João Batista deixou a carreira de radialista para se dedicar ao humor
"O reconhecimento é construído com o tempo e muito estudo"
"O reconhecimento é construído com o tempo e muito estudo"
O SONHO DE VIVER DA ARTE E DO HUMOR
NO RIO GRANDE DO NORTE
Perfil: Seu Dedé
Por
Isabela Santos
— DEDÉ!!! DEDÉ, MEU FILHO! Os gritos que acordavam João Batista da Silva vinham de um vizinho meio lelé da cuca. Quase todo dia, no meio da madrugada, era essa caninga. Tanto que quando João criou seu principal personagem de humor, em 1992, lembrou do apelido e não pensou duas vezes na hora de adotá-lo. Nasceu aí um sujeito gabola, vaidoso e preguiçoso, contador de causos, vindo do interior, mas que de matuto tem apenas o figurino. E só porque Tom Cavalcante pediu anos mais tarde.
Até sua participação no Festival de Piadas do programa Show do Tom (Rede Record), em 2008, Seu Dedé era brega, usava boné e paletó. Mas antes de entrar em cena, o humorista se deparou com um figurino totalmente diferente do seu. Relutou em mudar a roupa do personagem, que já tinha 16 anos, até lhe dizerem que foi Tom Cavalcante quem pediu que se vestisse daquela forma. Foi como adotou chapéu de vaqueiro, suspensórios e camisa xadrez. Os óculos pesados de armação grossa, herdou do padrasto, Seu João, assim como o jeitão de paquerador.
Até sua participação no Festival de Piadas do programa Show do Tom (Rede Record), em 2008, Seu Dedé era brega, usava boné e paletó. Mas antes de entrar em cena, o humorista se deparou com um figurino totalmente diferente do seu. Relutou em mudar a roupa do personagem, que já tinha 16 anos, até lhe dizerem que foi Tom Cavalcante quem pediu que se vestisse daquela forma. Foi como adotou chapéu de vaqueiro, suspensórios e camisa xadrez. Os óculos pesados de armação grossa, herdou do padrasto, Seu João, assim como o jeitão de paquerador.
“Ainda penso em um dia tirar o chapéu, porque tem gente que acha que imito o Zé Lezin. E não tem nada a ver. Seu Dedé veio do interior, mas é viajado, gosta de passear, de aparecer e contar histórias. Não trouxe o mato não”, explica, ressaltando que 70% dos causos que conta são vividos por ele. Afinal, com 41 anos, dois casamentos e seis filhos, deve mesmo ter muita coisa pra contar.
No show “Se casamento fosse bom...” a maior fonte de inspiração é a vida com a mulher, Ana Paula, que até o ajuda a criar as piadas e a quem chama de Creuza durante as apresentações.
João criou seu principal personagem de humor em 1992
Nasceu aí um sujeito gabola, vaidoso e preguiçoso
“Às vezes na hora da briga eu digo: esse nome que você disse aí comigo vai pro palco”, brinca, e demonstra que tem enorme confiança na companheira. “Investi muito em menino e ela precisa cuidar deles (o mais novo tem dois meses), mas futuramente penso em colocá-la para vender o show. Minha mulher vende até capim”. Seu Dedé não tem produtor e já enfrentou muitas dificuldades. Ele próprio produziu diversas apresentações, algumas sem sucesso, das quais chegou a depender da bilheteria para comprar a comida dos filhos. O reconhecimento é construído com o tempo e muito estudo, reconhece.
Fez teatro ainda pequeno, com as três irmãs, em Santo Antônio do Salto da Onça/RN, onde nasceu. Filho de sanfoneiro, acredita ter no sangue o gosto pela arte, e, por isto, começou tão cedo, brincando de circo e palhaço.
Aos treze, os pais se separaram e ele se mudou para Natal. Na capital potiguar conheceu o produtor Josenilton Tavares e teve oportunidade de continuar estudando a arte cênica. Atuou em peças de diversos gêneros, mas era o humor que mais o atraía.
Para sua tristeza, Seu Dedé começou a trajetória com críticas negativas. E, o pior, da companheira de palco, outra Creuza, a irmã Joelma Costa. “Na primeira vez que ela me viu disse ‘Pelo amor de Deus, não conte piada mais não. Foi horrível sua apresentação. Eu queria um buraco pra enfiar minha cabeça’.”
Filho de sanfoneiro, acredita ter no sangue o gosto pela arte,
e, por isto, começou tão cedo, brincando de circo e palhaço
Naquela noite, a brincadeira perdeu a graça. Voltando para casa com um amigo que o acompanhou num buggy, jogou todo o figurino fora. Mas a decisão de acabar com Seu Dedé não durou por muito tempo. “Eu olhei pro meu amigo todo desconfiado e perguntei se ainda dava pra voltar. Depois fui catar a roupa cheia de carrapicho”.
Os quase 20 anos da história de Seu Dedé são marcados por altos e baixos. Lembra que em 2007, após uma entrevista dada ao RNTV, jornal local da afiliada da TV Globo, seu telefone começou a tocar uma vez atrás da outra.
Desde 2008 humorista vive somente de sua arte
Antes fez de um tudo: foi vigilante, office-boy, pintor...
Antes fez de um tudo: foi vigilante, office-boy, pintor...
E desde 2008 o humorista vive somente de sua arte. Antes fez de um tudo: foi vigilante, office-boy, pintor,... “Eu trabalhava na recepção de um hotel e teve dias de pegar nas grades do portão e dizer: O que é que eu tô fazendo aqui?”.
Viver de humor não é fácil mesmo, pelo que conta. Seu filho mais velho, Thiago, de 18 anos, já dá sinais de que quer seguir o caminho do pai, mesmo a contragosto deste. “Ele vai prestar vestibular esse ano e eu prefiro que continue estudando”, diz, apesar de elogiar o bom humor do filho, que por enquanto o acompanha como sonoplasta.
Talvez tenha receio de que o primogênito sofra as mesmas dificuldades, ainda que compartilhem da essência do fazer artístico e usem os espetáculos como um tipo de escola. Seu Dedé lembra que só fez o público rir quando percebeu que é preciso enxergar a situação da qual fala. “Quando você conta uma piada com insegurança, ninguém ri. Tinha uma situação em que eu ia pegar um menino na rede e meu filho disse ‘pai, eu só não vi direito a expressão do seu rosto, porque a rede tava na frente'”. Não havia rede alguma. Viu ainda que quantidade nem sempre é qualidade. Achava bonito um ator ter muitos personagens e, além de Seu Dedé, atuou como Boquinha (moleque), Leleno (marinheiro aposentado), Arnaldo (cantor fracassado), Véi Ciço (ignorante) e Jack (bichinha), personagem com o qual também trabalha até hoje. “Percebi que qualquer história que eu quiser contar dá certo com Seu Dedé”.
O vizinho lelé da cuca de João já sabia.
Viver de humor não é fácil mesmo, pelo que conta. Seu filho mais velho, Thiago, de 18 anos, já dá sinais de que quer seguir o caminho do pai, mesmo a contragosto deste. “Ele vai prestar vestibular esse ano e eu prefiro que continue estudando”, diz, apesar de elogiar o bom humor do filho, que por enquanto o acompanha como sonoplasta.
Talvez tenha receio de que o primogênito sofra as mesmas dificuldades, ainda que compartilhem da essência do fazer artístico e usem os espetáculos como um tipo de escola. Seu Dedé lembra que só fez o público rir quando percebeu que é preciso enxergar a situação da qual fala. “Quando você conta uma piada com insegurança, ninguém ri. Tinha uma situação em que eu ia pegar um menino na rede e meu filho disse ‘pai, eu só não vi direito a expressão do seu rosto, porque a rede tava na frente'”. Não havia rede alguma. Viu ainda que quantidade nem sempre é qualidade. Achava bonito um ator ter muitos personagens e, além de Seu Dedé, atuou como Boquinha (moleque), Leleno (marinheiro aposentado), Arnaldo (cantor fracassado), Véi Ciço (ignorante) e Jack (bichinha), personagem com o qual também trabalha até hoje. “Percebi que qualquer história que eu quiser contar dá certo com Seu Dedé”.
O vizinho lelé da cuca de João já sabia.
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Isabela Santos
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