JOÃO MAURÍCIO FERNANDES DE MIRANDA
Em seu novo livro, “Natal Foto-Gráfico - Do Passado ao Presente”,
Em seu novo livro, “Natal Foto-Gráfico - Do Passado ao Presente”,
o arquiteto confronta o espaço urbano do final do século 19
com o que conhecemos hoje e prova que o cenário vem
passando por sérias - e grotescas - modificações.
Fotografia: Divulgação
com o que conhecemos hoje e prova que o cenário vem
passando por sérias - e grotescas - modificações.
Fotografia: Divulgação
Em Natal, são várias as obras assinadas por João Maurício. Entre elas, destacam-se o edifício Barão do Rio Branco, a agência da Caixa Econômica Federal da Ribeira, o prédio do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) na Cidade Alta, a capela da UFRN (sua preferida), além dos projetos de reconstrução da Capitania das Artes e do Centro de Turismo.
Ainda é importante ressaltar que partiu do arquiteto a solicitação do tombamento da casa que hoje abriga o Museu Café Filho, na Cidade Alta. Toda a parte interna do casario, de 1820, ia ser modificada e ele impediu. Apesar dos 80 anos, João Maurício não para. Sua inquietude o levou a comprar um teclado (que está aprendendo a tocar) e, alguns anos antes, a escrever o livro “...antes que a memória se apague”. A publicação conta sua história de vida, que está muito misturada à história de Natal.
A paisagem modificada de Natal, onde João Maurício Fernandes de Miranda nasceu no ano de 1933, não é a única coisa que o entristece. Ele lamenta também a capital potiguar ter se tornado tão violenta. “Fiz essas últimas fotos há dez anos. Se fosse hoje, não faria. Não é só o receio de ter o equipamento roubado. É de não voltar”.
Ele se formou no Rio de Janeiro em 1971 e, de volta a Natal, a convite de Aluízio Alves, montou o primeiro escritório de arquitetura da cidade. Foi também um dos fundadores da UFRN e do curso de Arquitetura da instituição, do qual foi professor até 1993, quando se aposentou.
A paisagem modificada de Natal, onde João Maurício Fernandes de Miranda nasceu no ano de 1933, não é a única coisa que o entristece. Ele lamenta também a capital potiguar ter se tornado tão violenta. “Fiz essas últimas fotos há dez anos. Se fosse hoje, não faria. Não é só o receio de ter o equipamento roubado. É de não voltar”.
Ele se formou no Rio de Janeiro em 1971 e, de volta a Natal, a convite de Aluízio Alves, montou o primeiro escritório de arquitetura da cidade. Foi também um dos fundadores da UFRN e do curso de Arquitetura da instituição, do qual foi professor até 1993, quando se aposentou.
Fotografia: Magnus Nascimento
ANTES QUE A MEMÓRIA SE APAGUE
Por
Itaércio Porpino
TRIBUNA DO NORTE
Pergunte ao arquiteto João Maurício Fernandes de Miranda, de
80 anos, e você vai saber, em detalhes, o quanto e como Natal vem se
transformando ao longo do tempo, com seus locais e construções históricas sendo
bizarramente modificados e, muitas vezes, destruídos. Mais que dizer, ele vai
mostrar.
Em seu novo livro, “Natal Foto-Gráfico - Do Passado ao
Presente”, o arquiteto confronta o espaço urbano do final do século 19 com o
que conhecemos hoje (será que conhecemos mesmo?) e prova que o cenário vem
passando por sérias - e grotescas - modificações.
A publicação, que será lançada nesta sexta-feira (30), a
partir das 19h, na Capitania das Artes, não é
bem um livro-denúncia, mas, em suas 222 páginas, não deixa qualquer
dúvida quanto à contínua agressão à memória da cidade.
“Olhando o livro, a pessoa conclui que muita coisa que tinha
que ser preservada não foi. Isso é apagar a memória”, diz João Maurício, que
arremata na apresentação da obra: “Comparar, por meio de fotos, as
transformações por que vem passando a cidade, constatar onde era ou fora este
ou aquele prédio, monumento, praça, jardim ou logradouro público, denunciar a
destruição desta ou daquela obra do passado, é minha contribuição para a
história”.
“Natal Foto-Gráfico: Do Passado ao Presente” é uma edição
revista e ampliada de “380 Anos de História Foto-Gráfica da Cidade de Natal”,
publicada em 1979 após um difícil e minucioso trabalho de seis anos. Tudo
partiu das fotografias feitas pelo jornalista e juiz caicoense Manuel Dantas
(autor da famosa conferência Natal Daqui a Cinquenta Anos, proferida em 21 de
março de 1909). Ele morreu em 1924 e deixou um valiosíssimo acervo de imagens
da Natal do final do século 19, ao qual João Maurício teve acesso.
“É um acervo antigo. E na época que sua família me cedeu,
ninguém conhecia. São registros da cidade, das autoridades, das pessoas
simples, festas, costumes, vestuário e imobiliário. Eu escolhi o cenário
urbano”, conta o arquiteto, que com as fotos velhas, em preto-e-branco, foi
capaz de identificar os lugares e visitá-los na segunda metade dos anos 70 para
fotografar e fazer a comparação.
João Maurício lembra que teve muito problema para localizar
alguns ambientes, tamanha a descaracterização/ destruição deles. Já para fazer
a nova edição do livro, não existiu essa dificuldade. “Como já havia ido uma
vez, já sabia onde encontrá-los”.
Vários cenários
“Natal Foto-Gráfico: Do Passado ao Presente” sai 25 anos
depois da primeira edição, em um formato menor (mais fácil de manusear) e com
novas fotografias feitas pelo arquiteto em 2004. Segundo ele, da primeira para
a segunda versão, teve lugares que já foram modificados duas a três vezes.
Os originais do livro estão prontos há uma década, mas só
agora ele está sendo lançado, com tiragem limitada de 250 exemplares, impressos
na gráfica do Senado Federal. O motivo de tanta espera foi um só: “Dificuldade
para conseguir apoio”, diz, mas sem tom
de queixa, como alguém já acostumado à burocracia e promessas não cumpridas, principalmente por
parte do poder público.
Só para ilustrar, em 1999, ano em que Natal comemorou 400
anos, o arquiteto foi convidado para expôr na Capitania das Artes as réplicas
de caravelas portuguesas que ele mesmo fez, a partir de plantas originais,
conseguidas em Lisboa, e na ocasião os políticos presentes prometeram-lhe que
iriam transformar um dos prédios que abrigaram as oficinas de manutenção da
antiga ferrovia, na Ribeira, no Museu da Cidade. Passados 14 anos, nada foi
feito. A construção está se acabando.
Já as caravelas em miniatura ganharam um museu (o Museu das
Naus) no Iate Clube, mas o espaço não chegou a durar um ano. “Fechei porque me
forçaram a isso. Não recebi incentivo. Pelo contrário”, conta João Maurício.
Demoliram o coreto de graciosa leveza em ferro batido,
possivelmente importado, assente sobre embasamento com porão para guarda de
material de limpeza urbana.
Depois ...pelourinho de canhões
Substituíram o gracioso coreto por esta agressiva base com
quatro canhões e o pelourinho. Um fato pitoresco aconteceu. Nos anos 50, Natal
contava com uma guarda noturna mantida pela Prefeitura. Certa manhã, quando o
dia clareou, estava amarrado no pelourinho, ao centro dos canhões, um guarda
completamente nu, de costas para a Matriz, escandalizando as beatas que
chegavam para a missa. Uma brincadeira de estudantes.
Para o catolicismo, tudo é sagrado, menos o direito de
respeitar e preservar os valores culturais da arquitetura brasileira. Mais uma
vez se destrói um dos mais puros e belos exemplares de nossa arquitetura
religiosa barroca, a antiga Capela do Bom Jesus na Ribeira, para transformá-lo
num falso gótico.
Seria um museu
Este e outros prédios foram construídos em 1916 para abrigarem
as oficinas de manutenção da ferrovia Sampaio Correira, onde hoje funciona o
Denocs. Tentamos restaurá-lo para ser um museu para a cidade. Por quatro anos
esperamos alguma decisão. Hoje, encontra-se o prédio em estado de desmanche e
abandono pelos responsáveis ou irresponsáveis pelo patrimônio público.
O prefeito Djalma Maranhão construiu um pavilhão e denominou
de Galeria de Arte Cândido Portinari. Tinha como pilares uma cópia do Palácio
da Alvorada. Brasília estava na moda. Na fachada norte, havia um painel de
Newton Navarro. Foi demolido no período militar.
Dois momentos da avenida Rio Branco em 1979 e em 1981, à
esquerda das lojas Americanas e o Banco do Brasil à direita. (fotos: João
Maurício)
...fonte...
www.tribunadonorte.com.br
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