UMA NATAL POÉTICA EM
PLENA 2ª GUERRA MUNDIAL
Década de 40, Av Rio Branco, nº 795, Natal, Rio Grande do Norte
Nos intervalos dos combates no Atlântico, a boa vida dos norte-americanos
em um passeio pelo centro da capital potiguar, a principal base
aérea do hemisfério sul na Segunda Guerra Mundial.
Fotografia: Ivan Dimitri/Wittlesey House / NATIONAL GEOGRAPHIC
TEMPOS DE GUERRA, SEXO E CHICLETE
Por
Yuno Silva
TRIBUNA DO NORTE
Década de 40, Av Rio Branco, nº 795, Natal, Rio Grande do Norte
Nos intervalos dos combates no Atlântico, a boa vida dos norte-americanos
em um passeio pelo centro da capital potiguar, a principal base
aérea do hemisfério sul na Segunda Guerra Mundial.
Fotografia: Ivan Dimitri/Wittlesey House / NATIONAL GEOGRAPHIC
TEMPOS DE GUERRA, SEXO E CHICLETE
Por
Yuno Silva
TRIBUNA DO NORTE
Calça jeans, goma de mascar e fliperama, coca-cola, máquina de chope, foxtrote e jazz, meia de nylon, cigarros Marlboro e Lucky Strike. Festas aos montes, visitas de estrelas de cinema, jogatina, bebedeira e ‘saliências’ nas (oportunamente multiplicadas) casas de tolerância... Há muito mais a ser dito sobre os bastidores da 2ª Guerra Mundial em Natal, que a célebre imagem do encontro (em janeiro de 1943) entre os risonhos presidentes Getúlio Vargas e Franklin Delano Roosevelt pode sugerir. “Natal era como uma moça pudica que, da noite para o dia, arrumou um namorado liberal, escolado. Foi um período bem complicado para os rapazes daqui, não havia moças solteiras na cidade”, declarou o professor e escritor Protásio Pinheiro de Melo (1914-2006) para a revista National Geographic Brasil em 2001.
“No embalo da euforia estrangeira, os natalenses tornaram-se, digamos, brasileiros de vanguarda. Os homens aboliram a vestimenta formal do dia-a-dia e adotaram roupas cáqui, de inspiração militar-esportiva, e aprenderam a tratar-se por ‘my friend!’. Viver na capital do Rio Grande do Norte era, enfim, um grande barato”, escreveu o repórter Ronaldo Ribeiro na reportagem “Guerra e Paz” da National Geographic.
“Éramos muito conservadores, os gringos ensinaram nossas garotas a beijar!”, arrematou Protásio de Melo, autor de “Contribuição norte-americana à vida natalense”, livro que a Sebo Vermelho Edições faz chegar às livrarias (R$ 40). Esta é a segunda edição da obra, com tiragem limitada a 300 exemplares, publicada originalmente em 1993 pela Gráfica/Editora do Senado.
Na época a Senado ainda não comercializava os livros que lançava, eram distribuídos, fato que conferiu ao título certo ar de raridade. “Considero este livro um dos melhores relatos sobre o período da 2ª Guerra em Natal. Só comparável a ‘Os americanos em Natal’, do historiador Lenine Pinto”, valoriza o sebista e editor Abimael Silva, que em 2015 comemora 30 anos de atividades vermelhas. Silva reeditou “Contribuição norte-americana à vida natalense” com aval da viúva do professor Protásio, que abdicou da advocacia para se dedicar à área de Educação.
Av
Rio Branco, nº 795, Natal, Rio Grande do Norte
"NATAL
NA 2ª GRANDE GUERRA"
O
que hoje na cidade lembra esse período?
Veja
o registro que eu fiz, em fevereiro de 2012,
da
fachada do prédio que é retratada no início desta postagem.
Fotografia: José Carlos - Administrador do
blog Potiguarte
Em
188 páginas, recheadas por fotografias, detalhes cronológicos, depoimentos de
gente que testemunhou de perto aqueles tempos feéricos e memórias saborosas de
Protásio, o livro deixa para a posteridade um registro verossímil do impacto
sociocultural sentido pelos cerca de 50 mil habitantes que viviam nesta esquina
continental em decorrência da passagem dos mais de dez mil soldados yankees
pela capital do RN entre 1941 e 1947, ou desde início da construção da Base de
Parnamirim até a remoção e transporte dos corpos de soldados sepultados no
cemitério de Alecrim para os Estados Unidos.
Ex-professor
de português dos soldados e oficiais que serviram na Base de Parnamirim,
Protásio Pinheiro de Melo teve uma visão privilegiada da influência
norte-americana nas mudanças dos costumes e no cotidiano da província. “É um
livro riquíssimo em detalhes, que traz histórias engraçadas e depoimentos de
nomes bastante conhecidos do natalense como (o jornalista) Sanderson Negreiros,
(o colunista social) Jota Epifânio e (o poeta e publicitário) Nei Leandro de
Castro”, destacou Abimael. Na lista de depoentes ainda constam o artista
plástico Leopoldo Nelson, o jornalista e professor José Alexandre Garcia, o
comerciante Humberto Pignataro, o escritor Manoel Onofre Júnior e o médico
Grácio Barbalho, entre outros.
Abimael
Silva pretende reeditar 30 livros “importantes para se entender a história do
RN” ao longo de 2015 – “Contribuição norte-americana à vida natalense” é o
segundo lançamento desta série, que começou com “A caça nos sertões do Seridó”,
de Oswaldo Lamartine de Faria (1919-2007). O sebista e editor ainda planeja
publicar um livro inédito de Protásio de Melo sobre a história do
Atheneu.
DEPOIMENTOS
Jota
Epifânio
colunista
social e ex-funcionário da Base de Parnamirim no tempo da guerra
“Os
americanos eram muito festeiros. Tivemos aqui muitas celebridades do cinema e
da música americana como Ray Conniff, Glenn Miller, (e os atores) Robert Taylor
e Tyrone Power. Dancei numa festa com a estrela de cinema Ilona Massey, que
apareceu no filme ‘Balalaika’. Os visitantes faziam festas esplêndidas,
imensas, com fartos ‘buffets’ e os melhores uísques, presunto, perus e
refrigerantes em abundância. (…) Quem não gostava de ‘transar’ com os
americanos? Os rapazes eram lindos e discretos, do tipo ‘boca de siri’ e
pagavam muito bem. Eram loucos por felação. Depois dos americanos, Natal
tornou-se sexualmente livre.”
Nei
Leandro de Castro
Poeta,
escritor, jornalista e publicitário
“Em
Natal, quando os marines foram embora, deixaram como herança muitos caboclos de
olhos azuis e uma inflação que atingiu desde açougues até a 15 de novembro (rua
do meretrício). (…) Natal virava uma ‘Saigon’ ‘avant la letre’, influenciada
pela corrupção, zona e sífilis. Sem nenhuma perspectiva de resistência ao
invasor, a cidade era um maná para os marines. Compravam de tudo com as suas
maravilhosas cédulas verdes e, para variar quebravam o pau por qualquer razão.
Treinados para matar com golpes de mão, claro que sempre levavam vantagem nos
entreveros com caboclos e curibocas pacíficos e subnutridos.
Só
se tem notícia de uma briga em que o produto nacional levou a melhor. No
‘Wonder Bar’ [que funcionava no prédio hoje ocupado pela Escola de Dança do
TAM, na Rua Chile], um gringop tomou na marra a mulher do seu vizinho de mesa,
um brasileiro, o que aliás já tinha virado praxe. (…) O gringo respondeu ao
insulto com um soco na cara do nativo, que, com o rosto sangrando, já se
levantou de peixeira na mão. (…) O caboclo se aproximou do mocinho, de braços
levantados, e à altura do peito esquerdo enfiou a peixeira que entrou como se
fosse em manteiga.
...fonte...
www.tribunadonorte.com.br
Se copiar textos e ou fotografias, atribua os créditos!
Os direitos autorais são protegidos pela Lei nº 9.610/98, violá-los é crime!
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