Foto da série Mi ama Vin, de Marcelo Buanain, trata de religiosidade
A REALIDADE EM PRETO E BRANCO
Por
Yuno Silva
A fotografia enquanto expressão artística ainda é um conceito pouco difundido em terras tupiniquins, e o seminário "Enquadres" pretende dar visibilidade a essa vertente que passou a ganhar força no Brasil há quase uma década com o surgimento de galerias especializadas, o interesse de consumidores de arte e o consequente fortalecimento desse mercado.
O evento acontece este sábado (26) na Casa da Ribeira, pela manhã e à tarde, e está inserido na programação do circuito Cena Aberta. Vale salientar que "Enquadres" pretende atingir não apenas fotógrafos profissionais e amadores, como também interessados por fotografia e artes visuais em geral - esta é a primeira vez que é realizado um evento dessa natureza em Natal.
Promovido pelo Duas Estúdio, das fotógrafas Elisa Elsie e Mariana do Vale, o seminário reúne nomes expressivos da arte de desenhar com luz e contraste que conversam com o público sobre dois temas distintos: às 9h, os fotógrafos João Roberto Ripper, do Rio de Janeiro, e Marcelo Buainain abordam a Fotografia Documental; e às 14h, a curadora Isabel Amado e o fotógrafo Nuno Rama conversam sobre Fotografia como Expressão Artística. Os ingressos para cada sessão custam R$ 5, e estão à venda na bilheteria da própria Casa.
Isabel Amado, curadora e proprietária das Galerias da Gávea (RJ) e da Rua (SP)
GALERISTA REALIZOU LEILÃO NACIONAL DE FOTOGRAFIA
Isabel Amado, curadora e proprietária das Galerias da Gávea (RJ) e da Rua (SP), acredita que o mercado de arte no Brasil começou a prestar atenção na fotografia há cerca de sete anos. "Essencialmente, a foto artística traduz a impressão pessoal do fotógrafo; e a principal diferença de outras linguagens da fotografia é sua pré-elaboração. Não se trata de fotojornalismo nem de foto publicitária, apesar desta última também ser produzida", ensina.
Isabel realizou, em 2008, o primeiro leilão exclusivo de fotografias no país, e adianta que durante o seminário irá apresentar um material no intuito de explicitar conceitos da foto-arte. A intenção de Amado é traçar um breve panorama sobre a fotografia enquanto arte desde o início do século 20: "Também aproveito a ocasião para mostrar três ensaios - de Júlio Bittencourt, Iatã Cannabrava e Pedro Davi - que exemplificam essa forma peculiar de enxergar a fotografia", aposta a curadora.
Isabel Amado divide o palco com o premiado fotógrafo Nuno Rama. Paraibano radicado no RN, Rama faturou o conceituado Prêmio Porto Seguro de Fotografia em 2004 na categoria Brasil, quando apresentou a série "Humanos" dentro da temática Mitos, Sonhos, Realidade: Terra Brasili. A palavra será facultada ao público nos dois momentos do seminário.
Da série Imagens humanas do fotógrafo João Roberto Ripper
PRETO E BRANCO
No campo da Fotografia Documental, temática debatida pelo carioca João Roberto Ripper e o sul-matogrossense Marcelo Buainain, o bate-papo transita entre a experiência profissional de cada um e como se dá a abordagem quando estão em campo. O ponto em comum entre Ripper, Buainain e Nuno Rama é a opção pelo trabalho fotográfico em preto e branco.
Autor de quatro livros de fotografia e diretor do documentário "Do lodo ao lótus", filme que retrata a transformação filosófica e espiritual do apenado Luiz Henrique Gusson após seu contato com a obra do professor Hermógenes, 90, escritor potiguar e um dos pioneiros na prática e na divulgação da hatha ioga no Brasil, Marcelo Buanain dá a dica para quem está começando: "Não há grandes segredos para a foto documental, mas um bom trabalho - além da sensibilidade estética de quem aponta a câmera - está alicerçado no tripé: escolha do tema, o debruçar sobre esse tema e fotografar, fotografar muito!".
“Indía: Quantos olhos tem uma alma” - do fotógrafo Marcelo Buainain
Para Buainain, que já publicou os livros "Pantanal" (1987), "Índia: quantos olhos tem uma alma" (1998), "Bahia: saga e misticismo (2004) e o recente "Mi ama vin" (eu te amo em esperanto) onde aborda a religiosidade brasileira, o tema "precisa revelar uma intenção ideológica". Considerado pela revista especializada Photo Magazine como um dos dez mais importantes fotógrafos da década, Marcelo contou que optou pela foto preto e branco por um motivo aparentemente simples: nem sempre há cor no que é retratado.
"A partir dessa constatação, percebi que consigo resolver melhor um trabalho com o preto e branco. Gosto do colorido, mas busco um contraste forte como o que vi na Índia. Já tentei fotografar ao mesmo tempo com duas câmeras mas não funcionou. A fotografia tem muito do momento, há toda uma concentração, um mergulho necessário para se conseguir um bom resultado", garante. "E o preto e branco depura a imagem, elimina o excesso de informação cromática", complementa.
"A partir dessa constatação, percebi que consigo resolver melhor um trabalho com o preto e branco. Gosto do colorido, mas busco um contraste forte como o que vi na Índia. Já tentei fotografar ao mesmo tempo com duas câmeras mas não funcionou. A fotografia tem muito do momento, há toda uma concentração, um mergulho necessário para se conseguir um bom resultado", garante. "E o preto e branco depura a imagem, elimina o excesso de informação cromática", complementa.
“Indía: Quantos olhos tem uma alma” - do fotógrafo Marcelo Buainain
DIGITAL E ANALÓGICO
Quanto ao advento da fotografia digital, que chegou para ficar por mais que os puritanos torçam o nariz, Marcelo Buanain é taxativo: "A foto digital traz inúmeras vantagens, e a principal delas é a velocidade com que obtemos um resultado - há também o lance da economia. Perdemos aquele ritual de preparar a química, de revelar (ele mesmo revelava seus filmes), cortar os negativos, ampliar, selecionar... hoje um trabalho que levaria cinco meses faço em dois dias", garante.
Para Marcelo a tecnologia democratizou a fotografia, e que as pessoas que acreditam ma banalização ele afirma que "o contexto atual do mundo está banalizado, e não é culpa ou responsabilidade da fotografia". Ele se sente um felizardo por ter acompanhado essa transição, acelerada no final dos anos noventa, e garante que "há um prazer especial em manipular o negativo, uma sensação que essa turma de agora nunca terá", sentencia.
O projeto Cena Aberta, iniciativa que abarca o Seminário Enquadres, conta com patrocínio do Governo Federal e do Banco do Nordeste, da Cosern e Fecomércio através da lei estadual Câmara Cascudo.
O projeto Cena Aberta, iniciativa que abarca o Seminário Enquadres, conta com patrocínio do Governo Federal e do Banco do Nordeste, da Cosern e Fecomércio através da lei estadual Câmara Cascudo.
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Seminário Enquadres, sábado (26), na Casa da Ribeira - debates às 9h (Fotografia Documental) e às 14h (Fotografia como Expressão Artística). Os ingressos custam R$ 5 para cada sessão. Informações 9982-7193 e 9664-8789.
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