sem o apoio da elite e dinheiro para tal, Itajubá só publicava seus escritos em jornais. Nunca publicou livros, por isso boa parte da obra dele está perdida por aí”, relata a pesquisadora.
Lívio Oliveira acredita que se é possível traçar uma relação entre o limbo no qual Ferreira Itajubá foi colocado por seus contemporâneos intelectuais e o sentimento de exílio que permeia toda a sua obra. “Ninguém sabe se Itajubá passou por algum exílio verdadeiro ou não. Ele morreu no Rio de Janeiro buscando um tratamento para uma doença misteriosa, mas não se sabe muito mais do que isso sobre as viagens que ele possa ter feito”, afirma. “O que sabemos dele é o exílio não-físico que ele sofria ao ser marginalizado pelos outros poetas da época”.
O poeta que vivia de saudades e amores oníricos
morreu em 30 de junho de 1912 no Rio de Janeiro.
Alguns acreditam que Itajubá seja natural da Praia de Touros
ATUAL HÁ 100 ANOS
Embora tenha morrido há um século, a obra de Itajubá Ferreira
continua atual como nunca por tratar de temas humanos universais, com os
quais qualquer leitor pode se identificar. Essa é, pelo menos, a
opinião de Mayara Costa.
“Embora tivesse elementos do Parnasianismo e do Simbolismo, a principal influência na poesia de Itajubá era o Romantismo, e os românticos escreviam sobre temas e assuntos que são atuais ainda hoje, como o individualismo e subjetivismo, além de possuírem uma sentimentalidade mais humana e universal. A questão do exílio, bastante presente na obra de Itajubá, ressona com qualquer pessoa que se encontre longe de casa”, explica a pesquisadora.
A mudança que os românticos representaram também se deu na forma dos poemas. Enquanto os poetas clássicos escreviam versos de palavras rebuscadas com rimas e metrificação perfeita, os românticos passaram a adotar um estilo mais livre de tais amarras formais e com linguagem mais simples, plantando a semente da completa despreocupação com a forma característica dos modernistas.
Na opinião de Lívio Oliveira, o fato de Itajubá ter assumido essa linguagem romântica, com palavras simples e versos menos rígidos, fazia com que seus poemas fossem lembrados pelo povo de seu tempo, mesmo que o escritor tenha caído em um relativo esquecimento depois de sua morte. “Os versos dele tinham uma musicalidade muito grande, tanto é que alguns de seus poemas chegaram a ser musicados por outros artistas depois de sua morte. Essa característica fazia com que as pessoas conseguissem se lembrar com mais facilidade dos poemas dele”, destaca Oliveira.
“Embora tivesse elementos do Parnasianismo e do Simbolismo, a principal influência na poesia de Itajubá era o Romantismo, e os românticos escreviam sobre temas e assuntos que são atuais ainda hoje, como o individualismo e subjetivismo, além de possuírem uma sentimentalidade mais humana e universal. A questão do exílio, bastante presente na obra de Itajubá, ressona com qualquer pessoa que se encontre longe de casa”, explica a pesquisadora.
A mudança que os românticos representaram também se deu na forma dos poemas. Enquanto os poetas clássicos escreviam versos de palavras rebuscadas com rimas e metrificação perfeita, os românticos passaram a adotar um estilo mais livre de tais amarras formais e com linguagem mais simples, plantando a semente da completa despreocupação com a forma característica dos modernistas.
Na opinião de Lívio Oliveira, o fato de Itajubá ter assumido essa linguagem romântica, com palavras simples e versos menos rígidos, fazia com que seus poemas fossem lembrados pelo povo de seu tempo, mesmo que o escritor tenha caído em um relativo esquecimento depois de sua morte. “Os versos dele tinham uma musicalidade muito grande, tanto é que alguns de seus poemas chegaram a ser musicados por outros artistas depois de sua morte. Essa característica fazia com que as pessoas conseguissem se lembrar com mais facilidade dos poemas dele”, destaca Oliveira.
...fonte...
Pedro Vale
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Os direitos autorais são protegidos pela Lei n° 9.610/98, violá-los é crime!
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