outubro 05, 2012

BOTE A MÚSICA POTIGUAR PRA TOCAR

DUSOUTO 
Banda dispinibiliza seus discos para download
Em tempos de internet e difusão em massa a baixo custo, 
músicos do RN falam sobre a distribuição de suas obras
e o mp3 é o formato mais consumido

DISCOGRAFIA POTIGUAR

Por
Sérgio Vilar

Lojas de vinis já foram points de encontros da rapaziada nas décadas de 70 e 80 em Natal. Algumas marcaram época. Whiplash e Apple eram antros undergrounds dos mais badalados. O advento dos CDs coincidiu com o fim de algumas lojas e o costume dos encontros para fumar e discutir música. Sobraram algumas até pouco tempo. Na verdade muitas ainda estão aí, mas sumiram das ruas. E o truque mágico se chama Web. É ela quem explica também uma contradição: mesmo sem CDs à venda em lojas especializadas nunca se consumiu tanta música no Brasil.

Apenas nos últimos três meses, quatro dos artistas mais conhecidos de Natal lançaram discos. Simona Talma, Luiz Gadelha, Liz Rosa e, por último, Khrystal. Onde encontrar esse material? Hoje a disponibilidade está dispersa. Tanto quanto as estratégias de divulgação. Shows, iTunes, myspace (ou outra forma de download gratuito na internet), webrádios, cigarreiras ou pontos de venda os mais variados possíveis reúnem o acervo da música potiguar. Sinal do tempo. E o tempo é virtual. É a explicação para o consumo recorde de música quando a indústria fonográfica vive em crise.

A internet tem equiparado mais a distância abissal entre o artista contratado das grandes gravadores e o artista independente. Se o primeiro recebe a estrutura de marketing e divulgação maciça do seu disco físico pela gravadora, o último sem dinheiro para bancar a gravação e divulgação na mídia, disponibiliza de graça na internet e alcança consumidor até no estrangeiro. Os quatro discos citados contam histórias diferentes. Simona e Gadelha colocaram seus álbuns na internet. Khrystal bancou o disco físico com dinheiro próprio. E Liz Rosa conseguiu apoio da Sony para seu trabalho.     

   CAMILA MASISO
 Mudança do pop rock para MPB 
ajudou a intérpetre  a ser reconhecida pelo seu trabalho

Fotografia: Giovanna Hackradt e Geórgia Hackradt

EM TODAS AS FRENTES

Camila Masiso atacará em diferentes plataformas para divulgar o novo álbum. Primeiro, a venda do disco físico. Depois de oito meses do lançamento, ela disponibiliza na internet para download gratuito "para auxiliar na procura do disco físico". É que Camila acredita no potencial do disco físico. "Tiro por mim: quando gosto muito de um artista faço questão de ter comprar o disco. É uma forma de prestígio. E no caso do artista, uma forma de ganhar um 'extra'". E acrescenta: "Sobretudo os mais velhos gostam do CD", diz.

Camila diz sentir falta das lojas de CD. Ela colocou o último álbum à venda na Casa da Ribeira e leva em todos os shows. Diz ter vendido 1,5 mil cópias do disco, produzido por contra própria. O próximo também será independente, financiado pela Unimed via Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão. É o mesmo caminho procurado pelo grupo de samba Arquivo Vivo. Depois de suarem a camisa do samba tradicional e bancarem o primeiro CD do grupo, já pensam em inserir o projeto do segundo álbum nas leis de incentivo.

"O disco físico é uma forma cara, porém segura. Se tem certeza que a pessoa comprou porque quer ouvir. Se me enviam link pra baixar música, eu não abro. Nem ouço aqueles CDs promocionais com capa de papelão distribuídos por algumas bandas", diz o vocalista e cavaquinista da banda, Marcos Souto. O grupo leva uma pilha de CDs para cada show. E são muitos, quase todo dia. "Se a pessoa ouve seu trabalho no show, gosta e compra o seu CD, você acha que ele não vai te ouvir de novo? Tenho certeza que sim", acredita.  

ANDERSON FOCA
É hoje o maior promoter da nova onda virtual e uma
das figuras centrais para o rock independente do Nordeste

QUANDO TUDO COMEÇOU

Parece um século, mas o primeiro disco disponibilizado na internet no Rio Grande do Norte foi há uma década. Era uma banda de pop-rock chamada Allface. E o responsável pelo marco foi o Dosol. Um dos integrantes da banda, Anderson Foca é hoje o maior promoter da nova onda virtual. Só este ano já colocou cinco álbuns na internet e um total de mais de 40 mil músicas compartilhadas. Nestes dez anos foi quase uma centena de discos. "Começou quando perceberam que o disco virtual tem acesso imediato". Foca lembra que a ideia do formato de download gratuito surgiu de sites como o Napster e Kazza, por volta de 1998.   

Com a chegada da banda larga o download rápido substituiu as quase quatro horas para baixar uma música e difundiu a moda. A partir de 2006, os então formatos híbridos (CDs e downloads) de lançamentos migraram apenas para a web. Hoje, as redes sociais colaboram para o compartilhamento da novidade e difundem grupos e artistas ao ponto de formarem algumas celebridades instantâneas. Além do mais, praticamentenão há investimento em colocar o álbum na net. Luiz Gadelha conseguiu 1.113 downloads do seu CD no site do Dosol, disponibilizado desde março. "Ou seja, na nossa realidade, como distribuir e vender tantas cópias se o disco fosse fisico?", indaga Gadelha  
 
 
 TALMA & GADELHA
 Um desejo em comum: 
fazer rock, com a simplicidade que ele traz, com a atitude
 Fotografia:Diego Marcel
 
NA WEB, NO MUNDO

As opções para Simona Talma soltar seu talento ao mundo são restritas: "Não tenho dinheiro pra fazer o disco físico. Se eu não disponibilizasse na net, nem faria. Então é torcer pra que as pessoas baixem e gostem. Existe muita gente fazendo música em condições muito melhores que as nossas e CD é artigo de luxo, de colecionador. Ninguém ouve CD hoje, apenas quer ter pra estar mais próximo daquele trabalho. Esta é minha realidade. Eu não tenho casa, não tenho carro, às vezes não tenho R$ 2,20 para passagem de ônibus. Então, o que mais eu posso dizer?", desabafa.

Luiz Gadelha tem opinião parecida, e argumenta: "O mp3 é o formato mais consumido hoje e mais fácil de compartilhar. Quero minha música compartilhada, divulgada por quem realmente gosta do meu som. Não houve ainda versão física porque não há orçamento pra isso. As fábricas de CDs só prensam a partir de um número alto de cópias e isso significa muitos reais do próprio bolso. E a procura pelo 'físico' é pouca. Em 2001 lancei meu primeiro CD, físico, prensado em fábrica em 1.000 cópias. Hoje, mais da metade deles preenchem as minhas prateleiras".    

  ...fonte...

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