junho 09, 2011

ENTRE O AGRESTE E O SERTÃO... UM CASTELO

UM SONHO ERGUIDO NO MEIO DO SERTÃO POTIGUAR
O menino apanhava lenha próximo ao Serrote dos Caboclos, em Pedro Avelino, quando apareceu a bela imagem de mulher vestida em uma roupa de tecido azulado transparente sobre o monte. Era a Virgem Maria. Ela indicava na rocha estranhos desenhos que só poderiam ser decifrados pelo garoto de 11 anos. A mensagem deixada por ela foi de que a Deus dá-se o nome de rocha. E toda a sabedoria estava no monte.

 SÍTIO NOVO
O "REINADO" DO VISIONÁRIO ZÉ DOS MONTES

 Por
Ana Luiza Cardoso

A história surreal não é reconhecida pela Igreja Católica, nem faz parte de ficção tirada dos livros. É contada pelo menino que viveu a fantástica experiência. Hoje, aos 67 anos, chama-se José Antônio Barreto. Na década de 60 passou a pregar no interior do Nordeste o poder das rochas e ganhou o apelido de Zé dos Montes.

Prefere ser chamado pelo apelido. Para perpetuar a sua missão tornou famosos treze pontos na região, onde, ou fez castelos ou encontrou belas formações rochosas onde juntava romeiros interessados em suas histórias.

O homem franzino, de 53 quilos, tem poder de persuasão no discurso de pregação. Visionário, profeta, marqueteiro. É difícil adjetivar quando trata-se de uma figura controversa como Zé dos Montes. Sua história de realismo fantástico concretizou-se através de lugares que são boa opção para visitas.

O castelo da Serra da Tapuia, em Sítio Novo, encravado no agreste, chama atenção por suas inúmeras torres brancas contrastando com o cinza dos serrotes do lugar.

Desafiando os arquitetos urbanos, ele teve a idéia de construir um castelo em meio as rochas. A capela, localizada no centro da construção, é a área de convergência de três grandes pedras. Numa delas, Zé dos Montes mandou esculpir um altar para homenagear Nossa Senhora.

Na sala, munido de um inseparável cajado, prega para os romeiros ou visitantes. O cetro é lembrança de uma das suas inúmeras viagens que ele diz ter feito ao exterior.

Como ele construiu os castelos é mais um dos seus mistérios. "O povo se admira como eu consigo fazer sozinho tudo isso". Zé não gosta de falar, mas no passado, já foi militar e hoje está aposentado.

É difícil decifrar se Zé é um personagem criado para tornar o castelo mais interessante ou se aconteceu a fusão do simples mortal com o homem das forças divinas. Sobre a própria vida, Zé dos Montes diz ter a explicação "que é simples e difícil ao mesmo tempo." Por nada no mundo diz onde nasceu. "Isso não é importante para história".

Em meio aos seus inúmeros mistérios de vida, Zé leva a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE para um passeio entre o chamado labirinto do castelo. O nome sugestivo não é para menos. Uma passada pelos locais escuros e estreitos pode fazer o visitante se perder caso não tenha guia.

Em alguns trechos é preciso ter preparo físico e disposição pois o chão de terra pode ser escorregadio. Sobre a idéia do labirinto, Zé dos Montes diz: "É novidade. Fiz porque o povo que visita gosta de novidade." O castelo foi construído em 1984, mas sempre tem uma reforma a ser feita. Há cinco anos Zé dos Montes fez a casa onde permanece por vários dias no "reinado" que construiu. Agora, os carrinhos de mão e material de construção dão pistas de que novos cômodos estão sendo erguidos. No local mais alto da construção toma forma uma torre. Posteriormente, Zé quer passar dias nessa parte do castelo.

Não há energia elétrica, nem água encanada no castelo. "Aqui é só vela". Próximo ao castelo fica uma casa simples onde mora o caseiro do lugar. Crianças vestidas com camisas estampadas com a foto de Zé dos Montes estão sendo treinadas por ele para tornarem-se no futuro perpetuadoras da sua visão e pelo amor a Deus, Nossa Senhora e aos montes.


VALE VERDE É O CARTÃO DE VISITAS DO CASTELO

O visitante do Castelo da Serra da Tapuia, em Sítio Novo, ganha logo no acesso ao pitoresco prédio uma paisagem bonita do agreste. A cidade de Sítio Novo, distante 118 quilômetros de Natal, fica bem próxima a várias serras, inclusive a de São Pedro, da Pitombeira, da Dona Inês. A cordilheira de serras deixa ainda mais bela a paisagem. O açude da cidade espraiado em meio ao verde completa o cenário.

O acesso a Serra da Tapuia foi melhorado e permite a descida e subida de carros. É necessário ter cuidado porque a elevação é íngreme. No trajeto até o castelo o visitante pode observar várias residências. As pessoas do lugar vivem, essencialmente, do plantio de fruteiras. As pinheiras carregadas podem ser vistas por várias partes.

A vida calma do lugar só é quebrada durante à noite. Acontecem muitas festas regadas a forró. Já existe iluminação em cima da serra. A partir do povoado da Serra da Tapuia se tem o acesso para o castelo. Em cima do monte, os moradores criam gado, cabras e galinhas.

 

CASA DE ZÉ DOS MONTES TAMBÉM É UM CASTELO 

A frente da casa de Zé dos Montes nas Quintas, é um castelo de gosto duvidoso, colorido e com vários paramentos de ferro. Ele foi construído em 1960, é ponto de referência do bairro, mas não é considerado por ele como um dos 13 pontos de atração para suas pregações. "É só casa de morada". No lugar ele guarda uma pedra de 23 quilos e 800 gramas que diz ter sido apresentada pela Virgem Maria durante a aparição. 

Os chamados pontos de atração — lugar onde ele recebe "toques" sobrenaturais onde ele fez pregações — incluem alguns lugares no Rio Grande do Norte. Entre eles, o chamado Serrote Coberto em Taipu e rochas subterrâneas em Igapó. Existe também um castelo em Serra da Rainha na Paraíba. Os demais "pontos" têm rochas mas são simples. 

Um destes lugares é a chamada Casa de Pedra no município de Jardim de Angicos. A serra que parece ter sido cortada a mão para permitir a entrada dos homens desafia a imaginação humana ao se manter em pé. 

Há 20 anos, Zé dos Montes fazia pregação no lugar. Hoje, ainda existem vários ex-votos e inscrições na pedra que louvam a Deus. A história da Casa de Pedra não é mais lembrada pelos poucos habitantes mais velhos de Jardim de Angicos. 

Os roteiros pelo interior do Nordeste escassearam a medida que a idade foi avançando para Zé dos Montes. Hoje, ele restringi-se mais ao eixo Natal/Serra da Tapuia. Entretanto, o "rei" do Agreste, faz questão de dar provas de coragem. 

Enquanto passeava no castelo, foi a um ponto alto, circundou uma torre desafiando o precipício. Para provar sua humildade, quebrou uma melancia jogando-a contra o serrote e comeu a fruta metendo as mãos na polpa. "Não gosto de faca. Só gosto de comer fruta rasgando com os dentes."

...fonte... 
 
...fotografia... 
Henrique Faria

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