fevereiro 28, 2013

O SERTÃO, A SECA E A CERCA...

RETRATOS DA SECA
  Expedição da Faern exibe a triste realidade do campo
 A vida e a morte está sempre presente
 ...E é muito mais evidente nesta época.
Fotografia: Canindé soares

 RETRATOS DA SECA 

... edição especial ...

 Por
Assessoria Comunicação
FAERN

Seca. Para muitas pessoas essa palavra ecoa distante e sem força. Para outras ela é sinônimo de perdas e desesperança de um futuro. Para o grupo de jornalistas convidados pela Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Norte (Faern) para participarem da Expedição Retratos da Seca (que movimentou o interior potiguar no último final de semana) essa palavra é o alerta para se mobilizar toda a sociedade e os governantes.

Na viagem, iniciada na manhã da sexta-feira (22/02) e finalizada na tarde do domingo (24/02), os repórteres, fotógrafos e cinegrafistas de vários veículos de comunicação do estado puderam observar a triste realidade de produtores rurais e de toda uma cadeia econômica que definha através do gosto amargo da seca no campo potiguar. “Com a expedição, pretendemos mostrar aos jornalistas a real dimensão desse terrível problema. Uma realidade que muitos tentam esconder em números frios de estatísticas e que a cada dia abala mais e mais a nossa economia e a produção rural”, ressaltou o presidente da Faern, José Álvares Vieira.

Para o presidente da Federação da Agricultura, o setor vive um grave momento e as visitas da expedição somente confirmaram o que já era esperado. “Além do gado, que está morrendo de fome e sede, observamos o desalento na face de nossos produtores. Observamos o seu descrédito com o futuro. E essa é uma realidade que não podemos aceitar de braços cruzados e dormir como se nada tivesse acontecendo” comentou Vieira.  

EXPEDIÇÃO RETRATOS DA SECA
O cenário angustiante do produtor rural no Rio Grande do Norte
  As secas são conhecidas, no Brasil, desde o século XVI
Fotografia: Carlos Abdon

CAMPOS DA MORTE

Durante os três dias de viagem, a equipe de jornalistas visitou diversas propriedades espalhadas pelas zonas rurais dos municípios de Lajes, Santana do Matos, Assu, Apodi, Pau dos Ferros e Caicó. Nesses locais, conversaram com diversos produtores e ouviram os relatos sobre a seca considerada a pior dos últimos 50 anos.

Fotografaram e filmaram os verdadeiros campos da morte do gado potiguar. Cemitérios a céu aberto onde diversas carcaças de bois e vacas apodrecem e aguardam as bicadas de velozes urubus. “Uma imagem chocante e que exibiu para todos nós a fragilidade do homem do campo com essa seca”, destacou o jornalista Roberto Lucena, do jornal Tribuna do Norte.

Na região Central do estado, de acordo com o depoimento de vários produtores ouvidos em propriedades visitadas pela Expedição, 40% do rebanho foi dizimado pela seca. Segundo os cálculos deles,  os prejuízos só serão repostos em 10 anos e com invernos chuvosos.

Para verificar a veracidade dessa informação, a  primeira parada da Expedição foi a Fazenda Gavião, na zona rural de Lajes, onde o proprietário Edson Luiz Cavalcanti criava 150 cabeças em 740 hectares e hoje viu seu rebanho reduzido para apenas 42 cabeças. “O que não foi vendido morreu por falta de comida e água”, finalizou o produtor rural, obrigado a receber qualquer preço pelos animais vendidos.
 
SÍLVIO ANDRADE
 Um dos jornalistas,  integrante da Expedição Retratos da Seca,
 traça um perfil -  na coluna OPINÃO do Novo Jornal - sobre o que viu  e
 vivenciou da seca que castiga o solo potiguar. Confira o texto!
Fotografia: Argemiro Lima/NJ
  
A ALEGRIA NO SERTÃO ARCAICO 

 Por
Sílvio Andrade 
Novo Jornal  
 
O que eu vi na televisão, li nos jornais e nas revistas, ouvi nos rádios e tudo que é canal de informação não chega perto do que eu senti em três dias de viagem da Expedição Retratos da Seca. Já fiz muitas matérias sobre o assunto, fui a locais percorridos pela Expedição mas dessa vez, tudo me pareceu mais chocante.

Sexta-feira, sábado e domingo para mim, não foi de diversão mas de prazer reafirmado pela profissão que escolhi. Vivi uma experiência proporcionada pela Federação da Agricultura do RN, que levou jornalistas para ver e sentir a realidade de produtores agropecuaristas das regiões Central, Oeste e Seridó desse estado. Vi, ouvi, senti as dificuldades dessas pessoas que são consideradas grandes e médios proprietários. Mas no meio e em órbita delas vivem os pequenos, tão grandes de espírito que não dá pra definir com palavras.

Recebi uma lição: a seca castiga todo mundo. Seja grande ou pequeno. Cada um na proporção de seu tamanho. Mas não quero fazer nenhuma constatação sociológica, apenas relatar um pouco o que me tocou. O sol no sertão semiárido é diferente. Ele queima mais, ele brilha mais. Às 10h da manhã está a pino, tipo meio-dia por esses ares de Natal.
  
Lajes, Angicos, Santana do Matos, Apodi, Pau dos Ferros, Caicó. A vida nesses lugares é diferente por causa da seca. Poucos saem à rua. No conforto de um microônibus com ar-condicionado não dá pra sentir isso. Em cada um desses lugares, eu e os demais repórteres tínhamos que descer, entrevistar, fotografar. Aí, sim, o calor incomodava.

A situação provocada pela seca se agrava a cada dia, 
mas a fé do sertanejo o mantem de pé e mesmo com os indícios
de que 2013 seja um ano de pouca chuva, ele continua esperançoso 
 Fotografia: Canindé soares  
 
Cada pessoa entrevistada, cada história contada me serviu como exemplo de sabedoria. Mais que lamentações por causa da seca, eu ouvi esperança. Mais ali que em qualquer outro lugar. É por isso que não quero falar sobre a ineficiência de ações governamentais que só lembram da seca quando ela já está prestes a ir embora. 
 
Eu sempre me surpreendo com a energia emanada das pessoas que eu considero simples. Receber desconhecidos que invadem sua intimidade, suas casas, seu resguardo com um sorriso largo é para poucos que no interior são muitos. Desconfiam em um minuto e se abrem infinitamente depois.

É uma nobreza de espírito fácil de se encontrar no sertão arcaico e desconhecido para mim. Seu Sales de Zé Félix, um senhor de rosto marcado e voz mansa que na fazenda Alegre, nas brenhas de Pau dos Ferros, usa a natureza para fazer previsão do tempo. O casal Francisco Barbosa de Lima/Maria de Lourdes Torres, que abriu as portas da casa e sorrisos para um bando de forasteiros, em Apodi. A simpatia de Amariles Borges de Albuquerque que nos serviu bolacha frita e queijo de manteiga. A alegria de Francisco Paulo Freire em contar suas histórias e achar que estava incomodando. 

Não foi a estiagem que deixou a a paisagem cinza dos galhos e da terra seca que mais me marcou. Foi a enxurrada de alegria, de simpatia, de boas-vindas que eu e meus companheiros recebemos de presente dessas e de outras pessoas com as quais cruzamos nessa expedição. Quiçá um dia eu volte para lhes agradecer, mais uma vez, tê-las conhecido.

...fonte...
 www.novojornal.jor.br

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Um comentário:

  1. Eu sofro muito com essa situação, pois, sou do interior, filho de agricultor (falecido)e que já passou por isso e também, recentemente, visitei a região do Oeste (Mossoró + Apodi + Pau dos Ferros + Umarizal e minha terra Patu) e por alguns momentos, não consegui segurar as lágrimas. O sol pra essas bandas é realmente diferente, ele queima mais e brilha mais. Os animais passam o dia inteiro lutando por uma sombra. É isso José Vieira, o desalente dos nossos agricultores está presente na sua face. O que fazer? Continuarmos cantando as canções de Luiz Gonzaga? "Meu Deus", "Meu Deus" ...

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