março 30, 2012

TOTALMENTE E ABSOLUTAMENTE AUTORIZADO!

SUCULENTO E ABSOLUTAMENTE AUTORIZADO
Novo álbum de Luiz Gadelha já pode ser degustado, sem custos, pela internet

SUCULENTO E DE GRAÇA

Por
Sérgio Vilar

Tá com fome agora? Quer algo bem suculento? A solução está na tela fria da internet. Isso mesmo: nesta rede mundial de infinitas possibilidades, mas nenhuma propriamente degustativa, se convenha. Mas acredite: o alimento ainda está quentinho, saído do forno. E bastam umas clicadas e você encontra. A receita foi criada pelo compositor e cantor Luiz Gadelha, fritada por Anderson Foca e está pronta para servir de alimento sonoro/sentimental a quem quiser. De graça. E suculento. Tem ainda quem goste da beleza do prato. Então, nada melhor que a tinta e o pincel da artista de rua Sinhá.

Esses são os ingredientes do novo CD de Luiz Gadelha, Suculento. São dez pedaços açucarados de sons distintos, mas unidos em essência. E o melhor: o molho de cada canção foi feito na hora, no improviso. Gadelha disse ter levado ao estúdio as dez canções ainda em estado cru - voz e violão. Até pensou em gravar todas elas assim mesmo, sem nem tempero. Quando o chef Anderson Foca escutou, sugeriu acréscimos. "Eu e Foca escutávamos a música, decidíamos o que precisava e ia colocando. Quando precisava de bateria, ligava para alguém vir tocar, ali na hora mesmo. Foi assim".

Todo cozinheiro tem um pouco de intuição no preparo. E nessa pegada se deu a elaboração de cada faixa. "Meu trabalho estava pronto: a composição. Depois eu quis uma luz para saber o que fazer dali pra frente. A ideia era de que ficasse o mais simples possível". E os temperos foram sendo experimentados, basicamente por sugestão do próprio Luiz Gadelha e de Anderson Foca. Guitarras, efeitos, distorções, bateria eletrônica e a combinação de gostos rendeu um álbum agridoce: faixas mais alegres, outras mais melancólicas. E todas com as marcas notórias do compositor.

Luiz Gadelha é enfático se alguém insinua alguma semelhança entre Suculento e o primeiro álbum de sua banda Talma&Gadelha, Matando o Amor. "É totalmente diferente. Todos os músicos foram diferentes. A exceção foi Emilly, na bateria de algumas faixas. E não vejo nenhum elemento correlato entre os dois álbuns. Inclusive tivemos muito cuidado neste sentido. Não queria parecer uma sequência da banda". Se há similaridades é na pegada pop, sobretudo nas letras, embora o disco solo soe mais experimental. Mas, explicações dadas, os pratos limpos foram postos à mesa.

Aliás, Luiz Gadelha lembrou ainda que Simona Talma - a outra líder da banda Talma&Gadelha - gravará seu álbum solo na sequência. E nenhum dos dois trabalhos solos irão prejudicar a agenda da banda. O show de lançamento do disco de Luiz Gadelha será dia 14 de abril, no Centro Cultural Dosol (Ribeira). E após mais dois ou três shows de divulgação e a gravação do disco de Simona, a banda se reúne para iniciar as composições do segundo álbum, em julho. "Minha pretensão de carreira solo é zero", enfatiza Gadelha.
 
"Classificar Suculento? Bom, o nome já diz muita coisa."
 fotografia: Diego Marcel

ESVAZIAR IDÉIAS

A gravação do álbum solo funcionou mesmo para esvaziar ideias, vontades próprias e longe da proposta da banda. "Classificar Suculento? Bom, o nome já diz muita coisa. Associo esse 'suculento' não ao conteúdo, mas ao processo de construir as músicas intuitivamente. Foi uma experiência nova e boa. No fim, escutávamos e dizíamos: 'E agora?'. Aí ligávamos para alguém vir colocar bateria, efeitos. E desse jeito ficou delicioso, suculento", brinca o autor, que disse sonhar essas composições na interpretação da baiana Andréa Martins. "Ficaria satisfeito só de ela ouvir. É uma grande compositora e cantora".

Outro sonho - este realizado e exposto na capa do disco - foi receber uma obra de arte da artista Sinhá. "Mostrei algumas músicas para ela, ainda sem mixagem; disse o que seria o disco, e que o que viesse dela, a partir daí, eu iria gostar. É uma honra pra mim ter uma obra de Sinhá exclusiva pro meu disco. E foi tudo feito em comunicação por email, já que ela mora em São Paulo. Ficou uma capa realmente suculenta", se orgulha o músico com seu primeiro álbum lançado, já que o Flor de Mim, lançado na década de 1990, ele disse ser outro já que o nome artístico era diferente - uma relíquia quase Cult de um tal Wellington Luiz. 

O CD Suculento foi gravado pelo Projeto Incubadora, criado no ano passado pelo combo Dosol com o intuito de replicar o conhecimento adquirido no segmento musical e de gestão, acumulado nos últimos dez anos de atividade do Dosol, comandado pelo produtor Anderson Foca. Os discos produzidos pelo Incubadora são totalmente bancados com verba própria do Dosol.

A metodologia é simples: o selo atua em todas as etapas do projeto de cada artista, desde o design da capa até a feitura de vídeos promocionais, ao acompanhamento no estúdio, mixagem, master e agendamento de divulgação de cada trabalho. Segundo Anderson Foca, "O propósito é dar um start mais rápido à carreira da turma, já que já 'pagamos essa matéria' antes", brinca o produtor.

O Projeto Incubadora já lançou álbuns das bandas Monster Coyote, Hossegor, Talma & Gadelha e Venice Under Water. Todas em 2011. Este ano já foram lançados os discos do Red Boots, de Luiz Gadelha. A expectativa é de que sejam lançados ainda em 2012, o disco do 30 de outubro, do High Desert,do Hey Apple e o solo de Simona Talma, além do segundo trabalho do Talma & Gadelha.


 ...serviço...
 ...Baixe o CD Suculento...
TOTALMENTE E ABSOLUTAMENTE AUTORIZADO
  www.wix.com/luizgadelha/suculent

...fonte...
Sérgio Vilar
sergiovilar.rn@dabr.com.br
www.diariodenatal.com.br

março 29, 2012

TITINA MEDEIROS: CHEIA DE CHARME

 Titina no papel da doméstica que inferniza a vida das colegas
Socorro promete aprontar muito em Cheias de Charme 
fotografia: Cheias de Charme / TV Globo

 TITINA MEDEIROS SERÁ SOCORRO EM CHEIAS DE CHARME

Por
Tribuna do Norte

Cheias de Charme, a próxima novela das 19h da Rede Globo, deverá ganhar no mínimo algumas centenas a mais de espectadores norte-riograndenses. Com estreia confirmada para 16 de abril, a novela que vai substituir  Aquele Beijo marcará a estreia da atriz potiguar, natural de Acari, Titina Medeiros, que já chega com estatus de "quinta protagonista", segundo reportagem postada ontem no portal da revista Veja. "É como os autores Filipe Miguez e Izabel Oliveira vêm chamando a personagem dela, Socorro, uma empregada sem jeito para o trabalho doméstico - cozinha mal, é preguiçosa e atrapalhada".

Com um pé na vilania e fã da cantora de eletroforró Chayene (papel vivido por Cláudia Abreu, numa caracterização semelhante à Joelma, da banda Calipso), ela inferniza a vida de outra doméstica, a Rosário, que trabalha na casa da cantora.

Segundo a sinopse no portal de Cheias de Charme, Titina será "a pedra no sapato de patroas e empregadas" do condomínio. Como diriam por aqui, Socorro é o cão chupando manga.  Ao contrário de Cida (Isabelle Drummond), Penha (Taís Araújo) e Rosário (Leandra Leal) e tantas outras empregadas domésticas que ralam pesado para pagar as contas no fim do mês, ela está sempre maquinando uma forma de se dar bem sem esforço.

Com 16 anos de carreira no teatro potiguar e destaque nacional na companhia Clowns de Shakespeare, Titina Medeiros faz sua primeira novela. Para a atriz, Socorro tem um quê de folclórico. "Ela é o Saci-Pererê, que é uma figura mítica que vem para provocar o caos. E é um malvado que ninguém percebe como malvado. Ele é visto com graça. A Socorro é essa figura popular dentro da novela. Ela faz errado, mas ela é engraçada, ela é humana", explica Titina que aposta que a empregada irá conquistar o público pelo humor.

Em reportagem publicada no VIVER, em janeiro deste ano, Titina lembrou como foi chamada para o papel:  "No ano passado estávamos participando do Festival de Teatro de Curitiba e dois produtores da TV Globo me convidaram para um teste".

Além de Cláudia Abreu, Leandra Leal e Titina Medeiros, Cheias de Charme tem Taís Araújo e Isabelle Drummond nos papeis principais. Cheias de Charme acompanha a vida dessas  empregadas domésticas do mesmo condomínio, que vão se conhecer e formar um trio musical de sucesso.  O empresário delas será Tom Bastos (Bruno Mazzeo), que tentará se aproveitar ao máximo do talento das meninas. O trio também terá que encarar a inveja da patroa Chayenne (Cláudia Abreu), rainha do eletroforró.

A história é escrita por Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, que estreiam como autores titulares de uma trama, e é dirigida por Denise Saraceni.


...fonte...
Com informações do portal TVGlobo/Cheias de Charme

 ...visite...

março 28, 2012

...E A MÚSICA CHOROU

  A Potiguar Ademilde Fonseca conquistou todo o Brasil com seus chorinhos

"O ADEUS DA RAINHA"

A cantora Ademilde Fonseca morreu no final da noite desta terça-feira (27/03), no Rio de Janeiro, informou a família. Segunda a neta, Ana Cristina, Ademilde sofreu um mal súbito e morreu em casa, no bairro da Lagoa, por volta das 23h.

Conhecida como a "Rainha do chorinho", ela tinha 91 anos e sofria problemas cardíacos. Ademilde era potiguar de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte.

A "Rainha do choro" iniciou sua carreira na década de 40 e continuava normalmente suas atividades, fazendo shows, participando inclusive da gravação de dois programas da Globo News nesta segunda-feira (26). Na semana passada, fez shows em Porto Alegre.

Criadora do choro cantado também foi a primeira cantora nordestina a encantar o país com esse gênero gracioso, brejeiro e bastante difícil de ser cantado. Ademilde deixa uma filha, a também cantora Eymar Fonseca, três netas e quatro bisnetos.

***   ***   ***

 Ademilde Fonseca durante o concurso Rainha e Rei do Rádio de 1957
Imagem: Arquivo/D.A Press

ADEMILDE FONSECA
A RAINHA DO CHORINHO

Tudo começou quando Ademilde foi fazer um teste com o Renato Murce na Rádio Clube do Brasil. Cantou o samba Batucada em Mangueira, do repertório da Odete Amaral, acompanhada pelo Benedito Lacerda, e passou; desde então eles ficaram amigos, e passaram a cantar juntos em clubes e festas particulares.

Ademilde Fonseca Delfino nasceu em  São Gonçalo do Amarante, no estado do Rio Grande do Norte, em 4 de março de 1921. Ademilde conquistou com suas interpretações a consagração como a maior intérprete do choro cantado, recebendo do instrumentista Benedito Lacerda o título de "Rainha do Chorinho".

Aos quatro anos de idade, foi viver com a família em Natal (RN) onde morou até o início da década de 1940. Desde criança gostava de cantar. Ainda na adolescência, começou a se interessar pelas serestas e travou conhecimento com músicos locais.

Pouco mais tarde se casou com o violonista Naldimar Gideão Delfino, mudando o nome para Ademilde Fonseca Delfino. Com ele se mudou para o Rio de Janeiro em 1941.

Ao separar-se de Naldimar, adotou o nome artístico de Ademilde Fonseca como seu nome documental. Seu nome oficial sofreu duas alterações ao longo da vida. Foi registrada como Ademilde Ferreira da Fonseca.

Ademilde trabalhou por mais de dez anos na TV Tupi e seus discos renderam mais de meio milhão de cópias. Além de fazer sucesso em terras nacionais, regravou grandes sucessos internacionais e se apresentou em outros países.

Ademilde Fonseca tirou de letra aqueles intervalos criados normalmente para serem executados por instrumentos, que não têm as limitações da escala vocal. Com um aparelho vocal para lá de privilegiado, ela ainda conseguiu manter uma dicção impecável e clara em suas interpretações.

Em 2001 Ademilde, por conta de seu aniversário, foi recebida na Rua do Choro, com direito a um recital dos chorões locais. E em Pirituba, lugarejo próximo a Natal (RN), onde nasceu, uma praça foi batizada com seu nome. Ela aproveitou a viagem a sua terra e abriu o Projeto Seis e Meia em Natal, no Teatro Alberto Maranhão.

Eymar Fonseca, Ademilde Fonseca e Jô Soares
 "O fato de colocar voz no chorinho foi uma casualidade"
"Eu já vim de Natal, uma cantora pronta"

Em 1942, quando tinha 21 anos de idade, Ademilde, que já morava no Rio, decidiu cantar durante uma festa, acompanhada por Benedito Lacerda e seu regional, uma música que conhecia desde criança: o choro Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu. Acabou sendo levada aos estúdios de gravação para registrar a tal façanha. Sucesso total. A partir daí, vieram outros lançamentos imortais, como Apanhei-te Cavaquinho, Urubu Malandro (com letra), Rato, Rato, Teco-Teco, Pedacinhos do Céu, Acariciando, além de Brasileirinho e do baião Delicado. Essas duas últimas acabaram rodando o mundo em sucessivas regravações internacionais.

Ademilde teve algumas chances de se apresentar fora do país. Em 52, cantou em Paris, numa festa dada por Assis Chateaubriand aos vips locais, e, em 84, abriu o carnaval brasileiro de Nova York.

Ela ainda atuou muitos anos nas rádios Tupi e Nacional, até o fechamento dessa última, em 1964. Depois, chegou a defender um belo choro de Pixinguinha e Hermínio Bello de Carvalho (Fala Baixinho) no II Festival Internacional da Canção da TV Globo, em 1967, e teve um expressivo revival nos anos 70 com apresentações concorridas no Teatro Opinião, gravando dois novos discos.

Chegou a pensar em se aposentar, mas nunca a deixaram abandonar a música. Claro, ela é única no estilo que consagrou. Ademilde diz que só não foi mais longe por pura acomodação. E que só recentemente se deu conta de seu valor e de que ninguém jamais cantou choro como ela. Ao mesmo tempo, a cantora não estranha as novas tendências musicais como o funk e o rap. Acha tudo muito natural, parte das mudanças que a música veio sofrendo ao longo dos tempos.

Aliás, serenidade é uma boa palavra para definir o jeito de Ademilde, embora ela seja uma pessoa muito ativa. Não pára em casa e está sempre atenta às novidades do mundo via TV. Romântica, porque ninguém é de ferro, ela admite que não resiste a vozes como as de Orlando Silva e Lucho Gatica.

Em entrevista ao Cliquemusic (2001) Ademilde disse: "É uma música falada e não cantada que está dominando atualmente. São ligeirinhas as palavras, as letras falam sempre de uma história daquele momento, do morro, da cidade, da vida política... Tudo em música é válido. A gente não pode pichar, porque está tudo dentro do contexto da nossa atualidade. Saiu de moda o culto à voz, o cantor de boa voz parece que não vai para frente. Hoje o pessoal prefere mais assistir a uma menina nuazinha, com o corpo quase todo de fora, dizendo letras como "Dói, um tapinha não dói"... (risos) Mas é o sinal da mudança dos tempos".


COMIDA PARA ELEFANTE

PROTESTO
 Artista faz greve de fome no dia do teatro
Ênio Cavalcante passou 24 horas em frente ao Teatro Alberto Maranhão
Fotografia: Alex Régis
 
 GREVE DE FOME NO DIA DO TEATRO

Por
Yuno Silva
Kamilla Lima

O elefante está com fome, fome de arte e de teatro. Esse foi o mote do protesto solitário e contundente que o ator Ênio Cavalcante protagonizou durante toda a terça-feira (27), Dia Mundial do Teatro, em frente ao Teatro Alberto Maranhão na Ribeira. Em jejum, vestindo uma bandeira do RN e sugestivamente 'disfarçado' com uma cabeça de elefante feita de papelão e fita adesiva, o ator, segundo suas próprias palavras, estava ali "representando uma parcela significativa dos artistas potiguares insatisfeitos com a política do pão e circo imposta pelos gestores."

 Distribuindo aos pedestres uma carta manifesto onde narra a aflição de um amigo "sufocado pelo cotidiano e necessitado de arte", Ênio estava ali anônimo, prostrado na calçada do TAM, levando à cabo sua indignação diante da "falta generalizada" de políticas públicas para o segmento cultural. "Estou aqui protestando contra a falta de políticas culturais contínuas; cobrando o pagamento dos editais pendentes desde 2009; batalhando para que toda escola ofereça oficinas de arte aos seus alunos; contra a intolerância e o preconceito."

E a intenção do ator vai além: "Quero chamar atenção não só do Governo, mas também da sociedade que precisa acordar, crer nela, crer na evolução através da arte e da cultura." Para Ênio-elefante, "falta perspectiva artística ao RN, a arte é um bom caminho para o desenvolvimento, mas os gestores públicos ainda não perceberam isso", indigna-se. Entre as justificativas para o protesto também estão a ausência de projetos da Fundação José Augusto para viabilizar a reabertura do Centro Experimental de Pesquisa e Formação Teatral, fechado há mais de três anos; o atraso no início do período letivo da Escola Municipal de Teatro Carlos Nereu de Sousa, na zona Norte, por falta de equipe; e o não funcionamento do Teatro Sandoval Wanderley, de portas fechadas desde o início de 2009.

REAÇÃO

Ao ser questionado sobre como a população estava reagindo ao protesto, Ênio informou que a única pessoa que parou para falar com ele foi um pastor de uma igreja que fica próxima ao TAM. "Ele tentou me evangelizar, tentou me convencer a tirar a máscara. Fora isso, algumas pessoas olhavam para mim e faziam movimentos com a cabeça em sinal de aprovação".

Em um país onde a maioria da população tem que escolher entre comprar o pão de cada dia e ir ao teatro, Ênio ainda foi enfático ao declarar que "as atividades culturais precisam de incentivo de gestores para que sejam barateadas e, assim, de acesso a todos. Mas para isso é necessário que se faça também uma mobilização social". 


...fonte...

março 27, 2012

SANFONA, ZABUMBA & TRIÂNGULO

BANDA BAIÃO EM TRIO
O baião resiste ao modismo e ao  tempo, 
mostrando em toda a sua trajetória  a força e a poesia da música nordestina
 
BAIÃO EM TRIO
  
Por
Cristiano Xavier
Jornal Gazeta do Oeste 

Com proposta musical baseada na cultura nordestina, os professores de música Guido Alves, Magnaldo Araújo e Hallyson Dantas fundaram a banda Baião em Trio e já se apresentam com um repertório diversificado. "Queremos produzir um som diferente", diz um dos fundadores do grupo, Guido Alves. Para ele, a formação de Baião em Trio é uma nova opção musical para os que gostam e curtem "um bom som". "Começamos a pensar essa formação a partir de uma viagem que fizemos juntos. Então, durante uma das edições do programa Pedagogia da Gestão resolvemos fundar oficialmente o grupo", revela Guido, que também faz parte do projeto Ecoarte. "Esse envolvimento com a música começou desde cedo. Hoje compartilhamos o amor pelo que fazemos através não só da banda, mas também do projeto Ecoarte, que ensina a jovens, adultos e crianças a arte musical, em especial, do violão, em praça pública e de forma gratuita", comenta o músico.

Guido salienta que o nome da banda é uma homenagem ao centenário do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. "Mas isso não quer dizer que no nosso repertório tenha apenas baião... Estamos trabalhando músicas de outros compositores, com novas roupagens. O repertório que estamos montando conta com músicas diversas, para todos os públicos", salienta.

Além da boa seleção musical que apresentam durante os shows, Baião em Trio também prima, segundo Guido, pela formação musical. Magnaldo Araújo, Guido Alves e Hallyson Dantas são professores de música no Conservatório D'Alva Stela Nogueira Freire e estudam diariamente. "O caminho é longo. Na música há muito que aprender, por se tratar de uma das áreas mais ricas da arte. É preciso estudo constante daqueles que querem ingressar de forma séria", comenta. 

Já para Maglando Araújo, procurar conhecer a área, definir um foco de atuação e se aperfeiçoar naquilo que escolheu são as premissas para os que querem enveredar pela música. "Nos dias atuais, o mercado da música está maior e mais exigente. Existem diversos cursos: básico, técnico, curso superior nas duas modalidades (licenciatura e bacharelado), especializações nas mais diversas áreas da música, mestrado, doutorado, enfim, é uma área de atuação como qualquer outra, e exige de você persistência e dedicação", argumenta.

UMA ÁREA EM EXPANSÃO 

Hallyson Dantas, também componente do Trio, destaca que a música na cidade encontra-se atualmente num momento forte de consolidação. "Vemos constantemente editais de fomento à arte/musical, buscando a valorização dos bens culturais, acesso à cultura, dentre outras possibilidades", salienta, destacando que a criação do Conservatório de Música da Uern, a Escola Municipal de Música e o Curso de Graduação em Música têm possibilitado um bom resultado para os profissionais. "As escolas da rede básica de ensino estão entrando em contato com os próprios alunos dessas instituições para contratar professores. É visível que a área da música está em expansão. É visível, também, os ótimos resultados que esses profissionais estão desenvolvendo nas escolas através dos encontros do Programa Mais Educação, onde as crianças cantam, tocam e fazem suas apresentações musicais", explica. 

Hallyson acrescenta que a importância do profissional capacitado "se dá pela necessidade de se ter um trabalho bem estruturado e baseado nos princípios que norteiam a área. Talvez não fosse interessante um profissional da área da educação tentar fazer uma cirurgia do coração, por exemplo. Seria arriscado demais. Isso ocorre da mesma maneira com a música", brinca.

"NÃO EXISTEM SEGREDOS E NEM NÚMEROS DA SORTE"

Hallyson Dantas, que toca flauta transversal, começou muito mais jovem que Magnaldo: aos 9 anos. "Meu primeiro contato com a prática de conjunto foi com o Grupo Flauta Mágica, da antiga Fundação de Cultura, em 2002. Ali tive a oportunidade de aprender pífaro com o professor Marcondes Melo. Até o ano de 2006 estive presente no grupo fazendo apresentações musicais em várias regiões de Mossoró e cidades vizinhas", frisa. "Inicialmente comecei minha formação estudando teclado, em seguida estudei piano, por volta de três anos. Toquei trompete na Banda do Clube de Desbravadores e, por último, a flauta, que deste então é o meu instrumento principal. Hoje ninguém me conhece por eu ser pianista ou trompetista, mas, como Hallyson, que toca flauta", diz, sorrindo.

Segundo o professor, não existem segredos nem números da sorte para trilhar um bom caminho na profissão. "Existem procedimentos, entre os quais a disposição, o estudo, a confiança e o gostar do que faz", aconselha.

LEI DARCY RIBEIRO

O professor frisa que no ano de 2008 foi sancionada a lei 11.769/2008 (Lei Darcy Ribeiro), que versa sobre a obrigatoriedade do ensino de música na escola básica de ensino. "Nesse sentido, as escolas teriam até agosto do ano passado para se adequarem à Lei. Desde 2008 várias escolas já estão com profissionais da área da música desenvolvendo trabalhos musicais. Vale lembrar que a música na escola não tem como finalidade formar instrumentistas, regentes ou cantores, mas desenvolver sensibilidade, cognição, entre outros fatores que são próprios da música", diz. 

De acordo com ele, a música traz uma boa perspectiva profissional, uma vez que "as escolas estão a cada dia buscando se adequar à Lei e, consequentemente, haverá a necessidade de contratar profissional qualificado", finaliza.

  Para Câmara Cascudo, o baião é a fiel expressão da música nordestina
 
 SANFONA, ZABUMBA & TRIÂNGULO 
 
Por
Gutemberg

O Baião nasceu na verdade, de uma dança cantada, uma criação nordestina, resultante da fusão da dança africana com as danças dos índios e dos portugueses. Registrado anteriormente como baiano nas toadas do bumba-meu-boi, o baião, segundo o historiador Pereira da Costa, é um misto de dança, poesia e música, cujas toadas são acompanhadas à viola e pandeiro. Dança rasgada, lasciva, movimentada, ao som de canto próprio, com letras e acompanhamento à viola e pandeiro, originária dos africanos, mais uma transformação das suas danças nacionais como o maracatu e o batuque. O primeiro registro da palavra baião na discografia brasileira foi feito na década de 1920, por Jararaca (José Luiz Rodrigues Calazans), quando gravou o “Samba nortista”, de Luperce Miranda.

Esse gênero musical foi transformado em musica popular urbana no início da década de 1940 através do cantor e compositor Luiz Gonzaga, tido, não por acaso, como o "Rei do Baião". O baião teria nascido de uma forma especial dos violeiros tocarem o lundu na zona rural do Nordeste, estruturando-se em seguida como música de dança. Há também um parentesco do “arrasta-pé” do baião com as danças indígenas, sendo uma cena folclórica a dança do sertanejo com as mãos atrás das costas e dançando com uma perna a frente da outra. O que se chama hoje de forró remete-se, na verdade, a diversos ritmos nordestinos, dentre eles o baião.

O Baião, anteriormente conhecido como Baiano, por influência do verbo “baiar”, forma popular de bailar, baiar, baio (baile), na opinião de estudiosos do gênero, sempre foi apreciado e praticado no Nordeste, depois foi se difundindo por outros estados e por fim atravessou com sucesso as fronteiras do País. O Baião é formado dos seguintes passos: balanceios, passos de calcanhar, passo de ajoelhar, rodopio. Como outros gêneros, o baião designou inicialmente um tipo de reunião festeira dominada pela dança. O folclorista Câmara Cascudo o associa aos termos “baiano” e “rojão”.

O ritmo binário do baião, vestido por melodias dolentes, muitas delas em modo menor, foi devidamente estilizado, amaciado para o paladar urbano pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga. A síntese instrumental imaginada por Gonzaga para acompanhar o ritmo: sanfona, zabumba e triângulo, virou epidemia. O sucesso do baião nas mãos e voz de Gonzaga foi tão grande que ele desequilibrou o eixo da Música Popular Brasileira (MPB) do meio para o fim dos anos 1940 até meados dos 1950. Músicas do cantor como Baião, Asa Branca, Juazeiro, Paraíba, Qui nem Giló, Respeita Januário, Sabiá, Vem Morena, Baião de Dois, Imbalança, Noites Brasileiras e inúmeras outras colocaram o Nordeste no mapa da MPB.

Para Câmara Cascudo, o baião é a fiel expressão da música nordestina do sertão, que nasceu sob a influência do cantochão (canto litúrgico da Igreja Católica) dos missionários, brotando das violas, das sanfonas de oito baixos, das zabumbas, dos pífanos dos homens rústicos. A coreografia consiste basicamente na improvisação de movimentos. A quantidade de músicos pode variar, mas predominam três que tocam a sanfona, o triângulo e a zabumba. Podem fazer parte também outros instrumentos como a rabeca, o pandeiro e o agogô.

 GÊNERO MAIS INFLUENTE

Depois de fazer sucesso, o baião passou a ser gravado por diversos artistas famosos como Emilinha Borba, Marlene, Ivon Curi, Carmem Miranda, Isaurinha Garcia, Ademilde Fonseca, Dircinha Batista, Jamelão, entre outros. As cantoras Carmélia Alves e Claudete Soares foram aclamadas como a Rainha e Princesa do Baião, respectivamente, e o cantor Luiz Vieira como Príncipe. Em 1950, tornou-se o gênero musical brasileiro mais influente no exterior até a década de 1960, quando começou a perder prestígio para a bossa nova e o rock and roll. O baião Delicado do compositor Valdir Azevedo recebeu diversos arranjos de maestros americanos. Mesmo com o seu relativo esquecimento, o baião continuou sendo cultivado por inúmeros artistas e músicos nacionais, como Dominguinhos, Zito Borborema, João do Vale, Quinteto Violado, Jorge de Altinho. O baião foi e é matriz de intervenções modernizadoras de Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Egberto Gismonti, Guinga e inúmeros outros instrumentistas.

O baião influenciou também gerações mais novas de artistas como o baiano Raul Seixas, que realizou uma fusão do rock com o baião, criando o baioque. Nos anos 90 Chico César, Lenine, Zeca Baleiro e Rita Ribeiro dão novo fôlego ao gênero. E a perenidade do baião foi definida por Gilberto Gil em 1976 com a composição “De Onde Vem O Baião”.  Mesmo tendo nascido nos anos 40, o baião resiste ao modismo e ao  tempo, mostrando em toda a sua trajetória a força e a poesia da música nordestina.


...fonte...
  BAIÃO EM TRIO
Cristiano Xavier 
 SANFONA, ZABUMBA & TRIÂNGULO 
 Gutemberg

março 24, 2012

A MUSICALIDADE E A POESIA DA NEGANTONHO

 NEGANTONHO
Banda se destaca no cenário musical do Estado com proposta diferenciada
 
UMA MÚSICA DIFERENTE
 
Por
Maxwell
Jornal Gazeta do Oeste

Enfrentar o cenário musical, sempre competitivo, com uma proposta diferenciada tem sido uma das metas da banda mossoroense Negantonho, que a cada dia incrementa sua musicalidade com a poesia e o trabalho autoral. "Quando a banda surgiu, pouco mais de dois anos, sempre tivemos em mente essa proposta de mesclar poesia e música de uma maneira diferente. Nesse sentido, a Banda Negantonho trabalha a musicalidade, a literatura e experimentos que estejam para além do comum", destaca Mazinho Viana.

Para ele, trabalhar com a arte - mesmo que essa arte esteja na contramão do consumo musical - tem sido gratificante. "Quando comecei a lidar com a arte, todas as portas se abriram para mim. Não gosto quando vejo as pessoas se lamentando disso ou daquilo. Não sou assim. Acho que devemos prosseguir, apesar de todas as dificuldades. Dedicar-se à música tem sido uma das metas de minha vida, pois minha vida é a música", comenta. 
 
Sobre a banda, destaca que atualmente ela possui um ótimo repertório instrumental, regional e poemas que são recitados durante as apresentações. "Isso tem chamado atenção dos que gostam de uma forma diferente de apresentar a música, fazendo com que ela chegue ao maior número de pessoas, seja por meio de um poema ou mesmo através de um instrumental", diz.
 
Com repertório variado, porém com preferência para o regional, Mazinho destaca que no cenário de hoje uma banda não pode viver apenas de um trabalho 100% alternativo. "Existe a exigência do mercado, que quer outros estilos no palco. Dessa forma fica inviável trabalharmos com um produto 100% alternativo, infelizmente", salienta, acrescentando que, mesmo diante dessa 'exigência do mercado consumidor de música', a banda segue sua proposta levando "um som alternativo, próprio, experimental e com bagagem poética". 
 
A BANDA QUE CHEGA LONGE
 
A participação especial do grupo durante o VII Encuentro de Teatro Achupallas, em Viña del Mar, Chile, juntamente com a Cia. Escarcéu de Teatro foi uma experiência importante. "Ir e participar de um importante encontro de teatro, fazendo a trilha sonora do espetáculo Ciganos, foi uma experiência enriquecedora, que nos incentiva a não pararmos em nossas pesquisas musicais", frisa Regina Casaforte.
 
Atualmente a banda também está fazendo apresentações em cidades do RN. "Portalegre e outras cidades como Natal são lugares que passamos sempre, levando nossa música. Na apresentação que fizemos no IFRN, na capital, tivemos uma ótima recepção ao nosso trabalho e, se Deus quiser, em outubro estaremos lá outra vez", comenta Regina.
 
Ela acrescenta que este momento sempre foi esperado pelo grupo. "Acho que a cada dia ampliamos nosso trabalho através das pesquisas, pois não podemos parar. Fazer aquilo que se gosta contribui para a evolução do trabalho musical", complementa.
 
Segundo ela, Mossoró tem dado "grande abertura para a banda". "Em Mossoró as portas se abriram mais. Fomos até o Chile com a Escarcéu e estamos viajando para outros lugares".
 
UM CD QUE VEM POR AÍ
 
Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas por uma banda alternativa, a Negantonho já planeja a gravação de um CD com cinco faixas, intitulado de Metade de Dez. "Estamos com o 'miolo' pronto para gravarmos. Acho que será um CD diferente, com poemas musicados", declara Regina. "Também tenho um sonho de gravar um CD com músicas de compositores do Rio Grande do Norte e eu vou realizar!", fala, empolgada.
 
Ela acredita que a música tem sido vista hoje com "outros olhos", no Estado. "Hoje a valorização da música é maior. Aqui em Natal já temos uma associação que pretende se expandir para Mossoró, cidade que é um reduto de artistas. Esta semana, conversando com alguns artistas, eles começam a sentir a diferença da cidade em termos culturais... No entanto, ainda precisamos de muito mais apoio, aberturas, para que as coisas aconteçam", salienta.
 
Já Mazinho Viana crê que iniciativas como o Corredor Cultural projetam o trabalho dos artistas e mostram novos talentos. "Esse é um projeto que não existe em outros lugares e marca um momento importante para a cidade, que vive mais antenada nos movimentos artísticos. Mossoró é uma referência nesse sentido. Aqui há bons artistas que mostram um trabalho muito interessante. Com o projeto apresentam suas músicas, seu talento e divulgam seu material. Nesse sentido, as coisas estão mudando, se aprimorando, se aperfeiçoando", destaca. "Para nós, da Banda Negantonho, se apresentar dentro do projeto tem sido importante, pois ele é uma janela interessante, onde pessoas que não nos conheciam passam a descobrir um trabalho de uma banda alternativa da cidade", salienta Mazinho.
 
Ele mesmo passou por grandes dificuldades quando resolveu sair pelo País à procura de trabalho e encontrou-se com a música. "O violão sempre me acompanhou por todos os lugares por onde andei... Procurei ouro no Amazonas e encontrei a música da natureza. Em Manaus tive contato com grandes músicos com os quais aprendi muito. Já em São Paulo, trabalhando numa loja de sapatos e roupas, nas horas vagas tocava violão para os demais amigos de loja e uma das moças que vendiam ali me disse: "siga sua carreira musical!". Isso foi uma espécie de injeção de ânimo e prossegui, montando, tempos depois, já na década de 90, o grupo Pau e Corda. Hoje, estamos aqui com a mesma empolgação", explica. 
 
ORIGEM DA NEGANTONHO
 
De acordo com Mazinho, a Negantonho surgiu de um nome que pretende homenagear não apenas o cordelista Antonio Francisco, mas todos os "antonios" do País. "Foi a forma que encontramos para lembrarmos todos os "antonios", "josés", "raimundos", cada um em especial. Com a Negantonho homenageamos também o Brasil, formado de uma grande multidão de "antonios" que trabalham a cada dia no progresso da cultura e das artes em geral", diz. 
 
A recepção à música alternativa, que faz releituras de importantes nomes do cenário, tem sido um estímulo à continuidade do trabalho. "Temos releituras de Zé Ramalho, Rita Ribeiro, Elba Ramalho, cantoras novas como Céu, Isaar, Mônica Salmado, Virgínia Rosa, Renata Rosa e Luciana Antunes, ótima cantora e compositora mineira que mora em Natal", explica Regina.
 
 
...fonte...
Maxwell

A SAGA DE HUGO NA TERRA POTI

 O “Evangelho” é um quadrinho de terror ambientado na Natal de 1810
  Do coletivo K-Ótica, Marcos Guerra e Leander Moura

HQ DE TERROR
 A SAGA DE HUGO NA TERRA POTI 

Por
Yuno Silva

Em 1810, quando a província do Rio Grande era subordinada politicamente à Paraíba e os religiosos locais respondiam ao clero pernambucano, Hugo Ribeiro vagava como um errante por terras potiguares em busca de explicações para a morte da esposa. Durante sua jornada, esbarra em fatos históricos, rituais indígenas e práticas do ocultismo, topa com fantasmas aprisionados na Fortaleza dos Reis Magos e enfrenta forças sobrenaturais. Descendente dos Cavaleiros Templários, ele sabe que pode salvar a alma de sua amada, que supostamente o traiu com uma das personificações do 'coisa-ruim', se for ao encalço do dito cujo.

Esse é o clima soturno que domina a novela gráfica "O Evangelho Segundo o Sangue" (K-Ótica), de Marcos Guerra e Leander Moura, que terá seu segundo volume lançado neste  sábado (24), às 16h, na livraria Nobel Salgado Filho - em frente ao Hospital Walfredo Gurgel. A saga completa de Hugo Ribeiro será contada em 13 capítulos, e nesta edição os autores apresentam os episódios 4, 5 e 6 do conto oitocentista de terror.

O exemplar custa R$ 12 vem em formato tamanho revista, preto e branco com tiragem limitada. Na ocasião, posteres, outros títulos da K-Ótica e o volume um com os três primeiros capítulos também estarão disponível para compra. A HQ ainda pode ser conferida na internet, mas vale ressaltar que há extras na versão impressa. Para manter a atmosfera gótica, o evento incorpora performance do Coro Propagamus, grupo vocal que irá interpretar repertório lírico.

"Apesar de ser ficção, todo o roteiro está embasado em pesquisas e cruzamentos de informações históricas, nada é aleatório", garante o roteirista Marcos Guerra, que contou com suporte precioso da dissertação de Mestrado "Natal Oitocentista", cedido pela historiadora - e irmã de sangue - Larissa Neves. De acordo com o roteirista, "O Evangelho Segundo o Sangue" trata-se de uma pesquisa histórica complexa, que culmina em um quadrinho de arte: "Mostramos uma Natal no início do século 19 diferente daquela que estamos acostumados a ler nos livros de História, onde os personagens vivem uma profunda culpa cristã pela descoberta de um mundo pagão que estava escondido por de trás das ruínas, dos mangues e dos conflitos antepassados entre europeus e índios."

Repleta de nuances psicológicas, citações históricas e referências artísticas, a série começou a ser pensada em 2009, inserida dentro da coleção potiguar de quadrinhos com a grife K-Ótica, quando Leander e Marcos iniciaram as pesquisas, conceituação da linguagem visual e a construção dos personagens. "Apesar dos 13 capítulos estarem prontos, nada impede do roteiro agregar elementos e possibilidades na medida em que os desenhos vão sendo produzidos por Leander", avisou Guerra. A K-Ótica funciona como uma espécie de selo, que agrega outras séries como "Titanocracia" e histórias avulsas como a d"O Homem da Ilha de Lixo". 

A abordagem pictórica da narrativa adota uma estética com forte influência do expressionismo alemão, calcada no jogo de sombras, no equilíbrio entre preto e branco, um estilo que remete diretamente aos quadrinhos de terror produzidos durante a década de 1980. "Nossa proposta necessitava de um traço específico, mais rebuscado e de fortes contrastes", disse Leander Moura. Graduado em Artes Visuais pela UFRN, o quadrinista de 27 anos apresentou o projeto do "O Evangelho..." como trabalho de conclusão de curso.

"Além do embasamento histórico para o roteiro elaborado por Marcos, fui buscar referências teóricas e autores consagrados para conceber o visual da HQ", explicou Moura, considerando a relação estreita entre os desenhos da novela gráfica potiguar com as ilustrações do francês Gustave Doré (1832-1883) feitas para a versão mais famosa do clássico "A Divina Comédia", do italiano Dante Alighieri (1265-1321).

Na visão do quadrinista, os três personagens principais da saga ganharam feições inspiradas em personalidades conhecidas do grande público: Hugo Ribeiro, por exemplo, cujo nome faz alusão à Hugo de Payens, primeiro mestre da Ordem dos Templários, e na tradicional e ramificada família Ribeiro, é a cara do ator britânico Lian Neeson; já a esposa falecida, Helena, personifica a atriz brasileira Letícia Sabatella; enquanto o antagonista, Padre Afonso, tio de Hugo, incorpora o grande vilão do cinema nacional José Lewgoy.

Nos planos de Marcos e Leander, que ainda pretendem publicar outros três volumes contendo os sete capítulos restantes d"O Evangelho...", está o lançamento de uma edição de luxo, encadernada, com os treze episódios da saga. A história também começa a chamar atenção de leitores e quadrinistas de outras partes do país, que estão mantendo contato com os autores através da internet: "Queremos exportar nossos roteiros, nossos quadrinhos", finaliza Guerra.


 ...fonte...
 Yuno Silva
 www.tribunadonorte.com.br  

...serviço...
 "O Evangelho Segundo o Sangue" 
Novela Gráfica  - II volume - Coletivo K-Ótica
Sábado (24), às 16h
 livraria Nobel Salgado Filho
Natal/RN

março 22, 2012

RIR, AINDA É O MELHOR REMÉDIO

 João Batista deixou a carreira de radialista para se dedicar ao humor
"O reconhecimento é construído com o tempo e muito estudo" 

O SONHO DE VIVER DA ARTE E DO HUMOR
NO RIO GRANDE DO NORTE
Perfil:  Seu Dedé

Por
Isabela Santos

— DEDÉ!!! DEDÉ, MEU FILHO! Os gritos que acordavam João Batista da Silva vinham de um vizinho meio lelé da cuca. Quase todo dia, no meio da madrugada, era essa caninga. Tanto que quando João criou seu principal personagem de humor, em 1992, lembrou do apelido e não pensou duas vezes na hora de adotá-lo. Nasceu aí um sujeito gabola, vaidoso e preguiçoso, contador de causos, vindo do interior, mas que de matuto tem apenas o figurino. E só porque Tom Cavalcante pediu anos mais tarde.

Até sua participação no Festival de Piadas do programa Show do Tom (Rede Record), em 2008, Seu Dedé era brega, usava boné e paletó. Mas antes de entrar em cena, o humorista se deparou com um figurino totalmente diferente do seu. Relutou em mudar a roupa do personagem, que já tinha 16 anos, até lhe dizerem que foi Tom Cavalcante quem pediu que se vestisse daquela forma. Foi como adotou chapéu de vaqueiro, suspensórios e camisa xadrez. Os óculos pesados de armação grossa, herdou do padrasto, Seu João, assim como o jeitão de paquerador.     
 
“Ainda penso em um dia tirar o chapéu, porque tem gente que acha que imito o Zé Lezin. E não tem nada a ver. Seu Dedé veio do interior, mas é viajado, gosta de passear, de aparecer e contar histórias. Não trouxe o mato não”, explica, ressaltando que 70% dos causos que conta são vividos por ele. Afinal, com 41 anos, dois casamentos e seis filhos, deve mesmo ter muita coisa pra contar.

No show “Se casamento fosse bom...” a maior fonte de inspiração é a vida com a mulher, Ana Paula, que até o ajuda a criar as piadas e a quem chama de Creuza durante as apresentações.

João criou seu principal personagem de humor em 1992
 Nasceu aí um sujeito gabola, vaidoso e preguiçoso

“Às vezes na hora da briga eu digo: esse nome que você disse aí comigo vai pro palco”, brinca, e demonstra que tem enorme confiança na companheira. “Investi muito em menino e ela precisa cuidar deles (o mais novo tem dois meses), mas futuramente penso em colocá-la para vender o show. Minha mulher vende até capim”. Seu Dedé não tem produtor e já enfrentou muitas dificuldades. Ele próprio produziu diversas apresentações, algumas sem sucesso, das quais chegou a depender da bilheteria para comprar a comida dos filhos. O reconhecimento é construído com o tempo e muito estudo, reconhece.
  
Fez teatro ainda pequeno, com as três irmãs, em Santo Antônio do Salto da Onça/RN, onde nasceu. Filho de sanfoneiro, acredita ter no sangue o gosto pela arte, e, por isto, começou tão cedo, brincando de circo e palhaço.   
 
Aos treze, os pais se separaram e ele se mudou para Natal. Na capital potiguar conheceu o produtor Josenilton Tavares e teve oportunidade de continuar estudando a arte cênica. Atuou em peças de diversos gêneros, mas era o humor que mais o atraía.

Para sua tristeza, Seu Dedé começou a trajetória com críticas negativas. E, o pior, da companheira de palco, outra Creuza, a irmã Joelma Costa. “Na primeira vez que ela me viu disse ‘Pelo amor de Deus, não conte piada mais não. Foi horrível sua apresentação. Eu queria um buraco pra enfiar minha cabeça’.”    
 
  Filho de sanfoneiro, acredita ter no sangue o gosto pela arte, 
e, por isto, começou tão cedo, brincando de circo e palhaço
 
Seu Dedé continuou. Na cidade de Pendências teve outra grande decepção, quando um espectador bêbado começou a maldizer o seu trabalho. “Ele dizia ‘sai daí, coloca um forró’. Como eu ainda era inexperiente peguei minhas coisas e fui embora. Não quiseram pagar cachê. Foi uma confusão. Hoje eu faria piada com ele”. 

Naquela noite, a brincadeira perdeu a graça. Voltando para casa com um amigo que o acompanhou num buggy, jogou todo o figurino fora. Mas a decisão de acabar com Seu Dedé não durou por muito tempo. “Eu olhei pro meu amigo todo desconfiado e perguntei se ainda dava pra voltar. Depois fui catar a roupa cheia de carrapicho”.

Os quase 20 anos da história de Seu Dedé são marcados por altos e baixos. Lembra que em 2007, após uma entrevista dada ao RNTV, jornal local da afiliada da TV Globo, seu telefone começou a tocar uma vez atrás da outra.

 
Sem trabalho e sem dinheiro, conseguiu fazer o maior público que o Teatro Sandoval Wanderley já viu. Com 140 lugares, o espaço recebeu 370 pessoas. “Eu deixei 60 ingressos na portaria. Quando vieram me dizer que precisava de mais eu nem acreditei. O show atrasou mais de uma hora porque tiveram que providenciar mais cadeiras. Quando terminou eu chorei, teve gente que chorou também. Foi a melhor cena da minha carreira”. 

Desde 2008  humorista vive somente de sua arte
Antes fez de um tudo: foi vigilante, office-boy, pintor... 
 
E desde 2008 o humorista vive somente de sua arte. Antes fez de um tudo: foi vigilante, office-boy, pintor,... “Eu trabalhava na recepção de um hotel e teve dias de pegar nas grades do portão e dizer:  O que é que eu tô fazendo aqui?”.

Viver de humor não é fácil mesmo, pelo que conta. Seu filho mais velho, Thiago, de 18 anos, já dá sinais de que quer seguir o caminho do pai, mesmo a contragosto deste. “Ele vai prestar vestibular esse ano e eu prefiro que continue estudando”, diz, apesar de elogiar o bom humor do filho, que por enquanto o acompanha como sonoplasta.

Talvez tenha receio de que o primogênito sofra as mesmas dificuldades, ainda que compartilhem da essência do fazer artístico e usem os espetáculos como um tipo de escola. Seu Dedé lembra que só fez o público rir quando percebeu que é preciso enxergar a situação da qual fala. “Quando você conta uma piada com insegurança, ninguém ri. Tinha uma situação em que eu ia pegar um menino na rede e meu filho disse ‘pai, eu só não vi direito a expressão do seu rosto, porque a rede tava na frente'”. Não havia rede alguma.
Viu ainda que quantidade nem sempre é qualidade. Achava bonito um ator ter muitos personagens e, além de Seu Dedé, atuou como Boquinha (moleque), Leleno (marinheiro aposentado), Arnaldo (cantor fracassado), Véi Ciço (ignorante) e Jack (bichinha), personagem com o qual também trabalha até hoje. “Percebi que qualquer história que eu quiser contar dá certo com Seu Dedé”.
 
O vizinho lelé da cuca de João já sabia.


...fonte...
 Isabela Santos

março 21, 2012

A DESPEDIDA DE UM ARTISTA POTIGUAR

Manxa em frente a uma de suas conceituadas esculturas
A escultura símbolo da era Machadão, que acabou sendo demolida
fotografia: Emerson Do Amaral  

O LEGADO DE MANXA 

 Por
Yuno Silva
Cinthia Lopes

Sem grandes alardes, um dos mais importantes escultores e entalhadores do Rio Grande do Norte morreu na noite desta segunda-feira (19) em Currais Novos. Discreto e genial, Ziltamir "Manxa" Soares deixa legado artístico imortalizado por obras grandiosas como o painel no prédio da Reitoria da UFRN e os entalhes na agência centro do Banco do Brasil em Natal. Aos 63 anos, Manxa estava internado havia cerca de uma semana por causa de problemas renais e faleceu devido ao agravamento de seu estado de saúde. O corpo do escultor foi sepultado ontem em São Vicente, distante 190km da capital potiguar, município onde nasceu e morava com a esposa.

O apelido vem desde a infância, quando se autodenominou "Manxa" por causa de um sinal de nascença na parte de trás da cabeça, onde se destacava uma mecha branca que destoava do restante da cor da cabeleira.

A extensa lista de trabalhos de grande porte que o artista produziu em mais de quatro décadas de carreira também incluem a imagem de Santana na entrada da Ilha em Caicó, o monumento dos Três Reis Magos na entrada de Natal, o pórtico em homenagem aos Mártires de Uruaçu e Cunhaú e o painel na capela do Campus da UFRN; além de obras espalhadas em diversas agências bancárias e repartições públicas do RN, e empresas espalhadas pelo Brasil e exterior, e na Pinacoteca do Estado, que possui grande parte do acervo do extinto Bandern.

Outra escultura de Manxa que merece ser ressaltada é o Monumento ao Atleta, feita em metal, que ficava no pátio externo do estádio Machadão até 2001 - a demolição da obra, na época, foi tema de reportagem publicada pelo suplemento Estampa, da TRIBUNA DO NORTE. A escultura símbolo da era Machadão ficou tomada de ferrugem e foi removida pela Secretaria Municipal de Esportes a pedido do Crea.

"Ainda estou chocado", disse Galvão Freire, amigo do escultor e presidente da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó - ADESE, instituição sediada em Caicó. "Não tínhamos uma amizade profunda, mas me considero uma das pessoas mais próximas dele nesses últimos tempos. Manxa continuava produzindo na oficina que montou no sítio onde morava, principalmente esculturas em pedra, e morreu como os grandes gênios da arte: sem riquezas, sem fama e sem o devido reconhecimento", lamenta. Galvão lembra que Manxa mantinha, desde 2009, o blog Quixabeira News, "um hobby levado muito a sério".

Neto da pintora e escultura popular Maria do Santíssimo (1890-1974) e pai do publicitário Renato Quaresma, seu único filho legítimo, Manxa seguiu a vocação familiar - era primo da artista plástica Madé Wainer e do pintor Iaperi Araújo -  e se tornou um dos primeiros potiguares a trabalhar com o entalhe difundido no Ceará.
 
"Os bons estão indo embora", lamentou Dorian Gray Caldas, que trabalhou com Manxa em vários projetos. "Foi ele quem trouxe essa técnica do entalhe. Seu trabalho era muito influenciado pela nordestinidade. Um expressionista Naïf", verifica o artista plástico e tapeceiro, que considera o painel da Reitoria da UFRN a grande obra de Manxa.

Caldas lembra que o amigo escultor chegou a dar aulas como professor convidado nos Estados Unidos. "Era um profissional muito exigente, que se recolheu muito nesses últimos anos." Dorian Gray é autor do "Dicionário das artes Plasticas do RN", onde há verbete dedicado a Manxa. A primeira versão do livro foi publicada em preto e branco, mas uma segunda edição, ampliada e colorida, ainda permanece inédita. "São 160 nomes listados e acredito que será muito importante para embasar pesquisas." Além dos verbetes, Dorian inclui opiniões, críticas e detalhes que movimentaram o segmento das artes visuais nos séculos 20 e 21. "Nessa nova versão venho até a contemporâneidade", adiantou.

Manxa chegou a morar no Rio de Janeiro, passou longa temporada no Recife, manteve ateliê em Natal e há quase uma década começou a buscar suas origens: "Quando começou a fazer esse caminho inverso, depois de ter viajado pelo Brasil e exterior, ele estava deprimido, sem vontade de produzir. Fico feliz com a notícia de que havia voltado a criar", disse Iaperi Araújo. Manxa deixou como discípulo direto o também escultor Jordão.

...fonte...
 Yuno Silva - Repórter
Colaborou: Cinthia Lopes