fevereiro 05, 2013

LUZ, CÂMARA... MAS FALTA AÇÃO!

 MARY LAND BRITO
Luz, câmara mas falta ação
Produtores natalenses reconhecem que faltam apoio
 do poder público, cursos de formação e interação 
entre eles para fomentar a cena local
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 LUZ, CÂMARA MAS FALTA AÇÃO

Por
Henrique Arruda
DO NOVO JORNAL

Pensa comigo: quantos filmes produzidos no Rio Grande do Norte você assistiu nos últimos anos? Tomou conhecimento de algum edital local voltado exclusivamente para o setor audiovisual? Encontrou algum curso fixo de formação na área? Pois é... As respostas, infelizmente, coincidem no tom negativo. Para saber se, de fato, a cena audiovisual está em “pausa”, o NOVO JORNAL conversou com alguns produtores. Entre eles prevalece a impressão de que ainda falta muito para alguém finalmente apertar o “play”.

Mary Land Brito, produtora e professora de produção audiovisual no IFRN - Cidade Alta, ressalta que faltam cursos de formação. “Sou professora de uma única disciplina voltada ao tema dentro do curso de Produção Cultural, que é abrangente. Não existe um curso específico de Produção Audiovisual”, afirma. Para fazer mestrado na área, em 2004, ela precisou se deslocar à Unicamp, em São Paulo.
 
“O mais próximo que temos aqui é o mestrado e doutorado em Sociologia ou Educação e o mestrado em Novas Mídias. Mas tudo é adaptado, ou seja, você não estuda o roteiro em si, mas o roteiro como uma ferramenta da educação, por exemplo”, diz, elegendo a Paraíba como um forte pólo de estudo e pesquisa. “A Paraíba realmente se destaca na pesquisa e Recife em produção”, observa.
 
Ainda com relação à Paraíba, Mary recorda o encontro mais recente entre produtores audiovisuais potiguares e paraibanos que ocorreu na última edição do Festival Goiamum, realizado no ano passado em Natal. “Tanto João Pessoa quanto Campina Grande são dois polos de produção e pesquisa. É claro que, de maneira geral, o principal problema que eles nos relataram foi a falta de incentivo, mas mesmo assim tiveram um edital no ano passado no valor de R$ 1 milhão”, conta.

“A gente está carente de incentivo municipal e estadual. Não existe um edital exclusivo para o audiovisual em nenhuma das duas esferas. O único municipal que tive conhecimento aconteceu há quatro anos, chamava-se Cine Cordel e o prêmio era de R$ 2 mil para o melhor roteiro. Eu ganhei e fui receber o prêmio quatro anos depois”, conta.

Ainda na prefeitura, Mary critica a existência de um equipamento audiovisual na Funcarte que não é cedido aos produtores por pura burocracia. “Tem uma câmera e ilhas de edição que eles receberam do Ministério da Cultura há mais de três anos, mas até agora esse equipamento está parado porque não cumpriram a burocracia necessária para documentar o equipamento e é uma pena porque isso poderia estar sendo emprestado aos produtores de alguma forma”, considera.

AUGUSTO LULA
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PUBLICIDADE COMO ALTERNATIVA

Justamente por não querer “mendigar” por editais o cineasta Augusto Lula resolveu deixar de lado o cinema autoral e passou a atuar no campo publicitário, mais especificamente em campanhas eleitorais e no marketing governamental. “Não aguentei mais não fazer as coisas da forma como eu gostaria, de fazer as coisas com ‘gambiarras’ porque nunca tinha o orçamento ideal”, justifica.

Reconhecendo que o RN não tem tradição cinematográfica tão forte quanto Pernambuco ou Paraíba, ele explica que a nossa necessidade não está na realização de mais festivais, mas na união dos próprios produtores - ponto apontado inclusive por quase todos os entrevistados. “Está faltando mais união entre as pessoas que pretendem fazer o audiovisual. Cinema não é coisa de um único autor, tem som, figurino, maquiagem, continuidade.... Interação é o que falta”, observa.

“Hoje mesmo eu estava lendo um texto que falava uma coisa interessante, que o eixo Rio/São Paulo está concentrado na mão de ex-publicitários e que a novidade para o cinema nacional seria essa estética que o Nordeste traz em filmes como O Céu de Suely, O Som ao Redor e Cinema, Aspirina e Urubus”, completa, frisando ainda que é muito difícil o Nordeste participar da Lei Rouanet. “Tá completamente concentrada lá. Para a gente aqui é inviável. Talvez até pela nossa falta de preparação técnica”, opina.

O videomaker e dono do “Ícone Estúdio” reforça que o mercado audiovisual potiguar é muito mais desenvolvido na área publicitária, mas reconhece também que essa não é uma característica exclusiva do Estado. “O que sustenta o audiovisual, saindo dos grandes centros, onde o incentivo é realmente mais forte, é a publicidade”, avalia.

Sobre a inexistente política de editais na área, ele levanta um questionamento. “É interessante que uma arte aconteça só porque o Estado provoque? Ou ela deve existir mesmo que o estado não provoque? Enquanto alguns cobram, outros não se sentem à vontade de realizar seus trabalhos com dinheiro público por achar que estão fazendo algo chapa branca. Mas os grandes filmes são bancados pelas leis de incentivo federal”, pondera.

 KLEBER MENDONÇA FILHO
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PERNAMBUCO SE DESTACA NA ARTE

Como de praxe, é comum observar que a grama do vizinho está mais verde, ou, nesse caso, que a tela está mais cheia. Dois mil e doze foi o ano de Pernambuco nos cinemas e o destaque vai para “O Som ao Redor”, filme que também contou com apoio de um edital do Estado para ser produzido. Dirigido por Kleber Mendonça Filho, o longa pernambucano causou barulho na internet desde o momento em que foi sendo descoberto até o ponto de ser indicado como um dos 10 melhores filmes do ano pelo jornal norte-americano “NY Times” no dia 14 de dezembro do ano passado. 

Em entrevista ao NOVO JORNAL, Kleber comenta que a cena audiovisual de Pernambuco está sólida e conta com o apoio do governo. “Tem apoio sim, de uns cinco anos pra cá existe um edital do governo, que é aperfeiçoado a cada ano e hoje está sólido e democrático. Ano passado tivemos R$ 11 milhões e meio pra produzir e esse ano já está garantido mais R$ 11 milhões e meio”, conta. Além de ser financiado pelo Governo de Pernambuco, O Som ao Redor também contou com recursos do Ministério da Cultura e da Petrobras.

“Eu acho que esse edital mostra um respeito muito grande pelo que está sendo feito aqui. E o maior retorno desse edital foi a repercussão de O Som ao Redor e de outros seis filmes pernambucanos no último Festival de Brasília”, cita.

CARITO CAVALCANTI
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FESTIVAIS QUEBRAM O MARASMO

O cineasta, poeta e escritor Carito Cavalcanti lembra da interação que a internet possibilita aos produtores, mas explica que o RN não pode ser considerado isolado dos demais polos culturais por causa dos próprios festivais que acontecem aqui. “Uma vez que o Goiamum organiza uma mostra nacional dentro da sua programação, é uma prova de que existem iniciativas para tirar a gente dessa inércia”, avalia.

Carito lembra ainda do Festival “Sagi Cine – Guerrilha de Fronteira”, realizado em outubro do ano passado, fruto de uma parceria entre produtores audiovisuais potiguares e paraibanos. “O Sagi foi outro exemplo dessa quebra de isolamento. Muito bonito esse festival, foram três dias de mostra, então quer dizer, esse isolamento é relativo”, considera.

Além do Sagi Cine, Carito lembra também que a SEDA, Semana de Audiovisual organizado pelo Coletivo Fora do Eixo em Natal, e o Cine Visual, organizado pela Rede de Economia Criativa do Audiovisual do RN, são outros exemplos de iniciativas que movimentaram a cena no ano passado.

 KEILA SENA
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GOIAMUM

Tido como o principal momento do cinema potiguar, o Festival Goiamum tem tudo para acontecer novamente no final deste ano, mas mesmo com todo o reconhecimento, Keila Sena, uma das diretoras do evento, reconhece que é uma missão difícil organizar algo do porte. “A gente nunca quis chegar com o festival gigante, mas crescer aos poucos, dando um passo de cada vez”, destaca.

Ainda de acordo com Keila, o Goiamum vive um momento feliz. “Temos uma programação muito rica e em quase todas as edições, infelizmente, eu sou obrigada a recusar propostas porque a programação não comporta. A nossa dificuldade é somente a permanência do incentivo. A gente tá sempre batalhando. Coloca em edital, vai atrás, mas acho que essa é uma dificuldade comum a quem faz cultura. Todo ano somos obrigados a fazer adaptações e cortar coisas porque nem sempre a gente consegue o valor desejado”, conta.

“Não sou eu que estou inventando a roda, faço parte de outra geração e já tem uma galera nova surgindo. Acho que o que estamos tentando fazer é firmar esse segmento aqui porque não há trabalho coletivo em Natal e no RN. Na Paraíba, eles trabalham da seguinte forma: não tem verba? então todo mundo se junta para fazer o seu projeto e depois você ajuda a formar o projeto de todo mundo e isso vai gerando uma expansão”, explica.

...fonte...
Henrique Arruda
 www.novojornal.jor.br
 
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