abril 03, 2011

SUPERAÇÃO QUE VEM COM A DANÇA

Vítima de câncer na infância, Mickaella Dantas perdeu parte de uma perna,
mas as limitações não a impediram de alçar vôos


SUPERAÇÃO QUE VEM COM A DANÇA
BAILARINA POTIGUAR É CONVIDADA PARA PROJETO EM LONDRES

Por

Sérgio Vilar

A bailarina potiguar Mickaella Dantas fará parte das atividades culturais dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. O convite partiu da companhia londrina de dança contemporânea composta por bailarinos com e sem deficiência, chamada Candoco Dance Company - uma das mais conceituadas do mundo no campo da dança contemporânea inclusiva. A experiência vivida por Mickaella é inédita para uma artista do Rio Grande do Norte. Um sonho idealizado por muitos desde o surgimento do projeto Roda Viva e da oportunidade de pessoas com deficiências ultrapassarem limites.

Mickaella nasceu em Cruzeta. Iniciou carreira de bailarina na Roda Viva Cia de Dança e foi uma das responsáveis pela criação e concepção da In Verso Cia de Dança. O convite surgiu a partir de uma apresentação de Mickaella no 1º Encontro Inclusivo de Dança (Encludança), realizado na Ilha da Madeira. Um dos diretores artísticos da Candoco, o brasileiro Pedro Machado assistiu, gostou e convidou a bailarina a integrar a companhia. "O fato de ele ser radicado no Brasil colaborou significativamente na comunicação e acordo do projeto", comentou.

Se o perturbador filme Cisne Negro (um dos favoritos ao Oscar 2011) retrata as dificuldades de uma bailarina profissional de ponta para alcançar o posto principal em uma peça aclamada, a realidade de Mickaella talvez seja mais difícil. É que o próprio corpo já traz limites de locomoção. Muletas e uma prótese ajudam. Isso desde os 11 anos, quando Mickaella precisou amputar a perna em decorrência de câncer no joelho. Desde então encontrou na arte uma forma de superação e expressão. E o balé foi a consequência. "Foi um percurso natural, do meu amor pela arte, especialmente pela dança".

Mickaella esteve em Londres de 1 a 19 deste mês, quando iniciou os ensaios para o espetáculo Candoco Unlimited. A bailarina potiguar é uma das 12 integrantes. "Trabalhar com a Candoco tem sido um prazer, pelo profissionalismo e dedicação com que cuidam da dança, e uma experiência importantíssima para a minha carreira". Ainda em 2011, ela participará também do projeto Perspectivas, dirigido por Carla Vendramin, em Porto Alegre (RS) - artista de referência na Dança Inclusiva.

...ENTREVISTA...

Mickaella Dantas, de Cruzeta às Olimpíadas. Como foi essa trajetória?

Posso dizer que essa trajetória foi uma construção. Primeiro eu nasci com o desejo maravilhoso de trabalhar com artes, me envolvi desde a infância com atividades artísticas, mas somente em 2006 conheci a dança contemporânea, em seguida entrei numa "escola" importantíssima para a Dança Inclusiva, o Roda Viva Cia de Dança, quando então escolhi seguir carreira artística, e então nasceu a In Verso Cia de Dança, que em parceria com a Studio Corpo de Baile amadureceram o meu ofício, me projetando além do Rio Grande do Norte.

O RN exporta bailarinos para o Bolshoi e outras companhias.
E a reclamação de falta de incentivos é notória. Não parece um paradoxo?


Não é um paradoxo, é uma questão de objetivo de vida e oportunidade. Eles aparecem e daí você corre atrás de subsídios que tornem a proposta Real. A escassez de incentivos é fato, incentivos que devem ser destinados ao fomento, à criação, e também à manutenção das atividades culturais e grupos. O importante éque haja recursos e a articulação destas informações com a comunidade artística, como também a abertura de empresas para projetos dessa natureza. A cultura é hoje um mercado, árduo, mas muito interessante e prazeroso.

No que consiste o projeto Candoco Unlimited?
Qual sua participação nesse projeto?


O Candoco Unlimited consiste na elaboração de duas pecas coreografadas pelo Marc Brew e a Clarie Cunningham, tendo a colaboração de um grupo de 12 bailarinos, na qual participo na condição de bailarina-intérprete, mais a equipe de produção escolhida.

Quando serão os primeiros ensaios e apresentações?

Cheguei em Londres no dia 1º de fevereiro, onde me encontrei com Carla Vendramin, artista com quem trabalharei no projeto Perpectivas, em Porto Alegre, em junho deste ano, juntamente com a bailarina Julie Claves a fim de iniciarmos as primeiras oficinas e produzirmos o material de divulgação. Um processo muito produtivo e prazeroso. Essa primeira etapa de ensaios com a Candoco iniciou em 7 de fevereiro e se estendeu até dia 19. Todos os envolvidos estão bastante empolgados.

Há limites para a expressão do corpo?

Para a expressão, não, mas acredito que tem limites para a movimentação do corpo. É algo da natureza humana. Porém, o que faz existir também o "depois do limite" é a criatividade do indivíduo e a capacidade de adaptação ao ambiente, o que reconstrói, destrói e gera outros limites. Os limites são temporários e instigadores.

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