janeiro 28, 2015

PELAS LENTES DE FERNANDO CHIRIBOGA

 
FERNANDO CHIRIBOGA
FERNANDO DE NORONHA E GALÁPAGOS
Em dez anos, o fotógrafo equatoriano radicado em Natal, 
Fernando Chiriboga, produziu 12 livros onde alia suas três paixões:
fotografia, ecologia e viagens
Fotografia: Fernando Chiriboga
 
 NOVOS PARAÍSOS A FOTOGRAFAR
 
 Por
Yuno Silva
TRIBUNA DO NORTE
 
Viajar por ilhas paradisíacas em busca dos melhores ângulos para fotografar é o sonho de muito aventureiro por aí. E a possibilidade de conjugar lazer, prazer e trabalho então nem se fala! Essa é a combinação (perfeita) que o fotógrafo equatoriano Fernando Chiriboga vem colocando em prática há pelo menos uma década, e o resultado de seu mais novo projeto – o livro “Ilhas Encantadas – Fernando de Noronha e Galápagos” - será apresentado nesta quarta-feira (28), às 18h, em frente à livraria Saraiva do Midway Mall. O livro-álbum traça paralelos imagéticos e afetivos entre entre os dois santuários co-irmãos, um no Atlântico outro no Pacífico,  declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

“Era um plano antigo realizar um trabalho que pudesse unir os dois países”, disse Chiriboga, que mora em Natal há 30 anos. Ele veio estudar Arquitetura na UFRN, descobriu a fotografia e fincou suas raízes em terras potiguares. Fernando fotografa há 17 anos, e “Ilhas Encantadas” é sua 12ª publicação. No final do mês de fevereiro o livro também será autografado em Quito (capital do Equador), cidade natal do fotógrafo, e um terceiro lançamento também está sendo organizado em Brasília.

“Do Equador guardo o amor filial, as memórias da infância e dos bons anos vividos na juventude. Do Brasil, que tão generosamente me acolheu, dedico um enorme carinho e a mais profunda gratidão”, declarou o fotógrafo, que dedica o trabalho à memória do pai Osito. Na ocasião também será lançada a revista “Foco Poty”, informativo cultural da Associação Potiguar de Fotografia (Aphoto) com distribuição gratuita. 

Com cerca de 350 fotografias distribuídas em 272 páginas, o livro sai com textos em português, espanhol e inglês sob chancela do selo editorial “Inti” (deus Sol em Inca), criado pelo próprio autor. Com impressão impecável e quase dois quilos de papel por volume, o preço normal de capa é R$ 120 – mas quem comparecer a noite de autógrafos poderá levar a coleção de paisagens por R$ 80.  Paralelamente ao lançamento, uma exposição reunirá 40 imagens selecionadas por Fernando ‘a duras penas’: “A princípio iria ampliar apenas 20 fotos, mas é sempre difícil escolher quais ficarão de fora”, garante. A mostra permanece em cartaz até dia 13 de fevereiro.

Chiriboga retrata semelhanças e diferenças entre os dois arquipélagos vulcânicos que serviram de laboratório para as pesquisas de Charles Darwin (1809-1882) e prisão para presos políticos. Os cliques passeiam por cenários deslumbrantes como a Ilha Cabeluda e a Baía do Sancho, em Fernando de Noronha, a Ilha Plaza Sul e a Baía Sullivan, em Galápagos; além da diversidade dos animais como golfinhos rotadores, fragatas, atobá-de-pés-azuis, leão marinho, pinguins e iguanas de Galápagos.

Ele conta que fotografar os animais das ilhas foi relativamente simples no quesito aproximação. “Como é proibido caçar nas ilhas há muito tempo, os animais confiam nos humanos, é possível chegar bem perto, tão perto que a proibição é para não tocar nos bichos”. 

EMBAIXADORES

A obra primordialmente fotográfica, traz textos de autoridades como Fernando Magalhães, embaixador do Brasil no Equador; Horacio Sevilla Borja, embaixador do Equador no Brasil; Jasmine Moreira, chefe do Departamento de Turismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR); Tjitte de Vries, Professor de Ecologia da Pontifícia Universidade Católica de Quito – Equador; e José Roberto de Medeiros, diretor-presidente da Cosern, empresa que patrocina a obra através da Lei Rouanet e Ministério da Cultura.

“Quando apresentei o projeto às embaixadas, aprovaram a ideia do livro logo de início”, disse Fernando, cujo lançamento será prestigiado pelo embaixador e o cônsul do Equador no Brasil. Parte da tiragem, 600 cópias, já começou a ser distribuída gratuitamente para bibliotecas públicas de todo o país como forma de contrapartida. Para ele, um projeto desse porte seria inviável sem patrocínio, pois o preço de capa “chegaria fácil em R$ 250 ou R$ 300”, avaliou.

MADRUGANDO

Para captar as imagens registradas no livro, Fernando Chiriboga lembra que perdeu as contas dos dias que precisou acordar de madrugada e caminhar por mais de 12 horas. “Hoje, vendo cada uma dessas fotos, é como se passasse um filme sobre a caminhada, a preparação. Foram 15 dias de muito trabalho em cada ilha, intensificado no segundo semestre de 2014”, informou. Antes de cair em campo, o fotógrafo fez viagens prévias para reconhecimento do terreno guiado por nativos.

O autor não conhecia Fernando de Noronha antes de iniciar o projeto, mas chegou a desembarcar algumas vezes em Galápagos antes de vir morar no Brasil. “O Equador é um país pequeno, mas a diversidade de paisagens impressiona: cordilheira, praias, arquipélagos”, festeja. Chiriboga, que atua como fotógrafo no segmento do turismo, adianta que já tem um novo projeto para seu próximo livro: vai percorrer os quase 4 mil quilômetros em uma expedição pelo litoral nordestino.

SERVIÇO

Lançamento do livro “Ilhas Encantadas – Fernando de Noronha e Galápagos” (Editora Inti, 272 páginas, R$ 80 na noite de autógrafos) e exposição fotográfica de Fernando Chiriboga. Quarta (28), a partir das 18h, em frente a livraria Saraiva do Midway Mall. Exposição em cartaz até dia 13 de fevereiro.
 
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janeiro 24, 2015

DANÇA POTIGUAR MUNDO AFORA

ALEXANDRE AMÉRICO
INTERNATIONALES SOLO-TANZ-THEATER FESTIVAL
18 bailarinos irão participar da versão 2015 do evento. 
Na seleta lista figuram dois africanos, um bailarino do Oriente Médio, 
muitos europeus e três americanos: um dos Estados Unidos, 
outro do Equador e o natalense Alexandre Américo.
 Fotografia:Divulgação
 
DANÇA POTIGUAR MUNDO AFORA

Por
Yuno Silva 
TRIBUNA DO NORTE

Um dos festivais de dança mais importantes do mundo no quesito solo contemporâneo, o Internationales Solo-Tanz-Theater Festival, que acontece no mês de março em Stuttgart na Alemanha, divulgou (dia 16) o nome dos 18 bailarinos que irão participar da versão 2015 do evento. Na seleta lista figuram dois africanos, um bailarino do Oriente Médio, muitos europeus e três americanos: um dos Estados Unidos, outro do Equador e o natalense Alexandre Américo. Único representante brasileiro, Alexandre irá estrear a coreografia “Myoclonus”, segunda parte da trilogia concebida por ele que investiga a fronteira entre a dança, o movimento e espasmos musculares involuntários.

“Convivo com uma epilepsia leve, que não provoca convulsões e sim espasmos, então comecei a trabalhar o assunto quando ainda estava na universidade. Não acreditava no início que este estudo me levasse a algum lugar, é complicado lidar com as próprias limitações, mas comecei a entrar em contato com outras criações que seguem por esse mesmo caminho e fui mais fundo”, contou o bailarino de 24 anos. A primeira parte da coreografia, intitulada “Clono”, foi apresentada durante programação da Virada Cultural de Natal em dezembro passado na Ribeira.
 
Ambas coreografias contam com trilha sonora original, executada ao vivo pelo irmão-guitarrista do bailarino. “Como ele não vai poder viajar, vamos levar a música gravada”.

ALEXANDRE AMÉRICO
INTERNATIONALES SOLO-TANZ-THEATER FESTIVAL
O bailarino potiguar vai mostrar “Myoclonus”, 
segunda parte da trilogia que investiga a fronteira 
entre a dança e os movimentos involuntários do corpo.
  Fotografia:Divulgação

Esta será a 19ª edição do Festival alemão, que em abril de 2014 trouxe para Natal oito performances apresentadas durante a etapa internacional do Encontro Nacional de Dança Contemporânea. “É um festival competitivo, e além da premiação em dinheiro (em Euros) os seis melhores trabalhos deste ano também participam de uma turnê pela Europa – em 2016 ainda fazem um giro pelo Brasil. E é bem possível que passe por Natal de novo”, acredita. São premiados os três melhores trabalhos e os três melhores intérpretes. O festival cobre despesas de transporte, hospedagem e alimentação.

Américo disse que se inscreveu “na cara dura”, entrando no páreo contra mais de 200 candidatos da Europa. As coreografias inscritas têm entre 9 e 12 minutos de duração, e a busca é pela originalidade, ousadia e consistência da obra. 

 
ALEXANDRE AMÉRICO
INTERNATIONALES SOLO-TANZ-THEATER FESTIVAL 
 Alexandre entrou no páreo concorrendo contra
mais de 200 candidatos da Europa
 Fotografia:Divulgação

“Essa coreografia está calcada em uma estética mais conceitual, que discute a própria natureza da dança. Exploro modos diferentes do movimento”, explicou o bailarino potiguar. Como referências ele cita os trabalhos desenvolvidos pelas norte-americanas Trisha Brown e Meg Stuart, o francês Jerome Dell e os paulistas Cristian Duarte e Leandro Berton, com os quais Américo mantêm contato.

Em tempo: Américo também foi o único brasileiro selecionado para participar do 6º Festival Internacional de Dança Mahmud Esambaev, acontecido em outubro do ano passado na Rússia, de onde trouxe o prêmio principal.

 
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janeiro 13, 2015

FAMÍLIA ALBUQUERQUE MARANHÃO

 
  FAMÍLIA ALBUQUERQUE MARANHÃO  
Descendentes de fidalgos portugueses de tradição militar, eles fazem parte da
 família mais antiga do Rio Grande do Norte e que ainda pode se dizer que
 foi uma das primeiras famílias genuinamente brasileira, 
nascida da junção de um português e uma índia.
 Os Albuquerque Maranhão carregam, em si, a história 
do estado e da capital nos seus 415 anos.
Fotografia: Arquivo pessoal / Família

  FAMÍLIA ALBUQUERQUE MARANHÃO
CARREGA HISTÓRIA DE NATAL
Por
Paulo Nascimento
NOVO JORNAL
   
Descendentes de fidalgos portugueses de tradição militar, eles fazem parte da família mais antiga do Rio Grande do Norte e que ainda pode se dizer que foi uma das primeiras famílias genuinamente brasileira, nascida da junção de um português e uma índia. Presentes em solo potiguar desde os primórdios da então capitania do Rio Grande, os Albuquerque Maranhão carregam, em si, a história do estado e da capital potiguar nos seus 415 anos de aniversário.

Chefes de governo, médicos, empresários, jornalistas e advogados foram algumas das funções de destaque que os integrantes da família ocuparam, sempre com destaque e grande importância histórica. Basta ver a quantidade de logradouros que levam o nome da família: Praça Pedro Velho, teatro Alberto Maranhão, Praça André de Albuquerque, Rua Augusto Severo (que também já foi aeroporto).

Um incontável número de homenagens espalhados, até mesmo com nomes de cidades como Pedro Velho e a antiga Augusto Severo, hoje Campo Grande.

Das três versões sobre a fundação da capital do que hoje é o estado do Rio Grande do Norte, duas contam com a presença de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, filho do primeiro membro da linhagem a pisar em terras brasileiras: o português Jerônimo de Albuquerque. Àquela altura ainda não existia de fato os “Albuquerque Maranhão”.

Sobrinho do vice-rei Afonso “o Grande” de Albuquerque e filho do conde Lopo de Albuquerque, Jerônimo veio para o Brasil na condição de administrador colonial. Acompanhava o primeiro donatário da capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, que era casado com Brites de Albuquerque, de quem Jerônimo era irmão.

Em uma das lutas ao longo da costa nordestina, enfrentando os índios tabajaras Jerônimo levou uma flechada e perdeu um dos olhos. Ganharia o apelido de “O Torto” e na condição de prisioneiro e condenado à morte pelos índios, conheceu sua primeira esposa.

Jerônimo de Albuquerque foi salvo pela filha do cacique de Uirá Ubi (Arco Verde), Tabira. A jovem índia, que depois foi batizada de Maria do Espírito Santo Arcoverde, se apaixonou pelo português. O casamento selou a paz entre os tabajaras e os colonizadores. “A união de Jerônimo com a filha do cacique tabajara, gente da melhor estirpe da gente do Brasil com um importante Albuquerque de Portugal, fundou uma família genuinamente brasileira pela primeira vez”, afirma Augusto Maranhão, empresário e aficionado por história.

Da relação nasceriam oito filhos – pai de mais 16 rebentos, levaria o nome de “Adão Pernambucano” –, dentre eles aquele que seria o primeiro “Albuquerque Maranhão”. A formação do nome completo da família surgiria quando Jerônimo, nascido em Olinda, participou da expulsão dos franceses da capitania do Maranhão em 1615, com uma expedição saída da capitania do Rio Grande. Por conta do feito o rei Felipe III autorizou a incorporação do nome “Maranhão” para eternizar a conquista militar.

A experiência de lidar com os invasores franceses datava de 17 anos antes da expedição do Maranhão, quando Jerônimo já tinha expulsados os franceses junto com Dom Manuel Mascarenhas Homem da região no entorno daquele que seria batizado de Rio Potengi, feito pelo qual ganharia o título de fidalgo.

Começaria ali, na foz do rio, a construção da Fortaleza dos Reis Magos, nos idos de 1588 e toda a saga dos “Albuquerque Maranhão” em terras do futuro RN.

Em 9 de janeiro de 1603, Jerônimo de Albuquerque foi nomeado Capitão-mor do Rio Grande. No ano seguinte, concedeu “5000 braças de terra” aos seus filhos Matias e Antônio de Albuquerque. Nascia assim o engenho de cana de Cunhaú, que por centenas de anos teria uma forte importância econômica e histórica tanto para a família como para o Estado.
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 www.novojornal.jor.br

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janeiro 04, 2015

UM MEMORIAL PARA AUGUSTO SEVERO

AUGUSTO SEVERO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO
MÁRTIR DA TECNOLOGIA AERONÁUTICA
UM DOS PIONEIROS DA AVIAÇÃO BRASILEIRA
Macaíba, RN, Brasil, 11 de janeiro de 1864 — Paris, França, 12 de maio de 1902
Político, jornalista, inventor e aeronauta brasileiro. 
Fotografia: Desconhecido - Musée de l'Air et de l'Espace
 Domínio público porque os respectivos direitos de autor expiraram

UM MEMORIAL PARA AUGUSTO SEVERO

Por
Itaércio Porpino
Tribuna do Norte

Nos primórdios da aviação, um potiguar entrou para a seleta galeria dos intrépidos inventores que ajudaram a tornar possível o sonho do homem voar. Às 5h30 do dia 12 de maio de 1902, mais de cem anos atrás, o macaibense Augusto Severo de Albuquerque Maranhão decolou do solo parisiense no dirigível Pax, desenvolvido por ele, e voou em torno da Torre Eiffel acompanhado do francês Georges Saché, mecânico de bordo. Cerca de dez minutos após o início do voo, o Pax explodiu, matando Saché e Augusto Severo, que tornou-se, assim, o primeiro mártir brasileiro da aviação.

O engenheiro potiguar, cujo invento revolucionou e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes, dá nome a ruas (uma delas em Paris, perto do local do acidente), praças, escolas e até a um grupo de escoteiros, mas no RN sua história não tem sido preservada e difundida como merecia. A crítica, feita pela bisneta de Augusto Severo, Sônia Severo, e por seu primo Augusto Maranhão, é compartilhada pelo escritor e advogado Diógenes da Cunha Lima, que como presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL) batalha para que o Aeroporto Augusto Severo, desativado desde maio de 2014, seja transformado em um memorial dos pioneiros da aviação, com destaque para o inventor potiguar.

A proposta de criação do memorial foi detalhada em texto assinado por Diógenes da Cunha Lima e encaminhado ao comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro do ar Juniti Saito. No documento, o presidente da ANL se diz preocupado com o descaso com os assuntos da história do RN e pede o apoio do comandante para o projeto.

AEROPORTO AUGUSTO SEVERO
O Aeroporto Internacional Augusto Severo é um complexo aeroportuário
 localizado em Parnamirim, no estado brasileiro do Rio Grande do Norte. 
Foi o principal aeroporto comercial do Estado, operando 
de 1980 até 31 de maio de 2014
Fotografia: Direito autoral creditado à assinatura na fotografia

“Nenhum outro estado brasileiro disputa com o Rio Grande do Norte o pioneirismo da aviação mundial. Nossa proposta é transformar o salão principal do aeroporto, entre os grandes painéis dos artistas natalenses Aécio Emerenciano e Dorian Gray Caldas, em um Memorial dos Pioneiros da Aviação, preservando o nome de Augusto Severo, segundo sugestão de 40 militares em visita à ANL”, diz Diógenes.

De acordo com o escritor e advogado, a ideia é que as pessoas possam conhecer, por meio de fotografias e outros documentos – e até de réplicas dos primeiros dirigíveis e aviões – a importância que o Estado teve para a aviação, desde os seus primórdios até o período da Segunda Guerra Mundial.

“Foram inúmeros os pilotos da vanguarda que por aqui passaram. Tivemos Arturo Ferrarin, Carlo Del Prete, Jean Mermoz, Maryse Bastié, Antoine Saint-Exupery, Marcel Bouilloux-Lafont, Edmond d’Oliveira, Paul Vachet, Le Brix e Marcel Reine”, lista Diógenes, que quer destacar, principalmente, o pioneirismo de Augusto Severo.

A proposta de construção do memorial conta com o apoio das maiores instituições culturais do Estado, entre elas, o Instituto Histórico e Geográfico, o Conselho Estadual de Cultura e a União Brasileira de Escritores. “É necessário a união de forças para o projeto acontecer”, diz o presidente da ANL, avisando que vai levar o pleito ao governador do RN e ao prefeito de Parnamirim. “Vamos procurar todos que possam ajudar. A memória de Augusto Severo não pode ser esquecida”.

PRAÇA AUGUSTO SEVERO - RIBEIRA - NATAL/RN
Inauguração da estátua em Natal, Rio Grande do Norte, a 12 de maio de 1913. 
O orador foi o grande tribuno Dr. Sebastião Fernandes. 
Note-se à direita da estátua a Bandeira Francesa que 
veio cobrindo seu corpo até o Brasil.
Fotografia: www.reservaer.com.br

MEMÓRIA POUCO PRESERVADA NO RN

A sociedade natalense fez doações de plantas, como palmeiras imperiais e oitizeiros, para ornar a Praça Augusto Severo, que começou a ser construída em 1904, no governo de Augusto Tavares de Lyra, também macaibense e genro de Pedro Velho (irmão de Augusto Severo). Em 1913, a praça ganhou uma estátua de bronze do inventor potiguar, inaugurada no dia de sua morte.

O imponente monumento continua até hoje no mesmo local, na Ribeira, arrodeado pelo centenário Teatro Alberto Maranhão, o Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, o prédio do antigo Grupo Escolar Augusto Severo e o Palacete Cel. Juvino Barreto, onde atualmente é o Colégio Salesiano São José.

DIRIGÍVEL BARTHOLOMEU DE GUSMÃO
No Campo de Tiro do Realengo, no Rio de Janeiro, era em 1894
Embora aos 25 anos de idade tivesse projetado o aeróstato Potyguarania, 
seu primeiro dirigível foi de fato o Bartholomeu de Gusmão (nome em
 homenagem ao pioneiro santista), construído em  1893 em Paris
 pela  casa Lachambre & Machuron,  a mesma  que 
produziu vários balões para Santos Dumont.
Fotografia: Musée de L'Air Le Bourget

A praça, porém, sofre com o abandono e a ação de vândalos. A estátua encontra-se toda pichada. A placa em bronze, com as informações sobre o monumento, foi arrancada e levada. A situação faz a bisneta de Augusto Severo, Sônia Severo, e seu primo Augusto Maranhão lamentarem o que consideram um completo descaso com a memória do RN.

Acostumada a ver a história do Estado ser maltratada, Sônia se diz aliviada por a família ter doado os pertences de seu bisavô para o Museu Aeroespacial do Rio de Janeiro. “Graças a Deus, ou já estariam no lixo”.

O primo Augusto Maranhão, que é empresário do setor de transporte rodoviário, mas também um entusiasmado pesquisador da história da aviação, fica desapontado quando as pessoas se referem à Praça Augusto Severo como Largo Dom Bosco. Aliás, isso é algo que também deixa o escritor Diógenes da Cunha Lima profundamente preocupado.

“Dói na minha alma, principalmente quando vejo em matérias de jornais, e isso tem sido muito comum. Não existe Largo Dom Bosco. É Praça Augusto Severo. Do mesmo jeito, a praça de Petrópolis, onde fica o Palácio de Esportes, é Pedro Velho. Não é Praça Cívica, como muitos chamam. Se continuarem com isso, lá na frente ninguém vai saber os nomes corretos”, lamenta Diógenes.

MONUMENTO EM MACAÍBA
Inauguração do monumento de AUGUSTO SEVERO, em Macaíba, 
falando na ocasião o Dr. Enock Garcia, tendo à sua 
direita o prefeito Alfredo Mesquita.
Fotografia: www.reservaer.com.br

Em Macaíba, terra onde Augusto Severo nasceu, também existe uma praça com o seu nome. Ela fica no centro do município e foi construída no início da década de 40 no lugar do antigo Mercado Público, demolido nessa época junto com a casa onde nasceram Augusto Severo e Alberto Maranhão. “Dos 14 irmãos, só os dois nasceram na casa, construída por Fabrício Gomes Pedroza, fundador de Macaíba”, conta o historiador macaibense Anderson Tavares de Lyra, de 34 anos.

CHEGADA DO CORPO DE SEVERO AO RIO DE JANEIRO
Reprodução do expressivo quadro a óleo do pintor Ribeiro, 
amigo e  admirador de AUGUSTO SEVERO, propriedade 
do Ministro Dr. Augusto Tavares de Lyra, vendo-se
 a descida do ataúde do grande morto, coberto
 agora pela Bandeira Francesa, recebendo
 as homenagens do Brasil, 
na baía de Guanabara.
Fotografia: www.reservaer.com.br

Descendente de Augusto Tavares de Lyra, Anderson já publicou um livro sobre seu ancestral ilustre e atualmente se debruça sobre um segundo tratando do início da história da cidade. Além disso, é gestor do Instituto Pró-Memória de Macaíba, cuja sede é uma construção antiga de 1856. Apesar de tombada como patrimônio histórico, a casa onde funciona o Instituto está precisando de uma reforma. Por não oferecer segurança, os objetos de maior valor, inclusive itens de Augusto Severo, ficam guardadas em outro local.

“O médico Olimpio Maciel, que já foi gestor do instituto, guarda algumas coisas na casa dele, e eu também tenho fotografias e outros documentos comigo”, diz o historiador.

Em Macaíba, a homenagem mais visível a Augusto Severo encontra-se na Praça Antônio de Melo Siqueira, onde antigamente era o cais do porto. Construída nos anos 50, a praça foi reformada em 2012, quando ganhou um grande painel com imagens de macaibenses ilustres. Severo está na galeria, ao lado de Tavares de Lyra, Henrique Castriciano, Auta de Souza, Alberto Maranhão e Fabrício Pedroza.

PRAÇA AUGUSTO SEVERO - RIBEIRA - NATAL/RN
Fotografia do “Graf Zeppelin” quando passava, desviando-se da sua rota, 
sobre a estátua de Severo, tendo nessa ocasião deixado cair, suspenso 
por um pára-quedas iluminado, uma grande coroa, com a seguinte
inscrição: “A ALEMANHA AO BRASIL NA PESSOA DO
 SEU GRANDE FILHO – AUGUSTO SEVERO”. 
Essa coroa encontra-se no Instituto Histórico de Natal.
Fotografia: www.reservaer.com.br

AUGUSTO SEVERO 
Linha do Tempo


1864
No dia 11 de janeiro, nasce em Macaíba/RN, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, oitavo dos 14 filhos do pernambucano Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão (1827-896) e da paraibana Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão (1832-893).

1880
Aos 16 anos, viaja para o Rio de Janeiro, então capital do Império, e inicia seus estudos de engenharia na Escola Politécnica.

1881
O inventor paraense Júlio César Ribeiro de Souza apresenta um projeto de dirigível ao Instituto Politécnico Brasileiro, o que motiva o jovem Augusto Severo a se interessar pelo voo, realizando observação de aves planadoras e construindo pequenos modelos de pipas.

1882
Passa a lecionar matemática no Ginásio Norte Riograndense, do seu irmão Pedro Velho Maranhão, acumulando a função de vice-diretor.  Em 1983, o ginásio fecha e Severo dedica-se ao comércio, primeiro como guarda-livros da empresa Guararapes e, mais tarde, associa-se à firma A. Maranhão & Cia. Importadora e Exportadora.

1888
Casa-se com a pernambucana Maria Amélia Teixeira de Araújo (1861-1896), com quem tem cinco filhos. No ano seguinte, passa a escrever artigos para o jornal A República, anti-monárquico, do irmão Pedro Velho, e projeta um dirigível que incorporava ideias revolucionárias, o Potyguarania. O projeto, porém, nunca chegaria a sair do papel.

1892
Abandona de vez a carreira comercial para dedicar-se à política, sendo eleito deputado ao Congresso constituinte que organizou o Estado. Neste mesmo ano, o Governo lhe concede auxílio pecuniário para que mande fazer, na Europa, um aeróstato dirigível de sua invenção. O dirigível recebe o nome de Bartholomeu de Gusmão.

1893
Em março, o balão chega ao Brasil. A estrutura em treliça é inicialmente projetada para ser executada em alumínio, mas a falta do material faz com que Augusto Severo altere o projeto, construindo a parte rígida do aparelho em bambu.

1894
Com cerca de 2.000m3 e medindo 60m de comprimento, o Bartholomeu de Gusmão realiza as primeiras ascensões ainda como balão cativo (preso por cordas) e mostra-se estável e equilibrado, demonstrando que a concepção proposta por Augusto Severo era adequada para o voo. Mas, no único voo do dirigível livre das amarras, a estrutura em bambu não suporta os esforços e se parte.

1896
Em 19 de abril, no Rio de Janeiro, Augusto Severo pede patente para um “turbo-motor com expansões múltiplas e continuadas”, concedida no dia seguinte. Em 20 de outubro, sua mulher morre, após o que Augusto Severo inicia um relacionamento amoroso com Natália de Siqueira Cossini, de origem italiana, com a qual vem a ter dois filhos.

1899
Em 27 de julho, no Rio de Janeiro, patenteia um novo balão dirigível, o Paz, que posteriormente tem o nome latinizado para Pax.

1901
Augusto Severo licencia-se da Câmara para se dedicar à construção do Pax, que trazia muitas inovações em relação ao Bartholomeu de Gusmão.

1902
No dia 12 de maio, tendo como mecânico de bordo o francês Georges Saché, o Pax inicia seu voo às 5h30, saindo da estação de Vaugirard, em Paris, capital da França. 

O dirigível eleva-se rapidamente, atingindo cerca de 400 metros, e realiza diversas evoluções que mostram aos inúmeros espectadores que as ideias do inventor potiguar Augusto Severo estavam corretas. Cerca de dez minutos após o início do voo, o Pax explode violentamente, projetando os dois tripulantes para o solo. Severo e Saché morreram na queda. Os restos do dirigível caem na Avenida du Maine, diante de uma grande multidão.

1908
A viúva de Augusto Severo, Natália, que presenciou a queda, nunca se recuperou da tragédia. Após retornar ao Brasil,  ela se suicida com um tiro no coração, aos 30 anos de idade.

AUGUSTO SEVERO VOLTA A PARIS
Na proa, Augusto Severo comanda o balão Pax, 
tendo na popa o mecânico Sachet
Fotografia: Musée de L'Air Le Bourget

Augusto Severo voltou a Paris em 1902 para acompanhar a construção de um novo dirigível, o Pax, que se elevou no ar pela primeira vez em 12 de maio daquele ano, em testes com o aparelho preso ao solo, no parque aerostático parisiense de Vaugirard. Após dez minutos de evoluções, a 400 m de altura, uma explosão rapidamente destruiu o aparelho, causando a morte imediata do aeronauta e do mecânico Sachê. No local da queda, na Avenue du Maine, existe uma placa de mármore em memória de ambos.

PARA MUITOS, AUGUSTO SEVERO IDEALIZOU A AVIAÇÃO

Segundo Diógenes da Cunha Lima, a fórmula da dirigibilidade do Pax foi útil depois aos construtores do Zeppelin, dirigível fabricado na Alemanha, que chegou a reconhecer a importância do inventor potiguar no desenvolvimento de balões dirigíveis.

Em 1930, após fazer evoluções sobre Natal, o Zeppelin deixou cair um ramalhete de flores sobre a estátua de Severo, no bairro da Ribeira, com os dizeres: “Homenagem da Alemanha ao Brasil, na pessoa de seu filho Augusto Severo”.

Em 1933, novas flores foram lançadas. A faixa dizia: “A Augusto Severo, o grande brasileiro que idealizou a aviação como fator de progresso e aproximação entre os povos, homenagem do Graf Zeppelin”.

O fotógrafo João Alves filmou o balão sobre o Palácio Potengi e em outros pontos da cidade. O filme, esquecido e quebradiço, foi restaurado pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que enviou cópia para a Fundação José Augusto.


O médico potiguar Raul Fernandes, passageiro do balão, relatou as circunstâncias da viagem e descreveu que o Zeppelin era confortável como um navio. Tinha camarote, banheiro, bar para fumantes, salão de refeições e biblioteca. Ouvia-se piano. 

A configuração proposta por Severo, de um dirigível semirrígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes.

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