novembro 10, 2013

PELA MEMÓRIA DO CINE RIO GRANDE

CINE RIO GRANDE
O Cine Rio Grande foi um importante cinema da cidade de Natal/RN
A noite de estreia se deu em 11 de fevereiro de 1949, às 21h,
com a presença do governador José Augusto Varela e
com o filme Minha Rosa Silvestre nas telas
Fotografia: Canindé Soares

PELA MEMÓRIA DO CINE RIO GRANDE

Por
Yuno Silva - Repórter
Colaborou: Cinthia Lopes - Editora
TRIBUNA DO NORTE

As janelas em estilo escotilha e o frontal que lembra a proa de um navio fazem do edifício onde funcionou o cinema Rio Grande um legítimo exemplar da Art Déco em Natal. Marco arquitetônico da Av. Deodoro e referência para a identidade cultural da Cidade Alta, o Cine foi inaugurado com pompas em fevereiro de 1949 e por décadas foi reduto dos cinéfilos da capital  potiguar. Templo da sétima arte até o final dos anos 1990, desde 2009 se transformou em templo religioso sem perder seus traços originais. Para garantir a preservação do imóvel e sua integridade física, o cineasta Buca Dantas está propondo que o lugar seja tombado como patrimônio a partir de argumentos culturais, históricos, artísticos, afetivos e  arquitetônicos.

De acordo com o setor técnico do Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan-RN) e a direção do Departamento de Patrimônio da Fundação Capitania das Artes, qualquer pessoa pode dar entrada com pedido de tombamento. “Ainda estamos dando os primeiros passos. Primeiro gerei expectativa nas redes sociais para ver o interesse das pessoas, em seguida procurei ajuda jurídica para formalizar o pedido de tombamento”, informou Buca. A princípio ele pretende procurar o Município, mas não está descartada a possibilidade de entrar com o processo de tombamento nas três esferas.

Na última quinta-feira (7), o cineasta visitou o local com a professora Karoline Marinho de Souza, do curso de Direito da UFRN, e mais 30 alunos da disciplina de Direito Administrativo 2. “Incorporamos essa proposta de Buca como atividade final deste semestre, e os alunos que irão elaborar a petição”, disse Karol Marinho. “Quero inseri-los em um processo real de transformação, e como nenhum deles conheceram o Rio Grande enquanto cinema, será a oportunidade de fazer parte de algo histórico”, avaliou. A professora acredita que até o final de novembro o grupo terá um documento redigido.

Buca adiantou que “o objetivo é tombar, concomitante à intenção de sensibilizar autoridades e instituições para a possibilidade de retomar as atividades cinematográficas no local”.

Ciente do desafio de buscar interesse de empresas, como o Grupo Estação que mantém cinemas de rua no Rio de Janeiro, para investir na ideia, Dantas questiona: “Por que a UFRN, que ventila a ideia de construir uma sala de cinema no Campus, não assume o projeto?”. Ontem à tarde o cineasta procurou o setor de Novas Mídias da Funcarte para ver onde a Prefeitura poderia se envolver.

“Vou continuar provocando as pessoas para a importância de termos um cinema de rua. Imagine os festivais todos funcionando ali dentro!”, entusiasma-se. Ele adiantou que também pretende buscar apoio do Ministério da Cultura. “Seria ótimo se o tombamento determinasse o uso do imóvel”.

CINE RIO GRANDE
Alunos do curso de Direito da UFRN durante visita ao antigo cinema
Fotografia: Arquivo Pessoal/Cedida

ARGUMENTOS E JUSTIFICATIVAS

O diretor do Departamento de Patrimônio da Funcarte, Hélio Oliveira, que recentemente emitiu parecer favorável ao tombamento do casarão que abriga o Clube de Radioamadores no Tirol, informou que para um tombamento ser efetivado “depende da justificativa e dos argumentos apresentados”: “Qualquer cidadão pode entrar com um pedido desses, o que nos cabe é avaliar a importância cultural e artística para o patrimônio do Município”.

A chefe da divisão técnica do Iphan-RN, Litany Eufrásio, reforça: “Seguimos critérios para o tombamento, e com base na documentação apresentada emitimos um parecer avaliando o valor histórico do imóvel em questão. Após essa aprovação local, abre-se um processo que é enviado para a sede nacional em Brasília”.

Ela explicou que o Cine Rio Grande não está inserido no poligonal de tombamento (centro histórico de Natal) nem na área de entorno, mas que “nada impede do Iphan-RN se envolver”. Outro detalhe que deve ser observado é quanto ao uso de imóveis tombados: "Não determinamos a finalidade do uso, depende do proprietário. O que podemos fazer é indicar, sugerir. Mas o importante é que o imóvel esteja ocupado e que as determinações do tombamento sejam respeitadas", disse a chefe da divisão técnica do Iphan-RN.

Para o arquiteto Leonardo Flor, que possui pesquisa sobre os vestígios da Art Déco em Natal, Estética urbana experimentada de 1925 a 1939, é uma “ótima notícia saber que estão querendo tombar o Rio Grande, um prédio de grande importância histórica e cultural”.

Ele ressalta que Natal vem em um processo acelerado de desenvolvimento urbano, sem considerar seu passado: “A cidade não pode apagar sua memória, construções como a do Cine Rio Grande são símbolos de uma época, tem características marcantes como o jogo de volume, as janelas em forma de escotilha. Países da Europa utilizam qualquer pedaço de um resto de muro como atração turística, e podemos tirar proveito disso também”. Leonardo lembra que boa parte da história está “escondida atrás nas fachadas falsas das lojas” ou já foram abaixo como o antigo castelinho onde hoje funciona a loja C&A. “Só restou um painel na fachada”, frisou.

MEMÓRIA

1949
Inauguração do Cine Rio Grande.

1953
Passou a exibir filmes com o sistema cinemascope.

1980
Temporada ainda próspera Cine Rio Grande, com grandes plateias – principalmente durante a exibição de filmes de bilheterias. Início da decadência do cinema brasileiro.

1990
Apesar da crise, produções como Os Trapalhões atraíam grandes públicos ao Rio Grande.

1991
Criação dos cinemas Rio Verde 1 e 2, salas menores que funcionavam no mesmo prédio do Rio Grande.

1995
No ano do Centenário do Cinema, o local ganha uma inusitada “balada” à fantasia. O evento ocorreu dentro do Cinema Rio Grande, para mais de 400 pessoas e ocupou todos os espaços.

1999
O cinema fecha suas portas para o público.

2000
Moacir Maia, proprietário do Cine Rio Grande, anuncia interesse em revitalizar a sala de exibição.

2005
Falecimento do empresário Moacir Maia. Importante exibidor independente, Moacir deixou um legado de pioneirismo numa época em que o conceito de cinema multiplex não existia.

2009
O imóvel é alugado à Igreja Internacional da Graça de Deus, do pastor R. R. Soares.

2011
Em reportagem no VIVER, o arquiteto Leonardo Flor apresenta um estudo sobre Art Déco da cidade. O Rio Grande traz detalhes em suas janelas estilo escotilha e o frontal de proa de um navio.

2013
Iniciada elaboração do pedido de tombamento do prédio como patrimônio cultural e artístico.

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