FALVES SILVA
Ultrapassando a marca dos 70 anos, o artista divide-se
entre atividades de arte e literatura:
ilustrações para livros
e trabalhos na gráfica do Sebo Vermelho
Fotografia: Divulgação
FALVES
70 ANOS NA VANGUARDA
Por
Yuno Silva
TRIBUNA DO NORTE
“Sou operário da arte, um artista
economicamente inviável para os parâmetros do sistema”, disparou o artista
visual Falves Silva, sem perder a concentração no repetitivo trabalho de
intercalar as páginas de um novo livro impresso na gráfica da editora Sebo
Vermelho. Cercado por pilhas de papéis e no ritmo de uma antiga impressora
offset, Falves vive a expectativa de ultrapassar a fronteira dos 70 anos (27/10), com direito a exposições simultâneas na galeria
da Fundação Capitania das Artes e do IFRN-Cidade Alta – respectivamente a
retrospectiva “Cápsula da Memória” (31/10) e a “Sinais” (1º/11).
Figura importante para se
compreender o contexto poético-visual da vanguarda brasileira, que ajudou a
sacudir os alicerces da palavra nos anos sessenta ao participar ativamente da
criação e disseminação do Poema/Processo, para logo em seguida se entrincheirar
na arte postal, Falves abriu uma brecha no expediente para conversar com a
reportagem do VIVER sobre um pouco de tudo: o primeiro contato com os
quadrinhos, a participação na fundação do Cineclube Tirol, a repercussão
internacional de seus trabalhos e o silêncio de muitos estudiosos sobre o
“único movimento artístico criado em Natal” até agora – justamente o
Poema/Processo, que eclodiu em 1967 simultaneamente em Natal e no Rio de
Janeiro como uma espécie de dissidência da poesia concreta.
“As pessoas que circulam no
cenário de artes visuais podem até dizer que conhecem Falves Silva, mas a
cidade não faz ideia de sua verdadeira importância. Ele ultrapassou as
fronteiras do RN e do Brasil há muito tempo, estava na crista da onda quando a
arte brasileira estava se internacionalizando”, avaliou Sânzia Pinheiro,
curadora das exposições ainda em construção. “Ele tem um acervo incrível e se
as instituições públicas locais não tiverem atenção, esse material vai sair
daqui de Natal e isso não vai demorar muito”, avisa Sânzia.
QUADRINHOS E CINEMA
Nascido em Cacimba de Dentro,
Paraíba, ancorou em Natal ainda na infância. Autodidata, concluiu apenas o
primeiro grau, pois, na época, não pensava em fazer faculdade. “Naquele tempo
Natal só tinha, basicamente, os cursos de Medicina e Direito, e como já
trabalhava e meu interesse era arte, nem me preocupei”.
Fascinado por quadrinhos, aos
seis anos já rabiscava personagens que lia na “O Guri”, revistinha publicada
pela (revista) O Cruzeiro, e os personagens Capitão América, Buck Rogers,
Homem-Morcego (Batman), entre outros, até hoje servem de subsídios para seus
trabalhos.
No ramo gráfico desde os 15 anos,
trabalhava na Tipografia Galhardo, Ribeira, que funcionava no térreo da boate
Arpege, fato que facilitou seu contato com os livros. “Comecei a estudar na
base do autodidatismo, com leitura desordenada, até conhecer Edgar Alan Poe. A
partir daí passei a selecionar mais minhas leitura”.
Na década de 1960, envolvido com
a JOC (Juventude Operária Católica), foi convidado pelo Padre Barbosa, pároco
da Igreja Santa Terezinha, para integrar um grupo de jovens interessados em
cinema: “Em 1961 fundamos o Cineclube Tirol; eu, Juliano Siqueira, Moacy Cirne,
Franklin Capistrano, Hermano Paiva, Marcos Silva... era uma turma curiosa.
Quadrinhos e cinema são as principais influências do meu trabalho”.
ARTE ERÓTICA
A primeira exposição individual
veio em 1966, na galeria que funcionava na Praça André de Albuquerque, dentro
do projeto cultural do então prefeito Agnelo Alves. “Quando fiz um curso de
desenho por correspondência, no Instituo Monitor, fiquei sabendo que artista
podia mudar de nome. Lembrei que um artista no Ceará chamava Chico da Silva,
Chico Alves era o cantor, então virei Falves Silva na minha primeira
exposição”. Chancelada por Ney Leandro de Castro e Dailor Varela, a exposição,
prevista para ficar um mês em cartaz, foi encerrada em uma semana: “Acharam que
minhas colagens serviam como estímulo sexual para os estudantes. Tinha algo de
erótico, mas nada de sacanagem, era coisa mais simples, sem muito alarde. Mas
naquele tempo ditadura Militar e bem em frente a igreja católica... era de se
esperar”.
Na retrospectiva “Cápsula da
Memória”, na Funcarte, Falves Silva reúne reprodução do catálogo, o convite da
exposição e a foto da galeria. “Consegui recuperar a duras penas algumas cópias
daqueles trabalhos. No início produzia e dava aos amigos, muita coisa se perdeu.
Só a partir de 1970 que comecei a guardar”.
Em 1971 nova censura: Falves
precisou retirar dois trabalhos, uma colagem com a famosa foto de Jonh Lennon e
Yoko Ono nus de costas, e “outra com Jimi Hendrix fumando um baseado” para
poder passar no crivo do reitor. “Era época do psicodelismo e trabalhava
sintonizado com o que estava rolando”, justifica.
O POEMA CONCRETO, DE FALVES SILVA
Obras farão parte de duas exposições em cartaz na Funcarte e
no IFRN
(Reprodução)
POEMA/PROCESSO
Logo após a primeira exposição,
Moacy Cirne trouxe do Rio de Janeiro uma revista (“Invenção”) falando sobre
poesia concreta. “Essa revista, influenciou muito a gente: eu, Dailor (Varela),
Anchieta (Fernandes), Alexis Gurgel, Marcos Silva. Éramos uma equipe, e no ano
seguinte Moacy traz os livros (“A Ave” e “Solida) sobre o Poema/Processo de
Wlademir Dias-Pino. Nisso formamos grupos aqui em Natal e no Rio com esse
intercâmbio de Moacy”, explicou.
Em dezembro de 1967 entra em
cartaz a primeira exposição do Poema/Processo, simultaneamente em Natal e no
Rio; e dois anos depois o movimento chega a Argentina, através artistas como o
uruguaio Clemente Padin, que virá a Natal fazer palestra durante a exposição na
Capitania.
Falves afirma que “tem um grupo
aqui em Natal que nunca gostou do movimento. Muitos estudiosos e acadêmicos
simplesmente ignoram o Poema/Processo, silenciam, passam por cima. No entanto
temos dissertação de Mestrado, teses de Doutorado aqui na UFRN sobre o tema,
presença em publicações internacionais, que nenhum outro escritor do RN tem”.
O artista publicou vários livros,
e o primeiro, de 1982, “Elementos da Semiótica”, foi elogiado por Boris
Schnaiderman, tradutor de Maiakovski e Dostoiévski. “Ele não ia elogiar esse
livro de bobeira”, orgulha-se.
A partir de 1974 entra de cabeça
na arte correio. “Foi quando desbundei mesmo: digo que sou o artista do RN que
mais participou de exposições internacionais”. Até hoje continua recebendo e
enviando cartas, mas com menos frequencia devido “o lance da internet”:
“Particularmente não aderi a internet por falta de tempo. Trabalho bastante e
depois vou tomar cerveja, quando vou ter tempo?”, diverte-se.
Em julho deste ano Falves e
artistas postais de outras partes do Brasil protagonizaram o programa piloto do
projeto Brasil Visual, série documental
inédita formatada em 26 episódios sobre o universo das artes visuais
brasileiras que será exibida (a partir de agosto de 2014) na TV Brasil.
...fonte...
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