agosto 27, 2012

A ALMA FRANCESA DE UMA POTIGUAR

  ILZA CIRNE
Pioneira em arte francesa - na capital potiguar - ao fazer uso de fotografias 
O resultado são obras cheias de detalhes, profundidade e delicadeza
Fotografia: Ana Amaral/DN/D.A Press   

A ALMA FRANCESA DE UMA POTIGUAR     
 
Por
Simone Silva    
 
O quadro enche os olhos. A foto antiga de casamento ainda em preto e branco destaca as camadas do vestido. As flores delicadas do buquê parecem vivas, embora sejam feitas de papel, muito papel, pelo menos a sobreposição de cinco camadas dele. A responsável pelo trabalho que eterniza um momento do passado de forma quase tridimensional é a professora aposentada Ilza da Costa Cirne Santos, 65, a potiguar que deu um outro sentido a chamada "arte francesa".

A arte é bem nova no Brasil, surgiu aqui em meados dos anos 2000. Na vida da artesã é ainda mais nova, ocupa seus dias há um ano. Era das poucas ainda não conhecida por ela que há 12, aposentada, já havia se dedicado a vários trabalhos manuais envolvendo costuras, bordados e decoupage, uma espécie de precussora da técnica francesa. No entanto, a partir da encomenda de um cliente, ela resolveu desenvolvê-la de forma diferente, utilizando fotografias (novas ou antigas) e com enquadramento de luxo, em madeira paspatu.

Durante quatro horas por dia, Ilza Cirne - como assina as obras - recolhe-se num canto de sua casa para realizar seus trabalhos que já chegaram até o exterior e a fizeram fechar contrato com loja de decoração, onde expõe com exclusividade. No início, porém, só a família era privilegiada com os quadros que exibiam apenas gravuras, feitas em papel importado, em sua maioria, provenientes dos Estados Unidos. Hoje possui até instrumentos específicos como tesouras, estiletes e cortadores.

Foi justamente a primeira encomenda para uma dezena de quadros feitos com fotos que mudou seu olhar. "Trabalhar com fotos é mais difícil. Tive que fazer pequenos ajustes e adequar à técnica. Requer muita atenção e um estudo profundo da imagem, além de paciência e habilidade nas mãos". No quadro maior que retrata um jovem casal de noivos no altar de uma igreja, cheia de vasos, degraus e flores, levou 15 dias, face o detalhamento exigido. "Arte francesa sem detalhe não é arte francesa", explica.

Atualmente Ilza Cirne trabalha só sob encomendas, sejam elas de que tamanho forem. Gosta de desafios, o que fica claro ao se observar um quadro que retrata uma profusão de flores junto a figura de um dos filhos. Vai cortando, recortando e colando de 10 a 12 fotos por trabalho e calcula que já confeccionou cerca de 50 deles nos últimos oito meses. É sabidamente a única a fazer arte francesa com fotos em Natal. "Me especializei nisso. Fiz cursos aqui e em São Paulo para aprender a arte com figuras, mas transformei o que aprendi e dei um ar de refinamento", diz.

SUPERAÇÃO

A habilidade de Ilza Cirne com as mãos existe desde sempre. Natural de Jardim do Seridó no Rio Grande do Norte, de uma família de 32 irmaõs, sendo ela caçula, ainda pequena confeccionava bonecas de pano para si e roupas para suas bonecas. Na adoslescencia idealizava e costurava vestidos. Acredita que herdou o amor pelo artesanato da mãe, Izabel Costa, hoje com 98 anos. "Ela sempre foi muito habilidosa e foi a ela que dei meu primeiro trabalho em arte francesa".

E foi a arte que consolou recentemnete a professora aposentada e ex-funcionária pública na área de ducação. Há quase dois meses perdeu o filho mais velho que, após um transplante para livrá-lo da leucemia, contraiu gripe A ainda no hospital e não resistiu. "Os trabalhos vêm me ajudando a superar a perda, porque me dediquei para esquecer a dor", recorda, ainda emocionada. Há 13 anos a própria Ilze Cirne passou por problemas de saúde em decorrência de um câncer. "Na época fazia outros trabalhos manuais".

Além de ser uma forma de complementação de renda - já que os quadros com fotos podem custar cerca de R$ 250 um trabalho médio - Ilza Cirne diz que se encontrou com a arte francesa após fases envolvidas com outros modos de artesanato. "Recebi estímulo de toda família. É um prazer  me debruçar nas dificuldades de montagem da arte que me ensinou a ter muita paciência para fazer sobreposição de camadas de muitos papéis e fotos iguais. Só assim, para esperar de 40 dias a três meses para receber o material importado, mas vale a pena quando elogiam meu trabalho".

SAIBA MAIS

Ainda são incertas as origens da arte francesa. O pouco material disponível na internet, por exemplo, dá conta que ela é uma evolução da decoupage, palavra francesa cujo significado é recortar. Em muitos países se chama, inclusive, decoupage tridimensional. Sabe-se que no século XVII começaram a chegar à Europa móveis da China com imagens laqueadas. Na frança os artistas empreendedores deram volume às imagens planas usando pedaços de cortiça. No Brasil - a arte que ganhou características próprias dos artesãos brasileiros - chegou via Argentina. É, portanto,  no Rio Grande do Sul onde mais de desenvolve.   

...fonte...
 Simone Silva / Especial para O Poti

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