outubro 10, 2012

O CHORINHO DE DIOGO & MACAXEIRA

 GRUPO INSTRUMENTAL LEVA PARA O EXTERIOR A MUSICALIDADE
BRASILEIRA, ABRINDO ESPAÇO PARA A DIVULGAÇÃO DE MÚSICOS POTIGUARES
Fotografia: Giovanna Hackradt

O CHORINHO DE DIOGO & MACAXEIRA

Por
Henrique Arruda para o Novo Jornal  

DIOGO HAVIA ACABADO de voltar do Rio de Janeiro, após realizar um trabalho de quase dois anos com o cantor Oswaldo Montenegro. Ticiano, Henrique, Marco e Raphael estavam em Natal, onde já formavam o grupo Macaxeira Jazz. A trajetória musical dos cinco começou a se entrelaçar em 2006, quando Diogo precisou fazer um show no projeto Som da Mata, realizado no Parque das Dunas, mas não tinha banda para tocar com ele.

Outubro de 2012, Henrique Pacheco e Diogo Guanabara estão sossegados no “escritório” do “Diogo Guanabara & Macaxeira Jazz”, enquanto lembram à reportagem como tudo começou. Hoje, seis anos após o primeiro show dos cinco no Parque das Dunas, eles dividem o tempo entre a banda, a Escola de Música na UFRN e a gravação de dois novos álbuns.

O escritório, na verdade, é o jardim da casa de Diogo: churrasqueira, cigarros, bolachas e a companhia indispensável de Baden. “Ah, ele é quase como o sexto integrante da banda. Temos até uma música em homenagem a ele, ‘Tema Para Baden’, é a primeira do nosso CD”, explica Diogo, apontando para o cachorro que não para de encarar os “intrusos” com suas máquinas fotográficas e caderninhos para anotações.

A diferença de idade entre a dupla que lidera o grupo é de cinco anos, mas eles explicam que se conhecem desde pequenos, já que seus pais eram amigos antes mesmo que os dois nascessem. “Eu gostei muito da apresentação do Macaxeira Jazz, quando vi pela primeira vez, logo que voltei do Rio de Janeiro, mas quando chamei a turma pra tocar comigo levei em conta também essa aproximação com Henrique”, lembra Diogo.

“Diogo tinha uma carreira desde os 10 anos e eu, Marco Antônio da Costa, Ticiano D’amore e Raphael Bender formamos o Macaxeira Jazz dentro da Escola de Música da UFRN, mas antes tivemos também outros projetos juntos, como a banda de rock Kassava - que era eu e Ticiano e Diogo também participou algumas vezes... e por aí vai”, comenta Henrique.

A repercussão da primeira apresentação naquele dia no Parque das Dunas foi imediata e o grupo que se formou ‘nas carreiras’ para atender uma necessidade específica e se viu imerso em vários convites. “Naquele dia o show era de Diogo. O Macaxeira estava lá para acompanhá-lo, só que a conexão foi imediata entre o nosso som e o dele. Corremos muito atrás do que a gente quer, mas aquele show foi o momento mais especial porque a gente não tinha ideia que iria além daquele dia”, afirma Henrique. 


   Além das viagens para tocar em diversos países europeus anualmente, 
o Macaxeira Jazz também desenvolve o Intercâmbio de Choro Potiguar
  Fotografia: Mariana do Vale
 
DO PARQUE DAS DUNAS PARA O MUNDO  
 
Capanga Moderna é o nome do primeiro registro do grupo instrumental, lançado em 2008 com nove canções autorais. O ano também marca a estreia no mercado de “Home Vídeo”, com o lançamento do primeiro DVD ao vivo. A gravação rendeu projeção internacional ao grupo, que entre setembro e outubro daquele ano realizou uma turnê pelo Japão, com shows em Tokyo, Hamamatsu e Yokohoma, além de dar uma passadinha também pela Europa.

A recepção da musicalidade extremamente brasileira pelo público internacional - vinda de um grupo que já leva ‘Macaxeira’ no nome - eles avaliam que é bem diferente. “Eles prestam atenção em tudo, em cada nota e estão ali porque querem ouvir o seu trabalho”, conta Diogo.

A maior prova da valorização dada pelo público internacional à musicalidade brasileira é o próprio resultado das vendas de CD’S nos shows. Além do primeiro álbum, o Macaxeira Jazz também gravou um disco com versões dos Beatles, mais um amor em comum entre os integrantes da banda. “A gente leva os dois CD’S pra vender e enquanto o Capanga Moderna se esgota rapidamente, o dos Beatles fica sobrando na mala porque não é isso que eles querem ouvir, eles querem ouvir a música feita aqui”, afirmam.

A experiência no Japão até agora foi a mais diferente de todas, porque se aqui no Brasil o comportamento em um show é de festa, o mesmo eles não observaram por lá. “Quando você começa a tocar, até o garçom para de servir para prestar atenção e ninguém dá um piu; só no final, que aplaudem e voltam a conversar, mas durante a música, não. Aqui, se a gente toca e o povo tá parado, é sinal de que não tá prestando”, diferencia Henrique.

A explicação, segundo eles, está na própria cultura. “Lá eles aprendem a ler partitura na escola, então o japonês já vai para o show sabendo literalmente o que está ouvindo. Brasileiro não, é muito mais levado pelo ritmo”, comentam.    

    Na Europa, a música do RN também começa a ganhar espaço
 Fotografia: Mariana do Vale

SKIPE PARA ÁUSTRIA 

Logo depois do primeiro álbum, Marco Antônio da Costa foi fazer doutorado em música na Áustria, e desde então não voltou. Ou melhor, nem pensa em voltar. Mas a distância não impede que ele continue na banda. Para isso existe o skype. É através da ferramenta que os músicos trocam opiniões e gravações. A distância também ajuda nas trocas culturais, como a que aconteceu no ano passado, quando o grupo iniciou o projeto “Intercâmbio do Choro Potiguar”, pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão.

“A participação de Marco é fundamental, e nesse novo CD que estamos gravando, ele participa ativamente. A gente grava a base, manda por skype, ele complementa e assim surge a música”, detalha Henrique. 

Para o segundo CD em estúdio, que deve sair no início do ano que vem, quatro músicas foram gravadas na Áustria, com a presença de Marco, e o restante pré-produzidas pelo skype. “Gravar com todo mundo junto e em outro lugar é completamente diferente, porque as referências são outras, até seu instrumento parece que se comporta de uma outra maneira”, afirma Diogo.  
 
O ano de 2012 tem sido de reconhecimento para os rapazes potiguares
  Fotografia: Giovanna Hackradt

DOIS NOVOS CDS ATÉ O INÍCIO DE 2013

Além do próximo CD autoral, ainda sem título, mas que deve ter em média dez músicas, o grupo acaba de gravar nesta semana a finalização do projeto “Intercâmbio do Choro Potiguar”. Através do intercâmbio, o grupo se apresentou pela Europa e músicos estrangeiros dividiram aqui o palco com eles.

Ao todo três artistas participaram do projeto: a cantora eslovena Zvezdana Novakovi; o pianista holandês Martin Fondse e o saxofonista japonês Kyota Nakagawa. Todos estão no CD.

No repertório, a releitura de Diogo Guanabara & Macaxeira Jazz para os compositores potiguares Caximbinha, Tico da Costa, João Gilvanklin e Chico Elion. “Serão oito músicas, duas de cada”, detalha Diogo, dizendo ainda que o título do trabalho “Tocando o Choro Potiguar” tem duplo sentido. “Tanto faz referência ao tocar a música, quanto de dar continuidade mesmo a esse trabalho e esperar que, no futuro, outros músicos façam o mesmo”, diz.

O foco em compositores locais ocorre pela própria democracia da divulgação. “A gente toca muito choro, mas a ideia foi de mostrar o choro potiguar, mesmo porque os outros tem seus expoentes. Pixinguinha não precisa mais ser gravado, já Caximbinha foi o primeiro a misturar o choro com Jazz, saindo da corrente mais tradicionalista”, afirma Diogo, comentando também que um “volume 2” já está sendo pensado para homenagear novos nomes.

O choro, aliás, eles não acham que “está na moda”, mas classificam como um gênero da música em constante “banho maria”. “O Buraco da Catita (Bar localizado na Ribeira) ajudou a popularizar mais, mas tem sempre os focos de resistência. Nos anos 70,80 existia o Vila Franca, Regional Sonoro e tantos outros (grupos), tudo por iniciativa dos próprios músicos. Eu não diria que está na moda e nem que saiu. O choro é um patrimônio cultural, a música instrumental brasileira começou dele”, conta.

Apagando um cigarro e tirando algumas bolachas do pacote sob a mesa, Henrique observa Diogo agarrado ao violão comentar a pretensão da banda: continuar crescendo. “É pra isso que estamos fazendo Música na Escola de Música da UFRN, temos outras formações, mas buscamos nos profissionalizar porque esse é o nosso trabalho”, diz Diogo.

“Antes mesmo de vocês chegarem a gente tava aqui ensaiando uma música que vai cair na prova semana que vem”, complementa Henrique. “Eu acho que as coisas são difíceis para quem não corre atrás. As pessoas acham que nosso trabalho é somente subir num palco e tocar, aquilo é somente o lazer. Trabalho é aqui, todo dia, pensando na qualidade da música, de chegar três horas antes para passar o som... Temos CNPJ, temos uma empresa e trabalhamos oito horas por dia, pelo menos, no  Macaxeira Jazz”, conclui Diogo.

...fonte...
Henrique Arruda
www.novojornal.jor.br

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