AÉCIO EMERENCIANO
CAJUS, PEIXES E TONS FORTES PREDOMINAM NOS PAINÉIS DO ARTISTA PLÁSTICO
AO LONGO DE 53 ANOS DEDICADOS À ARTE, SÃO QUASE 200 OBRAS
...E UM ÚNICO DESEJO: CONTINUAR PINTANDO
CAJUS, PEIXES E TONS FORTES PREDOMINAM NOS PAINÉIS DO ARTISTA PLÁSTICO
AO LONGO DE 53 ANOS DEDICADOS À ARTE, SÃO QUASE 200 OBRAS
...E UM ÚNICO DESEJO: CONTINUAR PINTANDO
PESCADOR DE INSPIRAÇÃO
Por
Nadjara Martins para o Novo Jornal
O PINTOR AÉCIO Emerenciano é,
sobretudo, um sonhador. Do primeiro andar do seu ateliê, em Muriú, o
cearamirinense observa o mar quase todas as manhãs. Nos últimos 53 anos, foi de
lá que pescou a inspiração que povoa seus painéis: peixes, cajus e ramos -
verdes, vermelhos, amarelos ou da cor
que mais lhe convier.
“Eu paro para ver os peixes e os
cajueiros da praia. Lá (em Muriú) eu estou comprometido com o mar, estou mais
livre. Minha pintura expressa a praia”, defi niu o artista. A maioria dos potiguares já teve oportunidade
de admirar uma das obras de Emerenciano. Os grandes painéis chamam a atenção na
paisagem urbana natalense, por suas combinações excêntricas e arranjos de
cores, de traços simples e líricos. Tropicais.
Ele é autor do maior painel
artístico do Rio Grande do Norte, “A fruteira do Nordeste”, que adorna a
fachada externa da antiga fábrica Sams, na Salgado Filho. Além disso, sua arte
também pode ser vista no saguão de entrada do Aeroporto Augusto Severo, na obra
que compôs com Dorian Gray Caldas; em painéis expostos no Parque das Dunas, na
Governadoria e na Assembleia Legislativa.
Outras tantas já caíram, por força e em prol de uma suposta suposta “modernidade”,
como os painéis que adornavam o Ginásio
de Ceará-Mirím e o América Futebol Clube.
Um dos símbolos mais presentes nas
obras de Emerenciano é uma fi gura típica do Nordeste: o cajú. O advogado e amigo
do artista, Odilon Ribeiro Coutinho, afi rmava que era uma obsessão inconsciente” e uma característica do
pintor. Já Emerenciano atribui à infância.
“Essa minha obsessão por cajus e
cores é por causa de Muriú, mas acho que parte também eio da infância. Achei fácil, contornei a
sombra. Comecei a desenhar, a pintar com aquarela... foi algo que sempre esteve
presente”, explicou.
Ainda pequeno, observava as pinturas
que a mãe fazia em panos, nas tardes de Ceará Mirim. Na escola, era fascinado
com as coleções, os lápis, os desenhos. Cedo começou a se destacar nas aulas de
desenho geométrico, fazendo o trabalho dos colegas em troca de ajuda nas outras disciplinas.
No ensino científico (Ensino Médio),
cursado no Atheneu Norte- rio-grandense, começou a ser incentivado por
professores e colegas de classe a mostrar trabalhos em exposições coletivas.
Resistiu. A decisão de expor os trabalhos só veio no final da década de 1950,
já casado, enquanto cursava a faculdade de
direito em Maceió.
Seu sonho, na verdade, era cursar medicina ou arquitetura mas, por decisão do
pai, que na época era procurador do
estado, foi estudar na capital alagoana. Quando esteve na cidade, teve a
oportunidade de conhecer e ser retratado em pintura pelo artista Mário Hélio Neto
de Gouveia, que lhe incentivou a pintar.
Seus primeiros desenhos, sempre de
traço simples e um tanto rústico, eram comparados ao pintor catalense Joan Miró
e ao modernista Mondrian. Por insistência dos amigos, cedeu. Participou da
primeira exposição coletiva em 1962, com 20 novos pintores da cena cultural
potiguar, como Iaperi Araújo e Mancha.
O tema foi a Igreja de Santo Antônio,
ou Igreja do Galo. Emerenciano foi um dos pintores mais cumprimentados pelo
trabalho e, a partir da exposição, incentivado pelo poeta/pintor Newton
Navarro, realizou a primeira mostra individual, a qual foi um sucesso. Vendeu todas
as 20 obras expostas. No entanto, não faturou nada. Ao invés de vender, doou
aos amigos todas as obras.
“Yêda (esposa) quase me mata”, conta.
Aos poucos foi pegando o jeito, ainda que não se importasse com as
remunerações. Preferiu o direito como atividade de renda que o manteria por
toda a vida. Dessa época, cultivou uma amizade forte com nomes expressivos da
cultura potiguar, como Dorian Gray e o próprio Newton Navarro. “Eles são
pioneiros aqui, pintaram muito cedo. Nós éramos muito amigos. Muito da minha
entrada na pintura e do que sou hoje eu devo a eles”, continua.
em um livro álbum com seus renomados trabalhos
ARTISTA
...E NÃO UM BUROCRATA
...E NÃO UM BUROCRATA
Hoje, aos 77 anos (“Tenho 77, mas
ninguém diz. Não me convém contar os anos”, brinca), conta que não ter
escolhido a pintura como principal fonte de renda foi uma escolha acertada.
Segundo ele, escolheu o direito porque era mais seguro, uma vez que “naquela
época era ainda mais difícil viver de arte”. “Não sou um burocrata. Eu sou um
artista, não aceito que digam que minhas pinturas são um hobby. Eu gosto, pinto,
seleciono. Só que eu procuro superfícies. Procuro uma parede, namoro com ela,
tomo um whisky, faço um risco. Esqueço. Depois eu volto, e aí começo a pintar”,
descreve.
Em arroubos de expressão, nas
décadas de 1960 e 1970, pintava os muros e as paredes da casa que matinha na
Rua Mossoró, em Natal, onde funcionou seu primeiro ateliê. Com o tempo, adotou
a praia de Muriú como ateliê defi - nitivo, dividindo o tempo com os trabalhos
na capital.
Aos poucos, começou a realizar exposições
individuais, sendo definido pelo médico, e também artista, Iaperi Araújo,
como “um dos poucos artistas renomados” da época. Seu estilo primitivo e
alegórico se estabeleceu, sendo convidado para pintar uma das suas obras mais
representativas: A Fruteira do Nordeste, na antiga fábrica Sams, em 1970.
“Não digo que foi minha obra mais
expressiva, mas a que tinha mais volume. Me deu a perspectiva de não mais
repetir os frutos, e sim pensar em novos contornos”, explica, enquanto faz
movimentos na parede em branco do apartamento, como se ainda segurasse a goiva,
refazendo o desenho. “Deu um trabalhão, mas eu gostava. Você tinha que ter
segredo, a dosagem. Esperar o tempo do trabalho”
A partir desse trabalho,
experimentou novas técnicas, como a espátula, nanquim e a pintura a óleo. No
entanto, logo voltou para a sua “natureza viva” de fl ores e frutas. “Não
consigo fazer nada da fi gura humana, nunca fui capaz de pintá-la. É mais a
fruteira, a paisagem, as cores da natureza que fascinavam mais. Gosto mais da
natureza viva”, comentou.
PAINEL É RESTAURADO
ESTUDANTES REVITALIZAM PAINEL DE ARTISTA PLÁSTICO CONSAGRADO
Nem sempre os painéis são
esquecidos. A obra mais representativa de Aécio Emerenciano, o painel “As
fruteiras do Nordeste”, de 1970, foi restaurado no último sábado, através de
uma iniciativa pioneira. A ação levou cerca de 45 crianças da Escola Estadual
Stella Wanderley, de Neópolis, para repintar a obra. O painel não era
restaurado desde o fechamento da antiga fábrica Sams, há 10 anos.
A restauração foi coordenada pela artista plástica Ana Selma Galvão. As crianças selecionadas fazem parte do projeto “Ana Selma Arte Ecológica”. Através de oficinas e palestras, a artista tenta levar para as escolas formas de fazer arte reutilizando materiais.
Para Galvão, a participação de
crianças na restauração foi uma
experiência única – tanto para ela enquanto artista, quanto para as crianças.
“Essa é também mais uma
experiência de valor para o artista. Em meus 12 anos como artista plástica,
esse é o projeto com que me envolvo mais. Ao mesmo tempo em que a gente faz uma
conscientização das crianças sobre a preservação do meio ambiente, também
mostramos como é o trabalho de
recuperação da arte e a história que essa obra traz”, explicou.
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