agosto 25, 2015

A FRÁGIL MEMÓRIA DA CAPITAL POTIGUAR

UMA CIDADE SEM MEMÓRIA
 Fotografia: Rodrigo gurgel
 
Casarão de relevância cultural na paisagem da cidade. O sobrado de traços ecléticos, que ficava na esquina da avenida Prudente de Morais com a rua Seridó, Natal/RN, foi sede do Conservatório de Música Frédéric Chopin e terminou seus dias como churrascaria; agora, tudo indica que o endereço será ocupado por uma farmácia considerando que o imóvel pertence a empresa Empreendimentos Farmacêuticos Globo Ltda.
 
A FRÁGIL MEMÓRIA DA CIDADE

Por
Yuno Silva, Repórter
Colaboradora
Cinthia Lopes, Editora
TRIBUNA DO NORTE  
 
A demolição sumária de um casarão neocolonial construído entre as décadas de 1920 e 30 no último sábado (22), em Petrópolis, ligou o alerta de arquitetos, gestores públicos, profissionais que lidam com patrimônio histórico e entusiastas pela preservação da memória: como proteger os já raros exemplares de imóveis antigos de relevância para a identidade cultural urbana de Natal? O sobrado de traços ecléticos, que ficava na esquina da avenida Prudente de Morais com a rua Seridó, foi sede do Conservatório de Música Frédéric Chopin e terminou seus dias como churrascaria; agora, tudo indica que o endereço será ocupado por uma farmácia considerando que o imóvel pertence a empresa Empreendimentos Farmacêuticos Globo Ltda.

“A demolição foi irregular, não fomos comunicados como seria feito o procedimento nem emitimos qualquer autorização. Deram entrada na solicitação no final do expediente da sexta-feira (21), e o processo só foi encaminhado para o setor que analisa os pedidos de demolição hoje (ontem, dia 24). Quem protocolou o documento na Semurb tem conhecimento de que há uma legislação específica regulamentando esse tipo serviço. Agora queremos saber os motivos que levaram a antecipar a demolição do imóvel”, disse o titular da pasta Marcelo Caetano Rosado Maia Batista.

O pedido de demolição foi protocolado na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) às 12h48 do dia 21, sob o número 038113.2015-84. Mesmo com a demolição irregular do imóvel, a solicitação seguirá todos os trâmites legais; enquanto outro processo corre paralelo afim de apurar a responsabilidade dos fatos. Rosado informou que o prazo médio para a Semurb atender um pedido de demolição é de 10 dias úteis. “Isso quando a construção não apresenta características históricas. Em casos como esse demora um pouco mais (que os 10 dias úteis de praxe), pois verificamos com os órgãos que cuidam do patrimônio para saber a situação do imóvel antes de emitir um parecer”.

O secretário explicou ainda que quando há urgência em demolir, os próprios interessados já trazem documentação relativa à questões patrimoniais.

“O protocolo do pedido de demolição não garante a legalidade do procedimento”, reforça Marcelo Rosado. Técnicos da Secretaria irão vistoriar o local para então redigir um auto de infração. O valor da multa a ser aplicada nesses casos varia de R$ 48 a R$ 12 mil, faixa estipulada pelo Código de Obras do Município, e será definida de acordo com gravidade do ocorrido após a vistoria. Após notificação oficial, a empresa Empreendimentos Farmacêuticos Globo Ltda terá dez dias para apresentar defesa. “Não é normal não esperar a autorização”, observou Rosado.

A demolição ganhou as redes sociais no mesmo dia (22), quando o arquiteto Rodrigo Gurgel, que trabalha em frente ao antigo casarão, postou fotos em seu perfil – até ontem pela manhã a postagem já contabilizava mais de 400 compartilhamentos. “O que fizeram é a maior burrice, ia ser a farmácia mais charmosa e diferente da cidade. Iria ganhar a simpatia dos consumidores e poderia ser exemplo de como adequar o imóvel para uso comercial”, pontua.

Para Rodrigo o “grande problema é a demolição irregular” de uma casa em pleno funcionamento: “Esse é o primeiro problema, o segundo é a falta de visão empresarial. Com esse tipo de expediente estamos perdendo a identidade histórica e cultural da cidade, as referências vão se rareando – que é o que dá as características de uma sociedade.

ATO DE REPÚDIO

Na tarde de ontem, 24, em frente ao endereço antes ocupado pelo casarão neocolonial de traços “barrocos e de casa de fazenda” – como bem ensinou Patrícia Luz, atual presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RN – houve movimentação e ato articulado por membros do CAU-RN, do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RN) e do Sindicato dos Arquitetos do RN (SINARQ).

De acordo com o texto divulgado pelos organizadores do protesto “Saudosa Maloca”, o imóvel quase centenário “levou menos de 3 horas” para vir ao chão. Vestidos de preto, os manifestantes depositaram flores no local e emitiram nota de repúdio ao tombamento literal do casarão.

“É toda uma história que se perde”, lamentou Patrícia. “É o Arquiteto e Urbanista que estuda, planeja, pensa e repensa a cidade, e quando falamos em planejar temos que considerar o contexto histórico, não podemos destruir tudo e viver só o novo: é o patrimônio que conta nossa história”, garante. A presidente do CAU-RN adiantou que, em parceria a ser construída com a UFRN, IAB-RN, Sinarq-RN e Iphan-RN, o Conselho irá iniciar um mapeamento para identificar imóveis – mesmo os não tombados – de relevância histórica. “Nosso lema é preservar e usar!”, defende. Patrícia Luz lembra que o Conselho “orienta” os colegas pela boa prática da profissão, “e esse episódio é um exemplo do que não fazer”. Para Patrícia Luz é fundamental a preservação da memória urbana. “É ele (o Arquiteto e Urbanista) que tem o dever de contar essa história e manter a memória da cidade viva, algo tão valorizado em outras cidades do mundo. O VIVER entrou em contato com a assessoria do grupo Globo, mas não obteve resposta até o fechamento.

 O QUE

O casarão neocolonial construído entre os anos 1920/30 que ficava na esquina da Av. Prudente de Morais e Rua Seridó, em Petrópolis, foi demolido no último sábado (22). A Semurb confirmou protocolo solicitando a derrubada do imóvel na sexta (21), um dia antes do ocorrido, pela empresa Empreendimentos Farmacêuticos Globo Ltda. O prazo mínimo estipulado para emitir esse tipo de autorização é de dez dias úteis. A empresa será autuada e poderá pagar uma multa cujo valor ainda não foi definido (entre R$ 48 e R$ 12 mil).

QUEM

Arquitetos e simpatizantes do patrimônio histórico municipal realizaram protesto em frente ao local na tarde desta segunda (24). Entidades de classe querem articular, em parceria com a UFRN e Iphan-RN, um mapeamento dos imóveis de relevância histórica. O casarão  foi sede do Conservatório de Música Frédéric Chopin até 2010, e terminou seus dias como churrascaria – agora o endereço poderá vir a ser uma farmácia. 
...fonte...
www.tribunadonorte.com.br 
  
Se copiar textos e ou fotografias, atribua os créditos!
Os direitos autorais são protegidos pela Lei nº 9.610/98, violá-los é crime!

agosto 17, 2015

FORTE DOS REIS MAGOS À DERIVA

FORTE DOS REIS MAGOS
Fotografia: Emanuel Amaral

A cena é de dar dó: o maior, mais conhecido, mais visitado e mais antigo monumento do Rio Grande do Norte virou um amontoado de pedras, areia, problemas, promessas e projetos. Apesar de aberto à visitação, a fortificação concluída em 1599, marco de fundação da capital potiguar, deixou de oferecer exposições (permanentes e/ou temporárias) e se não fosse o trabalho quase voluntário de guias de turismo sua importância histórica passaria despercebida.

 FORTE À DERIVA

Por
Yuno Silva
TRIBUNA DO NORTE

A cena é de dar dó: o maior, mais conhecido, mais visitado e mais antigo monumento do Rio Grande do Norte virou um amontoado de pedras, areia, problemas, promessas e projetos. Sob a guarda do Iphan-RN desde maio de 2013, o imponente Forte dos Reis Magos aguarda moribundo os R$ 8,8 milhões do PAC Cidades Históricas – recursos prometidos pelo governo Federal há mais de dois anos para sua restauração. Pedras e areia, resultante de escavações arqueológicas, estão entulhadas na entrada e no pátio interno do Forte; problemas na estrutura física só se acumulam; a verba do PAC continua na promessa; e o projeto executivo de restauração deve ficar pronto no final de setembro.

Não há equipe. Os guias atuam (autorizados) de forma independente, em troca de algum dinheiro ofertado pelos poucos turistas que se aventuram no lugar. E para evitar reclamações, justamente pelo ‘oco’ museológico e o quadro de ‘obra parada’, os ingressos deixaram de ser cobrados desde o mês de junho deste ano. O Marco de Touros, chantado pelos portugueses no litoral do RN em 1501, é o único vestígio histórico além da própria edificação.  

Apesar de aberto à visitação, a fortificação concluída em 1599, marco de fundação da capital potiguar, deixou de oferecer exposições (permanentes e/ou temporárias) e se não fosse o trabalho quase voluntário de guias de turismo sua importância histórica passaria despercebida. 
 
 
FORTE DOS REIS MAGOS
Fotografia: Josuá Carlos

Sem uma linha regular de ônibus urbano (responsabilidade da STTU), segurança externa insuficiente (da Polícia Militar), iluminação precária no entorno (Semsur, Codern e Iphan) e pouca infraestrutura no terminal turístico (Setur e Sectur), o monumento eleito em concurso nacional entre as sete maravilhas do Brasil, está ilhado na boca da barra do Rio Potengi: das três maiores operadoras de turismo de Natal, duas já deixaram de incluir o Forte no city tour, um passeio fraco diante das possibilidades. “Hoje digo aos turistas que eles podem ir por conta própria e risco”, disparou Decca Bolonha, proprietária da Potiguar Turismo, que presta serviço para a CVC. “É inadmissível uma situação dessas”, sentenciou Fred Queiroz, secretário Municipal de Turismo, reconhecendo que o Forte não faz parte da alçada do município. “Nosso interesse é que o Forte volte a ser um destino concorrido de visitação. Natal e todos ganham. A questão hoje é saber dos prazos: quando começa a restauração e por quanto tempo o Forte vai ficar fechado para o serviço? Estou bastante otimista com o projeto que vi no Iphan-RN”. A estimativa inicial é que as obras se prolonguem por um ano.

Queiroz vem articulando o meio de campo entre Turismo e Iphan-RN, e adiantou que vai procurar a Fundação José Augusto para tentar trazer de volta o acervo expositivo retirado em 2013 quando o Governo do RN devolveu a concessão do monumento ao Iphan-RN.

O secretário se diz a favor do Forte dos Reis Magos abrir para receber eventos particulares, “desde que respeitadas as restrições patrimoniais”. Sobre linha de ônibus urbano, iluminação e estrutura do terminal turístico, Fred Queiroz resumiu que “todas essas demandas estão sendo levantadas”.

Vale lembrar que a Prefeitura de Natal cuida da iluminação da rua, até o início da passarela que dá acesso ao Forte, e que a gestão dessa passarela (escura e esburacada) é dividida entre Iphan-RN e Codern. De acordo com Fred Queiroz, a Codern se prontificou a fazer os reparos que forem solicitados pelo Iphan-RN. “Também informaram que a iluminação deve considerar o movimento do porto para não confundir as embarcações”.    
 
 
FORTE DOS REIS MAGOS
Fotografia: Josuá Carlos 
 
PALAVRA DO TRADE 

Decca Bolonha, proprietária da Potiguar Turismo, que presta serviço para a CVC, confessou estar “muito chateada com esse assunto. Tivemos algumas reuniões com a gestão anterior do Iphan-RN, e ouvimos que os museus administrados pelo Instituto não precisavam de turistas. Me levantei e fui embora, nem ouvi a justificativa para essa afirmação. Um tratamento bem diferente dispensado pela atual superintendente, Andréa Costa, que já nos chamou para conversar”.Decca contou que a operadora comprava de R$ 30 mil a R$ 40 mil em ingressos antecipados por mês. “Todas as salas do Forte estão esburacadas depois das escavações arqueológicas, trabalho que começou sem ser comunicado às operadoras”, reclamou. “Virou um lugar inseguro devido a falta de acessibilidade e de policiamento na parte externa”.

Rivane Medeiros, gerente comercial da Luck Receptivo também critica a insegurança. “Temos tido muitas queixas com a falta desse passeio, e estamos ansiosos para que façam a restauração, revitalizem a área e devolvam o monumento para que possamos engrandecer nosso city tour”, reforça.

Já para Wellington Palhano, da Whel Tour, que continua levando turistas para visitar o monumento, “a saída do Forte do roteiro é a morte! Está para Natal assim como o Cristo redentor está para o Rio de Janeiro. É um local de suma importância, nosso maior elo histórico, e as operadores tem um papel importante nessa divulgação”. Também citou a insegurança e disse que o terminal turístico virou “terra de ninguém” tamanha a bagunça no trato com o visitante.   
 
 
FORTE DOS REIS MAGOS
Fotografia: Josuá Carlos

IPHAN RESPONDE

A superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional respondeu questionamentos da reportagem do VIVER por e-mail. A chefe da Divisão Técnica, Litany Eufrásio, que responde como superintendente substituta, ressaltou que o Forte “abriga o Marco Quinhentista (de Touros) e as imagens dos três reis magos para visitação. Esclareço que está previsto a implantação de uma museografia após a restauração”.

Litany bate na tecla, com razão, da importância histórica do lugar: “Após a retirada do acervo da FJA, optamos por manter o Forte dos Reis Magos aberto para visitação tendo em vista a grande representatividade e a importância que o bem tem para a cidade. Consideramos que o Forte em si, com sua estrutura física ainda preservada, sendo a edificação mais antiga da cidade, é um bem que merece ser visitado independente de haver material de exposições diversas. Com uma arquitetura singular, localizada em uma área estratégica e com uma paisagem belíssima a ser contemplada, o Forte é um ponto atrativo para turistas e moradores da cidade”.

Sobre o PAC Cidades Históricas, “prioridade da superintendência regional”, Litany  informa que até “o final do mês de setembro” o Iphan-RN tenha em mãos os projetos executivos da arquitetura e complementares de engenharia relativos ao Forte finalizados. “Assim poderemos iniciar o processo de licitação para execução da obra. A licitação deverá ser aberta até o mês de dezembro do corrente ano”, garantiu. 

ETAPAS DA OBRA

A restauração do Forte dos Reis Magos está orçada em R$ 8,83 milhões via PAC Cidades Históricas. As etapas de identificação e diagnóstico foram concluídas e aprovadas. Também foi finalizada a fase de pesquisas arqueológica e histórica. O estudo preliminar da arquitetura foi realizado, enquanto o projeto executivo básico está em fase de análise. (* dados atualizados do mês de junho)

...fonte...
www.tribunadonorte.com.br
 
Se copiar textos e ou fotografias, atribua os créditos!
Os direitos autorais são protegidos pela Lei nº 9.610/98, violá-los é crime!

agosto 06, 2015

MUSEU DO TREM TERÁ PASSEIO LOCOMOTIVA

MUSEU DO TREM -RIBEIRA - NATAL/RN
 
Ideia é recuperar trilhos para tornar possível o trajeto idealizado
 entre a Rua Chile, passando pelo Porto de Natal, 
até chegar ao IFRN Cidade Alta.
Fotografia: Argemiro Lima/NJ
 
MUSEU DO TREM TERÁ PASSEIO DE LOCOMOTIVA
 
    Por
 Henrique Arruda
    Do Novo Jornal

A extensão do IFRN/Campus Cidade Alta, que passará a funcionar também no bairro das Rocas, a partir de janeiro de 2016, ocupando o antigo prédio da Rede Ferroviária Federal S.A. (Refesa), pode ganhar um ótimo atrativo ainda no primeiro semestre do ano que vem: um passeio histórico com uma das três locomotivas de ferro que agora fazem parte do acervo do novo campus.

O sonho é alimentado pelo Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico e Cultural do RN, o IAPHACC, em parceria com o próprio IFRN/Cidade Alta. Por enquanto, a tentativa é sensibilizar a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU/RN) para que recupere parte do trilho necessário para o trajeto idealizado entre a Rua Chile, passando pelo Porto de Natal, até chegar ao novo campus.

“É uma iniciativa de Ricardo Cobra, presidente do IAPHACC, mas nós também apostamos na ideia porque todo o percurso seria acompanhado pelos nossos alunos do curso de Guia de Turismo”, comenta Lerson Maia, diretor do IFRN Cidade Alta, reconhecendo ainda outros desafios pela frente, como o contato com a Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern).

“O percurso que se pensa em fazer, saindo da própria CBTU até o Campus, hoje em dia passa também por um trecho do porto, principalmente depois das ampliações. Então é um projeto que ainda está caminhando”, complementa sobre a proposta apresentada pela primeira vez à sociedade há algumas semanas durante o Seminário “Ribeira em Foco”, realizado pela Prefeitura de Natal.

Acionada pela reportagem, a CBTU informou que até então desconhece o projeto de passeio turístico com a locomotiva, e que ainda não havia sido notificada oficialmente sobre o assunto. Até agora o órgão contribuiu com a doação de parte de seu acervo para o Museu do Trem, que também será instalado no novo campus, mais especificamente na Rotunda do prédio, incluindo a doação de trilhos para restaurar parte das vias que existem originalmente no local.

A expectativa é de que a obra de extensão do campus fique pronta já com o Museu do Trem também em funcionamento. O NOVO Jornal conversou com Lerson Maia enquanto as obras ocorriam no local e constatou que a reforma do prédio segue em ritmo acelerado, obedecendo as normas exigidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/RN).

O grande atrativo do prédio é justamente uma construção rara hoje em dia, conhecida como Rotunda, ou seja, o lugar que abriga oficinas onde eram consertados antigamente os vagões e locomotivas. A estrutura possui uma rótula responsável por direcionar os vagões para todas as oficinas existentes, e hoje se transforma em um cartão postal para o novo campus.

O Museu do Trem, articulado pelo IAPHACC, deverá ocupar cerca de três destas antigas oficinas. As demais serão divididas entre uma biblioteca e um auditório com capacidade para 180 pessoas. 
 
MUSEU JÁ CONTA COM TRÊS LOCOMOTIVAS

O novo campus do IFRN/Cidade Alta já conta com três locomotivas de ferro. Duas delas estão posicionadas no centro do pátio, na Rotunda, em frente às antigas oficinas, e vieram de Ceará Mirim, pertencentes a uma antiga usina de cana de açúcar hoje desativada.

“Acreditamos que elas tenham uns 80 anos e é justamente uma delas que vamos usar para os passeios. Hoje em dia já existe tecnologia eficiente para colocar gás nessas locomotivas que funcionam originalmente com lenha”, explica Lerson.

No entanto, a grande estrela do prédio é a histórica locomotiva Catita nº 3, fabricada na Inglaterra em 1902, mas que só chegou ao Rio Grande do Norte em 1906. Por enquanto ela está coberta dos olhares mais curiosos, seguindo todas as recomendações necessárias de preservação, um pouco afastada de suas companheiras, ocupando uma das antigas oficinas.

O carinho com a locomotiva é justificável, já que ela foi a responsável por inaugurar a Ponte de Ferro de Igapó, em 1916. Na ocasião estavam presentes personalidades importantes da história potiguar, como o então governador Joaquim Ferreira Chaves e seu vice Henrique Castriciano, o médico Januário Cicco, o historiador Luís da Câmara Cascudo ainda criança, acompanhado do pai, Coronel Cascudo, os futuros governadores Juvenal Lamartine e José Augusto, o jornalista Elói de Souza, entre outros.

Décadas depois, em 1970, a Maria Fumaça foi utilizada novamente, desta vez, para inaugurar a primeira ponte de concreto de Natal, no entanto, em 1975, ela foi parar em Recife utilizada na ornamentação do Museu do Trem da capital pernambucana.

A Catita então passou 39 anos em Recife até retornar para Natal em outubro do ano passado, sendo recebida em grande estilo a partir de Parnamirim, onde foi cortejada até a Rotunda.

O novo campus do IFRN se insere, portanto, no bairro das Rocas onde está a Vila dos Ferroviários, com tantos senhores ou parente deles, que viveram esta etapa importante da história. “Não vamos limitar o Museu do Trem a apenas as três oficinas da rotunda. A intenção é que ele esteja espalhado em todo o prédio, queremos preservar essa história”, reforça.

O diretor do campus conta ainda que a lanchonete, por exemplo, utilizará as mesmas mesas nas quais os ferroviários faziam suas refeições, e que outros setores do prédio também vão contar com peças coletadas pelo IAPHACC ao longo dos últimos onze anos.

“Tem muitas cidades do interior por onde os trens passavam que também doaram peças para o museu. O acervo já recebeu objetos vindos também do Ceará e de Campina Grande. Todo tipo de coisa, como cronômetro, capacete e fardas de antigamente”, complementa.
 
...fonte...
 
 Se copiar textos e ou fotografias, atribua os créditos!
Os direitos autorais são protegidos pela Lei nº 9.610/98, violá-los é crime!

agosto 02, 2015

AS DOZE FASES DE ASSIS MARINHO

 
ASSIS MARINHO
Fotografia: Argemiro Lima/NJ
 
Um panorama da vida do artista Assis Marinho a partir de suas criações pictóricas mais famosas. Assim será construída a mostra “As Fases de Assis”  na galeria da Fundação José Augusto.. A mostra será composta de doze obras que representam os períodos mais marcantes na trajetória do artista nos últimos 20 anos e ficará em cartaz de 1º a 30 de agosto, em horário comercial.
 
Assis Marinho viveu sua infância entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Seu trabalho é reconhecido internacionalmente e seus quadros ornam até gabinetes na Esplanada dos Ministérios. Atualmente, vive frequentando ateliês, sebos e bares do Centro Histórico fazendo desenhos de rostos e santos em pedaços de folha e papelão.

AS DOZE FASES DE ASSIS MARINHO 
ARTISTA GANHA MOSTRA NA FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO

 Por
 Henrique Arruda
 Do Novo Jornal

São quase dez horas da manhã e cai uma chuva fina na Cidade Alta. Assis Marinho, 55, já está de pé, e a reportagem lhe acompanha de casa para sua outra casa, não muito distante dali, o Bar do Pedrinho, onde o artista plástico se sente mais a vontade para conversar. “Casa parece prisão”, argumenta no caminho.

Por ali todos conhecem o homem com alma inegável de artista e habilidade com pincéis, canetas, carvão ou qualquer material que possa expressar seus sentimentos nas telas. Ele inaugura uma nova exposição, “As Fases de Assis”, na galeria Newton Navarro, localizada na Fundação José Augusto (FJA), bairro de Tirol.

As doze telas que serão expostas, na verdade, foram criadas em 2013, durante uma de suas últimas internações em uma clínica de reabilitação localizada no município de Nísia Floresta, na tentativa de se desvencilhar de um vício que lhe acompanha desde os “30 e poucos anos”, o álcool.

Na época as telas lhe renderam uma primeira exposição bem sucedida, com mais de 40 novos trabalhos inéditos pintados durante a reclusão. Quase tudo foi vendido, restando apenas as poucas obras que o público poderá contemplar/adquirir a partir de hoje na FJA, com mais algumas recentes inspirações.

“São todas memórias de um período muito triste... porque o que muda com o passar dos anos é a sua técnica e não suas memórias. Todas as minhas pinturas saem delas, das mesmas memórias antigas”, considera emocionado já na cadeira do bar, sobre as telas que Atendem uma das maiores características de seu trabalho, a representação do sofrimento no olhar dos andarilhos da seca.

Muitos dos rostos que ele pinta até hoje, o artista plástico coleciona na memória desde a década de 60, quando   pequeno acompanhou a peregrinação da família ao partir de Cubati, na Paraíba, para São João do Sabugi, interior do Rio Grande do Norte. O trajeto foi feito a pé, cerca de 95 km sob o sol.

“Quando eu pinto, me sinto como uma mulher grávida porque converso com todos os meus personagens. Eu sei quem são os vários José, João ou Manel com aqueles olhares tristes, e não acho que pinte fragmentos do que vivi, porque fragmentos são pedacinhos, e meus personagens são inteiros”, poetiza Assis Marinho.

Na época da estrada, Assis tinha apenas cinco anos, mas já desenvolvia gosto pelo desenho, utilizando pedaços de carvão. Trocando o carvão por pinceis, hoje ele carrega também o gosto pela leitura das aventuras do Pateta e Mickey. “É massa demais. Eu leio desde garoto; o Pateta é o mais pateta que eu já vi”, comenta, dando uma gargalhada, junto com alguns outros comensais das mesas próximas.

“Em 69, quando eu finalmente saí de São João do Sabugi e vim para Natal, dormi na rua e via o que era tristeza todo dia”, complementa sobre suas memórias que parecem não se desgastar nem mesmo com o passar das telas. “Não faço ideia de quantos quadros já pintei nessa vida, mas podem tirar tudo de mim, menos os meus pinceis e a minha tinta”, ressalta.

A última internação na mesma clínica de reabilitação em Nísia Floresta aconteceu no ano passado, quando ficou cerca de “nove meses e dez dias” recluso, desta vez com uma severa restrição: a proibição de pintar novas telas. “O psicólogo recolheu todo o meu material”, relembra.

“Eu não pinto por elegância; eu pinto por sobrevivência revestida de ternura e afeto”, assegura Assis, mencionando que para esta exposição, aberta à visitação até o dia 30 de agosto, ele pretende iniciar um novo período criativo.

“To pensando em produzir novas telas todos os dias ao vivo na exposição. Vai ser muito bom para mim”, analisa, pedindo logo em seguida o caderno no qual eu escrevia a conversa até aquele momento. Em questão de minutos, Assis devolve o caderno, agora comigo mesmo pintado de caneta azul. “Para Henrique, com alegria”, assinou a caricatura no canto da página.

“Já teve jornalista que disse que o meu trabalho daria para ilustrar toda a obra de Graciliano Ramos ou de João Cabral de Melo Neto. Eu só sei que nunca vou esquecer dos rostos esquálidos quase mortos que vi pela estrada quando era menino”, conclui, se levantando em direção aos seus afazeres do dia.

...fonte...

Se copiar textos e ou fotografias, atribua os créditos!
Os direitos autorais são protegidos pela Lei nº 9.610/98, violá-los é crime!