setembro 25, 2012

PRA TURISTA NENHUM BOTAR DEFEITO

 SANFONA, ZABUMBA E TRIÂNGULO MARCAM O
RITMO DO FORRÓ: ASSIM SÃO AS NOITES DE QUINTAS-FEIRAS,
NO CENTRO DE TURISMO, PARA QUEM VISITA A CIDADE POTIGUAR

PRA TURISTA NENHUM BOTAR DEFEITO

Por
Talyson Moura para o Novo Jornal

TUDO COMEÇA COM o hino. ‘Asa Branca’, do rei do baião, Luiz Gonzaga, dá as boas vindas aos  visitantes que aos poucos preenchem os poucos espaços ainda vazios no Centro de Turismo de Natal. As notas da sanfona, o batuque da zabumba e o tilintar típico do triângulo marcam o  nício de mais uma edição do Forró Com Turista, festa que leva há 25 anos o paulista, o gaúcho ou o goiano às mais profundas raízes da música nordestina. O evento, realizado semanalmente às quintas-feiras, é uma passagem obrigatória para quem está conhecendo a capital potiguar.

A casa recebe uma média de 500 pessoas em cada edição da festa. Deste grupo, 80% são de turistas dos mais variados cantos do Brasil e até de fora dele. A interação é a grande marca do evento, que possui um cronograma todo pensado no entretenimento. O ingresso custa R$ 25.

O apresentador da noite é o próprio organizador do Forró com Turista, Francisco Barbosa de Albuquerque. Ele, aliás, é uma atração à parte. Dono de uma animação contagiante, conduz com maestria cada momento da festa. O melhor: o horário é respeitado rigorosamente.  “Pontualidade britânica!  Não! Brasileira mesmo porque eu valorizo a minha terra”, ressaltou Barbosa.

Não eram 22h05 da última quinta- feira, 20, quando a reportagem do NOVO JORNAL chegou ao Centro  de Turismo de Natal e a programação já havia começado. A casa já estava cheia, sobrando poucas mesas. As pessoas mantinham-se quietas, enquanto degustavam uma bebida ou um tira-gosto.

Qualquer timidez, porém, era abafada pelos próprios aplausos. Principalmente durante a  apresentação de Moacir do Repente, que, em versos cordelizados, homenageou cada Estado com representantes na festa. Foram 30 minutos de poesia. A partir de uma lista, o animador da noite dava os nomes dos estados ao repentista. Ninguém deixou de ser citado. Além do talento do artista, o que impressionava o público era o conhecimento de geografia do rapaz. Ele dava detalhes dos lugares.


A cada nome, a euforia do público parecia ir crescendo. No começo, apenas o morador  daquela região homenageada levantava as mãos. Ao final, a impressão era de que as pessoas estavam prestes a levantar das cadeiras e aplaudir de pé. Já não dava para saber quem era o carioca ou o mineiro. O bater de palmas se dava em coro. “Eu adoro repente. Isso aqui é realmente uma noite típica para o turista. Não há o que falar”, ressaltou  o gaúcho Lauro Lima, 63. Acompanhado da esposa, o tabelião em férias pela capital potiguar se disse extasiado com a festa.

Depois do show do repentista, os seis casais de dançarinos da casa voltaram ao palco. Antes, eles já haviam apresentado o ritmo em uma única música. Mas dessa vez, numa abordagem simultânea com a retomada da primeira nota da sanfona, eles convidaram os turistas para dançar o típico forro. Como sempre acontece, o salão lotou quase que de imediato. Foi uma hora e meia de muito forró.

“É muito bom isso aqui. A maneira como o turista é tratado. Não falta diversão!”, exclamou a assistente administrativa Ana Paula Lara, 40, ainda suada com os passos que tinha arriscado na dança nordestina. “Eu vou voltar aqui outra vez e, se Deus quiser com mais calma”, lamentou, lembrando que teria que sair mais cedo da festa para ir direto ao aeroporto. Ela era do Rio de Janeiro.

A poucos metros era a paulista Tereza Paes, 49 anos, que não parava quieta. De pé, ao lado da mesa, ela provava o que o animador da noite já havia anunciado mais cedo: “O forró está  democratizado  agora. Todo mundo sabe dançar”. Ela estava acompanhada do marido, mas ele estava sentado. “A gente já dançou muito. Ele pisando no meu pé, mas dançamos”, brincou a senhora sorridente, cuja pele brilhava de tanto suor.

Na mesma mesa que eles, estavam  uma carioca e um paulistano. “Uma grande vantagem de um ambiente como este é justamente isso. Quantas pessoas aqui não conhecem turistas de outros estados? Isso é fantástico”, atestou o supervisor de estoque Vanderlei Aparecido Paes, o esposo de Tereza.

 "ALAVANTUS"  E  "BALANCÊS"
A ideia de resgatar os passos juninos em cada uma das edições
 semanais do Forró com Turista foi dada por um visitante

QUADRILHA IMPROVISADA É O CLIMAX DA NOITE

Existe um cronograma de entretenimento que mantém o turista num estado de animação constantes do começo ao fim. Tudo caminha para o que pode ser considerado o clímax da noite: a quadrilha improvisada. É neste momento em que a mistura cultural se completa ao som do mais típico forró. Já não se sabe quem é gaúcho, paulista, mineiro, austríaco ou italiano. A interação é completa.

O próprio Lampião – um dos dançarinos da companhia fantasiado de Rei do Cangaço - é quem puxa todos os passo. Ele é o responsável pela homogeneização completa dos sotaques. E a quadrilha é, sem dúvida, uma das maiores já vistas por este repórter. Todos os espaços são preenchidos, com exceção das mesas que ficam completamente vazias. A dificuldade é somente fazer a ‘grande roda’ - quando todos os casais se unem e formam um grande circulo.  - Há pouco espaço para isso.


Entre os ‘anarriês’, ‘alavantus’ e ‘balancês’ da última quinta-feira, as palmas e passos descompassados de alguns nem foram notados. Acertar não era o principal. Os passos eram todos muitos simples e, ainda assim, a ajuda dos dançarinos foi muito importante para manter o mínimo da sequência. O repórter não resistiu. Viu uma morena solta no salão e correu para o meio da muvuca. O que mais chamou a atenção naquela meia hora de arrastapé foi o desprendimento real do turista para interagir. O Lampião puxador gritava “Trocou de casal!” e os casais realmente se soltavam e corriam em busca de outro par.

É como se as pessoas tivessem esperando somente por aquele momento, o salão esvaziou depois. E isso já é pensado pela organização, que inicia a quadrilha exatamente à meia-noite. “Nós entendemos que o turista tem uma série de passeios para fazer no outro dia. Então, ele precisa estar descansado”, explicou Barbosa. A ideia de resgatar os passos juninos em cada uma das edições semanais do Forró com Turista foi dada por um visitante.

 SANFONA, ZABUMBA E TRIÂNGULO
 
25 ANOS DE HISTÓRIA

Era 1987 quando começou o Forró Com Turista. Ele nasceu sustentado por um tripé. Além do empresário Francisco Barbosa de Albuquerque, que hoje mantém sozinho o evento, estavam presentes a Destaque Promoções e o Grupo Xodó. A ideia era aproveitar o espaço para integrar o turista ao natalense.

Nos primeiros anos, a ideia foi bancada pela parceria. Mas entre 1989 e 1992, ela estourou no público universitário de Natal. A casa chegou a receber 1500 pessoas por edição da festa, o triplo da quantidade registrada na portaria ultimamente. O evento meio que pegou carona no Carnatal.

“Mas chegou a hora em que já não era viável contratar cantores como Flávio José, que era exatamente o que mantinha o interesse do natalense. A portaria só dava praticamente para pagar a banda”, explicou Francisco Barbosa. Hoje, já se estima a participação de um público maior de potiguares. Cerca de 20% do total.


E foi a partir do afastamento do nativo, que se pensou em fazer uma programação especial para o turista. Hoje, a festa que acontece uma vez por semana - duas vezes, terças e quintas, apenas no mês de janeiro -, é nutrida por quatro ingredientes principais, ressaltou Barbosa: o forró, a dança, o repente e a quadrilha improvisada.

Com o público bem traçado, os serviços vão expandindo e complementando àqueles já existentes. Atualmente, por exemplo, é oferecido o translado do visitante. Por uma taxa adicional o turista é apanhado e deixado no hotel. Na última quinta-feira, por exemplo, foram usadas 3 vans com esta finalidade. O número total de empregados diretos chega a 50.

E um detalhe interessante é que 50% dos turistas que decidem ir ao Forró Com Turista vão por indicação. “Com a credibilidade do nosso trabalho, nós conquistamos o crédito das empresas, agências de turismo e hotelarias para indicar o nosso espaço”, apontou. E ainda há a indicação boca-a-boca. “Eu vim porque uma amiga minha já tinha vindo e disse o quanto isso aqui era bom”, comentou a carioca Ana Paula Lara.

"DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ"

EVOLUÇÃO NOS DOIS PRA CÁ E DOIS PRA LÁ

“É bem difícil”. Esta foi a resposta de uma das dançarinas do Forró do Turista, Andreza Araújo, 18, quando questionada sobre a aptidão dos turistas para o forró. “Mas eu sei que este é o meu trabalho e estou aqui para ajudá-los”, completou a morena. Por outro lado, ela disse que vem sentindo certa evolução. Contou que já é notável a evolução no ‘dois pra lá, dois pra cá’. A jovem, que já havia sido convidada para dançar em uma banda de forró profissionalmente, está trabalhando na companhia de dança do Centro de Turismo de Natal há pouco tempo, mas já tem boas histórias para contar. “Um dia, eu estava dançando com um estrangeiro, acho que era um italiano. Não sei como, ele caiu. Depois ele levantou e ficou tudo bem”, disse sorrindo.

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