Por
Ségio Vilar
Mesmo sendo um dos bairros mais antigos de Natal, a Ribeira ainda não se encontrou. Atravessou fases distintas em aproximados quatro séculos e hoje vive dividida entre a herança histórica, a vocação portuária e comercial, o potencial cultural em ascendência e a demanda ainda ínfima de moradias residenciais. O poder público também procura um sentido para o bairro; ainda sente dificuldade em direcionar investimento. Agentes culturais procuram reerguer os tempos áureos pelo viés da cultura e boemia. E nos últimos meses é este o desenho pintado no bairro, em constante conflito com um conjunto heterogêneo de valores da "Ribeira Velha de Guerra".
Muitos apontam futuro promissor ao bairro. Investimentos estrangeiros já miram o crescimento de bares e pubs no corredor cultural. Tudo estimativa. Por enquanto, o futuro está presente na arquitetura de prédios seculares em ruínas, como máquinas do tempo enferrujadas. A antiga boate Arpege - a maior da época áurea do bairro, ancoradouro de marinheiros e americanos à procura das prostitutas ribeirinhas - está próxima de ruir. É o retrato de um tempo distante de prosperidade quando a Ribeira irradiava desenvolvimento como centro cultural e social da cidade no início do século passado até o fim da Segunda Grande Guerra.
O tempo hoje na Ribeira ainda caminha devagar. É a aura do bairro, impregnada em cada parede embolorada dos comércios antigos, repartições públicas e prédios abandonados. Mas uma turma de agentes culturais, filhos do Blackout tentam compensar o esquecimento do poder público com a oferta de serviços e cultura. É a tentativa de incutir vida ao bairro. Todos os dias. Tornar a Ribeira além da boemia e do preconceito. E antes que entusiastas daqueles chãos históricos abandonem o barco. "Mantenho estúdio na Ribeira há 15 anos. Mas não aguento mais o descaso. Já penso em sair", lamenta o fotógrafo Giovanni Sérgio.
As tentativas de restauração da parte do poder público são politiqueiras. Isso há décadas. O bairro vive, literalmente, de fachada: pintada, bonita. Enquanto o interior acumula lixo, podridão e abandono - locais perfeitos ao consumo de drogas. "Daí parte o preconceito contra o bairro. Falta iluminação, segurança e limpeza. Então, a imagem de quem vê de fora é essa: um ambiente sinistro. Mas o conteúdo é diferente. Quem conhece, sabe. A vocação da Ribeira é artística. Forçar uma vocação residencial é inviável. Quem quer morar perto de bares e casas de show?", opina um dos diretores da Casa da Ribeira, Henrique Fontes.
O músico Paulo Souto morou na Ribeira praticamente na única unidade residencial do bairro: o histórico Edifício Bila, na avenida Duque de Caxias. As críticas do músico recaem apenas na falta de alguns serviços. "É um bairro sossegado. Nunca fui assaltado. É perto de bancos, comércios e da boemia. O entretenimento aqui bomba. Nem preciso sair muito longe pra me divertir. É um bairro saneado. Tem seu charme histórico... Mas faltam farmácias e bons restaurantes. No mais, sinto as mesmas carências de outros bairros,a exemplo de Pirangi, onde moro hoje".
Nalva Melo trabalha na Ribeira há 17 anos. Luta junto a outros agentes culturais para reerguer o bairro. Já mais experiente, nutre também alguma desilusão. Mas se articula junto a outras instituições para reverter o quadro. São entidades corporativas, empresariais e institucionais que enxergam no local tão somente a necessidade de cuidado. "A prefeitura se preocupa em pintar de amarelo o meio-fio pra nos multar, sem apresentar soluções pro bairro. Por isso ainda sinto forte o preconceito com o bairro. Acham que aqui só tem prostituta e ladrão. Quem frequenta são pessoas que sabem valorizar a cultura".
Estudio de Giovanni Sérgio na Rua Chile, um antigo e belo casarão na Ribeira |
As tentativas de restauração da parte do poder público são politiqueiras. Isso há décadas. O bairro vive, literalmente, de fachada: pintada, bonita. Enquanto o interior acumula lixo, podridão e abandono - locais perfeitos ao consumo de drogas. "Daí parte o preconceito contra o bairro. Falta iluminação, segurança e limpeza. Então, a imagem de quem vê de fora é essa: um ambiente sinistro. Mas o conteúdo é diferente. Quem conhece, sabe. A vocação da Ribeira é artística. Forçar uma vocação residencial é inviável. Quem quer morar perto de bares e casas de show?", opina um dos diretores da Casa da Ribeira, Henrique Fontes.
O músico Paulo Souto morou na Ribeira praticamente na única unidade residencial do bairro: o histórico Edifício Bila, na avenida Duque de Caxias. As críticas do músico recaem apenas na falta de alguns serviços. "É um bairro sossegado. Nunca fui assaltado. É perto de bancos, comércios e da boemia. O entretenimento aqui bomba. Nem preciso sair muito longe pra me divertir. É um bairro saneado. Tem seu charme histórico... Mas faltam farmácias e bons restaurantes. No mais, sinto as mesmas carências de outros bairros,a exemplo de Pirangi, onde moro hoje".
O Edifício Bila, construído na década de 1950, no então próspero bairro da Ribeira |
No Nalva Café Salão, a proprietária mantém uma minibiblioteca só com autores potiguares. Também estão espalhadas peças de artes visuais. "É um atrativo. Se existissem outros lugares que funcionassem com esse intuito na Ribeira, todos os dias, a realidade aqui seria diferente", acredita Nalva. E essa filosofia de oferta de serviços e arte todos os dias na tentativa de reerguer a Ribeira por esse viés foi o mote para um dos projetos culturais mais ousados da cidade, encabeçado por algumas das casas mais antigas do bairro: O Centro Cultural Dosol e a Casa da Ribeira.
A análise geral é de que a Ribeira evoluiu culturalmente, enquanto as carências urbanísticas permaneceram. Ser um bairro residencial criaria conflito com a vocação boêmia da Ribeira, unir o potencial cultural ao turístico seria viável. "Temos um porto na nossa frente. Mas quando os turistas descem encontram uma fila de táxi brigando pelo passageiro, prostitutas atrás de clientes e a sujeira do bairro", reclama Henrique Fontes.
O Circuito Ribeira procura essa solução sustentável. "Atraímos 10 mil pessoas em cada uma das duas edições. Isso prova que há pessoas que querem frequentar o bairro", comenta Edson Silva, diretor da Casa da Ribeira. E explica que uma tendência mundial é criar espaço público ao pedestre. "É o que Jaime Lerner chama de 'acupuntura urbana'. São pontos de serviços e arte. O Circuito oferece isso".
O intuito é o cidadão apreciar o lugar e criar curiosidade em conhecer melhor a história. Para isso se oferecem atrativos. "Por outro lado, se não houver iluminação, limpeza pública, segurança, essas pessoas não voltam. Ou voltam apenas no dia do Circuito, e não pra Ribeira, de fato. Não é essa nossa intenção. Queremos uma cultura viva, diariamente. Já me perguntaram o porquê de o Circuito ser feito na Ribeira e não em Ponta Negra", disse Edson Silva. E conclui: "A Ribeira não é velha; é histórica."
O número 52 da Rua Frei Miguelinho aponta para a Casa da Ribeira |
O intuito é o cidadão apreciar o lugar e criar curiosidade em conhecer melhor a história. Para isso se oferecem atrativos. "Por outro lado, se não houver iluminação, limpeza pública, segurança, essas pessoas não voltam. Ou voltam apenas no dia do Circuito, e não pra Ribeira, de fato. Não é essa nossa intenção. Queremos uma cultura viva, diariamente. Já me perguntaram o porquê de o Circuito ser feito na Ribeira e não em Ponta Negra", disse Edson Silva. E conclui: "A Ribeira não é velha; é histórica."
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Sérgio Vilar
Concordo com você, é preciso que haja uma educação patrimonial referente ao bairro da Ribeira, e também, apoio por parte dos responsáveis pelos imóveis e o poder público, que poderia dar infraestrutura ao bairro. Não sou natalense oficialmente, mas me considero por morar aqui há anos e vejo com tristeza a situação do bairro. Espero que com o tombamento alguma coisa possa mudar para melhor.
ResponderExcluirAtt. Tamires Silva