AUGUSTO SEVERO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO
MÁRTIR DA TECNOLOGIA AERONÁUTICA
UM DOS PIONEIROS DA AVIAÇÃO BRASILEIRA
Macaíba, RN, Brasil, 11 de janeiro de 1864 — Paris, França, 12 de maio de 1902
MÁRTIR DA TECNOLOGIA AERONÁUTICA
UM DOS PIONEIROS DA AVIAÇÃO BRASILEIRA
Macaíba, RN, Brasil, 11 de janeiro de 1864 — Paris, França, 12 de maio de 1902
Político, jornalista, inventor e aeronauta brasileiro.
Fotografia: Desconhecido - Musée de l'Air et de l'Espace
UM MEMORIAL PARA AUGUSTO SEVERO
Por
Itaércio Porpino
Tribuna do Norte
Nos primórdios da aviação, um
potiguar entrou para a seleta galeria dos intrépidos inventores que ajudaram a
tornar possível o sonho do homem voar. Às 5h30 do dia 12 de maio de 1902, mais
de cem anos atrás, o macaibense Augusto Severo de Albuquerque Maranhão decolou
do solo parisiense no dirigível Pax, desenvolvido por ele, e voou em torno da
Torre Eiffel acompanhado do francês Georges Saché, mecânico de bordo. Cerca de dez
minutos após o início do voo, o Pax explodiu, matando Saché e Augusto Severo,
que tornou-se, assim, o primeiro mártir brasileiro da aviação.
O engenheiro potiguar, cujo
invento revolucionou e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas
seguintes, dá nome a ruas (uma delas em Paris, perto do local do acidente),
praças, escolas e até a um grupo de escoteiros, mas no RN sua história não tem
sido preservada e difundida como merecia. A crítica, feita pela bisneta de
Augusto Severo, Sônia Severo, e por seu primo Augusto Maranhão, é compartilhada
pelo escritor e advogado Diógenes da Cunha Lima, que como presidente da
Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL) batalha para que o Aeroporto
Augusto Severo, desativado desde maio de 2014, seja transformado em um memorial
dos pioneiros da aviação, com destaque para o inventor potiguar.
A proposta de criação do memorial
foi detalhada em texto assinado por Diógenes da Cunha Lima e encaminhado ao
comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro do ar Juniti Saito. No
documento, o presidente da ANL se diz preocupado com o descaso com os assuntos
da história do RN e pede o apoio do comandante para o projeto.
AEROPORTO AUGUSTO SEVERO
O Aeroporto Internacional Augusto
Severo é um complexo aeroportuário
localizado em Parnamirim, no estado
brasileiro do Rio Grande do Norte.
Foi o principal aeroporto comercial do
Estado, operando
de 1980 até 31 de maio de 2014
Fotografia: Direito autoral creditado à assinatura na fotografia
“Nenhum outro estado brasileiro
disputa com o Rio Grande do Norte o pioneirismo da aviação mundial. Nossa
proposta é transformar o salão principal do aeroporto, entre os grandes painéis
dos artistas natalenses Aécio Emerenciano e Dorian Gray Caldas, em um Memorial
dos Pioneiros da Aviação, preservando o nome de Augusto Severo, segundo
sugestão de 40 militares em visita à ANL”, diz Diógenes.
De acordo com o escritor e
advogado, a ideia é que as pessoas possam conhecer, por meio de fotografias e
outros documentos – e até de réplicas dos primeiros dirigíveis e aviões – a
importância que o Estado teve para a aviação, desde os seus primórdios até o
período da Segunda Guerra Mundial.
“Foram inúmeros os pilotos da
vanguarda que por aqui passaram. Tivemos Arturo Ferrarin, Carlo Del Prete, Jean
Mermoz, Maryse Bastié, Antoine Saint-Exupery, Marcel Bouilloux-Lafont, Edmond
d’Oliveira, Paul Vachet, Le Brix e Marcel Reine”, lista Diógenes, que quer
destacar, principalmente, o pioneirismo de Augusto Severo.
A proposta de construção do
memorial conta com o apoio das maiores instituições culturais do Estado, entre
elas, o Instituto Histórico e Geográfico, o Conselho Estadual de Cultura e a
União Brasileira de Escritores. “É necessário a união de forças para o projeto
acontecer”, diz o presidente da ANL, avisando que vai levar o pleito ao
governador do RN e ao prefeito de Parnamirim. “Vamos procurar todos que possam
ajudar. A memória de Augusto Severo não pode ser esquecida”.
PRAÇA AUGUSTO SEVERO - RIBEIRA - NATAL/RN
Inauguração da estátua em Natal, Rio Grande do Norte, a 12 de maio de 1913.
O orador foi o grande tribuno Dr. Sebastião Fernandes.
Note-se à direita da estátua a Bandeira Francesa que
veio cobrindo seu corpo até o Brasil.
Fotografia: www.reservaer.com.br
Inauguração da estátua em Natal, Rio Grande do Norte, a 12 de maio de 1913.
O orador foi o grande tribuno Dr. Sebastião Fernandes.
Note-se à direita da estátua a Bandeira Francesa que
veio cobrindo seu corpo até o Brasil.
Fotografia: www.reservaer.com.br
MEMÓRIA POUCO PRESERVADA NO RN
A sociedade natalense fez doações
de plantas, como palmeiras imperiais e oitizeiros, para ornar a Praça Augusto
Severo, que começou a ser construída em 1904, no governo de Augusto Tavares de
Lyra, também macaibense e genro de Pedro Velho (irmão de Augusto Severo). Em
1913, a praça ganhou uma estátua de bronze do inventor potiguar, inaugurada no
dia de sua morte.
O imponente monumento continua
até hoje no mesmo local, na Ribeira, arrodeado pelo centenário Teatro Alberto
Maranhão, o Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, o prédio do antigo Grupo
Escolar Augusto Severo e o Palacete Cel. Juvino Barreto, onde atualmente é o
Colégio Salesiano São José.
DIRIGÍVEL BARTHOLOMEU DE GUSMÃO
No Campo de Tiro do Realengo, no Rio de Janeiro, era em 1894
Embora aos 25 anos de idade tivesse projetado o aeróstato Potyguarania,
seu primeiro dirigível foi de fato o Bartholomeu de Gusmão (nome em
homenagem ao pioneiro santista), construído em 1893 em Paris
pela casa Lachambre & Machuron, a mesma que
produziu vários balões para Santos Dumont.
Fotografia: Musée de L'Air Le Bourget
No Campo de Tiro do Realengo, no Rio de Janeiro, era em 1894
Embora aos 25 anos de idade tivesse projetado o aeróstato Potyguarania,
seu primeiro dirigível foi de fato o Bartholomeu de Gusmão (nome em
homenagem ao pioneiro santista), construído em 1893 em Paris
pela casa Lachambre & Machuron, a mesma que
produziu vários balões para Santos Dumont.
Fotografia: Musée de L'Air Le Bourget
A praça, porém, sofre com o
abandono e a ação de vândalos. A estátua encontra-se toda pichada. A placa em
bronze, com as informações sobre o monumento, foi arrancada e levada. A
situação faz a bisneta de Augusto Severo, Sônia Severo, e seu primo Augusto
Maranhão lamentarem o que consideram um completo descaso com a memória do RN.
Acostumada a ver a história do Estado
ser maltratada, Sônia se diz aliviada por a família ter doado os pertences de
seu bisavô para o Museu Aeroespacial do Rio de Janeiro. “Graças a Deus, ou já
estariam no lixo”.
O primo Augusto Maranhão, que é
empresário do setor de transporte rodoviário, mas também um entusiasmado
pesquisador da história da aviação, fica desapontado quando as pessoas se
referem à Praça Augusto Severo como Largo Dom Bosco. Aliás, isso é algo que
também deixa o escritor Diógenes da Cunha Lima profundamente preocupado.
“Dói na minha alma,
principalmente quando vejo em matérias de jornais, e isso tem sido muito comum.
Não existe Largo Dom Bosco. É Praça Augusto Severo. Do mesmo jeito, a praça de
Petrópolis, onde fica o Palácio de Esportes, é Pedro Velho. Não é Praça Cívica,
como muitos chamam. Se continuarem com isso, lá na frente ninguém vai saber os
nomes corretos”, lamenta Diógenes.
MONUMENTO EM MACAÍBA
Inauguração do monumento de AUGUSTO SEVERO, em Macaíba,
falando na ocasião o Dr. Enock Garcia, tendo à sua
direita o prefeito Alfredo Mesquita.
Fotografia: www.reservaer.com.br
Inauguração do monumento de AUGUSTO SEVERO, em Macaíba,
falando na ocasião o Dr. Enock Garcia, tendo à sua
direita o prefeito Alfredo Mesquita.
Fotografia: www.reservaer.com.br
Em Macaíba, terra onde Augusto
Severo nasceu, também existe uma praça com o seu nome. Ela fica no centro do
município e foi construída no início da década de 40 no lugar do antigo Mercado
Público, demolido nessa época junto com a casa onde nasceram Augusto Severo e
Alberto Maranhão. “Dos 14 irmãos, só os dois nasceram na casa, construída por
Fabrício Gomes Pedroza, fundador de Macaíba”, conta o historiador macaibense
Anderson Tavares de Lyra, de 34 anos.
CHEGADA DO CORPO DE SEVERO AO RIO DE JANEIRO
Reprodução do expressivo quadro a óleo do pintor Ribeiro,
amigo e admirador de AUGUSTO SEVERO, propriedade
do Ministro Dr. Augusto Tavares de Lyra, vendo-se
a descida do ataúde do grande morto, coberto
agora pela Bandeira Francesa, recebendo
as homenagens do Brasil,
na baía de Guanabara.
Fotografia: www.reservaer.com.br
Reprodução do expressivo quadro a óleo do pintor Ribeiro,
amigo e admirador de AUGUSTO SEVERO, propriedade
do Ministro Dr. Augusto Tavares de Lyra, vendo-se
a descida do ataúde do grande morto, coberto
agora pela Bandeira Francesa, recebendo
as homenagens do Brasil,
na baía de Guanabara.
Fotografia: www.reservaer.com.br
“O médico Olimpio Maciel, que já
foi gestor do instituto, guarda algumas coisas na casa dele, e eu também tenho
fotografias e outros documentos comigo”, diz o historiador.
Em Macaíba, a homenagem mais
visível a Augusto Severo encontra-se na Praça Antônio de Melo Siqueira, onde
antigamente era o cais do porto. Construída nos anos 50, a praça foi reformada
em 2012, quando ganhou um grande painel com imagens de macaibenses ilustres.
Severo está na galeria, ao lado de Tavares de Lyra, Henrique Castriciano, Auta
de Souza, Alberto Maranhão e Fabrício Pedroza.
PRAÇA AUGUSTO SEVERO - RIBEIRA - NATAL/RN
Fotografia do “Graf Zeppelin” quando passava, desviando-se da sua rota,
sobre a estátua de Severo, tendo nessa ocasião deixado cair, suspenso
por um pára-quedas iluminado, uma grande coroa, com a seguinte
inscrição: “A ALEMANHA AO BRASIL NA PESSOA DO
SEU GRANDE FILHO – AUGUSTO SEVERO”.
Essa coroa encontra-se no Instituto Histórico de Natal.
Fotografia do “Graf Zeppelin” quando passava, desviando-se da sua rota,
sobre a estátua de Severo, tendo nessa ocasião deixado cair, suspenso
por um pára-quedas iluminado, uma grande coroa, com a seguinte
inscrição: “A ALEMANHA AO BRASIL NA PESSOA DO
SEU GRANDE FILHO – AUGUSTO SEVERO”.
Essa coroa encontra-se no Instituto Histórico de Natal.
AUGUSTO SEVERO
Linha do Tempo
1864
No dia 11 de janeiro, nasce em
Macaíba/RN, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, oitavo dos 14 filhos do
pernambucano Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão (1827-896) e da paraibana
Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão (1832-893).
1880
Aos 16 anos, viaja para o Rio de
Janeiro, então capital do Império, e inicia seus estudos de engenharia na
Escola Politécnica.
1881
O inventor paraense Júlio César
Ribeiro de Souza apresenta um projeto de dirigível ao Instituto Politécnico
Brasileiro, o que motiva o jovem Augusto Severo a se interessar pelo voo,
realizando observação de aves planadoras e construindo pequenos modelos de
pipas.
1882
Passa a lecionar matemática no
Ginásio Norte Riograndense, do seu irmão Pedro Velho Maranhão, acumulando a
função de vice-diretor. Em 1983, o
ginásio fecha e Severo dedica-se ao comércio, primeiro como guarda-livros da
empresa Guararapes e, mais tarde, associa-se à firma A. Maranhão & Cia.
Importadora e Exportadora.
1888
Casa-se com a pernambucana Maria
Amélia Teixeira de Araújo (1861-1896), com quem tem cinco filhos. No ano
seguinte, passa a escrever artigos para o jornal A República, anti-monárquico,
do irmão Pedro Velho, e projeta um dirigível que incorporava ideias
revolucionárias, o Potyguarania. O projeto, porém, nunca chegaria a sair do
papel.
1892
Abandona de vez a carreira
comercial para dedicar-se à política, sendo eleito deputado ao Congresso constituinte
que organizou o Estado. Neste mesmo ano, o Governo lhe concede auxílio
pecuniário para que mande fazer, na Europa, um aeróstato dirigível de sua
invenção. O dirigível recebe o nome de Bartholomeu de Gusmão.
1893
Em março, o balão chega ao Brasil.
A estrutura em treliça é inicialmente projetada para ser executada em alumínio,
mas a falta do material faz com que Augusto Severo altere o projeto,
construindo a parte rígida do aparelho em bambu.
1894
Com cerca de 2.000m3 e medindo
60m de comprimento, o Bartholomeu de Gusmão realiza as primeiras ascensões
ainda como balão cativo (preso por cordas) e mostra-se estável e equilibrado,
demonstrando que a concepção proposta por Augusto Severo era adequada para o
voo. Mas, no único voo do dirigível livre das amarras, a estrutura em bambu não
suporta os esforços e se parte.
1896
Em 19 de abril, no Rio de
Janeiro, Augusto Severo pede patente para um “turbo-motor com expansões
múltiplas e continuadas”, concedida no dia seguinte. Em 20 de outubro, sua
mulher morre, após o que Augusto Severo inicia um relacionamento amoroso com
Natália de Siqueira Cossini, de origem italiana, com a qual vem a ter dois
filhos.
1899
Em 27 de julho, no Rio de
Janeiro, patenteia um novo balão dirigível, o Paz, que posteriormente tem o
nome latinizado para Pax.
1901
Augusto Severo licencia-se da
Câmara para se dedicar à construção do Pax, que trazia muitas inovações em
relação ao Bartholomeu de Gusmão.
1902
No dia 12 de maio, tendo como
mecânico de bordo o francês Georges Saché, o Pax inicia seu voo às 5h30, saindo
da estação de Vaugirard, em Paris, capital da França.
O dirigível eleva-se rapidamente,
atingindo cerca de 400 metros, e realiza diversas evoluções que mostram aos
inúmeros espectadores que as ideias do inventor potiguar Augusto Severo estavam
corretas. Cerca de dez minutos após o início do voo, o Pax explode
violentamente, projetando os dois tripulantes para o solo. Severo e Saché
morreram na queda. Os restos do dirigível caem na Avenida du Maine, diante de
uma grande multidão.
1908
A viúva de Augusto Severo,
Natália, que presenciou a queda, nunca se recuperou da tragédia. Após retornar
ao Brasil, ela se suicida com um tiro no
coração, aos 30 anos de idade.
AUGUSTO SEVERO VOLTA A PARIS
Na proa, Augusto
Severo comanda o balão Pax,
tendo na popa o mecânico Sachet
Fotografia: Musée de L'Air
Le Bourget
Augusto Severo voltou a Paris em
1902 para acompanhar a construção de um novo dirigível, o Pax, que se elevou no
ar pela primeira vez em 12 de maio daquele ano, em testes com o aparelho preso
ao solo, no parque aerostático parisiense de Vaugirard. Após dez minutos de evoluções,
a 400 m de altura, uma explosão rapidamente destruiu o aparelho, causando a
morte imediata do aeronauta e do mecânico Sachê. No local da queda, na Avenue
du Maine, existe uma placa de mármore em memória de ambos.
PARA MUITOS, AUGUSTO SEVERO IDEALIZOU A AVIAÇÃO
Segundo Diógenes da Cunha Lima, a
fórmula da dirigibilidade do Pax foi útil depois aos construtores do Zeppelin,
dirigível fabricado na Alemanha, que chegou a reconhecer a importância do
inventor potiguar no desenvolvimento de balões dirigíveis.
Em 1930, após fazer evoluções
sobre Natal, o Zeppelin deixou cair um ramalhete de flores sobre a estátua de
Severo, no bairro da Ribeira, com os dizeres: “Homenagem da Alemanha ao Brasil,
na pessoa de seu filho Augusto Severo”.
Em 1933, novas flores foram
lançadas. A faixa dizia: “A Augusto Severo, o grande brasileiro que idealizou a
aviação como fator de progresso e aproximação entre os povos, homenagem do Graf
Zeppelin”.
O fotógrafo João Alves filmou o
balão sobre o Palácio Potengi e em outros pontos da cidade. O filme, esquecido
e quebradiço, foi restaurado pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que
enviou cópia para a Fundação José Augusto.
O médico potiguar Raul Fernandes,
passageiro do balão, relatou as circunstâncias da viagem e descreveu que o Zeppelin
era confortável como um navio. Tinha camarote, banheiro, bar para fumantes,
salão de refeições e biblioteca. Ouvia-se piano.
A configuração proposta por Severo, de um dirigível
semirrígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis
nas décadas seguintes.
...fonte...
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Os direitos autorais são protegidos pela Lei nº 9.610/98, violá-los é crime!
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