BANDA BAIÃO EM TRIO
O baião resiste ao modismo e ao tempo,
mostrando em toda a sua trajetória a força e a poesia da música nordestina
BAIÃO EM TRIO
Por
Cristiano Xavier
Jornal Gazeta do Oeste
Cristiano Xavier
Jornal Gazeta do Oeste
Com proposta musical baseada na cultura nordestina, os professores de música Guido Alves, Magnaldo Araújo e Hallyson Dantas fundaram a banda Baião em Trio e já se apresentam com um repertório diversificado. "Queremos produzir um som diferente", diz um dos fundadores do grupo, Guido Alves. Para ele, a formação de Baião em Trio é uma nova opção musical para os que gostam e curtem "um bom som". "Começamos a pensar essa formação a partir de uma viagem que fizemos juntos. Então, durante uma das edições do programa Pedagogia da Gestão resolvemos fundar oficialmente o grupo", revela Guido, que também faz parte do projeto Ecoarte. "Esse envolvimento com a música começou desde cedo. Hoje compartilhamos o amor pelo que fazemos através não só da banda, mas também do projeto Ecoarte, que ensina a jovens, adultos e crianças a arte musical, em especial, do violão, em praça pública e de forma gratuita", comenta o músico.
Guido salienta que o nome da banda é uma homenagem ao centenário do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. "Mas isso não quer dizer que no nosso repertório tenha apenas baião... Estamos trabalhando músicas de outros compositores, com novas roupagens. O repertório que estamos montando conta com músicas diversas, para todos os públicos", salienta.
Além da boa seleção musical que apresentam durante os shows, Baião em Trio também prima, segundo Guido, pela formação musical. Magnaldo Araújo, Guido Alves e Hallyson Dantas são professores de música no Conservatório D'Alva Stela Nogueira Freire e estudam diariamente. "O caminho é longo. Na música há muito que aprender, por se tratar de uma das áreas mais ricas da arte. É preciso estudo constante daqueles que querem ingressar de forma séria", comenta.
Já para Maglando Araújo, procurar conhecer a área, definir um foco de atuação e se aperfeiçoar naquilo que escolheu são as premissas para os que querem enveredar pela música. "Nos dias atuais, o mercado da música está maior e mais exigente. Existem diversos cursos: básico, técnico, curso superior nas duas modalidades (licenciatura e bacharelado), especializações nas mais diversas áreas da música, mestrado, doutorado, enfim, é uma área de atuação como qualquer outra, e exige de você persistência e dedicação", argumenta.
UMA ÁREA EM EXPANSÃO
Hallyson Dantas, também componente do Trio, destaca que a música na cidade encontra-se atualmente num momento forte de consolidação. "Vemos constantemente editais de fomento à arte/musical, buscando a valorização dos bens culturais, acesso à cultura, dentre outras possibilidades", salienta, destacando que a criação do Conservatório de Música da Uern, a Escola Municipal de Música e o Curso de Graduação em Música têm possibilitado um bom resultado para os profissionais. "As escolas da rede básica de ensino estão entrando em contato com os próprios alunos dessas instituições para contratar professores. É visível que a área da música está em expansão. É visível, também, os ótimos resultados que esses profissionais estão desenvolvendo nas escolas através dos encontros do Programa Mais Educação, onde as crianças cantam, tocam e fazem suas apresentações musicais", explica.
Hallyson acrescenta que a importância do profissional capacitado "se dá pela necessidade de se ter um trabalho bem estruturado e baseado nos princípios que norteiam a área. Talvez não fosse interessante um profissional da área da educação tentar fazer uma cirurgia do coração, por exemplo. Seria arriscado demais. Isso ocorre da mesma maneira com a música", brinca.
"NÃO EXISTEM SEGREDOS E NEM NÚMEROS DA SORTE"
Hallyson Dantas, que toca flauta transversal, começou muito mais jovem que Magnaldo: aos 9 anos. "Meu primeiro contato com a prática de conjunto foi com o Grupo Flauta Mágica, da antiga Fundação de Cultura, em 2002. Ali tive a oportunidade de aprender pífaro com o professor Marcondes Melo. Até o ano de 2006 estive presente no grupo fazendo apresentações musicais em várias regiões de Mossoró e cidades vizinhas", frisa. "Inicialmente comecei minha formação estudando teclado, em seguida estudei piano, por volta de três anos. Toquei trompete na Banda do Clube de Desbravadores e, por último, a flauta, que deste então é o meu instrumento principal. Hoje ninguém me conhece por eu ser pianista ou trompetista, mas, como Hallyson, que toca flauta", diz, sorrindo.
Segundo o professor, não existem segredos nem números da sorte para trilhar um bom caminho na profissão. "Existem procedimentos, entre os quais a disposição, o estudo, a confiança e o gostar do que faz", aconselha.
LEI DARCY RIBEIRO
O professor frisa que no ano de 2008 foi sancionada a lei 11.769/2008 (Lei Darcy Ribeiro), que versa sobre a obrigatoriedade do ensino de música na escola básica de ensino. "Nesse sentido, as escolas teriam até agosto do ano passado para se adequarem à Lei. Desde 2008 várias escolas já estão com profissionais da área da música desenvolvendo trabalhos musicais. Vale lembrar que a música na escola não tem como finalidade formar instrumentistas, regentes ou cantores, mas desenvolver sensibilidade, cognição, entre outros fatores que são próprios da música", diz.
De acordo com ele, a música traz uma boa perspectiva profissional, uma vez que "as escolas estão a cada dia buscando se adequar à Lei e, consequentemente, haverá a necessidade de contratar profissional qualificado", finaliza.
SANFONA, ZABUMBA & TRIÂNGULO
Por
Gutemberg
Gutemberg
O Baião nasceu na verdade, de uma dança cantada, uma criação nordestina, resultante da fusão da dança africana com as danças dos índios e dos portugueses. Registrado anteriormente como baiano nas toadas do bumba-meu-boi, o baião, segundo o historiador Pereira da Costa, é um misto de dança, poesia e música, cujas toadas são acompanhadas à viola e pandeiro. Dança rasgada, lasciva, movimentada, ao som de canto próprio, com letras e acompanhamento à viola e pandeiro, originária dos africanos, mais uma transformação das suas danças nacionais como o maracatu e o batuque. O primeiro registro da palavra baião na discografia brasileira foi feito na década de 1920, por Jararaca (José Luiz Rodrigues Calazans), quando gravou o “Samba nortista”, de Luperce Miranda.
Esse gênero musical foi transformado em musica popular urbana no início da década de 1940 através do cantor e compositor Luiz Gonzaga, tido, não por acaso, como o "Rei do Baião". O baião teria nascido de uma forma especial dos violeiros tocarem o lundu na zona rural do Nordeste, estruturando-se em seguida como música de dança. Há também um parentesco do “arrasta-pé” do baião com as danças indígenas, sendo uma cena folclórica a dança do sertanejo com as mãos atrás das costas e dançando com uma perna a frente da outra. O que se chama hoje de forró remete-se, na verdade, a diversos ritmos nordestinos, dentre eles o baião.
O Baião, anteriormente conhecido como Baiano, por influência do verbo “baiar”, forma popular de bailar, baiar, baio (baile), na opinião de estudiosos do gênero, sempre foi apreciado e praticado no Nordeste, depois foi se difundindo por outros estados e por fim atravessou com sucesso as fronteiras do País. O Baião é formado dos seguintes passos: balanceios, passos de calcanhar, passo de ajoelhar, rodopio. Como outros gêneros, o baião designou inicialmente um tipo de reunião festeira dominada pela dança. O folclorista Câmara Cascudo o associa aos termos “baiano” e “rojão”.
O ritmo binário do baião, vestido por melodias dolentes, muitas delas em modo menor, foi devidamente estilizado, amaciado para o paladar urbano pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga. A síntese instrumental imaginada por Gonzaga para acompanhar o ritmo: sanfona, zabumba e triângulo, virou epidemia. O sucesso do baião nas mãos e voz de Gonzaga foi tão grande que ele desequilibrou o eixo da Música Popular Brasileira (MPB) do meio para o fim dos anos 1940 até meados dos 1950. Músicas do cantor como Baião, Asa Branca, Juazeiro, Paraíba, Qui nem Giló, Respeita Januário, Sabiá, Vem Morena, Baião de Dois, Imbalança, Noites Brasileiras e inúmeras outras colocaram o Nordeste no mapa da MPB.
Para Câmara Cascudo, o baião é a fiel expressão da música nordestina do sertão, que nasceu sob a influência do cantochão (canto litúrgico da Igreja Católica) dos missionários, brotando das violas, das sanfonas de oito baixos, das zabumbas, dos pífanos dos homens rústicos. A coreografia consiste basicamente na improvisação de movimentos. A quantidade de músicos pode variar, mas predominam três que tocam a sanfona, o triângulo e a zabumba. Podem fazer parte também outros instrumentos como a rabeca, o pandeiro e o agogô.
GÊNERO MAIS INFLUENTE
Depois de fazer sucesso, o baião passou a ser gravado por diversos artistas famosos como Emilinha Borba, Marlene, Ivon Curi, Carmem Miranda, Isaurinha Garcia, Ademilde Fonseca, Dircinha Batista, Jamelão, entre outros. As cantoras Carmélia Alves e Claudete Soares foram aclamadas como a Rainha e Princesa do Baião, respectivamente, e o cantor Luiz Vieira como Príncipe. Em 1950, tornou-se o gênero musical brasileiro mais influente no exterior até a década de 1960, quando começou a perder prestígio para a bossa nova e o rock and roll. O baião Delicado do compositor Valdir Azevedo recebeu diversos arranjos de maestros americanos. Mesmo com o seu relativo esquecimento, o baião continuou sendo cultivado por inúmeros artistas e músicos nacionais, como Dominguinhos, Zito Borborema, João do Vale, Quinteto Violado, Jorge de Altinho. O baião foi e é matriz de intervenções modernizadoras de Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Egberto Gismonti, Guinga e inúmeros outros instrumentistas.
O baião influenciou também gerações mais novas de artistas como o baiano Raul Seixas, que realizou uma fusão do rock com o baião, criando o baioque. Nos anos 90 Chico César, Lenine, Zeca Baleiro e Rita Ribeiro dão novo fôlego ao gênero. E a perenidade do baião foi definida por Gilberto Gil em 1976 com a composição “De Onde Vem O Baião”. Mesmo tendo nascido nos anos 40, o baião resiste ao modismo e ao tempo, mostrando em toda a sua trajetória a força e a poesia da música nordestina.
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BAIÃO EM TRIO
Cristiano Xavier
SANFONA, ZABUMBA & TRIÂNGULO
Gutemberg
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