julho 31, 2014

A OBRA IGNORADA DE ARIANO SUASSUNA

 ARIANO SUASSUNA
Obra do autor é ignorada por gestores potiguares desde os anos 80
Morte do escritor paraibano chama a atenção das autoridades 

quanto ao valor do conhecimento como propulsor do
 desenvolvimento humano  e econômico
 Fotografia: Canindé Soares

A OBRA IGNORADA DE ARIANO SUASSUNA

 Por
Conrado Carlos

 Editor de Cultura Jornal de Hoje

Em 2005, eu estava no primeiro ano da faculdade de jornalismo quando um professor indicou o livro “Iniciação à Estética”, do paraibano com jeito rabugento e cara de menino danado que arrancava sorrisos de quem o ouvia detonar o Mickey Mouse – suas entrevistas, aulas-espetáculos ou qualquer pronunciamento eram memoráveis. O anti-estrangeirismo (no idioma ou nos símbolos consumidos), o sotaque nordestino acentuado, a simplicidade e a inteligência hipnotizavam a plateia.

Então, fui à biblioteca da faculdade e constatei que tinha apenas uma cópia para a galera toda. O liseu me fez procurar alternativas, até que alguém mencionou a Biblioteca Câmara Cascudo. Foi quando um admirável mundo torto surgiu ao telefone. No contato inicial, uma atendente anotou o nome do livro e me pediu para retornar a ligação em dez minutos, pois a procura seria a olho nu e manualmente – nada digitalizado. Tempo cumprido, ouço a negativa sobre o tomo que um dos maiores escritores do Brasil publicou sobre pensadores e a filosofia da estética.

Detalhe: Ariano morava em Recife, a meros 300km de Natal. Um breve contato com sua assessoria e toda sua obra estaria disponível aqui. Só que a turma que comandou o Estado nas últimas três décadas esqueceu de incluir no orçamento um tantinho de dinheiro para atualizar constantemente o acervo da instituição. Para mim, naquele instante de empolgação com o curso e a futura carreira, foi uma revelação de como o saber é valorizado por estas bandas – nos últimos anos, as mil matérias sobre o abandono da construção com arquitetura soviética só aumentou minha raiva.

Um crime lesa-pátria potiguara e contra a família de Câmara Cascudo. Pois, bem. Creio que em 2009, após um período em que tranquei a faculdade, outro professor também sugeriu a leitura de “Iniciação à Estética” – a essa altura, já em minha estante, via sebos virtuais. Repórter de Cidades do JH, eu tinha uma pauta sobre a degradação da maior biblioteca pública do Rio Grande do Norte. “Vou testar aquela joça”, pensei. E liguei novamente para saber se eles tinham corrigido o erro brutal. Quanta inocência…a mulher que me atendeu pediu 30 minutos (?!) para localizá-lo.

O que, lógico, não aconteceu. E assim a coisa ficou. Eu via Ariano Suassuna como um militante do bom senso. Longe de ser especialista em sua produção intelectual, nutri profunda admiração por aquele homem que defendia o que é brasileiro com a mesma fé do barbudo muçulmano que, numa hora dessas, está maquinando o que fazer contra Israel. Ninguém ficou surpreso com sua morte, confirmada na tarde de ontem. Mas todos sentiram como se aquela despedida fosse um familiar. Dos personagens da Arte Brasiliis, foi ele quem mais me fez sorrir.

À noite, com as manchetes sobre sua morte, revi a entrevista que ele deu no Programa do Jô sete anos atrás – época do aniversário de 80 anos. Se o amigo leitor não viu, recomendo e aviso que a diversão é garantida. Nos primeiros minutos, ele comenta os eventos que o homenageavam quanto à data como se soubesse o que devem fazer de agora em diante, com sua ida para baixo da terra. “Eu tava dizendo outro dia que estão fazendo um chamego tão grande que eu tô começando a ficar preocupado, porque quando eu completar 160, como não vai ser?”.

A cada cinco minutos ele arrancava gargalhadas de Jô e da plateia. Quanto ao papo de vegetarianismo, de alimentação saudável, tão adequada para um octogenário? “Eu não posso ser naturista, porque eu como Castro Alves, Casimiro de Abreu”. E diz que leu em uma revista científica que o cavalo, na Idade da Pedra, assim como o ser humano, vivia 20 anos, em média. “Aí, hoje, eu já vou com oitenta aqui, e o cavalo continua com vinte e ele é vegetariano”. Uma maravilha que o natalense teve a oportunidade de ver de perto, em inúmeras apresentações.

Monteiro Lobato, certa vez, disse que “Um país se faz com homens e livros”. A frase é tão bacana, direta e óbvia, que a mesma turma do Governo estampou no site da Biblioteca Câmara Cascudo – solta entre aspas na home, mas sem o devido crédito. Talvez o Brasil tenha uma dívida histórica quanto a mostrar quem são os nossos. Ariano Suassuna se foi. Mas sua vasta obra ficou. Cabe aos ‘ômi’ trazê-la para onde ele mais gostava de estar: em meio à gente simples e sonhadora. Seria o mínimo, para não dizer uma obrigação.

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julho 30, 2014

CÂMARA CASCUDO: DIÁLOGO COM O MUNDO

CÂMARA CASCUDO
Faceta filosófica de Luís da Câmara Cascudo ganha luz 
com a reedição, 40 anos depois, de Prelúdio e Fuga do Real
Fotografia: Divulgação

CÂMARA CASCUDO
E SEUS DIÁLOGOS COM O MUNDO

Por
Yuno Silva
TRIBUNA DO NORTE

O mundo bateu à porta de Câmara Cascudo, e as anotações habituais que fazia nas páginas dos livros que lia serviram de alicerce para “Prelúdio e fuga do real”. Rara experiência literária do historiador, pesquisador, antropólogo, advogado e jornalista potiguar, famoso por estudos etnográficos e culturais, o livro constrói diálogos imaginários com escritores e personagens de sua preferência, figuras bíblicas e mitológicas como Maria Madalena, recebida na casa do escritor ali no caminho da Ribeira para a Cidade Alta; ou Maquiavel, com quem Cascudo conversou na Praça Augusto Severo, Ribeira. Caim, Luís de Camões, Dom Quixote, Ramsés II, Nostradamus, Epicuro, Rei Midas e Judas Iscariotes também estão na lista dos papos (francos e fluidos) que podem ser lidos em qualquer ordem e tempo.

Hoje, data histórica, quando se completa exatos 28 anos de seu encantamento, essa faceta pouco conhecida do intelectual será (re)apresentada ao público no Centro de Convivência da UFRN, local escolhido para o lançamento de “Prelúdio e fuga do real”. O livro está esgotado há décadas e essa segunda edição sai sob chancela da Global Editora e da EDUFRN. Na capa, o ‘olho’ captado pelo fotógrafo Ivan Russo em formação rochosa na região do Gargalheiras, em Acari, sugere a visão amplificada de Luís da Câmara Cascudo (1898-1986).

Durante o lançamento, marcado para esta quarta-feira às 18h, na Galeria Conviv’art, haverá breve debate sobre a relevância de seu conteúdo com o professor Humberto Hermenegildo, o jornalista e crítico literário Nelson Patriota e a escritora, filha do homenageado, Anna Maria Cascudo Barreto.

“Será uma conversa rápida, apenas para passar algumas informações e ressaltar o perfil da obra. Considero esse livro um ponto de partida tanto para ler e reler outros títulos de Cascudo como para buscar entendimento de seus pensamentos”, disse Hermenegildo, coordenador do Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses da UFRN, que conduziu a tradução, elaboração e contextualização das notas – detalhe ausente na primeira edição de 1974.

A companheira, agora só, de um dos maiores folcloristas do Brasil
fotografia: Canidé Soares

DIÁLOGOS COM UM LEITOR VORAZ

Publicado originalmente em 1974, o livro revela o Cascudo leitor, “mostra quem foi, o que pensava e sua visão de mundo”, avalia a neta Daliana Cascudo. Em 35 capítulos Câmara Cascudo trava diálogos hipotéticos, informais e instigantes. As mais de 300 páginas também são recheadas por 506 notas que tecem uma colcha poliglota de referências; citações em inglês, francês, italiano, latim, espanhol e alemão que comprovam a rica visão de mundo de Câmara Cascudo, suas impressões sobre os dilemas humanos e o alto grau de sua formação intelectual.

Câmara Cascudo tinha o hábito de anotar nas margens dos livros impressões sobre tudo o que lia. “Quem pega um livro de sua biblioteca pessoal vai perceber o tanto que ele debate, concorda e discorda dos autores e personagens. Acredito que essas discussões deram origem a ‘Prelúdio e fuga do real’. Vejo traços filosóficos nos textos”, destacou Daliana, diretora do Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo, museu e memorial que funciona na casa onde o mestre nasceu e viveu toda sua vida, ali na subida da Ribeira para a Cidade Alta.

A revisão cuidadosa desta segunda edição de “Prelúdio...”, que corrige uma série de erros apontados pelo próprio autor na época da publicação original, foi realizada por Nelson Patriota, Fátima Maria Dantas e Andréia Braz.

MATURIDADE LITERÁRIA

Para o professor Humberto Hermenagildo, apesar de “Prelúdio e fuga do real” pedir bagagem e repertório literário, o livro oferece entendimento para questões locais com base em uma ampla e eclética visão de mundo. “Câmara Cascudo era um cosmopolita extremamente ligado às tradições, e como não conhecemos muito sua literatura esse livro nos dá uma visão de seu lado escritor. Uma faceta diferente do Cascudo pesquisador e etnógrafo. Vemos passagens ensaísticas, imaginação e criatividade literária”, enumera Hermenegildo, lembrando que “Prelúdio...” foi escrito na fase madura do autor.

“Ainda temos muito a desengavetar sobre Cascudo, há várias pesquisas em curso no Núcleo (Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses)”, reforça o professor. O próprio, inclusive, iniciou estudo sobre a correspondência de cascudo na década de 1920.

FRONTEIRA

O jornalista e crítico literário Nelson Patriota, em artigo publicado esse último domingo (27) nesta TRIBUNA DO NORTE, escreveu que “Prelúdio e a fuga do real” é um texto “fronteiriço entre diversos saberes – literatura, mitologias, ciência e técnica, religião e política”. Para Patriota, o livro oferece ao leitor “uma riqueza textual de tal ordem que o torna um livro especial, não só dentro da vasta obra cascudiana, mas na própria bibliografia nacional”.

O crítico aponta que, por trás da trama, “percebe-se claramente um ‘ardil literário’: a pretexto de discutir determinados assuntos de interesse geral e intrínsecos às preocupações humanistas, Cascudo recebe uma série de convidados, pessoas de outros tempos, personagens literários e míticos que guardam alguma relação com cada assunto tratado. Nesse processo, que subverte a ordem natural do mundo, o mestre parece estar perfeitamente à vontade. O diálogo com o centauro Bianor Silva, descendente do grande Quíron, preceptor de Aquiles, dá pretexto para uma conversa sobre a educação dos jovens”, exemplifica.

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O lançamento de “Prelúdio...” (Editoral Global/EDUFRN, R$ 59, 304 páginas) será nesta quarta-feira, às 18h, na Galeria Conviv’art – Centro de Convivência da UFRN.

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Yuno Silva, repórter
(*) Colaborou: Cinthia Lopes, editora

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julho 16, 2014

LAR DOCE LAR: SURTO CULTURAL

CLARISSA TORRES
ARTISTA PLÁSTICA E EMPREENDEDORA
Residência transformada em espaço cultural para uso coletivo
Auxílio de muitos amigos para administrar o local
Fotografia: Ney Douglas/NJ

LAR DOCE LAR: SURTO CULTURAL

Henrique Arruda
DO NOVO JORNAL

O sofá azul piscina não é menos convidativo que as paredes roxas, as cordas circenses no quintal ou mesmo as xícaras de café cuidadosamente transformadas em luminárias no balcão da galeria de artes. Tudo faz parte de um “Surto Cultural” idealizado pela artista plástica Clarissa Torres, 31, que, cansada de ver a casa do avô desabitada, resolveu transformar os cômodos em arte, ou melhor, em vida.

 A antiga sala agora abriga uma galeria de artes; a garagem se transformou em área de convivência e os quartos são escritórios ocupados por gente tão disposta quanto ela a transformar a antiga residência em referência cultural contemporânea para a cidade.

 Por enquanto se juntam ao time uma empresa especializada em comunicação virtual (Na Bubuia), um escritório de arquitetura (Gemini) e um sebo de vinil (Disco Mania), cada um ocupando um quarto. A antiga e ampla cozinha ainda permanece vazia, mas por pouco tempo. Clarissa anda procurando um tatuador que queira alugar o espaço.

 “Queria muito que um tatuador viesse para cá. Já pensamos em tudo... Aqui, por exemplo, vamos colocar uma porta de vidro”, aponta empolgada para o lugar da porta do futuro estúdio, explicando que cada cômodo é alugado para que consiga manter o espaço cultural. O local serve ainda de escritório para o seu coletivo de artes plásticas, o “Aboio”, formando Clarissa, Rodrigo Fernandes e Viviani Fujiwara.

 “Por mais que eu alugue cada cômodo, todo mundo tem a liberdade de deixar o espaço como quiser. Minha ideia é que a casa fique ainda mais colorida, chuchu”, conta de maneira doce, estendendo a liberdade também para o campo das ideias. “Todos são livres para propor qualquer tipo de atividade que ajude a formar o calendário que o Surto Cultural pretende disponibilizar nos próximos meses. Não se trata de espaços individuais, mas de um grande coletivo”, diferencia.

 “Eu, particularmente, quero manter o ritmo de pelo menos uma atividade cultural por semana”, explica Clarissa, lembrando que o lugar já vem recebendo as primeiras iniciativas mesmo antes de sua inauguração oficial, como um sarau realizado na semana passada reunindo ainda uma marca de camisetas e um serviço de gastronomia.

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julho 11, 2014

INSTÂNCIA DAS ARTES: CULTURA POTIGUAR

SIMONA TALMA & MICAEL MARTINS
Fotografia: Divulgação

INSTÂNCIA DAS ARTES
Projeto Cultural da Justiça Federal do Rio Grande do Norte
Um novo palco para a arte e cultura potiguar

Via
JUSTIÇA FEDERAL RIO GRANDE DO NORTE

O projeto ‘Instância das Artes’, desenvolvido pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte, promoverá no dia 31 de julho, ao meio dia, show de Simona Talma e Solo de Gaita com o instrumentista Micael Martins.

Aberto ao público, o projeto contempla uma série de atividades voltadas para o incentivo à produção cultural potiguar, desde a música, artes plásticas, artesanato e a poesia.

O grande objetivo do Instância das Artes é aproximar o Judiciário Federal potiguar da sociedade, fomentando a produção artística nas dependências da Seção Judiciária.

O Projeto Cultural Instância das Artes terá oito edições durante o ano,sempre na última quinta-feira de cada mês selecionado.

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Simona Talma & Micael Martins
31 de julho 
12h
Hall da Justiça Federal
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