MOACY CIRNE
Escritor, professor,
pesquisador e tricolor de coração
Considerado o maior
estudioso brasileiro das histórias em quadrinhos
Moacy Cirne detinha
um olhar circular e atento,
que poucos possuíam
neste país.
Fotografia: João Maria Alves
UM HOMEM MÚLTIPLO
Por
Yuno Silva
repórter
Cinthia Lopes
editora
TRIBUNA DO NORTE
Moacy Cirne era como uma ponte:
uma ponte de mão dupla entre texto e imagem, passado e presente; elo de ligação
entre o modernismo, a vanguarda e a tal contemporaneidade. Ou ainda um atalho
entre o Seridó, Natal, Rio de Janeiro e o resto do planeta. Crítico, ensaísta e
poeta. Passional e radical, teórico e antiacadêmico, Cirne transitava com
desenvoltura pelos campos do cinema, das artes visuais e dos quadrinhos.
Pioneiro no estudo da arte sequencial no Brasil, membro da primeira turma do
Cineclube Tirol e fundador do movimento Poema/Processo, foi seridoense
incurável de corpo e alma que não se cansava em citar, comentar e relembrar
detalhes sobre suas primeiras descobertas lá para as bandas de Caicó.
Na verdade, por maior que seja o
esforço, irão faltar palavras e adjetivos para alcançar a dimensão de sua
personalidade inquieta e universal: Moacy Cirne encantou-se este sábado (11),
por volta das 13h, quando sofreu uma parada cardíaca após procedimentos
cirúrgicos no fígado. Sua saúde andava abalada, tratava de uma cirrose hepática
provocada por resquícios de uma Hepatite tipo C de tempos atrás, agravada pelo
surgimento de tumores no órgão. Seu corpo foi sepultado no domingo (12), em
Caicó, conforme seu pedido.
A viúva Fátima Arruda, que esteve
os últimos 19 anos ao lado do poeta, informou que Moacy fez cirurgia na quarta,
teve a parada cardíaca na sexta e faleceu no sábado. “Por enquanto vamos
acompanhar as homenagens, depois pensamos em publicar algum material inédito”,
disse Fátima, adiantando que Cirne vinha pesquisando várias versões de
traduções do Velho Testamento da Bíblia. “Ele estava na angústia de concluir
essa pesquisa”, destacou. E confessa quando questionada sobre os amores
nutridos pelo poeta: “Seu amor pelo Fluminense era intangível, não dava pra
competir!”. Cirne deixa duas filhas, Ana Morena, 27, e Isadora, 23, do primeiro
casamento, que moram no RJ.
HQ, CINEMA E POEMA/PROCESSO
Autor de quase três dezenas de
livros, Cirne carimbou seu nome para a posteridade logo na estreia com “Bum! A
explosão criativa dos quadrinhos” (Editora Vozes), de 1970, obra definitiva
para quem pretende ter uma visão crítica e fundamentada sobre o assunto. E
vieram outros, pelo menos mais uns oito livros orbitando em torno das HQs,
sedimentando o trabalho de Moacy como a principal pesquisa sobre a área.
“Eu era conhecido como ‘o menino
do gibi’. Toda quinta-feira, ‘seu’ Benedito vendia na calçada de sua casa as
revistas em quadrinhos que comprava em Recife. Ele tinha um caminhão e trazia
as coisas para vender em Caicó, inclusive os gibis. Às vezes só chegava na
sexta de manhã. Eu ficava lá, de plantão, esperando. Comecei a comprar essas
revistas aos sete ou oito anos”, declarou o poeta/processo em entrevista concedida
ao jornalista potiguar (radicado em Brasília) Roberto Homem, para o blog
Superpauta, no início do mês de dezembro do ano passado.
Sobre o Poema/Processo, Moacy
Cirne lembrou na mêsma entrevista que no final da década de 1960 “para aparecer
no meio intelectual da cidade, era comum ser apadrinhado por Câmara Cascudo.
Nós não tínhamos nada contra Cascudo, apenas nos propusemos a fazer outra
coisa”.
VANGUARDA
“Em 1968 houve um debate cultural
por aqui, no Sesc, que considero a chegada das vanguardas a Natal. Moacy Cirne
estava lá, com Dailor Varela, representando o Poema/Processo”, lembra o
jornalista Vicente Serejo. “Era como se fosse a retomada do modernismo, mas na
vanguarda, como uma tomada de posição”, conceitua. Serejo conta que Cirne era
“metódico, grande leitor e o mais culto dessa turma toda”, e que quando se muda
para o Rio de Janeiro passa a alimentar o movimento local com novas ideias.
“Da minha geração, ele foi
fundamental. Provavelmente o mais importante. Sempre trazia uma carga de
conhecimento do Rio cheia de novidades. Moacy se insere entre os criadores e
inventores de novas linguagens, tinha uma visão muito ampla do mundo”, disse o
artista visual e poeta/processo Falves Silva, 70, parceiro de Cirne. “Assinei
seis ou sete capas de livros dele”.
“Dizer que ele foi o guru, o
cabeção do Poema/Processo, é chover no molhado”, garante Abimael Silva, do Sebo
Vermelho.
Para o jornalista e crítico
literário Nelson Patriota, Moacy Cirne “permaneceu um rebelde, queria sempre
inovar. Admiro muito essa faceta inquieta dele, que não se dava por satisfeito
com nada e tinha certeza que a arte tinha sempre mais a oferecer”.
BASES TEÓRICAS E HQ
Para Dácio Galvão, poeta,
ensaísta, presidente da Fundação Capitania das Artes e amigo pessoal de Moacy,
“foi ele que inaugurou o conceito teórico de literatura aqui no RN com base em
argumentos científicos. Moacy deixa a subjetividade de lado e provoca um olhar
diferenciado, inclusive na área de quadrinhos, quando passa a analisar não
apenas o textual mas também as imagens.
Galvão acredita que boa parte da
literatura do seridoense é fundamental, como o livro “Vanguarda: um projeto
semiológico”. “O livro revela não só a base do Poema/Processo, como revisita
Jorge Fernandes. Ele deixa um legado que não admite concessões”.
“Era meu melhor amigo, meu irmão
mais velho, meu pai literário. Nosso consolo é sua obra, referência pra
qualquer pessoa em qualquer lugar do país”, garante o sebista e editor Abimael
Silva, do Sebo Vermelho, responsável pelo lançamento de doze livros de Moacy
Cirne.
BÍBLIA
Abimael Silva contou que Moacy
Cirne deixou um estudo inédito chamado “Penúltimas leituras seridoenses”, mas
que antes de qualquer movimento irá consultar a família. “Sei que ele também
trabalhava em uma releitura do Velho Testamento da Bíblia. Vinha pesquisando
isso há mais de dez anos”, revela. De fato, da última vez que Dácio esteve na
casa de Cirne, o poeta estava envolvido com oito traduções diferentes da
Bíblia. “Ele vinha comparando traduções da Bíblia, acredito que para uma futura
publicação”, reforçou Nelson Patriota.
DICOTOMIA
“Fomos parceiros, tínhamos em
comum a identificação e as diferenças de
ideias. Entre convergências e divergências tivemos uma amizade muito intensa”,
disse o jornalista e poeta Jarbas Martins, que conheceu Moacy logo que veio de
Caicó morar em Natal. “Ele tinha uns 17 anos, falávamos sobre tudo,
cinema, política, era uma pessoa
passional e radical em tudo o que fazia, contrário a toda e qualquer forma de
regras burguesas.
...fonte...
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