Marcio Coelho, Williandi e Gilvan Lira encontro para festejar o prêmio da Maturi, resvista criada pelo trio |
A VIRADA DA HQ
Por
Maria Betânia Monteiro
Maria Betânia Monteiro
Eram como adolescentes. Falas incansáveis e emendadas, piadas constantes e uma alegria que vinha não se sabe de onde. Os desenhistas e roteiristas potiguares de histórias em quadrinhos, Marcio Coelho, Williandi e Gilvan Lira tentavam encadear o pensamento e organizar a fala durante entrevista cedida ao caderno Viver da Tribuna do Norte. Mas havia motivo: não se viam há algum tempo e festejavam o fato de terem recebido, juntos, ano passado, o Troféu Bigorna de melhor fanzine/revista independente de 2010. “O prêmio é algo semelhante ao Cannes, de melhor filme”, explicou Gilvan Lira.
O Bigorna de melhor fanzine/revista independente foi endereçado à revista Maturi – quadrinhos potiguares, contemplada pela Lei Câmara Cascudo e patrocinada pela Cosern. Na edição premiada, a revista reuniu um grupo de artistas que se dispôs a retratar em quadrinhos, aspectos da cultura potiguar capitaneados por Luís da Câmara Cascudo.
As histórias apresentadas na revista ressaltma a importância de Câmara Cascudo para o Brasil. Referenciadas no legado das pesquisas do folclorista, os roteiros trazem temas como cultura popular, religião e literatura. Os artistas promovem uma releitura de algumas de suas obras, utilizando uma linguagem versátil e estimulante, típica dos quadrinhos.
Em texto publicado na Maturi, eles dizem: “Seria presunção tentar dar conta em uma edição de todos os aspectos dos registros que Cascudo empreendeu de nossa cultura. Esta é apenas mais uma contribuição que enaltece a diversidade e riqueza cultural tão bem retratada nos seus escritos. Para nós, quadrinistas do Grupo de Pesquisa em História em Quadrinhos, trata-se de um privilégio contribuir com a disseminação e a leitura da obra de Cascudo”.
Assim como um longa-metragem, que recebe o prêmio de melhor filme é avaliado de forma inteira — roteiro, iluminação, trilha, direção — , O Bigorna de Melhor Revista seguea mesma avaliação. E, além das histórias, o que traz a Maturi? Roteiros bem escritos, boa edição e diagramação, material impresso em papel de qualidade e claro, desenhos, que revelam técnica apurada e talento.
A história “Jaguara”, escrita e desenhada por Marcio Coelho e pintada por Gilvan Lira é um exemplo da qualidade do trabalho. Marcio conta a história de um indiozinho entediado. Sem ter muito o que fazer, o índio resolve interferir na pacata de alguns insetos repousando sobre o tronco de uma árvore. Enfurecido, ele dá algumas pauladas nos bichos, voando um para cada lado. Uma velha vê a cena e fala da possibilidade do curupira querer fazer o mesmo com ele, meter pauladas em sua cabeça.
O indiozinho fica com medo, mas segue adiante. Vê um caju, retira da árvore e é seguindo por uma nuvem de marimbondo até a aldeia. O menino se joga no lago para se livrar dos ferrões, mas toda a aldeia é atacada. De cabeça baixa, aguarda ouvir o sermão dos mais velhos, que trazem marcas de ferroadas por todo o corpo. Mas, ao invés de bronca, ouve risadas. Os mais velhos preferiram se divertir com o fato de estarem parecendo com abacaxis.
A história do indiozinho é contada praticamente sem a presença de balões. O texto aparece apenas no final, mostrando como era o relacionamento dos índios com os seus familiares. Outro roteiro e desenho que merece ser destacado é “A Jornada”, de Gilvan Lira, mas esta é outra história...
As histórias apresentadas na revista ressaltma a importância de Câmara Cascudo para o Brasil. Referenciadas no legado das pesquisas do folclorista, os roteiros trazem temas como cultura popular, religião e literatura. Os artistas promovem uma releitura de algumas de suas obras, utilizando uma linguagem versátil e estimulante, típica dos quadrinhos.
Em texto publicado na Maturi, eles dizem: “Seria presunção tentar dar conta em uma edição de todos os aspectos dos registros que Cascudo empreendeu de nossa cultura. Esta é apenas mais uma contribuição que enaltece a diversidade e riqueza cultural tão bem retratada nos seus escritos. Para nós, quadrinistas do Grupo de Pesquisa em História em Quadrinhos, trata-se de um privilégio contribuir com a disseminação e a leitura da obra de Cascudo”.
Assim como um longa-metragem, que recebe o prêmio de melhor filme é avaliado de forma inteira — roteiro, iluminação, trilha, direção — , O Bigorna de Melhor Revista seguea mesma avaliação. E, além das histórias, o que traz a Maturi? Roteiros bem escritos, boa edição e diagramação, material impresso em papel de qualidade e claro, desenhos, que revelam técnica apurada e talento.
A história “Jaguara”, escrita e desenhada por Marcio Coelho e pintada por Gilvan Lira é um exemplo da qualidade do trabalho. Marcio conta a história de um indiozinho entediado. Sem ter muito o que fazer, o índio resolve interferir na pacata de alguns insetos repousando sobre o tronco de uma árvore. Enfurecido, ele dá algumas pauladas nos bichos, voando um para cada lado. Uma velha vê a cena e fala da possibilidade do curupira querer fazer o mesmo com ele, meter pauladas em sua cabeça.
O indiozinho fica com medo, mas segue adiante. Vê um caju, retira da árvore e é seguindo por uma nuvem de marimbondo até a aldeia. O menino se joga no lago para se livrar dos ferrões, mas toda a aldeia é atacada. De cabeça baixa, aguarda ouvir o sermão dos mais velhos, que trazem marcas de ferroadas por todo o corpo. Mas, ao invés de bronca, ouve risadas. Os mais velhos preferiram se divertir com o fato de estarem parecendo com abacaxis.
A história do indiozinho é contada praticamente sem a presença de balões. O texto aparece apenas no final, mostrando como era o relacionamento dos índios com os seus familiares. Outro roteiro e desenho que merece ser destacado é “A Jornada”, de Gilvan Lira, mas esta é outra história...
MATURAÇÃO
Apesar de ter recebido o prêmio de melhor revista alternativa em 2010, a Maturi é uma revista bem antiga no estado. Ela foi criada por Aucides Sales e Enock Domingos em 1976. Com formato 12cm x 8cm, seguia a linha underground, fazendo sucesso nos movimentos culturais alternativos, políticos e universitários em Natal e no Rio de Janeiro. A periodicidade era irregular. Apenas sete números foram publicados até 1977. “Na época, assim como hoje, não dava para ganhar o pão, fazendo quadrinhos”, explicou Marcio Coelho. O colaborador mais famoso da primeira leva da Maturi foi o mineiro Henfil, que participou durante os dois anos da revista.
Alguns adolescentes, amantes de histórias em quadrinhos reativaram o projeto anos mais tarde. Nomes como os de Gilvan Lira, Márcio Coelho, Ivan Cabral, Luiz Elson, Carlos Alberto, Adrovando e João Antônio reescreveram a história da Maturi. A diferença é que, diferente de seus precursores, os garotos resistiam a ideia de continuar com a linha editorial da revista. “A turma nova queria fazer super-heróis, ficção científica, enquanto que os mais velhos, como Emanuel Amaral e Aucides nos orientavam a dar continuidade ao conteúdo anterior, que se colocava como uma forma de resistência aos produtos já existentes no mercado”, disse Márcio: “nós éramos alienados mesmo”.
Alguns adolescentes, amantes de histórias em quadrinhos reativaram o projeto anos mais tarde. Nomes como os de Gilvan Lira, Márcio Coelho, Ivan Cabral, Luiz Elson, Carlos Alberto, Adrovando e João Antônio reescreveram a história da Maturi. A diferença é que, diferente de seus precursores, os garotos resistiam a ideia de continuar com a linha editorial da revista. “A turma nova queria fazer super-heróis, ficção científica, enquanto que os mais velhos, como Emanuel Amaral e Aucides nos orientavam a dar continuidade ao conteúdo anterior, que se colocava como uma forma de resistência aos produtos já existentes no mercado”, disse Márcio: “nós éramos alienados mesmo”.
DE VOLTA AO REGIONALISMO
Assim como a primeira leva da Maturi, a segunda também deixou de ser publicada. Praticamente 20 anos se passaram até que, os não mais adolescentes, resolveram criar o Projeto Revista Maturi para frente e submetê-lo à Lei Câmara Cascudo. A lei garantiu subsídios para que fossem publicadas seis volumes da revista. A exigência da empresa patrocinadora é que o material fosse de excelente qualidade e que o regionalismo temático voltasse a figurar nos quadrinhos. “Regionalizamos, mas os temas tratados são universais”, garantiu Williandi.
Até agora foram publicadas quatro revistas, sendo que a quinta e a sexta já estão no forno. Elas devem chegar às bancas de revistas e livrarias da cidade até o próximo mês de março. Os interessados em adquirir as já publicadas, podem entrar em contato com Márcio, Gilvan ou Williandi através dos seguintes e-mails: mmarciocoelho@gmail.com, gilvanlira.m@gmail.com e wolfenx@pop.com.br.
Os mesmo e-mails podem ser utilizados para os artistas que desejarem ter suas histórias publicadas na próxima edição da Maturi. A revista tem um conselho editorial, que seleciona e orienta os quadrinistas interessados na publicação.
Até agora foram publicadas quatro revistas, sendo que a quinta e a sexta já estão no forno. Elas devem chegar às bancas de revistas e livrarias da cidade até o próximo mês de março. Os interessados em adquirir as já publicadas, podem entrar em contato com Márcio, Gilvan ou Williandi através dos seguintes e-mails: mmarciocoelho@gmail.com, gilvanlira.m@gmail.com e wolfenx@pop.com.br.
Os mesmo e-mails podem ser utilizados para os artistas que desejarem ter suas histórias publicadas na próxima edição da Maturi. A revista tem um conselho editorial, que seleciona e orienta os quadrinistas interessados na publicação.
MAURÍCIO DE SOUSA ATESTA A QUALIDADE
A prova de que os potiguares são muito bons no que fazem foi o convite feito a Márcio Coelho e Williandi (editore da Maturi) para compor os livros Mauricio de Sousa por Mais 50 Artistas e Maurício de Sousa por Novos 50. Os artistas convidados criam histórias com personagens de Maurício de Sousa, homenageado o cinquentenário da carreira do criador da Turma da Mônica. O mentor deste álbum é Sidney Gusman.
...fonte...
Maria Betânia Monteiro
...fotografia...
Emanuel Amaral
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