março 11, 2012

JUMENTO "MADE IN" SERTÃO NORDESTINO

 Por ano, os chineses sacrificam 1,5 milhão de jumentos
 para uso na indústria de alimentos e cosméticos  

 ... edição especial ... 

JUMENTO VIRA PRODUTO DE EXPORTAÇÃO

Por
José de Paiva Rebouças   

Depois do melão, do camarão e do sal, o Rio Grande do Norte pode se tornar uma potência na exportação de jumentos. Há pelo menos oito meses, o Governo do Estado assinou um protocolo de intenções com a China para fornecer os animais que serão usados na indústria de alimentos e cosmético. A pretensão dos chineses é importar 300 mil asnos do Brasil por ano e o RN quer abocanhar ao menos 20% dessa fatia.

No Nordeste, os asiáticos garantiram a compra dos animais e até chegaram a discutir com políticos locais a criação de uma linha de crédito específica, que levaria o nome de Projegue. Atualmente, os chineses abatem 1,5 milhão de jumentos, de todas as raças, produzidos no próprio país, na Índia e Zâmbia.  
 
O secretário-adjunto de Agricultura do Rio Grande do Norte, José Simplício Holanda, acredita que a comercialização de jumentos é uma ótima oportunidade para aquecer o mercado nordestino, mas ele alerta que só valerá a pena o comércio se o preço realmente for adequado e compatível com o mercado. "Pode-se tomar por base a arrouba de boi, chegando a 50% do valor atual", sugere. O jumento adequado para o abate, segundo Simplício, tem em média quatro arrobas (60 quilos).    

Simplício acredita que leva de três a cinco anos para que a cadeira produtiva asinina seja organizada no Estado, visto que o animal está muito desvalorizado devido a sua substituição pelos veículos, como trator, caminhonete e até motocicletas.     
 
 Essa cena é mais do que comum em todo o interior do Nordeste

A demora no tempo de avaliação da proposta, solicitada pelos chineses, é algo que vem incomodando o Governo, que já pensa até que isso não virá mais. Mas, notícia veiculada recentemente na imprensa nacional deu conta de que já foi liberado o intercâmbio de asnos entre os dois países.

Perigo na estrada - Com a desvalorização da tração animal no Nordeste, o jegue passou a ser rejeitado pelos trabalhadores e fazendeiros. Sem donos, é comum encontrar esses animais soltos pelas estradas, provocando graves acidentes de trânsito. Para Simplício Holanda, a comercialização do animal seria uma forma de reduzir esse problema, visto que os criadores teriam mais cuidado de não deixá-los fora dos currais.

Protestos - Depois que essa notícia circulou em nível nacional, na última semana, o secretário-adjunto de Agricultura do RN recebeu vários e-mails de protestos. "As pessoas saem em defesa do animal, achando que sou eu o responsável pelo comércio", explica Simplício Holanda.

Ele lembrou que o abate de animal é uma atividade comum no Brasil. Além do frango, do suíno e do boi, Simplício cita os bezerros que são abatidos para a fabricação de salsicha e o chamado "borrego mamão", abatido com 15 ou 20 dias de nascido para ser servido como prato nobre. 

A pretensão dos chineses é importar 300 mil asnos do Brasil

  JAPÃO
UM DOS PRIMEIROS A COMPRAR JUMENTOS NO NE

Não é a primeira vez que os asiáticos se interessam pelos jumentos nordestinos. Há cerca de 20 anos, os japoneses começaram a comprar esses animais para o consumo humano. Os primeiros atravessadores eram de Belo Jardim (PE), que compravam os animais indiscriminadamente.

Essa prática estava exterminando os rebanhos nordestinos porque os índices de abate eram de 7,25%, contra um crescimento de 4,5%. Um dos fatores para isso era o preço, que, na época, representava um décimo do valor do boi.

Para frear o ato predatório, um grupo de criadores fundou, em 1978, a Associação Brasileira de Criadores de Jumento Nordestino. Desde então, foi feita toda uma movimentação junto ao Ministério da Agricultura para evitar o desaparecimento do animal. Uma das medidas foi a portaria 980, que proibiu o abate de jumentas capazes de se produzir.

Ainda assim, na década de 1980, o comércio acabou por falta de matéria prima. A redução do rebanho foi brusca em todo o Nordeste, caindo de 4,5 milhões de cabeças em 1967 para pouco mais de 1,2 milhão em 1978. O RN, que em 1967 tinha 180 mil jumentos, terminou o ano de 1978 com menos de 52 mil.

Esses animais eram encaminhados para 16 abatedouros em todo o Brasil, desde o Paraná até o Maranhão. Os principais clientes do Nordeste eram de Pernambuco e Minas Gerais. "No pico, os abatedouros chegaram a sacrificar 760 mil cabeças", disse Fernando Viana, que esteve à frente da única pesquisa brasileira com esse fim.

Aposentado, o professor critica o abandono desse animal pelo nordestino. "É preciso se lembrar que o Nordeste foi feito pelo jumento", argumenta. De acordo com ele, esse interesse repentino pelo animal é apenas "um modismo", e defende um programa mais sério de valorização do jumento como instrumento de trabalho e matéria prima de exportação.
  
   O jumento é considerado no Nordeste brasileiro, muito mais que força motriz
 e meio de transporte. É animal de estimação.
fotografia: Orlando Brito

 JEGUE: UM SÍBOLO DO SERTÃO 

 Por
Alex Costa    

"Éverdade, meu senhor essa estória do sertão. Padre Vieira falou que o jumento é nosso irmão". O trecho inicial do poema de Luiz Gonzaga e José Clementino aviva a importância de um animal que faz parte da história e do desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte. Popularmente conhecido como jegue, o animal vem se tornando assunto em todo o Brasil. 

Em um protocolo de intenções assinado entre a China e o RN, a exportação do asinino é um dos interesses almejados pelo mercado asiático, que já importa os animais da Índia e da Zâmbia. O protocolo tenciona fazer com que o RN e outros estados nordestinos exportem cerca de 300 mil jegues por ano para o gigante.

Durante séculos o jegue foi o animal de estimação oficial das famílias do sertão. Era considerado amigo, companheiro de trabalho e um meio de transporte capaz de buscar água no riacho próximo e voltar sozinho. Em alguns relatos históricos, é possível ver que os jegues eram o patrimônio mais valioso que um pai podia deixar para o filho. Mas esse tempo acabou. Hoje é possível comprar um jumento por R$ 1, enquanto uma galinha custa sete vezes mais.

  O  jumento começa a dividir a paisagem do semiárido 
com as motos que levantam a poeira no meio da caatinga

Para o prefeito de Timbaúba dos Batistas, Ivanildo Junior, a tradicional corrida de jumentos que ocorre todos os anos nos dias 6 e 7 de setembro é exatamente uma tentativa de resgatar a importância histórica do animal e evitar que o espécime entre em extinção. "O jumento sobrevive nas situações mais difíceis. As pessoas se desfazem dele, mas ele fica vagando pela cidade e estradas e vão se extinguindo", alerta o prefeito da cidade que fica há 272 quilômetros de Natal.

Na cidade do Seridó, o jegue é um símbolo emblemático, com estátuas e a principal festa dedicadas aoseu nome. "O jegue aqui é um símbolo de cultura, lazer e trabalho. Há 25 anos que a nossa festa acontece e tem o objetivo de resgatar a memória do animal que ajudou o nosso estado a se desenvolver", frisa Ivanildo. A idéia de exportar jegues para consumo alimentício na China assustou a população de Timbaúba. "Ficamos temerosos com a notícia: afinal fazemos a festa para evitar a extinção, e há quem queira comê-los", finaliza.


...fonte...
 José de Paiva Rebouças
 www.defato.com
Alex Costa
 alexcosta.rn@dabr.com.b
www.diariodenatal.com.br

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