UM OLHAR SOBRE AS PESSOAS
Por
Mário Gerson
GAZETA DO OESTE
O passo lento pela escadaria de um
prédio da cidade denuncia – logo – que estamos diante de alguém que
observa a vida calmamente. Alguém que espera o momento certo, mas também
que acredita naquele instante “de sorte”, a imagem certa, o lugar
exato, a hora ideal, aquelas cenas que nos são entregues pela
Providência, como uma forma de nos alegrarmos por estarmos diante da
obra de arte maior: a própria vida.
José Bezerra Neto Segundo, ou apenas J.
B. Segundo, como assinava (e ainda assina), à época de jornalista, é um
desses casos interessantes da fotografia e da mídia impressa. Como
repórter, editou cadernos, escreveu matérias, mas foi com uma máquina
fotográfica nas mãos que se realizou ainda mais, de maneira que isso se
tornou não apenas um hobby, mas uma forma de ver o mundo, como um
terceiro olho, um dispositivo que ele aciona para entrar “na alma das
pessoas” e de lá “apreender as coisas mais belas”, pois ele entende que
“a máquina é apenas um recurso. É preciso técnica, mesmo que demore para
consegui-la. Já percepção, é uma junção de muitas coisas. Mas a
fotografia necessita de tudo isso e algo mais”. Claro, é preciso alma,
alma para sentir as outras almas...
Em viagens que faz pelo interior do
Estado, seja acompanhado ou não de colegas, ou mesmo pelas andanças na
zona rural de Mossoró, J. B. encontra a sua matéria-prima, o seu
substrato, aquilo de que precisa para compor sua obra: as pessoas.
No início de tudo, porém, tudo começou
com as próprias coisas, silhuetas de objetos, junções de camadas,
estudos de cores e formas, experimentos. Aos poucos, no entanto, ele se
aproximou das pessoas em seu trabalho e começou a colocá-las em suas
fotografias. Melhor dizendo, começou a chamá-las para participar de suas
imagens, pois uma das principais características do trabalho de J. B. é
justamente essa: as pessoas, de uma forma especial, acabam por
participar do momento e expõem, nesse caminho, o olhar, a alma, o ser
que paira na imagem, aquele gesto ou mesmo aquela forma de encarar o
fotógrafo e o momento... é uma criança que, sentada junto a outras, olha
para câmera, é uma mulher que, ao lado de outra que costura, olha para
câmera, enfim, são pessoas que entram nas fotografias não apenas com sua
imagem, mas com seus sentimentos.
Em 2009, ele comprou um celular com
câmera e começou a tirar fotos. “Eu já tinha certo interesse em
fotografia e pintura, a pintura como uma satisfação pessoal. Comecei a
perceber que prestava atenção aos detalhes das coisas. Não precisava de
um aparato, mas de uma máquina pequena, algo acoplado, para apreender,
de certa forma, a realidade. Se formos comparar com os equipamentos de
1940, estaria no céu, pois o material é diferente e vale reforçar que a
máquina, em si, não faz o fotógrafo”, destaca José Bezerra Neto Segundo.
"A COSTUREIRA"
foto contemplada com 1º lugar na categoria Profissional PB
no 35º Concurso Fotográfico da Cidade de Santa Maria/RS
Fotografia: J. B. Segundo
foto contemplada com 1º lugar na categoria Profissional PB
no 35º Concurso Fotográfico da Cidade de Santa Maria/RS
Fotografia: J. B. Segundo
APREENSÃO DA REALIDADE
O estudo nas formas e o aprimoramento –
através de contatos, também, com outros fotógrafos – fez com que J. B.
Segundo conseguisse repercussão com seu trabalho, principalmente nas
redes sociais, onde posta algumas fotos. “Hoje temos todas as
ferramentas para estudarmos, temos a internet que nos leva para outros
documentos, dados, livros.
Quando comecei a pesquisar, o primeiro
fotógrafo no qual me detive foi Henri Cartier-Bresson, considerado O
Olho do Século. Isso me fez também chegar a outros. Acredito que, na
questão de estudo, é preciso. Se não há interesse, não há foco. Não
julgo as pessoas que não estudam, de sorte que acredito que antes de
criticar é preciso ensinar, dar horizontes e se colocar no lugar do
outro”, afirma J. B. Segundo, que se considera “um pequeno beija-flor
que leva sua contribuição para apagar o fogo”.
Segundo ele, esse momento foi um dos
mais importantes de sua trajetória, pois lhe trouxe novas percepções.
“As pessoas, por exemplo, ainda não faziam parte de meu trabalho. Mas, a
partir daí, comecei a inseri-las”, explica.
...fonte...
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