O QUE HÁ NO CÉU DE JOSÉ RENAN DE MEDEIROS
Por
Fernanda Zauli & Marco Carvalho
A paixão pelo céu vem da infância. Quando pequeno, ouviu de seu avô que os trovões nada mais eram que o barulho dos tambores de uma banda de anjos tocando no céu. E ouviu mais, que seus dois irmãozinhos, que morreram ainda pequenos, faziam parte dessa banda. Essa fantasia transformou o céu no laboratório do astrônomo José Renan de Medeiros, 58 anos. "Talvez, se meu avô não tivesse contado essa maravilha de lenda, eu não tivesse fixado tanto o céu na minha cabeça. O céu passou a ser uma espécie de aquarela para mim, onde todo dia eu quero descobrir uma coisa nova", conta Renan, conhecido mundialmente pelas pesquisas que desenvolve.
Hoje, além de ser o único cientista astrônomo do Nordeste brasileiro, tem o trabalho disputado pela NASA e pela Agência Espacial Europeia. A pesquisa desenvolvida por ele colocou o Brasil no cenário internacional de estudos astronômicos e permitiu ao país ser incluído em duas missões espaciais, a CoRot e a Plato.
Hoje, além de ser o único cientista astrônomo do Nordeste brasileiro, tem o trabalho disputado pela NASA e pela Agência Espacial Europeia. A pesquisa desenvolvida por ele colocou o Brasil no cenário internacional de estudos astronômicos e permitiu ao país ser incluído em duas missões espaciais, a CoRot e a Plato.
Astrônomo Phd pela Universidade de Genebra e com trabalhos disputados pela Nasa e pela Agência Espacial Europeia, José Renan está longe de corresponder ao estereótipo do cientista louco e onipotente. É um homem preocupado em fazer da ciência um veículo para difundir o bem, a generosidade, e não se apega a vaidades, apesar de ter um currículo respeitadíssimo em todo o mundo. "Ter um currículo bom é circunstância. O currículo que eu tenho hoje é uma consequência natural do meu trabalho. Eu atingi o estágio de professor titular da Universidade, pesquisador 1A do CNPQ, mas essas coisas são contingentes naturais. O que faço é uma fonte de prazer intelectual, mas esse prazer não se traduz pela vaidade ou pelo ego. Essas coisas não me interessam, absolutamente", afirma.
O trabalho desenvolvido por Renan, na busca por planetas fora do Sistema Solar, colocou o Brasil no cenário internacional de estudos astronômicos. Em 2006, o país passou a integrar a missão Corrot com uma base na UFRN, a única fora da Europa. A missão contabilizou mais de cem mil estrelas e encontrou vinte planetas fora do sistema solar, resultado anunciado em novembro de 2010. No doutorado, onde começou sua busca por novos planetas, Renan teve como orientador o cientista Michel Maior, que em 1996 se tornou o primeiro homem a descobrir planetas fora do Sistema Solar.
O trabalho desenvolvido por Renan, na busca por planetas fora do Sistema Solar, colocou o Brasil no cenário internacional de estudos astronômicos. Em 2006, o país passou a integrar a missão Corrot com uma base na UFRN, a única fora da Europa. A missão contabilizou mais de cem mil estrelas e encontrou vinte planetas fora do sistema solar, resultado anunciado em novembro de 2010. No doutorado, onde começou sua busca por novos planetas, Renan teve como orientador o cientista Michel Maior, que em 1996 se tornou o primeiro homem a descobrir planetas fora do Sistema Solar.
O HOMEM DAS ESTRELAS
José Renan de Medeiros, natalense que cresceu nas ruas do bairro das Quintas torcendo pelo ABC, tem longos cabelos brancos presos em “rabo-de-cavalo” e só usa sandália de couro. “Posso ir para um jogo no Frasqueirão, visitar um ministro ou um presidente, não abro mão da sandália por qualquer sapato do mundo. Quero me sentir bem e é assim que desenvolvo meu trabalho”, conta sorridente o responsável pela “floresta de conhecimento” nesse assunto visto hoje em dia no estado.
A felicidade e a paixão pelo que faz é algo notado de longe. “Olhar para o céu, para mim, tem o mesmo valor do ar que respiro”, diz homem que herdou o gosto por cálculos do pai. Pai que trabalhou como mestre de obras no distrito de Cachoeira dos Morenos, no município de Santa Cruz, a 115 quilômetros de Natal. “Ele sempre me dizia que a vida está dentro dos livros, tem que ler”, lembra Renan em sua sala no Departamento de Física da UFRN.
A mesa de trabalho do cientista está cheia de livros e artigos, alguns falam da abundância química na Via Láctea, todos em inglês. Mexe no computador e organiza alguns dos muitos afazeres. Pós-doutor pela Universidade de Genebra, na Suíça, o professor conta que só foi alfabetizado com mais de 10 anos. “Meu pai viajava bastante por causa das obras e nós íamos com ele. Isso me fez ter uma vida escolar estranha”. Estranha porque após ser alfabetizado tardiamente, foi incentivado a pular séries e acabou cursando três anos letivos em um só.
A mesa de trabalho do cientista está cheia de livros e artigos, alguns falam da abundância química na Via Láctea, todos em inglês. Mexe no computador e organiza alguns dos muitos afazeres. Pós-doutor pela Universidade de Genebra, na Suíça, o professor conta que só foi alfabetizado com mais de 10 anos. “Meu pai viajava bastante por causa das obras e nós íamos com ele. Isso me fez ter uma vida escolar estranha”. Estranha porque após ser alfabetizado tardiamente, foi incentivado a pular séries e acabou cursando três anos letivos em um só.
Estudou na Escola Municipal Maria Lígia, nas Quintas, e fez o ensino médio na Escola Industrial, hoje Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). A decisão pela astronomia ocorreu neste período, quando “a ideia do céu começou a colar” na sua cabeça. “Me empolgava tentando olhar para mais distante. Imagina o porquê dos brilhos das estrelas”, confidencia.
AMOR
Renan narra o que chama de "mais uma história extraordinária por trás do cientista". Quando fazia o mestrado no Centro de Radio Astronomia e Astrofísica Mackenzie , em 1980, ele almoçava todos os dias em uma pousada onde ficavam hospedados os atores globais que iam a São Paulo para gravações. "Nós éramos garotões,então íamos até lá para almoçar e ver aqueles artistas". Um dia, uma garota loira chamou sua atenção. Ele pediu que a garçonete entregasse à moça um bilhete com o seu telefone, mas a garçonete se negou. Decidido, ele mesmo foi até ela e entregou seu número de telefone anotado em um papel. "Mas eu jamais imaginei que ela fosse me ligar, porque ela era uma menina, tinha 17 anos de idade, e eu 10 anos a mais", lembra. Mas ela ligou, e começava ali uma longa história de amor. A menina era Sílvia Batistuzzo e no dia 14 de fevereiro de 1981, às 12h15, eles se casaram. Quatro dias depois, Renan defendeu sua dissertação de mestrado e o casal seguiu para Natal. A história de amor, amizade e cumplicidade segue firme até hoje e completou 30 anos em fevereiro. "Eu costumo dizer que a coisa mais importante que eu fiz em São Paulo não foi o mestrado, foi ter conhecido a Sílvia", afirma ele.
IRON MAIDEN COM O FILHO
Na rotina do cientista José Renan de Medeiros tem duas tarefas que ele não abre mão: levar e buscar os filhos na escola e almoçar em casa. "É um prazer que não tem preço", diz.
Pai de dois meninos, Leonardo, de 15 anos, e Edoardo, de 9, ele é daqueles pais companheiros, parceiros. No último fim de semana, esteve em Recife, acompanhado do filho mais velho, para assistir ao show da banda Iron Maiden. Ao chegar lá, se deu conta de que ficaria hospedado no mesmo hotel que o grupo, o que proporcionou momentos de fã para pai e filho. "Nós tiramos várias fotos com eles, os olhinhos do Leonardo brilhavam", disse, sem perceber que seus olhos também brilhavam ao descrever a felicidade do filho.
O carinho com que o pesquisador fala dos filhos é cativante. E o tempo que passa com eles é definido como "precioso". Edoardo, o mais novo, é portador da síndrome de down, e teve a sorte de nascer em uma família afinada, que aceita a vida como ela se mostra. "O Dudu costuma nos abraçar e dizer que nós somos um time. E eu acho que efetivamente ele nasceu dentro de um time, já encaixado, afinado. Eu acho que nós somos o que se pode definir como uma família feliz, que aceita a vida como ela se mostrou, que curte essa vida, e que tenta dar um exemplo positivo para quem está a seu redor", disse.
Além da família e da ciência, outras peças completam o "quebra-cabeças" que é a vida de Renan. "Os meus amigos, um bom vinho, que eu adoro, os estudantes que eu oriento (a quem ele chama carinhosamente de filhos acadêmicos) e o ABC, onde cada um deles representa uma peça nesse grande quebra-cabeça".
Pai de dois meninos, Leonardo, de 15 anos, e Edoardo, de 9, ele é daqueles pais companheiros, parceiros. No último fim de semana, esteve em Recife, acompanhado do filho mais velho, para assistir ao show da banda Iron Maiden. Ao chegar lá, se deu conta de que ficaria hospedado no mesmo hotel que o grupo, o que proporcionou momentos de fã para pai e filho. "Nós tiramos várias fotos com eles, os olhinhos do Leonardo brilhavam", disse, sem perceber que seus olhos também brilhavam ao descrever a felicidade do filho.
O carinho com que o pesquisador fala dos filhos é cativante. E o tempo que passa com eles é definido como "precioso". Edoardo, o mais novo, é portador da síndrome de down, e teve a sorte de nascer em uma família afinada, que aceita a vida como ela se mostra. "O Dudu costuma nos abraçar e dizer que nós somos um time. E eu acho que efetivamente ele nasceu dentro de um time, já encaixado, afinado. Eu acho que nós somos o que se pode definir como uma família feliz, que aceita a vida como ela se mostrou, que curte essa vida, e que tenta dar um exemplo positivo para quem está a seu redor", disse.
Além da família e da ciência, outras peças completam o "quebra-cabeças" que é a vida de Renan. "Os meus amigos, um bom vinho, que eu adoro, os estudantes que eu oriento (a quem ele chama carinhosamente de filhos acadêmicos) e o ABC, onde cada um deles representa uma peça nesse grande quebra-cabeça".
...fonte...
Marco Carvalho
Fernanda Zauli
...fotografia...
Alex Régis
...mais...
José Renan de Medeiros
84.9983-4300
Coordenador do INEspaço, astrônomo, PhD, professor da UFRN e de diversos institutos do Brasil e Europa, foi presidente da Sociedade Astronômica Brasileira e da Comissão Brasileira de Astronomia. É pesquisador visitante do European Southern Observatory, Observatório de Genebra, Agência Espacial Européia e NASA e responsável pela missão espacial CoRoT (Convection+Rotation+Transit of Planets).
Tem se dedicado, ao longo das últimas três décadas, ao estudo da rotação, do magnetismo e da nucleossíntese estelar, sendo hoje o astrônomo que realizou mais medidas da rotação de estrelas, grandeza física fundamental para a compreensão da evolução desses astros. Atualmente, dedica-se também à busca por planetas extrassolares, fazendo parte de vários consórcios internacionais de caçadores de planetas. Tem dezenas de artigos publicados em jornais e em revistas especializadas. É autor dos livros Teia do Tempo (2005) e Meu céu, o céu de cada um, céu de todos nós (2006), ambos pela Zian Editora.
Tem se dedicado, ao longo das últimas três décadas, ao estudo da rotação, do magnetismo e da nucleossíntese estelar, sendo hoje o astrônomo que realizou mais medidas da rotação de estrelas, grandeza física fundamental para a compreensão da evolução desses astros. Atualmente, dedica-se também à busca por planetas extrassolares, fazendo parte de vários consórcios internacionais de caçadores de planetas. Tem dezenas de artigos publicados em jornais e em revistas especializadas. É autor dos livros Teia do Tempo (2005) e Meu céu, o céu de cada um, céu de todos nós (2006), ambos pela Zian Editora.
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