GRUPO INSTRUMENTAL LEVA PARA O EXTERIOR A MUSICALIDADE
BRASILEIRA, ABRINDO ESPAÇO PARA A DIVULGAÇÃO DE MÚSICOS POTIGUARES
BRASILEIRA, ABRINDO ESPAÇO PARA A DIVULGAÇÃO DE MÚSICOS POTIGUARES
Fotografia: Giovanna Hackradt
O CHORINHO DE DIOGO & MACAXEIRA
Por
Henrique Arruda para o Novo Jornal
DIOGO HAVIA ACABADO de voltar do
Rio de Janeiro, após realizar um trabalho de quase dois anos com o cantor Oswaldo
Montenegro. Ticiano, Henrique, Marco e Raphael estavam em Natal, onde já
formavam o grupo Macaxeira Jazz. A trajetória musical dos cinco começou a se
entrelaçar em 2006, quando Diogo precisou fazer um show no projeto Som da Mata,
realizado no Parque das Dunas, mas não tinha banda para tocar com ele.
Outubro de 2012, Henrique Pacheco
e Diogo Guanabara estão sossegados no “escritório” do “Diogo Guanabara & Macaxeira
Jazz”, enquanto lembram à reportagem como tudo começou. Hoje, seis anos após o
primeiro show dos cinco no Parque das Dunas, eles dividem o tempo entre a
banda, a Escola de Música na UFRN e a gravação de dois novos álbuns.
O escritório, na verdade, é o
jardim da casa de Diogo: churrasqueira, cigarros, bolachas e a companhia indispensável
de Baden. “Ah, ele é quase como o sexto integrante da banda. Temos até uma
música em homenagem a ele, ‘Tema Para Baden’, é a primeira do nosso CD”,
explica Diogo, apontando para o cachorro que não para de encarar os “intrusos”
com suas máquinas fotográficas e caderninhos para anotações.
A diferença de idade entre a
dupla que lidera o grupo é de cinco anos, mas eles explicam que se conhecem
desde pequenos, já que seus pais eram amigos antes mesmo que os dois nascessem.
“Eu gostei muito da apresentação do Macaxeira Jazz, quando vi pela primeira
vez, logo que voltei do Rio de Janeiro, mas quando chamei a turma pra tocar
comigo levei em conta também essa aproximação com Henrique”, lembra Diogo.
“Diogo tinha uma carreira desde
os 10 anos e eu, Marco Antônio da Costa, Ticiano D’amore e Raphael Bender
formamos o Macaxeira Jazz dentro da Escola de Música da UFRN, mas antes tivemos
também outros projetos juntos, como a banda de rock Kassava - que era eu e
Ticiano e Diogo também participou algumas vezes... e por aí vai”, comenta Henrique.
A repercussão da primeira
apresentação naquele dia no Parque das Dunas foi imediata e o grupo que se
formou ‘nas carreiras’ para atender uma necessidade específica e se viu imerso
em vários convites. “Naquele dia o show era de Diogo. O Macaxeira estava lá
para acompanhá-lo, só que a conexão foi imediata entre o nosso som e o dele.
Corremos muito atrás do que a gente quer, mas aquele show foi o momento mais
especial porque a gente não tinha ideia que iria além daquele dia”, afirma
Henrique.
Além das viagens para tocar em diversos países europeus anualmente,
o Macaxeira Jazz também desenvolve o Intercâmbio de Choro Potiguar
Fotografia: Mariana do Vale
DO PARQUE DAS DUNAS PARA O MUNDO
Capanga Moderna é o nome do
primeiro registro do grupo instrumental, lançado em 2008 com nove canções
autorais. O ano também marca a estreia no mercado de “Home Vídeo”, com o
lançamento do primeiro DVD ao vivo. A gravação rendeu projeção internacional ao
grupo, que entre setembro e outubro daquele ano realizou uma turnê pelo Japão,
com shows em Tokyo, Hamamatsu e Yokohoma, além de dar uma passadinha também
pela Europa.
A recepção da musicalidade extremamente
brasileira pelo público internacional - vinda de um grupo que já leva
‘Macaxeira’ no nome - eles avaliam que é bem diferente. “Eles prestam atenção
em tudo, em cada nota e estão ali porque querem ouvir o seu trabalho”, conta
Diogo.
A maior prova da valorização dada
pelo público internacional à musicalidade brasileira é o próprio resultado das
vendas de CD’S nos shows. Além do primeiro álbum, o Macaxeira Jazz também
gravou um disco com versões dos Beatles, mais um amor em comum entre os
integrantes da banda. “A gente leva os dois CD’S pra vender e enquanto o
Capanga Moderna se esgota rapidamente, o dos Beatles fica sobrando na mala
porque não é isso que eles querem ouvir, eles querem ouvir a música feita
aqui”, afirmam.
A experiência no Japão até agora
foi a mais diferente de todas, porque se aqui no Brasil o comportamento em um
show é de festa, o mesmo eles não observaram por lá. “Quando você começa a
tocar, até o garçom para de servir para prestar atenção e ninguém dá um piu; só
no final, que aplaudem e voltam a conversar, mas durante a música, não. Aqui,
se a gente toca e o povo tá parado, é sinal de que não tá prestando”,
diferencia Henrique.
A explicação, segundo eles, está
na própria cultura. “Lá eles aprendem a ler partitura na escola, então o
japonês já vai para o show sabendo literalmente o que está ouvindo. Brasileiro
não, é muito mais levado pelo ritmo”, comentam.
Na Europa, a música do RN também começa a ganhar espaço
Fotografia: Mariana do Vale
SKIPE PARA ÁUSTRIA
Logo depois do primeiro álbum, Marco
Antônio da Costa foi fazer doutorado em música na Áustria, e desde então não
voltou. Ou melhor, nem pensa em voltar. Mas a distância não impede que ele
continue na banda. Para isso existe o skype. É através da ferramenta que os
músicos trocam opiniões e gravações. A distância também ajuda nas trocas culturais,
como a que aconteceu no ano passado, quando o grupo iniciou o projeto
“Intercâmbio do Choro Potiguar”, pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura
Djalma Maranhão.
“A participação de Marco é fundamental, e nesse novo CD que estamos gravando, ele participa ativamente. A gente grava a base, manda por skype, ele complementa e assim surge a música”, detalha Henrique.
Para o segundo CD em estúdio, que deve sair no início do ano que vem, quatro músicas foram gravadas na Áustria, com a presença de Marco, e o restante pré-produzidas pelo skype. “Gravar com todo mundo junto e em outro lugar é completamente diferente, porque as referências são outras, até seu instrumento parece que se comporta de uma outra maneira”, afirma Diogo.
O ano de 2012 tem sido de reconhecimento para os rapazes potiguares
Fotografia: Giovanna Hackradt
Fotografia: Giovanna Hackradt
DOIS NOVOS CDS ATÉ O INÍCIO DE 2013
Além do próximo CD autoral, ainda sem título, mas que deve ter em média dez músicas, o grupo acaba de gravar nesta semana a finalização do projeto “Intercâmbio do Choro Potiguar”. Através do intercâmbio, o grupo se apresentou pela Europa e músicos estrangeiros dividiram aqui o palco com eles.
Ao todo três artistas participaram
do projeto: a cantora eslovena Zvezdana Novakovi; o pianista holandês Martin
Fondse e o saxofonista japonês Kyota Nakagawa. Todos estão no CD.
No repertório, a releitura de Diogo
Guanabara & Macaxeira Jazz para os compositores potiguares Caximbinha, Tico
da Costa, João Gilvanklin e Chico Elion. “Serão oito músicas, duas de cada”,
detalha Diogo, dizendo ainda que o título do trabalho “Tocando o Choro
Potiguar” tem duplo sentido. “Tanto faz referência ao tocar a música, quanto de
dar continuidade mesmo a esse trabalho e esperar que, no futuro, outros músicos
façam o mesmo”, diz.
O foco em compositores locais
ocorre pela própria democracia da divulgação. “A gente toca muito choro, mas a
ideia foi de mostrar o choro potiguar, mesmo porque os outros tem seus
expoentes. Pixinguinha não precisa mais ser gravado, já Caximbinha foi o
primeiro a misturar o choro com Jazz, saindo da corrente mais tradicionalista”,
afirma Diogo, comentando também que um “volume 2” já está sendo pensado para homenagear
novos nomes.
O choro, aliás, eles não acham
que “está na moda”, mas classificam como um gênero da música em constante
“banho maria”. “O Buraco da Catita (Bar localizado na Ribeira) ajudou a popularizar
mais, mas tem sempre os focos de resistência. Nos anos 70,80 existia o Vila
Franca, Regional Sonoro e tantos outros (grupos), tudo por iniciativa dos próprios
músicos. Eu não diria que está na moda e nem que saiu. O choro é um patrimônio
cultural, a música instrumental brasileira começou dele”, conta.
Apagando um cigarro e tirando
algumas bolachas do pacote sob a mesa, Henrique observa Diogo agarrado ao
violão comentar a pretensão da banda: continuar crescendo. “É pra isso que
estamos fazendo Música na Escola de Música da UFRN, temos outras formações, mas
buscamos nos profissionalizar porque esse é o nosso trabalho”, diz Diogo.
“Antes mesmo de vocês chegarem a
gente tava aqui ensaiando uma música que vai cair na prova semana que vem”, complementa
Henrique. “Eu acho que as coisas são difíceis para quem não corre atrás. As
pessoas acham que nosso trabalho é somente subir num palco e tocar, aquilo é
somente o lazer. Trabalho é aqui, todo dia, pensando na qualidade da música, de
chegar três horas antes para passar o som... Temos CNPJ, temos uma empresa e
trabalhamos oito horas por dia, pelo menos, no Macaxeira Jazz”, conclui Diogo.
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