Novo livro de Dulce Cavalcante remete aos sonhos de infância
e renova seu compromisso com a poesia como sentido e catarse
A obra é o terceiro livro da carreira da poetisa
e renova seu compromisso com a poesia como sentido e catarse
A obra é o terceiro livro da carreira da poetisa
*Ilustração: Inha Bastos
BICICLETAS DE PAPEL
Via
Gazeta do Oeste
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Gazeta do Oeste
Dulce Cavalcante diz que demora a publicar. Ressente-se disso, confessa, um pouco encabulada, enquanto olha para as pessoas que passam e observa o movimento do lugar, com o seu livro nas mãos. Pergunto o que a autora está lendo. Ela diz que começou a ler No Caminho de Swann, de Marcel Proust. "Extremamente detalhista, não é?", respondo que sim e digo que para ler Proust é preciso mais que tempo, é preciso um cérebro atento, porque corremos aquele risco de enveredarmos por outros caminhos e errarmos o de Swann. "Estou lendo ele, mas como um compromisso e estou gostando", fala, sorrindo, enquanto abre numas das páginas de seu novo livro de poemas, intitulado Bicicletas de Papel, que será lançado no próximo dia 10, a partir das 19h, no Memorial da Resistência, em Mossoró/RN. "Gosto desse poema", comenta e recita o da página 21, sem título.
O livro de Dulce Cavalcante recebe o selo da editora Sarau das Letras. A orelha é escrita por um de seus filhos, Samuel Cavalcante, e a introdução é do editor da Sarau, Clauder Arcanjo.
A obra é o terceiro livro da carreira da poetisa. Seus dois primeiros trabalhos (Quatro Estações, 2002 e Poltrona Azul, 2006) têm traços singulares, a começar, por exemplo, pelo formato de Poltrona Azul (livro de bolso) e pela escolha dos temas poéticos, que passam pelo mar e adentram nos dramas do cotidiano e nas crises da existência.
São esses mesmos "dramas", com traços diferenciados, que permeiam esta nova obra da poetisa: a solidão, as cenas do cotidiano, fragmentos de sua memória, aquele momento em que o pai lhe proibia que andasse de bicicleta. Todas essas pequenas coisas se juntaram nos escritos de Dulce e chegam, agora, num agradável volume da Sarau. "Escrevi estes poemas há algum tempo e tive o apoio de um dos meus filhos, que me ajudou a escolher os melhores", explica, destacando que as ilustrações são de uma de suas netas, Renata Denipoti. "Mas não se trata de um livro infantil... muitas pessoas poderão achar isso, devido às ilustrações, mas elas foram feitas com o objetivo de dialogar com os poemas. Apenas pedi à minha neta que desenhasse, de preferência, algumas bicicletas", salienta.
Muitos poemas já estavam prontos. A seleção veio depois. "Resolvi organizar tudo e cortamos alguns... muita coisa ainda ficou de fora. Esses poemas não foram publicados no blog ou de forma impressa. São todos poemas inéditos", fala. "Ofereci o livro à minha neta", diz.
Tudo foi feito em família: a capa e o projeto gráfico foram de Samuel Cavalcante (filho), diagramação de Narcélio Lopes (filho) e as ilustrações de Renata (neta). A poetisa sorri. "Todos ajudaram. Tudo em família", comenta, frisando que se surpreendeu com os belos traços de Denipoti.
DULCE CAVALCANTE
Bicicletas de Papel, retalhos da vida e memórias
Fotografia: Ednilto Neves
Bicicletas de Papel, retalhos da vida e memórias
Fotografia: Ednilto Neves
"ESTE LIVRO É UMA CATARSE"
As bicicletas fizeram parte da infância de Dulce. Criada sob um duro regime patriarcal, uma das proibições de sua infância era andar de bicicleta. "À época, não tínhamos condições de comprar uma e meu pai, mesmo que tivesse condições, não deixaria que andássemos de bicicleta. Então, eu pegava o dinheiro dos pães e alugava uma, só para andar à vontade", relembra. "Já adulta, com os muitos afazeres, não tive como andar a contento. Os filhos cresceram, o tempo passou, mas as bicicletas ficaram na minha mente. Hoje, às vezes sonho andando de bicicleta, pedalando à vontade. No sonho podemos fazer tudo", explica.
O título, de acordo com ela, foi uma espécie de "catarse". "Vi, no título, o momento ideal para rever tudo isso e esse desejo que ficou dentro de mim durante esses anos... Vi a oportunidade de redenção daquele momento de minha história", declara a escritora. "Estou numa crise poética. Um pouco perdida de tudo, diria... Tudo que vejo, acaba chamando minha atenção. Tudo me inspira e me sinto dispersa neste momento em que uma parte das pessoas não leva a sério a poesia", salienta.
Dulce declara que, passados estes anos de leituras, se arrepende, intelectualmente, de ter lido pouco. "Poderia ter lido ainda mais. Mesmo assim, entre um afazer e outro, estava com um livro nas mãos. Eu gostaria de ter participado mais de movimentos literários, me engajado nisso", fala, enquanto toma um pouco do cappuccino que tanto aprecia. "Hoje, a visão ajuda pouco, mas continuo lendo, de uma forma ou de outra. Gostaria de ter lançado mais livros, no entanto, creio que as coisas chegam no momento certo", finaliza.
...fonte...
www.gazetadooeste.com.br
www.gazetadooeste.com.br
...*ilustração meramente da postagem...
Bicicletas azuis, 2004
Inha Bastos ( Brasil 1949)
Óleo sobre tela, 90 x 130 cm
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