abril 04, 2012

DESVENDANDO O UNIVERSO DA MÚSICA


O guitarrista Kiko Chagas assume as aulas  (violão e rabeca) do Marista,
ao lado dos estudantes Erickson Davi, 15; Mateus da Silva, 14; Mariana 
Bernanrdo, 14 e Bruno César, 17, formam a Banda Amorial
Fotografia: Alex Régis 
 ÚLTIMA CHAMADA PARA A MÚSICA NA ESCOLA

Por
Yuno Silva

A música vai invadir salas de aula e pátios de escolas em todo o Brasil, e o movimento de ocupação já está em curso. Aprovada em 2008 pelo Governo Federal, a lei nº 11.769 que determina a inclusão obrigatória de disciplina musical no currículo dos ensinos fundamental e médio começa a render frutos. O ensino de música nas escolas do país era um desejo acalentado por ninguém menos que o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e as instituições tiveram três anos letivos para se adaptarem às novas exigências. Apesar do período de carência, boa parte da rede pública do RN ainda está na fase de planejamento - situação bem diferente das instituições particulares, onde a música já faz parte da rotina dos alunos.

Esse é o caso do tradicional Colégio Marista. Contabilizando 82 anos de atividades em Natal, o colégio inova ao incorporar ao quadro de professores o músico profissional Kiko Chagas. Guitarrista experiente, Kiko tocou nas bandas de Tim Maia e Elza Soares, tem discos solo gravados, acumula shows internacionais, e há cerca de um mês está à frente do recém-criado grupo de rabecas e da Banda Armorial do Marista.

Com foco nas aulas práticas, mas sem deixar de abordar a parte teórica, Kiko demonstrou no palco do teatrinho da escola, ao lado dos estudantes Erickson Davi, 15, Mateus da Silva, 14, Mariana Bernardo, 14, e Bruno César, 17, harmonia e desenvoltura sonora que surpreende quando considerado o pouco tempo de trabalho. A reboque desse resultado positivo em curto prazo, sua presença sugere reflexões quanto ao perfil do professor: afinal, qual a melhor opção, contratar músicos profissionais ou professores com formação acadêmica?

"Há espaço para os dois tipos", garante Carlos Henrique Câmara, coordenador do setor de Arte e Cultura do Marista. "Trabalhamos com música há muitos anos, bem antes da lei ser aprovada, e além do Kiko temos outros dois professores com perfil acadêmico, são complementares."

Além do novo grupo de rabecas, cujos instrumentos foram encomendados ao mestre Damião, luthier do bairro de Felipe Camarão, e da Banda Armorial, que existe há mais de sete anos, o Marista ainda mantém outros doze grupos artísticos, ligados não só à música como também dança, teatro e artes visuais. "Temos cerca de 130 alunos envolvidos com esses grupos, e cada grupo tem sua própria agenda, informa Carlos Henrique.

Alguns estão bem articulados e conseguem inclusive sair em turnê, caso do Grupo de Dança Popular, que atua há 18 anos, já se apresentou na Europa e Colômbia. Para o Irmão José Nilton, diretor do Marista Natal, "a área cultural proporciona desenvolvimento em vários aspectos: melhora a disciplina, a concentração, a maneira do aluno se expressar, ajuda no aprendizado de disciplinas formais e na formação de consciência crítica", verifica. Nilton acredita que a lei vai funcionar. A unidade do colégio em Natal se destaca dentro da rede de ensino criada na França, há quase dois séculos. "Temos grandes nomes da música que saíram do Marista, como Gilberto Gil e Raul Seixas na Bahia, Zé Ramalho na Paraíba, e Marina Elali aqui em Natal", lembra

ESCOLAS ESTADUAIS NÃO ENTRARAM NO RITMO

Uma sonora gargalhada é a resposta da professora Rosane Batista da Luz, diretora da Escola Estadual Alberto Torres, uma das mais tradicionais da capital potiguar com 76 anos de funcionamento, quando questionada se a lei que obriga o ensino da música está sendo aplicada na rede pública estadual. É rir para não chorar: "Estamos sem professor de Educação Física, de Ciências e até pouco tempo não tínhamos coordenador pedagógico, área suprida recentemente após um período de 20 anos sem concursos."

Na opinião de Rosane, professora do Estado há 20 anos e diretora do Alberto Torres há 18 meses, as escolas públicas ainda estão longe de atender as determinações do Governo Federal. "Os professores reconhecem o trabalho e o interesse da secretária (de Educação do RN) Betânia Ramalho em implantar a lei, mas não adianta querer impor se não há estrutura para atender a demanda", lamentou. "Seria realmente ótimo termos aulas de música por aqui, ainda mais que atendemos alunos de baixa renda que poderiam ter na música novas possibilidades de profissionalização", verifica.

O Alberto Torres tem cerca de 380 alunos, principalmente do ensino Fundamental 2 (do 6º ao 9º ano), e o programa Mais Educação do Governo Federal oferece, nos turnos inversos, cursos e oficinas complementares de informática, letramento, xadrez, capoeira e percussão.

As escolas da rede estadual recebem instruções pedagógicas da Coordenadoria de Desenvolvimento Escolar - Codese, departamento da Secretaria Estadual de Educação (SEEC) que cuida do planejamento pedagógico. Joaquim Oliveira, diretor do Codese, informou que há uma comissão de 40 profissionais trabalhando na atualização do currículo e na fundamentação das novas orientações. "O ensino da música, bem como da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena, também regulamentadas através de lei (nº 11.645/2008), estão dentro desse planejamento."

Segundo Joaquim, antes de qualquer coisa é preciso definir uma proposta consistente: "Temos que direcionar esse ensino, definir conteúdo, nível de abordagem. Esse projeto que estamos formatando, com auxílio do professor Doutor em Educação Isauro Beltran Nunez, da UFRN, inclui, inclusive, a aquisição de instrumentos e a criação de laboratórios", adiantou. O diretor do Codese lembrou que os trabalhos já estão em andamento há mais de um ano, e que a SEEC teve que suprir o déficit de 3,5 mil professores nas disciplinas consideradas básicas (Química, Física, Biologia, Matemática). "O planejamento também irá quantificar a necessidade de novas contratações para atender a nova demanda."

POLIVALÊNCIA

Em Natal a situação está um pouco mais avançada. Na Escola Municipal São José, Vila de Ponta Negra, a professora Silvana Maria é a responsável pelas aulas de artes em todas as turmas da unidade. Graduada em Artes Plásticas e Artes Cênicas pela UFRN, e com habilitação em licenciatura, ela dá conta de todas as áreas (dança, teatro, música e artes visuais) e diz que "bem ou mal as escolas municipais estão oferecendo artes no currículo". Professora polivalente, ela explica que repassa noções básicas da cada uma das artes, uma introdução. 

Coordenadora dos Conguinhos, versão infantil do Grupo de Cultura Popular Congos de Calçola que funciona dentro da escola, Silvana elenca a falta de estrutura adequada como a principal dificuldade a ser considerada.

PARADIDÁTICOS JÁ PENSAM NO SEGMENTO

A nova legislação altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), e faz da música o único conteúdo obrigatório, porém não exclusivo, no ensino das artes. Cada Estado terá autonomia para definir em quais séries da educação básica (ensinos fundamental e médio) a música será incluída e em que freqüência, e as demais áreas serão contempladas dentro do planejamento de cada escola.

Para atender essa demanda crescente, faz-se necessário a adoção de material didático específico, e dois novos livros estão chegando ao mercado para ampliar as opções disponíveis: "Desvendando a bateria da Escola de Samba", de Márcio Coelho e Ana Favaretto; e "Desvendando a Orquestra", de Clarice Miranda e Liana Justus - ambos lançamentos do selo Formato, da Editora Saraiva.

...fonte...
Yuno Silva

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