SAYONARA PINHEIRO
A NOVA CURADORA DA PINACOTECA DO RIO GRANDE DO NORTE
A artista plástica assume a função de selecionar as exposições
e gerar um novo direcionamento para o acervo
Fotografia: Magnus Nascimento/TN
A NOVA CURADORA DA PINACOTECA DO RIO GRANDE DO NORTE
A artista plástica assume a função de selecionar as exposições
e gerar um novo direcionamento para o acervo
Fotografia: Magnus Nascimento/TN
ARTE NÃO É BRINCADEIRA
UM DIÁLOGO COM A ARTE CONTEMPORÂNEA
SEM ESQUECER A VERTENTE TRADICIONAL
SEM ESQUECER A VERTENTE TRADICIONAL
Por
Henrique Arruda
DO NOVO JORNAL
DO NOVO JORNAL
Contemporânea. Essa é a palavra que define a nova curadora da Pinacoteca
do Estado, Sayonara Pinheiro. “Na verdade essa é a primeira vez que a
Pinacoteca conta com a figura de um curador e isso já é um avanço
imenso”, observa com sua voz tranquila e baixinha, lembrando também de
como o seu envolvimento com a arte começou, há cerca de 20 anos, quando
ainda fazia parte do coletivo “Oxente”.
Desde os primeiros passos na arte, Sayonara surgiu contemporânea e é
esse o pensamento que ela leva para a nova missão que carrega a partir
de agora. Missão que, inclusive, considera um grande desafio,
principalmente pelas proporções históricas que o Palácio Potengi
congrega.
“Esse prédio é um dos principais equipamentos de
cultura do Estado, tanto pelo seu significado histórico quanto pela sua
contribuição de formação. É o local mais visitado depois do Forte dos
Reis Magos. Me preocupa muito essa responsabilidade porque é o acervo do
Estado, é o que ele tem para exibir publicamente, são as jóias, muito
embora não goste muito desse nome”, brinca.
A partir de agora,
Sayonara deve selecionar as obras que vão fazer parte do acervo da
Pinacoteca, bem como cuidar de algumas publicações de interesse da
galeria no campo das Artes Visuais e também ajudar os artistas a
encontrar o conceito que suas exposições pretendem passar. “É
basicamente isso que um curador faz”, pontua.
Enquanto alguns turistas vez ou outra passam pela conversa e até confundem a cena com alguma explicação histórica sobre um quadro ou outro, Sayonara volta até a segunda metade da década de 80 para se lembrar de como tudo começou, época em fundou junto com o amigo e artista visual Guaraci Gabriel o coletivo “Oxente”. “Posso dizer sem medo que foi a partir dali que começou a existir arte contemporânea no Rio Grande do Norte”, garante.
A
artista visual explica que o coletivo formado ainda por Civone Medeiros
e Cícero Cunha realizava intervenções pela cidade. A mais curiosa de
todas elas, e que Sayonara conta enquanto segura a gargalhada, aconteceu
onde hoje funciona o Solar João Galvão de Medeiros, na Avenida Câmara
Cascudo, Cidade Alta. Naquela época o prédio estava completamente
abandonado e até o piso era repleto de buracos.
“A gente sempre invadia prédios abandonados, não éramos revoltados, mas tinha uma coisa meio punk. Queríamos dizer nossas coisas através das nossas ações. Então invadimos esse prédio e criamos uma exposição, o nome era Vômito: O Declínio Sinfônico da Sociedade”, e então ela começa a rir.
A exposição reuniu vários artistas da época e foi bem difícil de ser montada. “Praticamente tivemos que morar na casa para entender aquele espaço e montar a exposição, foi lá que gravamos o primeiro vídeo arte da cidade, se chamou ‘sô:1,2,3....’. Era um alemão que estava de passagem por Natal e tinha uma câmera, o que era muito raro. Aí a gente convenceu ele a ir lá e gravar, inclusive gostaria bastante de rever esses vídeos”, afirma.
O trabalho do coletivo, eles mesmos definiam como “Captação ambiental”. “Produzíamos de acordo com o que estava ao nosso redor. Pegávamos o material que estava ao nosso entorno e construíamos alguma coisa”, argumenta.
Entre 1987 e 1991, ela não se lembra ao certo, o coletivo resolveu sair de Natal em busca de mais espaços para a sua arte e foi então que chegaram a participar da 20ª Bienal de Arte de São Paulo e de outros eventos do tipo no Rio de Janeiro e em Brasília, onde inclusive foram convidados a participar da primeira campanha política do presidente Lula.
“Ele estava na primeira campanha e eles entenderam que como nossa arte dialogava diretamente com o público, seria interessante que participássemos, mas a gente preferiu voltar para Natal, o que foi uma besteira total porque estávamos em todas as revistas de arte do país”, lembra, dizendo ainda que, mesmo muito jovens, eles nunca encararam a arte como uma brincadeira.
“Eu tinha meu emprego, trabalhava junto com Guaraci, e
por sinal ficava azucrinando o juízo dele para montarmos um coletivo e
ele só percebeu que era isso que queria quando eu o levei a uma
exposição onde hoje funciona a biblioteca Câmara Cascudo. Tínhamos muita
responsabilidade no que fazíamos”, avalia.
Retornando à cidade, Sayonara resolveu entrar na faculdade, mas foi reprovada no curso de Artes Plásticas da UFRN por seu traço ser considerado “forte demais”. “Naquela época tinha o vestibular e um teste de aptidão, mas eles não reconheceram minha arte”, brinca. A alternativa foi tentar algo fora do país. Acabou sendo aprovada no 2º lugar para a Academia Real de Belas Artes em Bruxelas, na Bélgica, onde morou seis anos.
Reforçando o fato de ser uma artista visual de observação, ela comenta que mais importante do que a formação acadêmica na Bélgica foram os momentos passados no “Ateliê 340”, uma espécie de pub, em Bruxelas, onde todos os artistas se encontravam, fossem contemporâneos, como Sayonara, ou tradicionais.
“Era um lugar com biblioteca, ateliê, espaço para exposição e isso para mim era novidade, porque era onde todo mundo se encontrava. Era como se estivéssemos em casa. Não importa a hora que você passasse por lá, sempre tinha gente para conversar e trocar experiências”, recorda.
Ao contrário do que fazia aqui, Sayonara não continuou com as intervenções urbanas durante a estadia em Bruxelas, salvo raras exceções como a realizada em parceria com uma ONG ambiental na “Grand Place”. “É a Praça Central de lá”, explica contando ainda que sua intervenção era composta de várias caixas de ovos cobertas por um pano preto para simbolizar a poluição.
“As caixas foram colocadas
formando pilhas, como se fossem os prédios e os ovos dentro delas
simbolizavam a vida; porque se um ovo é furado de dentro para fora
significa vida, se ele é furado de fora para dentro significa morte”,
explica.
Ao voltar para o Brasil, ela também foi convidada a participar de algumas exposições como a 3ª Bienal do Mercosul, realizada no Rio Grande do Sul e a fazer parte do primeiro Museu Virtual do país, o Imediata, da poeta visual Regina Vater. “Fiz um trabalho chamado ‘De Fio e De Teia’ que inclusive foi muito comentado na época e talvez tenha sido o meu trabalho mais expressivo, tinha ambientação sonora do poeta português Américo Rodrigues”, comenta.
PINACONTEMPORÂNEA
Mesmo sendo uma artista visual contemporânea e afirmando que vai
tentar dialogar principalmente com essa vertente, Sayonara aproveita
para esclarecer que isso não exclui os artistas tradicionais. “Pode
haver uma pintura extremamente contemporânea sendo ela acadêmica ou
naif, por exemplo. Só precisa ter sido produzida com esse olhar do
agora”, justifca.
Agora, pós carnaval, a Pinacoteca vai realizar uma mostra de vídeos de estudantes do Departamento de Artes [DEART] da UFRN. São documentários com cerca de 30 minutos de duração cada sobre vários artistas potiguares pesquisados pelos alunos.
“É um projeto de extensão lá e que envolvia diversos professores, como o próprio Vicente Vitoriano e um desses alunos nos procurou e achamos a proposta muito interessante. A gente pretende trazer o artista documentado para a exibição também até mesmo para aumentar esse diálogo dele com a sociedade”, conta sobre as sessões que vão acontecer semanalmente ao meio dia.
“A Pinacoteca não dialoga com a produção local e principalmente com o jovem e é ele quem está mais interessado em buscar o novo. O tradicional é importante, mas ele já está posto e se ficamos só com o que já está posto não há renovação. O que está sendo produzido agora precisa de incentivo”, critica.
Agora Sayonara trabalha em seu primeiro livro que vai contar a sua história e que também vai ajudar a catalogar o seu coletivo “Oxente”. “Porque não existe registro, então já comecei a reunir algumas coisas lá em casa e quem sabe em 2014 ou 2015 o livro não está pronto?”, diz a artista visual de 45 anos.
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Os direitos autorais são protegidos pela Lei n° 9.610/98, violá-los é crime!
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Vou visitá-la e conhecer melhor essa história "Oxente". Quem sabe se a Incubadora de Arte que estamos em implantando não vai poder ajudar no futuro!!
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