MARCIO BENJAMIN
O MALDITO SERTÃO DE UM JOVEM ESCRITOR POTIGUAR
Fotografia: NOVO JORNAL
A MULA SEM CABEÇA INVADE PARIS
Por
Jéssica Petrovna
NOVO JORNAL
O MALDITO SERTÃO DE UM JOVEM ESCRITOR POTIGUAR
Fotografia: NOVO JORNAL
A MULA SEM CABEÇA INVADE PARIS
Por
Jéssica Petrovna
NOVO JORNAL
A oportunidade surgiu quando o escritor participava do Festival Literário de Pipa. Marcio recebeu uma mensagem do professor parisiense, que na ocasião visitava Sagi – praia situada em Baía Formosa, próximo a Pipa – e se interessou em adquirir o livro após descobri-lo na internet. Pouco tempo depois do encontro, o professor retomou o contato e formalizou o convite para o Festival.
O evento acontece entre os dias 17 e 31 de março, com o objetivo de promover o estudo da literatura luso-brasileira e ocorre em uma das universidades mais antigas e famosas da França. Marcio é o primeiro nome potiguar a ter contos enviados para a universidade francesa, onde os alunos se empenham em traduzir suas histórias tipicamente nordestinas para o francês.
O convite para a Primavera Literária de Paris também levará Benjamin para o Salão do Livro da capital francesa, uma das maiores feiras literárias da Europa – e do mundo. Ano passado o evento teve 58h de programação e o Brasil foi o país homenageado, com 43 escritores brasileiros convidados, todos eles com livros publicados em francês.
Marcio ressalta a importância da experiência tanto por ser o primeiro potiguar no Festival, quanto por ir com um livro de terror, gênero que, segundo o autor, ainda não possuí muito espaço em eventos literários.
O livro escrito por ele, Maldito Sertão, surgiu a partir da união entre histórias contadas pela sua avó durante as férias no interior, que moldaram o fascínio do jovem autor pela leitura do gênero de terror e espanto. “Sempre fui fã de terror. Aos 13 anos já pedia livros de Stephen King de presente para minha mãe. (...) Desde que comecei a escrever surgiu o interesse de trazer isso, para mais perto da nossa fala, que pela própria estrutura não costuma ser escrita”, conta o autor.
A princípio, dois contos foram escritos para participar de uma publicação coletiva promovida por autores de São Paulo, que queriam reunir lendas brasileiras em um livro. Os outros autores desistiram do projeto e após um tempo, Marcio decidiu dar continuidade a ideia e seguiu com a produção de novas histórias. “É um livro que fala sobre lobisomem, mula sem cabeça, assombração, mas tudo com uma linguagem muito nossa e contadas como histórias de terror, não como folclore - que é muito importante, mas que geralmente se volta para o meio acadêmico em estudos folclóricos ou tem uma linguagem mais infantil. Apesar de ser de terror, é um livro muito solar. As histórias se passam durante o dia e tentam mostrar um pouco da força do nordestino”, relata Benjamim, classificando a obra com lendas rurais
INSPIRAÇÃO NA CULTURA POPULAR
O escritor busca inspiração nas histórias transmitidas entre as gerações, em pequenos acontecimentos cotidianos e nos clássicos da literatura, na crueza das histórias que não necessariamente são de terror.
Ele se considera um autor muito mais instintivo que técnico, uma vez que ao começar a escrever não tem uma estrutura programada para seguir.
Advogado, 36 anos, Márcio Benjamin explica que suas histórias surgem a partir de causos cotidianos, que para o autor são como fotografias prolongadas na forma de contos. São pedaços da realidade que vão sendo desenvolvidos.
“Eu morei um tempo em João Pessoa e pegava muito ônibus à noite para ir daqui até lá nos fins de semana. Em umas dessas viagens eu acordei no meio de um lugar que eu não sabia onde era e praticamente não tinha iluminação, mas tinha um cemitério muito claro na frente. Eu nunca vou saber a real história do lugar, mas a partir dessa imagem eu criei o conto de um homem que chega à cidade e descobre que os mortos estão voltando e que toda aquela iluminação foi pensada para que as pessoas tenham cuidado. Às vezes, uma história que tem um final comum poderia ter um final fantástico”, relata Márcio Benjamin.
De acordo com o autor o único ponto previamente definido é o final de suas histórias. Mesmo quando trabalha com narrativas que são amplamente disseminadas nos interiores ele tenta construir uma reviravolta. “E como as pessoas sabem que eu me interesso por isso, sempre me contam muitas histórias”, explica.
DIFICULDADE PARA FAZER A PUBLICAÇÃO
O escritor identifica que o gênero possui uma cena em expansão e que após a publicação do livro tanto conheceu muitos outros autores de terror como passou a compreender melhor a dinâmica das publicações. De acordo com Marcio, apesar do crescimento e da existência de editoras especializadas ainda é muito difícil publicar através de grandes selos. Neste contexto as editoras independentes e os mecanismos de divulgação e financiamento coletivo através da internet podem ser alternativas para quem está começando agora.
Marcio Benjamim também acredita que no cenário local precisa haver uma interação maior entre o público e os artistas. “A gente reclama muito que Natal não tem cultura, que não tem o que fazer, mas não temos o hábito de comprar livros, assistir peças, shows, etc. O expectador deve entender que o artista precisa de dinheiro e este, por sua vez, tem que encontrar meios de fazer com que sua arte seja vendável dentro do seu contexto e do seu ideal artístico. Não existe mais essa ideia romântica do artista incompreendido que ninguém lê”, analisa.
PROJETO DE ADAPTAR A OBRA
O selo “Ao Quadrado”, que também é vinculado à editora Jovens Escribas, está produzindo uma versão ilustrada de Maldito Sertão, com publicação prevista para o fim do ano, no formato de história em quadrinhos.
O autor também estuda uma adaptação para o cinema. A produção audiovisual terá formato de filme episódico, mas ano passado – mesmo tendo recebido a maior pontuação em um edital – o projeto não pôde ser realizado devido ao alto custo.
Além das adaptações, ele irá publicar a primeira novela. “Fome” é um romance curto e dinâmico, em uma cidade ilhada, sem nenhum tipo de comunicação. A inspiração é uma história de um município vizinho a João Câmara, onde foram instaladas duas torres telefônicas muito próximas e uma interfere no sinal da outra. Em um lugar fictício, que reproduz a mesma circunstância, acontece um apocalipse zumbi. O autor aborda ainda política e candomblé.
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Os direitos autorais são protegidos pela Lei nº 9.610/98, Violá-los é crime!
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