abril 19, 2012

CHICO BUARQUE... UM ARTIGO DE LUXO

 “Não é um garoto, mas se existisse no reino animal um bicho
pensativo e belo e  eternamente jovem que se chamasse garoto,
Francisco Buarque de Hollanda seria dessa raça montanhosa. “
Clarice Lispector
   
...edição especial...

CHICO BUARQUE NA CAPITAL POTIGUAR

Por
Henrique Arruda

Já faz algumas semanas que todos os “chicólatras” de Natal/RN estão inquietos. Não é para menos. Passadas mais de duas décadas desde a sua última apresentação na cidade, a crise de abstinência vai chegando ao fim. E Já é certo que Chico Buarque de Holanda,  passando  por aqui, lote de suspiros apaixonados e sentimentos de admiração cada centímetro do Teatro Riachuelo.

A primeira vez que esteve em Natal foi no início dos anos 70, quando, a convite do jornalista Paulo Macedo, Chico se apresentou no Clube do América sendo a principal atração da “Festa Brasileira das Personalidades”, organizada rotineiramente pelo jornalista.

“Eu me lembro que escolhi ele por causa da música A Banda que estava fazendo grande sucesso na época”, justifica o jornalista. Paulo foi até o Rio de Janeiro e sendo contratado pela TV Tupi, como conta, foi fácil chegar até o cantor, acertando o “pagamento adiantado”. “O equivalente a 400 mil reais hoje”, conta Paulo.

Em tempos de ditadura militar, não era de se estranhar que as Forças Armadas questionassem a escolha de Chico para a festa. “As Forças Armadas criticaram veementemente, Chico estava na berlinda. Mas confesso a você, não o trouxe com nenhuma intenção política”, admite.

Nem tudo saiu como planejado. Paulo já havia fechado com a TV TUPI para transmitir ao vivo a apresentação, no entanto, quando Chico viu toda a estrutura armada, incluindo os carros da emissora, se recusou a fazer show.

“Eu não sei porque, mas na época ele era contra se apresentar na TV, e disse que se fosse para ser exibido ele não iria fazer o show”, lembra Macedo, frisando que ficou muito deprimido por não ter sua festa transmitida.

Por mais que fosse tímido e não falasse muito, como conta o jornalista, Chico foi extremamente educado e não fez nenhuma grande exigência para a apresentação. “De todos que trouxe, somente Roberto Carlos exigiu que pintassem o corredor do hotel, que a louça fosse esterelizada e etc”, afirma.

 Depois de mais de 20 anos sem se apresentar em Natal
compositor fará show no Teatro Riachuelo

De acordo com o que se lembra, o show de Chico também foi o primeiro a lotar completamente o Clube do América. “Vendemos 500 mesas e a diretoria teve que ficar na porta para evitar que mais pessoas entrassem”, conta. O público era misto e composto insclusive por pessoas de outros estados.

“Recife tentou, Fortaleza também, mas somente nós conseguimos o show. Então o dancing do América ficou tomado de gente”, recorda.

O jornalista Albimar Furtado, que além de cobrir a apresentação, entrevistou Chico Buarque, lembra que na época o cantor estava refinando seu estilo musical e lançando o que se tornaria um dos marcos pela liberdade de expressão, “Cálice”.

“Foi a primeira vez que se ouviu Cálice em Natal, que ele fez em parceria com Gilberto Gil. Muitos diziam que a sua música na época estava se afastando de uma de suas maiores influências, Noel Rosa”, opina.

Até mesmo a aparência, pelo que Albimar descreve, refletia amadurecimento na carreira. “Ah, ele já estava com um bigodão, cabelos mais compridos e bem diferente daquele Chico comportado do início da carreira”, comenta.

Entre uma cerveja ou outra, a entrevista aconteceu no Hotel Reis Magos, onde Chico ficou hospedado, após ter pego a estrada vindo de um outro show em João Pessoa. “Porque na verdade veio ele e o MPB4 para a apresentação, já chegaram tarde no sábado e a conversa foi bem rápida”, recorda.

Fã de Chico Buarque, Albimar não sabe se decidir sobre sua música favorita, mas comenta que do novo trabalho, “Chico”, lançado em julho do ano passado, ele destacaria Nina. “É uma valsa belíssima, mas Chico tem uma obra muito ampla. Não dá para escolher uma que seja a melhor”, afirma.

 "Chico não tem mais o esplendor de antes - já seu talento literário, 
curiosamente, cresceu nos últimos anos"
 Hagamenon Brito

 POR QUE NÃO VOU A CHICO BUARQUE?

Por
Fabio Farias

O motivo  é curto e grosso: porque R$ 380 é muito dinheiro. E nem se fosse por R$ 190, a meia-entrada que infelizmente não tenho mais direito, eu também não iria. É muito para passar pouco mais de uma hora ouvindo músicas que provavelmente já tenho no meu computador, ou que posso vê-las serem cantadas por Chico Buarque em qualquer DVD de especiais dele.

Do ponto de vista econômico, do custo-benefício, para mim não vale a pena. Nada aqui de desvalorizar o trabalho de Chico que é um dos maiores compositores brasileiros e também um puta escritor (sim, faço parte do grupinho que gosta da literatura de Chico Buarque), mas uma questão de ordem econômica: pagar mais de R$ 100 em um show, para mim, é um absurdo completo.  Não importa quem seja o cantor.

É óbvio que mora aí uma questão de mercado. E essa questão se movimenta basicamente em dois eixos: um, o fato de Chico Buarque raramente fazer shows, o que valoriza as apresentações ao vivo dele; dois, o fato de haver uma espécie de endeusamento quase místico da figura do artista que, mesmo genial como ele é, não passa de um ser humano de carne e osso como todos nós.
 
Eu entendo essas coisas de fãs, de blábláblá, do cara ser charmosão e tudo o mais. Tenho uma tendência a acreditar até que muita gente vai ao show mais pela figura dele e pelo o que ele representa, do que pelas músicas em si. Coisa que deixa a situação mais ilógica ainda para mim. Dispensar uma pequena fortuna para simplesmente ver um indivíduo cantar não consegue ser coerente na minha cabeça. E não importa se é Chico Buarque, Bob Dylan, ou – sei lá – Leonard Cohen.

Chico Buarque se apresenta em Natal nos próximos dias 28 e 29 de maio
E olha que o preço é salgado, a inteira é R$ 380,00 e a meia R$ 190,00
Mesmo assim...  os ingressos não chegam para quem quer!

É bom frisar que o preço exorbitante ocorre por culpa da produtora local. No Rio de Janeiro, por exemplo, o ingresso mais barato para um show de Chico Buarque custava R$ 60, um valor que já considero pagável. Enquanto que em Recife o ingresso mais barato estava a R$ 140 e em Natal – terra dos pseudos novos ricos – o mais barato sai ao nada palatável valor de R$ 180 – para mim um abuso.

Vale a comparação, o preço mais barato do ingresso aqui é o triplo do que é pago no Rio de Janeiro e em São Paulo para assistir ao mesmo show. Justo? Óbvio que não, muito menos lógico. Me pergunto se os custos do show em Natal são o triplo do show no Rio de Janeiro, tendo a acreditar que não. Mas como há pessoas que não se importam com a exploração comercial disso, a produtora abusa no preço e o consumidor de cultura, sobretudo aquele que é liso, mas que também é fã, sai prejudicado.

Li em algum lugar no twitter: melhor é comprar um Whisky, chamar os amigos, ficar em casa e assistir a um DVD ou BlueRay dele. Serão quase as mesmas músicas. E com as vantagens de ser mais barato, mais confortável e o sujeito ainda não precisaria esperar numa fila imensa para tentar garantir a entrada ao show. Bendita Geni.

Ps. A termos de comparação: preço mais barato de Caetano e Maria Gadu em Natal no ano passado: R$ 100. Maria Bethania: R$ 125. Chico: R$ 180. O ingresso mais barato de Chico Buarque custa 44% mais caro do que o da Bethânia. A produção dele é, também, 44% mais cara?


...fonte...
Henrique Arruda
Fabio Farias

...visite...

Um comentário:

  1. Sr. Fábio Farias, finalmente uma crítica inteligente, bem elaborada e respeitosa. Há tempos que me espanto com os preços dos shows do Teatro Riachuelo(a sala de estar da burguesia provinciana). O pior, é o silêncio dos natalenses que não demonstram nenhuma indignação. Parece que reclamar não fica bem no filme.

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