"O centro nunca saiu de mim. E eu estou de volta ao velho centro"
CRÔNICA DE UMA CIDADE QUE NÃO EXISTE MAIS
Por
Tácito Costa
Tinha 8 anos quando cheguei em Natal. Naquela época, 1969, a Avenida
Rio Branco, no centro, concentrava o melhor do comércio. As lojas
chiques e populares (Casa Duas Américas, Lojas Brasileiras, Casas
Cardoso), o hotel mais luxuoso (Ducal Palace), a livraria mais
importante (Universitária), e o cinema Rex, se espalhavam ao
longo desta que era a principal avenida da cidade.
Os shoppings não haviam ainda chegado. A
Rio Branco era um imenso shopping a céu aberto e aos domingos eu vestia
a melhor roupa e ia olhar as vitrines ou ao cinema, quando o dinheiro
dava.
Foi nessa avenida, no coração da Cidade Alta, que vim morar. Quase em
frente ao Colégio Winston Churchill. Foi nela em que andei pela
primeira vez de elevador (Edifício São Miguel) e de escada rolante,
implantada pioneiramente nas Lojas Brasileiras. Alumbramentos que o
menino matuto, nascido em Santana do Matos, jamais esqueceu.
Em casa tínhamos uma Tv de segunda mão, preto e branco, com imagem de
qualidade sofrível. Aqui e ali ela quebrava e passava dias para ser
consertada. Como eu adorava os seriados (Viagem ao Fundo do Mar, Daniel
Boone, Perdidos no Espaço…) me valia nessas horas das TVs que ficavam
ligadas na entrada das lojas de eletrodomésticos da Rio Branco.
Partindo de casa, no rumo do Alecrim parava na primeira que estivesse
com a televisão ligada. A mais próxima era a Socic. A mais longe, já
chegando ao Baldo, era a Lojas Chalita. Entre as duas, ficavam a Casa
Régio, Casa das Máquinas, Galeria Olimpio e J. Resende, algumas no
entorno, como A Sertaneja.
Eram lojas que a gente sabia quem eram os donos. Radir Pereira (A
Sertaneja), José Resende (J. Resende), Luís Cavalcanti (Casa das
Máquinas), Habib Chalita (Lojas Chalita), Galeria Olimpio (João Olimpio)
Reginaldo Teófilo (Casa Régio). Destas, acho que somente a Socic era de
fora ou seu dono não era muito conhecido nos meios sociais e
empresariais natalenses.
Destes empresários, o que recordo mais nitidamente é Luís Cavalcanti.
Por duas razões: parecia um galã de filme americano e tinha um
reluzente Dodge Dart, um dos poucos senão o único de Natal naquela
época. Também me chamava a atenção o dono da Lojas Chalita. Pela
aparência e nome desconfiava que não fosse brasileiro. Anos depois
fiquei sabendo que era árabe.
Hoje, todas essas pessoas e lojas não existem mais. Mas penso que
tenho uma pequena dívida com elas. Permitiram-me, em alguns momentos,
não interromper aquelas tardes de sonhos diante dos meus seriados e
heróis preferidos.
Moramos dez anos na Rio Branco e depois em outras ruas da Cidade
Alta: Padre Pinto, Vigário Bartolomeu e Gonçalves Lêdo. Tornei-me um
autêntico Xaria. Saí há alguns anos e retornei.
O centro nunca saiu de mim. E eu estou de volta ao velho centro.
...fonte...
Tácito Costa
Tácito Costa
www.substantivoplural.com.br
Adorei o que li..Quando aqui cheguei.. em 1973 ainda existia tudo isto.......e se foram alguns anos e a nossa cidade linda e pacata não aguentou o estrondo da modernidade e da tecnologia, que muitas vezes não fica sendo evolução.....O Sr Jose Melo do Vidraceiro do Norte tambem tinha um Dodge Dart amarelo e nos tinhamos um Doginho(problematico)....rsrsr. E Cade a sede do ABC com as suas matines??..Pois eh meu querido escritor nem passou muito tempo....e muitos ja se foram. Um grande abraço
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