abril 03, 2011

UM HERDEIRO DA XILOGRAVURA

O artista desenvolve suas atividades junto aos poetas cordelistas

ERICK LIMA
HERDEIRO DA XILOGRAVURA

Por
Maria Betânia Monteiro

As paisagens do sertão nordestino misturadas aos elementos do imaginário popular, como lobisomens, sereias aladas, cavalos de fogo, são impressos com freqüência nos livros de cordel a partir da técnica da xilografia. A técnica milenar surgiu como recurso de reprodução de impressos e ganhou status de arte nas mãos de grandes pintores europeus. Aqui no Nordeste a xilografia se popularizou e vem sendo preservada por grandes mestres, como o pernambucano J. Borges, considerado o maior gravador popular em atividade no Brasil.

Herdeiro desta tradição e ao mesmo tempo rompendo com ela, o jovem xilógrafo potiguar de 26 anos, Erick Lima, realiza cursos nas escolas públicas de Natal e região metropolitana com o objetivo de divulgar a técnica e a história da xilografia para adolescentes. As oficinas acontecem nas escolas públicas de todas as zonas de Natal e na Região metropolitana, como Parnamirim, Ceará-Mirim, Extremoz, São José de Mipibu e Nísia Floresta. “Antes da oficina eu entro em contato com os professores, para que possamos planejar a inserção do conteúdo na sala de aula”. No dia da oficina é feita uma contextualização histórica e em seguida os alunos põem a mão na "massa".

O xilógrafo diz que ao levar a xilografia e o cordel para as escolas, também está levando um pouco de história e das manifestações populares do estado. Afinal, nas páginas dos livretos é comum encontrar a história de nomes importantes, como de médicos, cangaceiros, artistas e de manifestações como o Boi de Reis e as procissões.

Em suas pesquisas Eick lima descobriu que nomes importantes das artes visuais no mundo usaram a xilografia como recurso. Um deles o norueguês Munch, que pintou a célebre obra O Grito (óleo e pastel sobre o cartão). Os trabalhos feitos no nordeste utilizam a mesma técnica difundida no século VIII, mas imprimem o modo particular do seu povo. A divulgação da xilografia nordestina veio depois de percebida a semelhança entre as gravuras populares feitas pelos xilógrafos e a arte européia. “A xilografia só foi popularizada depois que pesquisadores apontaram semelhanças com o movimento expressionista europeu e passaram a citar as obras em seus trabalhos acadêmicos”.

XILOGRAVURISTA DE MÃO CHEIA

Natural da cidade de Natal-RN , o artista plástico Erick Lima, especializado na xilogravura, vem desenvolvendo suas atividades junto aos poetas cordelistas da Casa do cordel. Em seu ateliê são produzidas gravuras para ilustrações de folhetos, livros, discos, camisetas, cerâmicas decorativas, além de trabalhos sob encomenda, como retratos.

Erick Lima começou a trabalhar sistematicamente com a xilografia apenas em 2007, apesar do pouco tempo dedicado a arte, o jovem que é estudante de Ciências Sociais da UFRN, está imerso no universo da cultura popular nordestina desde a infância. Ele é filho de Erivaldo Leite de Lima, conhecido como Poeta Abaeté, um cordelista atuante no Estado. “Meu pai é de Sertânia, interior de Pernambuco e produz cordel há muito tempo. Ele veio para Natal há quase 30 anos”, disse Erick. E foi para ilustrar as histórias do pai e de seus amigos, que ele fez as primeiras matrizes em madeira.

Os cenários representados em seu trabalho surgem tanto de sua memória da infância, já que na companhia do pai viajou por municípios do sertão nordestino, quanto dos textos dos cordelistas. “Os autores de cordel às vezes viajam na construção do texto. Nestas horas eu não posso fazer as gravuras a partir da minha memória, faço a partir dos textos”, disse.

Para fazer as matrizes em madeira, Erick utiliza ferramentas industrializadas, como as goivas e outras artesanais, como estiletes e pontas de faca. Dependendo do tamanho, o artista leva cerva de uma hora entre lixar a superfície da madeira, desenhar, entalhar e banhar o suporte com tinta de impressão gráfica.

Erick precisou pesquisar na internet sobre xilogravura e bater um papo com aristas que dominam a técnica. A curiosidade do jovem foi tanta, que ele percorreu quilômetros para encontrar dois grandes mestres da xilografia popular. Na cidade de Bezerros, interior de Pernambuco ele conheceu J. Borges, considerado o maior gravador popular em atividade no Brasil e em Caruaru conheceu Seu Dila, o mestre de J. Borges.

A partir das pesquisas e do contato com os mestres, Erick começou a elaborar os seus primeiros trabalhos. “Os cordelistas me pressionavam muito, chegavam para mim e diziam: você tem que fazer isso direito para ilustrar os cordéis”. Dessa pressão nasceu o artista e o difusor da arte e da técnica da xilogravura popular.

XILOGRAVURA

A xilogravura é a técnica da gravura em que se utiliza uma matriz em madeira para a obtenção de reproduções da imagem gravada.O suporte, em geral, é o papel.

O primeiro vestígio da xilografia data do séc VIII na china, com a reprodução de imagens budistas e livros xilográficos.A gravura Europeia data do séc.XIV.A mais antiga xilo Europeia que se conhece e a "Bois protat" de 1370.

No Brasil a xilografia chega sistematicamente com a vinda da família real em 1808, que trouxe consigo a imprensa régia, que dispunha de muitas matrizes xilográficas.

A xilo foi utilizada por muito tempo para ilustrações de periódicos como jornais.Um exemplo é o Jornal "O mossoroense".Um dos mais antigos jornais em atividade no Brasil, continha xilogavuras como vinheta e ilustrações,elaboradas pelo seu dono João da Escóssia.

No nordeste brasileiro foi que se desenvolveu uma das mais singulares e representativas formas da xilo no mundo.A xilogravura popular ligada ao folheto de cordel adquiriu uma identidade própria.Geralmente feita pelos cordelistas, gerou grandes nomes com J.Borges,Abraão Batista e Dila.Influenciou grandes nomes das artes visuais como o gravador Gilvam Samico, que bebeu na origem da gravura popular para desenvolver seu traço.

...fonte...
Maria Betânia Monteiro
www.tribunadonorte.com.br
Guia Cultural Solto na Cidade - 16 a 30 jun/2010
www.casadocordel.blogspot.com

...fotografia...
Paulo Almeida

...serviço...
Xilogravuras de Erick Lima. Contato: (84) 8809-5178
www.casadocordel.blogspot.com
Casadocordel@hotmail.com

...visite...
Museu Casa da Xilogravura

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fiz uma visita e gostei!! Passa lá você também!!!