ABOIO: A POESIA E O LAMENTO DO VAQUEIRO
A rotina, as
histórias e o canto tradicional dos vaqueiros e aboiadores
ganham vida no
documentário “Aboio: a poesia do vaqueiro, o lamento
das
caatingas”, contemplado no Programa Revelando os Brasis,
voltado para a
democratização do audiviosual em cidades
com menos de 20 mil habitantes.
Fotografia: Ratão Diniz
O CANTO VIVO DAS CAATINGAS
Por
Itaércio Porpino
TRIBUNA DONORTE
Em Lajes, município do semiárido
potiguar, a cantoria dos vaqueiros ainda ecoa no meio da caatinga. Mas essa
tradição, ligada às raízes do homem do campo que vive de tanger o gado, está
prestes a desaparecer da pequena cidade potiguar. Por isso, o radialista
lajense Francisco Tárcio Araújo, de 35 anos, tem pressa em fazer o
videodocumentário “Aboio: A Poesia do Vaqueiro, o Lamento das Caatingas”,
contemplado no Programa Revelando os Brasis, voltado para a democratização do
audiviosual em cidades com menos de 20 mil habitantes.
No ano passado, durante o
levantamento de dados para o projeto, o
radialista contou meia-dúzia de vaqueiros aboiadores em Lajes, que tem como
símbolo seu Raposo, de 88 anos. “Percebi que eles estavam se acabando, que a
tradição estava morrendo. Seus filhos não são vaqueiros, estão trabalhando no
comércio; e os netos estão fazendo faculdade em Natal ou Mossoró. Não há
perspectiva”, diz Tárcio, que tem pressa também porque há um prazo para o
documentário ficar pronto. A previsão de lançamento é início de agosto.
“Aboio: A Poesia do Vaqueiro, o
Lamento das Caatingas” foi um dos 951 projetos de todo o País inscritos na 5ª
edição do Programa Revelando os Brasis, realizado pelo Instituto Marlin Azul
com patrocínio da Petrobras, através da Lei Rouanet.
Dos 20 contemplados, ele é o
único do Rio Grande do Norte. O radialista começou a filmar na última
quinta-feira (22) e tem até domingo (25) - quatro dias - para concluir essa
parte e passar à edição, que deve ser concluída até o final de junho. O documentário
tem o aboio como fio condutor, mas também mostra a lida dos vaqueiros, a
religiosidade, lendas e tradições.
“O que mais me marcou durante a
pré-produção foi ver que o vaqueiro não se sente mais valorizado. Então, minha
intenção com esse trabalho é mostrar o canto, que é muito bonito e que muitos
não conhecem, mas também a realidade dessa gente”, disse Francisco Tárcio
Araújo, que falou com o VIVER na tarde desta sexta (23) por telefone, no
intervalo entre as gravações.
Para contar esta história, ele
participou das oficinas audiovisuais realizadas pelo projeto Revelando Os
Brasis no Rio de Janeiro, no mês de fevereiro. O curso reuniu 20 moradores de
pequenas cidades com até 20 mil habitantes de várias partes do país, repassou
noções básicas sobre roteiro, produção, direção, fotografia, direção de arte,
som, dentre outras disciplinas, com o objetivo de preparar os participantes
para transformar as histórias que contarão em documentários ou ficções de
curta-metragem.
O prêmio viabilizou também a
contratação de uma equipe técnica composta por um fótografo, um câmera, um
diretor de fotografia, um profissional de captação de áudio e um contra-regra.
Além deles, Tárcio conta com o auxílio de um blogueiro e um professor de
história.
Depois de finalizado, o filme,
com duração de 15 minutos, será exibido em todas as cidades contempladas no 5º
Revelando os Brasis. Um caminhão do programa estacionará nessas cidades com um
telão de 10 metros e 300 cadeiras, para os moradores assistirem. O vídeo também
será exibido no Canal Futura e TV Brasil.
REVELANDO OS BRASIS DE UM BRASIL
O diretor do
documentário, Tárcio Araújo, e os vaqueiros de Lajes,
incluindo o mais
velho deles, “Seu” Rapouso, de 88 anos.
As gravações vão até
o final da semana.
Fotografia: Ratão Diniz
SAIBA MAIS
Na definição de Guerra-Peixe,
compositor e pesquisador: “Aboio vem de abôiar, isto é, de reunir o gado,
mantendo-o manso e ordenado. Por extensão, o termo abôio designa também a
cantoria feita pelo vaqueiro ao conduzir a boiada de um para outro lugar,
servindo, ainda, para embelezar o aboiar. Praticado em vários países, é
abundante no Brasil e, segundo se pode deduzir, herdamo-lo de Portugal, onde
subsiste no Minho. Entretanto, se em algumas das expressões mais vulgares do
nosso abôio é notada a sua origem portuguesa, os seus traços melódicos já
acusam profunda modificação processada no Brasil”.
REVELANDO OS BRASIS TEM EXIBIÇÃO NA TV
O Revelando os Brasis é realizado
pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet,
com parceria estratégica da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura,
parceria do Canal Futura e apoio da TV Brasil.
Com maior número de inscritos
entre todas as edições, o quinto concurso de histórias do projeto recebeu 951
inscrições. As histórias selecionadas vieram de diferentes cidades: Barra de
Santa Rosa e Aparecida (Paraíba), Arroio do Sal (Rio Grande do Sul), Palmeiras
(Bahia), Meruoca, Aiuaba e Uruburetama (Ceará), Arraias (Tocantins), Céu Azul e
Douradina (Paraná), Tabapuã (São Paulo), Candeias do Jamari (Rondônia),
Irineópolis (Santa Catarina), Águia Branca e Vargem Alta (Espírito Santo),
Brazópolis (Minas Gerais), São Domingos do Azeitão (Maranhão), Santarém Novo
(Pará), Ladário (Mato Grosso do Sul) e Lajes (Rio Grande do Norte).
Os autores das histórias
selecionadas participaram das Oficinas de Formação e Realização Audiovisual no Rio
de Janeiro, entre os dias 9 e 23 de fevereiro, com todas as despesas pagas. O
curso é composto por aulas de introdução à linguagem audiovisual, roteiro,
direção, produção, fotografia, direção de arte, som, edição/ finalização,
pesquisa, mobilização, direitos autorais e comunicação colaborativa.
Após as oficinas, os selecionados
retornaram as suas cidades para transformar as histórias em filmes com até 15
minutos de duração. Nessa fase, eles contam com o apoio de uma produtora
regional que providencia os equipamentos
de câmera e de som digitais, com operadores.
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