CÍCERA BRUNA
Uma lesão cerebral ao nascer não a impediu de superar obstáculos
Hoje, 28 anos, Psicóloga, faz pós-doutorado em Neurociências
e já está terminando de escrever o seu segundo livro INCANSÁVEL E FELIZ
Por
Carla França para a Tribuna do Norte
Passava um pouco das 16h quando cheguei ao local marcado para entrevista, um apartamento no bairro de Candelária. Nem foi preciso tocar a campainha, fui logo recebida com um dos sorrisos mais bonitos que já vi. Daqueles multiplicadores, que rendem até mesmo o mais ranzinza dos seres.
Quando me pedem para entrevistar alguém não procuro criar expectativas ou esteriótipos sobre aquela pessoa. Prefiro me surpreender ao conhecer o meu entrevistado. E foi isso que aconteceu. Surpreendi-me com a garra, a força de vontade e a alegria de viver de alguém que teria tudo para desistir.
Mas contrariando a muitos, Cícera Bruna decidiu viver, e da melhor maneira. Decidiu que era possível lutar pelos sonhos, independentemente de uma lesão cerebral sofrida no momento do parto e que provocou dificuldades na fala e limitações motoras. E foi com o sorriso largo que ela contou o que viveu da vida. E não foram poucas as alegrias, emoções, aventuras e desafios dessa jovem que, aos 28 anos de idade, já é formada em Psicologia, faz pós-doutorado em Neurociências e já está terminando de escrever o seu segundo livro.
Para ganhar intimidade comecei a conversa com temas mais amenos, porém um dos mais importantes. Aquele que é motivo de orgulho: o livro que ela escreveu há três anos, a autobiografia "Uma luta incansável". Nem precisei fazer a pergunta básica: Por que escrever um livro? Ela foi logo dizendo que nunca teve pretensão de ser escritora, mas desde a adolescência anotava os acontecimentos do dia-a-dia. Uma espécie de diário no computador já que as limitações motoras dificultavam a utilização do papel e da caneta.
Psicóloga Cícera Bruna conta sua história de superação
Quinzenalmente ela se reúne com um grupo de pessoas que fazem tratamento
de problemas semelhantes aos dela. debatendo a vivência e as dificuldades
dos portadores de necessidades especiais
Fotografia: Rafael Barbosa, do G1
Quinzenalmente ela se reúne com um grupo de pessoas que fazem tratamento
de problemas semelhantes aos dela. debatendo a vivência e as dificuldades
dos portadores de necessidades especiais
Fotografia: Rafael Barbosa, do G1
O título do livro é uma história a parte. "Esse título surgiu de repente, como um clique. É claro que eu sei que ninguém é incansável realmente. Claro que um dia cansa, afinal somos humanos. Mas para mim, o significado dessa palavra (incansável) vai até onde cada escolhe. Vai até onde você quer chegar", me explicou ela. Nas 122 páginas Bruna conta um pouco da sua vida. Desde o namoro dos pais até os desejos para o futuro próximo, como ela faz questão de frisar.
Já que ela falou em futuro, resolvi perguntar quais eram os desejos para o amanhã. A resposta veio de pronto: "trabalhar, estudar, viajar, viver...", disse ela. Na verdade, continuar a trabalhar como psicóloga, ajudando crianças e adolescente que apresentam as mesmas dificuldades que ela. E concluir a pós-graduação em neurociências.
Perguntei se gostaria de trabalhar com o neurocientista Miguel Nicolelis e ela disse: "Nunca fiz planos para isso, mas tenha certeza que se surgir essa oportunidade eu vou agarrá-la". Percebi um brilho especial nos olhos quando ela falou sobre trabalho e estudo e tudo que enfrentou para chegar onde está. Percebi também que em nenhum momento, nem os tristes - como o que a diretora de uma escola de Mossoró não a aceitou como aluna instituição - ela deixou de sorrir.
É na clínica, agora trabalhando, que a
psicóloga se apropria de sua experiência
com as limitações para inspirar
as pessoas a superarem suas dificuldades
"O simples fato de conseguir tocar os dedos para mim é uma vitória"
Fotografia: facebook.com/cicerabrunass
E foi entre um sorriso e outro que ela contou da viagem a Londres. Foram 30 dias em um país desconhecido, uma língua diferente. De familiar apenas a sobrinha que a acompanhou nessas aventuras em terras estrangeiras.
Nesse momento da conversa sobre a viagem que ela deixou escapar o único momento de medo. "O novo dá medo. Fiquei com receio de viajar, mas decidi ir. Passei um mês em Londres, me virei sozinha, andei a pé. Sou aventureira e comigo não tem besteira", disse ela. Uma outra revelação - segundo ela em primeira mão - é a chegada do novo livro. Está prontinho, só esperando na revisão e os últimos detalhes para ser lançado.
Nesse momento da conversa sobre a viagem que ela deixou escapar o único momento de medo. "O novo dá medo. Fiquei com receio de viajar, mas decidi ir. Passei um mês em Londres, me virei sozinha, andei a pé. Sou aventureira e comigo não tem besteira", disse ela. Uma outra revelação - segundo ela em primeira mão - é a chegada do novo livro. Está prontinho, só esperando na revisão e os últimos detalhes para ser lançado.
Nem vimos o tempo passar. E a conversa que já durava mais de uma hora teve que acabar porque Bruna precisava ir para o cursinho de Inglês, afinal ela pretende continuar viajando por aí e não quer fazer feio.
Diferente do que sempre acontece, me despedi com um forte abraço e com uma sensação de que todos os meus problemas eram pequenos demais para o tanto que reclamo. Enquanto descia pelo elevador, me veio a cabeça um trecho da música São Jorge, de Juçara Marchal, que pode definir a história de Cícera Bruna: "Com um sorriso derrubo um tropa inteira".
Cícera Bruna não esconde a sua alegria no dia a dia
toca os projetos, continua fazendo terapia e vibra com cada conquista
"A sua vida pode acrescentar à minha. E a minha, à sua"
Fotografia: Rafael Barbosa, do G1
"A sua vida pode acrescentar à minha. E a minha, à sua"
Fotografia: Rafael Barbosa, do G1
CORAGEM E SORRISO NO ROSTO PARA ENFRENTAR DESAFIOS
Cícera Bruna Silva de Sousa, nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 14 de agosto de 1984. Durante o parto sofreu uma lesão cerebral, que deixou como sequelas dificuldades na fala e limitações motoras. O problema foi provocado pelo que a Medicina chama de prolapso de cordão umbilical. Isso ocorre quando o cordão umbilical sai pela vagina antes de o bebê ser retirado, o que impede a passagem do sangue pelo cordão.
Ainda bebê foi morar em Mossoró com a família, onde ficou até os 17 anos. Ao se mudar para Natal deu continuidade aos estudos. Concluiu o ensino médio e aos 23 anos entrou na faculdade de Psicologia. Fez os quatro anos do curso e atualmente faz pós graduação em Neurociências.
Bruna, como é chamada pelos mais próximos, tem dois irmãos. Uma mais velha, Viviane Rose, e outro mais novo, Alysson Thiago. Ela diz que é o recheio da família, se referindo ao fato de ser a irmã do meio.
Aos 28 anos, Bruna já realizou sonhos que se quer imaginou. Escreveu um livro (Uma luta incansável) e já está preparando outro. Viajou para fora do país, fez faculdade, pós-graduação, profere palestras, exerce a profissão de psicóloga. Tudo isso com a garra, a coragem e o otimismos que tem de sobra. Sem esquecer do belo sorriso que sempre a acompanha.
...contato com a escritora...
cicera_bruna@hotmail.com