novembro 20, 2012

UM MUSEU PARA O VAQUEIRO POTIGUAR

 Vestido em sua armadura de couro, aboiando o gado, o vaqueiro
 conquista um espaço  para contar - a partir do seu cotidiano - 
um pouco da sua história em solo potiguar
 Fotografia: Rodrigo Sena 

MUSEU DO VAQUEIRO
SOPRO NOVO PARA O VELHO SONHO   

Por
 Regina Coeli Vieira Machado
Sarah Vasconcelos
Antônio Roberto
Roberto Lucena

O tipo étnico do vaqueiro provém do contato do branco colonizador com o índio, durante a penetração do gado nos sertões do Nordeste brasileiro. O grito ecoado nos trechos dos versos de Patativa do Assaré em "O vaqueiro", traz a riqueza e a cultura da principal figura do sertão nordestino. Sem a figura dos bandeirantes, ao contrário de outras regiões do país, o Rio Grande do Norte contou com a presença do peão  para ter sua área delimitada e se desenvolver, a partir do final do século XVI.  

O vaqueiro é a figura central de uma fazenda. Seu trabalho é árduo e contínuo. Passa grande parte do tempo montado a cavalo percorrendo a fazenda e fiscalizando as pastagens. Vestido em sua armadura de couro, aboiando o gado, o vaqueiro conquista um espaço  para contar - a partir do seu cotidiano - um pouco da sua história em um projeto nobre, o Museu do Vaqueiro.

"Vamos contar a história do nosso Estado e da nossa gente, a partir do resgate de tradições, memória e história da atividade pastoril", explica o engenheiro agrônomo e criador do projeto Marcos Lopes. Para isso, observa Lopes, o Museu sediará  um centro de pesquisa histórica e de identidade sertaneja, o que propiciará estudo antropológicos, documentação e a captação de peças para exposição.

 MARCOS LOPES
O idealizador de um sonho que já dura 10 anos
Museu preservará a história e a identidade sertaneja
Fotografia: Rodrigo Sena 

Mais do que em apetrechos e peças raras, a destreza e a valentia dos responsáveis por conquistar o sertão brasileiro serão retratadas em atividades geradoras das riquezas econômicas e culturais características do ciclo do couro no Rio Grande do Norte, que se estendeu até o século XVII.  Ao visitar o local, as pessoas terão uma verdadeira aula da história do Sertão, descrita pelo próprio Marcos Lopes. Lá estarão preservadas a história e a identidade sertaneja, com peças, documentação e obras literárias sobre o tema.

O museu começou a ser idealizado por Marcos Lopes há 10 anos. A primeira parte do espaço foi bancado com recursos próprios, apesar do projeto ter sido aprovado pela Lei Câmara Cascudo à época. Este ano, o projeto ganhou patrocínio da Cosern/Neoenergia e foi possível a conclusão das obras. O museólogo Helio Oliveira fez o inventário das peças, e o escritor Dácio Galvão formulou o conceito do museu para a primeira fase de abertura.

Com o patrocínio, serão oferecidas à comunidade oficinas musicais de sanfona e zabumba, e de confecção de artesanato, indumentária e acessórios em couro. As oficinas serão destinadas a estudantes e público carente daquela região. "Com isso, contaremos a história e mostraremos na prática a criação desses bens".

 Entrada do Museu do Vaqueiro, localizado na Lagoa do Bonfim, 
município de São José de Mipibu no Rio Grande do Norte

ESTRUTURA

O Museu do Vaqueiro abre oficialmente no dia 09 de dezembro, quando o visitante poderá ver todo seu acervo sobre a cultura sertaneja em textos, fotos e peças originais, incluindo um espaço dedicado a Luiz Gonzaga, difusor maior dessa cultura em nível nacional. A nova estrutura reproduz um típico casarão sertanejo, com um primeiro andar em sótão. No local já funcionavam as oficinas de confecção de souvenirs e escola de sanfoneiros para a comunidade local. 
Na abertura do museu, o público vai se deparar com uma exposição temporária para a primeira fase, chame-se "O Vaqueiro - um homem universal", que tem curadoria da fotógrafa e jornalista Ângela Almeida, consultoria de Dácio Galvão e direção executiva Marcos Lopes. 

Na festa de inauguração haverá vaquejada feminina, pega de boi no mato e a tradicional missa do vaqueiro. O museu também vai lembrar nomes regionais e locais que contribuíram para pesquisa e manutenção da cultura sertaneja, como o escritor e estudioso da temática sertaneja Oswaldo Lamartine, Câmara Cascudo, o poeta e rabequeiro Fabião das Queimadas, entre outros que tratam do tema sertão e seus habitantes.

  DOMINGUINHOS
 O cantor e compositor visitou o  Museu do Vaqueiro 
e prestou uma contribuição inédita ao espaço: 
doou  uma sanfona, de seu acervo pessoal

DOMINGUINHOS DOA SANFONA AO MUSEU DO VAQUEIRO

O Museu do Vaqueiro, localizado na Lagoa do Bonfim, município de São José de Mipibu, ainda não foi inaugurado, mas a importância do local começa a ser mensurada pelo acervo e visitas registradas no espaço destinado à valorização da cultura nordestina.

O cantor e compositor Dominguinhos, na tarde do dia 17 de novembro,  esteve no local para fazer a doação de uma sanfona retirada de seu acervo pessoal. Além de conhecer o espaço, o "herdeiro" de Luiz Gonzaga tocou e conversou com a turma de alunos do projeto de aprendizes de sanfoneiro. "Comecei a tocar com meus irmãos, quando tinha oito anos. Luiz Gonzaga foi muito importante para minha vida e carreira", resumiu.

A sanfona doada por José Domingos de Morais é uma réplica do instrumento tocado pelo próprio Gonzagão e foi presente de outro sanfoneiro conhecido em terras potiguares: Amazan. "Ganhei essa sanfona de Amazan. Ela é muito especial, porém, muito grande e pesada. Não posso mais usá-la. Não podia vender, nem entregar a outra pessoa. Resolvi então deixar no lugar mais correto. Por isso fiz essa doação", explicou Dominguinhos.

Marcos Lopes, idealizador do Museu do Vaqueiro, explicou a importância do gesto.  "Esse tipo de sanfona, com as teclas na cor preta, é rara. De tantas sanfonas que Luiz Gonzaga tocou, apenas três tinham o teclado preto. Esse modelo, que estamos recebendo de Dominguinhos, é uma destas. É uma doação muito especial", pontuou. A sanfona ficará exposta numa espécie de redoma de vidro, juntamente com uma foto do "pai do forró".

O Museu do Vaqueiro abre as portas oficialmente no dia 9 de dezembro. Será possível conferir um acervo sobre a cultura sertaneja em textos, fotos e peças originais. O espaço começou a ser idealizado por Marcos Lopes há 10 anos. Paralelo ao museu, Lopes se dedica a outro projeto: uma escola de sanfoneiros. Atualmente, 15 crianças e adolescentes participam do projeto. Neste dia, parte da turma ouviu ensinamentos e tocou ao lado de Dominguinhos. É uma emoção boa. Tenho dois ídolos: Dominguinhos e Waldonys. Quero ser um sanfoneiro igual a eles", disse o jovem Mateus da Rocha, 15 anos.
 

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